quinta-feira, 27 de janeiro de 2022

Boukensha ni Naritai to Miyako ni Deteitta Musume ga S Rank ni Natteta — Volume 02 — Capítulo 18

Capítulo 18: Era o Festival de Primavera, e ainda...


Era o festival da primavera, e ainda Belgrieve estava fazendo uma careta de dor por todo o corpo. Tendo se movido de uma maneira que no geral não fazia e forçando para fora mais força do que poderia reunir sob condições normais, era como se seu corpo estivesse sendo sacudido cada vez que tentava se mexer. Sentia dores nos músculos e nas articulações, ao que parecia.

No entanto, ainda estava feliz por tê-lo feito. Ele havia aprendido que Angeline era muito mais ágil do que imaginava. Belgrieve não se considerava particularmente forte, e tê-la o vencendo-o não significava de forma alguma que estaria segura, no entanto, pelo menos, Angeline não estava apenas usando manobras óbvias que até mesmo seus olhos podiam ver.

Com isso dito, sua sugestão de romper os laços familiares saiu pela culatra de maneira desastrosa. Angeline estava grudada nele desde a disputa, seu rosto travado em um beicinho, e parecia de péssimo humor, mesmo enquanto o abraçava com força. Quando por fim tentou afastá-la, um rosnado como de uma besta o foi dirigido.

“Ange?” disse, um tanto hesitante.

“O que?”

“Hmm... Foi tudo minha culpa. Eu admito. Poderia sair de cima de mim agora?”

“Não... Não te perdoei ainda.”

No final das contas, Belgrieve saiu para o festival de primavera com Angeline grudada em suas costas, e os moradores riram ao ver os dois.

Kerry o cutucou jovialmente no ombro. “Bwahahaha! Hey, Bell! É um grande bebê que está levando aí.”

“Haha, algumas cosias aconteceram... Estão rindo de nós, Ange. Por que não desce agora?”

“Não!”

Angeline exerceu ainda mais força e Belgrieve deu uma risada resignada.

Ao contrário do festival de outono, esta foi uma celebração mesquinha e limitada aos moradores. Todos se reuniram na igreja, onde o padre Maurice ofereceu suas orações. Os aldeões fecharam os olhos e juntaram as mãos.

Aqueles que conheciam a crueldade da natureza tendiam a ser bastante devotos. O povo de Turnera não era exceção, contudo ao contrário da capital, o culto animista local da natureza parecia ter sido sincretizado com as doutrinas da Igreja de Viena, e essa era a fé à qual a maioria aderia. Eles reverenciaram a Todo-Poderosa Viena, mas também ofereceram seus agradecimentos aos espíritos da natureza. Belgrieve era assim também.

Terminada a missa, partiram para a praça da cidade, onde beberam, cantaram e se divertiram. Suas melodias não eram tão boas quanto às dos menestréis errantes, porém qualquer um que pudesse tocar trouxe seus instrumentos e se apresentou enquanto as garotas da vila dançavam. Ensopado e mingau cozidos em grandes panelas, pães doces amassados ​​com uvas secas e amoras foram servidos junto com carnes e peixes que foram assados ​​em fogueiras, e barris de cidra foram abertos.

Esta foi a oportunidade perfeita para divulgar todos os presentes que Angeline trouxera de Orphen. Os moradores se alegraram com os doces açucarados e bebidas destiladas que eram difíceis de encontrar em Turnera, e Belgrieve ficou aliviado porque sua casa foi por fim arrumada.

Belgrieve estava sentado em um canto da praça, bebericando cidra enquanto observava as apresentações musicais. Angeline havia parado de se agarrar às suas costas, embora agora estivesse apenas encolhida ao seu lado, bebendo a mesma cidra. Anessa e Miriam estavam rindo — ambas pareciam achar algo engraçado na visão.

“O que?” Angeline olhou para elas duvidosa.

“Nada... Só estava pensando que vocês dois são de fato pai e filha. Certo, Merry?”

“Sim. São tão unidos.”

“Exato... Hehehe.” Angeline riu com presunção e apoiou seu peso contra Belgrieve. Isso exacerbou suas dores, reagindo com uma careta.

“Ange... Dói se colocar todo o seu peso em mim.”

“Não. Vai tem que suportar pai.”

“Ugh...” Belgrieve desistiu, acariciando a barba com um olhar ambíguo no rosto.

Havia conversas agradáveis ​​voando e desarmonias alegres sendo cantadas. Os jovens da vila se inquietavam enquanto serviam comida para Anessa e Miriam, além de oferecer flores e receber cutucadas severas das garotas em volta.

O grupo de Angeline voltaria para Orphen em breve; elas eram necessárias lá. O pensamento fez Belgrieve se sentir um pouco solitário, no entanto estava feliz em saber que sua filha era considerada com tal grado de confiança. Precisava enviá-la embora com um sorriso.

Enquanto esses pensamentos ocupavam sua mente, Belgrieve inadvertidamente bebeu várias xícaras de cidra. Estava começando a se sentir bem e um pouco flutuante. Seus sentidos estavam entorpecidos e a dor não era mais tão forte.

A expressão carrancuda de Angeline também se suavizou, seus olhos distantes olhando para lugar nenhum em particular.

Foi aí que Hoffman veio animado em sua direção. “Oh, Bell! Está bebendo?”

“Sim, eu tive minha parte. Excelente clima para um festival.”

“Haha, são as bênçãos dos espíritos e de Viena!” Hoffman disse, sentando-se com força ao lado de Belgrieve.

“Então, sobre como manter as estradas.”

“Hmm... Como está indo?” Belgrieve se inclinou para frente, apoiando os cotovelos nos joelhos. Desde que Angeline chegou, só aparecia um pouco nas reuniões da cidade. Sempre havia algum tipo de tumulto sempre que parava e talvez não parecesse muito favorável.

Hoffman deu um largo sorriso, tomando um gole de cidra. “Os anciãos foram contra, porém ontem conseguimos colocar todos a bordo. Podemos dar uma resposta unânime à Condessa Bordeaux.”

“Fico feliz em saber. Turnera não será mais isolada do mundo.”

Hoffman riu e tirou uma carta das dobras do casaco. “De qualquer forma, Bell. Quero que essa resposta seja entregue à propriedade de Bordeaux... Posso deixá-la com você?”

“Eu?” Belgrieve deixou seu próximo gole de cidra demorar um pouco na boca.

“É uma carta importante.” concordou Hoffman. “Quero entregá-la para alguém de confiança. Suas habilidades são de confiança, e a condessa também confia em ti. Quero que entregue as cartas e ouça qualquer discussão sobre o projeto.”

“Soa como o trabalho de um chefe.” Belgrieve sorriu de forma maliciosa.

Hoffman franziu a testa. “Estou perguntando porque você me disse que sou muito humilde.”

“Pare de ficar emburrado, já entendi.”

Eles riram sobre seus copos e Angeline, que tinha ouvido tudo, se inclinou.

“Quando vai ir...?”

“Hã? Oh... Quando precisa que seja entregue?”

“Vamos ver. Quanto antes melhor...”

Ouvindo isso, Angeline se agarrou ao braço de Belgrieve com olhos brilhantes. “Então... Pai, nos acompanhe na metade do caminho de volta para Orphen!”

“Hmm... Boa ideia. Não pensei nisso.”

Com certeza, Angeline voltaria para Orphen em pouco tempo. Belgrieve seria capaz de reduzir um pouco o tempo de viagem se pegasse uma carona junto na sua carroça. Mais importante, significava também mais tempo juntos. Para Angeline, viajar com Belgrieve seria a melhor experiência de todas.

Belgrieve bebeu e acenou com a cabeça.

“Vamos juntos então. Farei com que as meninas me protejam lá.”

“Ótimo! Quando quer ir?”

“Quanto mais rápido, melhor, posso estar pronto amanhã... Mas, Ange, não quer ficar em Turnera mais um pouco?”

“Não, estou bem se pudermos viajar juntos, pai... Amanhã!”

Angeline ficou feliz, chamando Anessa e Miriam, que estavam entre os jovens da vila.

“Voltaremos para Orphen amanhã! Com o papai!”

“Eh? Com o Sr. Bell?”

“Yay! O Sr. Bell está de volta!” ambas correram entusiasmadas.

Belgrieve acenou com a mão, confuso. “Errado, errado, tenho negócios a tratar. Só vou até Bordeaux.”

“Ah, entendo. Que pena...”

“Hmph, pensei que poderia partir em uma aventura com você.”

Anessa coçou a bochecha, parecendo decepcionada, enquanto Miriam fazia beicinho. Belgrieve não sabia que as duas se sentiam tão ligadas a ele, e acariciou a barba com um sorriso irônico. Foi estranho, contudo não se importou muito com a sensação.

Em qualquer caso, tendo se decidido, teria que se preparar. Enquanto o festival da primavera esquentava, Belgrieve voltou para sua casa e arrumou sua bagagem. Queria se preparar o quanto antes e voltar a tempo de ver as lanternas à deriva.

Uma viagem de ida e volta ao território de Bordeaux significaria que ficaria fora de casa por uma semana — nesse caso, também precisaria limpar. Belgrieve não queria que ratos entrassem em nada enquanto estivesse fora, então colocava tudo de valor em caixas resistentes.

Ainda assim, a dor tornou seus movimentos mais opacos do que o normal e seus preparativos demoraram mais do que esperava. Quando terminou meticulosamente os preparativos, o sol se pôs e escureceu bastante. Belgrieve chegou à praça assim que os aldeões voltaram de suas casas com lanternas de papel.

“Oh, você está aqui!” Kerry o acolheu com uma risada. “Na hora certa. Estávamos prestes a enviá-los rio abaixo.”

“Haha, isso é ótimo.”

Ele se juntou à multidão enquanto eles se dirigiam para o rio. A luz bruxuleante da fogueira projetava sombras irregulares, esticando e encolhendo. O sol tinha acabado de se pôr, e a luz tênue que permanecia no céu ocidental embelezava o cume distinto da montanha. No entanto, o céu estava escuro e pontilhado de estrelas.

O derretimento da neve havia elevado o nível do rio e, agora, emitia um som impetuoso, fluindo com vigor. Ainda havia gelo grudado nas margens e Belgrieve poderia escorregar se não tivesse cuidado.

O padre cantou uma oração ritual e as lanternas foram colocadas no topo do fluxo. As inúmeras luzes vermelhas seguiram a corrente até serem engolidas pela água, onde desapareceram. Depois disso, apenas a luminescência da grama brilhante persistiu um pouco nas profundezas do rio.


Anessa soltou um suspiro gelado de espanto. “Que sensação estranha.”

“E quanto a isso?” Miriam perguntou de volta.

“Está quieto. Os festivais em Orphen são tão barulhentos, né? Nunca estive em um lugar tão solene antes... Como devo dizer...”

“Ah, acho que entendi. Também não é como uma missa na igreja.”

Belgrieve riu. “Estaremos festejando de novo quando estivermos de volta na praça. Nós calmamente enviamos os fantasmas ancestrais ao longo da corrente e ficamos barulhentos depois disso.”

“Hmm, interessante. Turnera é um lugar legal.”

“Haha, fico feliz em saber. Bem, temos que partir amanhã, então devemos encerrar o dia. Vamos embora, Ange.”

“Hmm?” Ange se virou, assustada. Ela estava olhando para o riacho.

Os quatro voltaram para a casa e acenderam o fogo das brasas enterradas nas cinzas. Belgrieve saiu para confirmar alguns assuntos com Hoffman, e como a ideia de viajar com ele a deixou de bom humor, Angeline não insistiu em acompanhá-lo. Depois que as três garotas se lavaram, sentaram-se vagamente em frente à lareira. Elas tinham preguiçado no banquete do meio-dia, comendo todo tipo de coisa, então não estavam nem um pouco com fome.

“Sigh... Passou tão rápido...” Miriam murmurou.

“Sim. Deveríamos estar aqui por duas semanas, mas passou assim.” disse Anessa, apoiando o queixo nos joelhos. “O que devemos fazer... Me apeguei tão fácil aqui, estou preocupada em não poder voltar à minha vida normal...”

“Wow, você está certa. Nossos instintos voltarão...? No entanto, acompanhamos o treinamento de Ange e do Sr. Bell.”

“Não somos linha de frente... Mas ficaremos bem. Provavelmente.”

“Certo, certo, devemos ter um aumento de poder tanto quanto retrocedemos. Ange recebeu uma lição, então ela deve estar mais forte quando voltar.”

Angeline estava esparramada na cama e Miriam a cutucou na coxa.

“Ugh.” Angeline grunhiu e se enrolou. “Nunca relaxei minha guarda para começar. Papai é apenas especial.”

“Hey, você vai deixar o Sr. Bell bravo se disser isso.”

“Hehe, ele pode te cortar de verdade. Então será meu pai depois disso.”

“O que? Não posso deixar essa passar, Merry!”

“Wah!”

Angeline pulou em Miriam e fez cócegas nela. Elas brincaram um pouco enquanto riam. Estavam tão perto da lareira que Anessa observava um pouco ansiosa, sem saber ao certo se deveria impedi-las.

O tempo que passaram matando monstros em Orphen foi diferente dos poucos dias que viveram em Turnera. Aqui, seu grupo de Rank S havia se soltado por completo. Em comparação, os dias de folga em Orphen eram vertiginosamente estimulantes e, embora pudesse ser divertido, não parecia que haviam descansado depois. As duas últimas semanas se passaram sem incidentes, consistindo em trabalhar sem pressa todos os dias, caminhar pelas montanhas tranquilas e conversar à noite junto à lareira. Uma vez que esse conforto se enraizou, foi inquietante quando chegou a hora de deixá-lo para trás.

Foi quando Belgrieve voltou e bateu na porta. Angeline, que ainda estava lutando com Miriam, correu para a porta em um piscar de olhos e a abriu. O ar livre entrou, fazendo a lareira, a lâmpada e a vela tremeluzirem.

Belgrieve tirou o casaco e pendurou-o na parede, fazendo uma careta para o corpo dolorido e estalando o pescoço que estava rígido de frio.

“Minha nossa, as noites ainda estão frias... Alguém mais sente frio?”

“Eu estou bem.”

“Está ficando um pouco mais quente do que quando chegamos. Talvez eu tenha acabado de me acostumar.”

“Isso é bom. Um pouco de desperdício sair assim agora que se acostumou.” disse Belgrieve, rindo. Ele jogou outra tora no fogo.

Angeline agarrou suas costas. “Pai... Quando vamos amanhã?”

“Depois de limparmos as camas e tomarmos o café da manhã... Teremos que sair antes do meio-dia. Caso contrário, teremos que acampar.”

“Ok! Entendi!”

Angeline sorriu enquanto enterrava a boca em seu cabelo. Estava tão feliz que não sabia o que fazer consigo mesma.

Belgrieve tirou os sapatos, sentando-se no cobertor da cama. Removeu com cuidado a perna direita, limpando-a inteira com um pano velho antes de colocá-la de lado.

De repente, houve silêncio, exceto pelos ruídos ambientais do vento exterior sacudindo as venezianas e o fogo bruxuleante rastejando sobre a nova tora. Esses sons saíam muito mais altos quando não havia mais nada para ouvir. Miriam balançou levemente, seu olhar vagando ao redor; Os olhos de Angeline estavam semicerrados enquanto se agarrava às costas de Belgrieve.

Com um estalo, a tora estourou e um pedaço de madeira em chamas rolou para fora do fogo. Belgrieve o pegou com indiferença e o jogou de volta.

“N-Não é quente?” Anessa olhou para ele, surpresa.

“Hum? Ah, a madeira? Tenho balançado uma espada e uma pá por tanto tempo, a pele da minha mão está engrossando. Claro, estaria quente se continuasse segurando, mas está tudo bem por um momento.” disse Belgrieve e mostrou a mão. Com certeza era dura e cheia de calos. Anessa inadvertidamente se viu estendendo a mão para tocá-lo e recobrou os sentidos.

“Hmm... Posso tocá-lo?”

“Claro vá em frente.”

Anessa tocou sua mão com suavidade. Era uma textura bastante peculiar. Havia alguns lugares que endureceram depois que uma bolha foi esmagada, e outras partes onde sujeira e fuligem preencheram as fendas. No entanto, não parecia ruim — era como se essa mão fosse um testamento da vida que Belgrieve viveu. Essa linha de pensamento a fez se sentir como uma menininha magra e, por algum motivo, Anessa se sentiu envergonhada por si mesma.

“Incrível... Você trabalhou duro o suficiente para ficar assim.”

“Não, eu sou apenas desajeitado. Não havia mais nada de que eu fosse capaz.”

Belgrieve riu. Ele estendeu a mão para a chaleira pendurada sobre o fogo e derramou uma xícara de água quente.

“Agora, já faz um tempo desde que deixei Turnera... Você vai garantir que esse velho chegue onde está indo com segurança – não vai, aventureira?” disse Belgrieve em tom de brincadeira, bebendo a água.

Anessa riu. Angeline abriu os olhos sonolentos, renovando seu aperto em Belgrieve.

“Estou com sono.”

“Sim, partiremos de manhã cedo. Vamos para a cama... Parece que Merry já está dormindo.”

“Ah, você tem razão...”

Anessa não tinha percebido, mas Miriam já estava roncando, de bruços na cama. Belgrieve aconchegou Angeline, depois se levantou e apagou a lamparina e a vela. A única luz que restava vinha da lareira. Os cantos do teto e das paredes estavam envoltos no crepúsculo.

Belgrieve se deitou, puxando o cobertor sobre si mesmo. Embora Anessa estivesse acordada até então, ela estava tão sonolenta quanto às demais, e não demorou muito para que ele ouvisse sua respiração calma e lenta em intervalos regulares.

Belgrieve fechou os olhos e se acalmou. Ouviu a respiração de Angeline ao seu lado, e o estalo ocasional da lareira. Não esperava que fosse deixar Turnera assim, porém seria uma viagem interessante por si só — melhor ainda, com sua filha junto para o passeio. Embora tenha havido alguns momentos difíceis, Belgrieve ficou triste ao ver Angeline deixar Turnera, e não foi uma coisa ruim ficar juntos mais um pouco.

No entanto, se saísse, não sabia como Turnera lidaria com os monstros. Belgrieve havia falado a respeito com Hoffman, contudo foi ridicularizado. De acordo com Hoffman, as crianças que Belgrieve ensinara a usar uma espada haviam se tornado jovens decentes e habilidosos, e não havia nada com que se preocupar.

E, no entanto, se eles pudessem se virar sozinhos, isso significava que ele não era necessário em Turnera? Talvez fosse esse o caso. Talvez tivesse se tornado muito vaidoso, e era um pouco embaraçoso de se considerar.

Por enquanto, tinha que dormir. Contudo, estava ficando empolgado mesmo com sua idade e não conseguia encontrar a mentalidade certa. Quando ficou parado, a dor também começou a incomodá-lo. Para continuar por tanto tempo, deve ter se esforçado consideravelmente.

Belgrieve pensou em contar ovelhas quando Angeline, que deveria estar dormindo, sussurrou. “Pai... Você está acordado?”

“Hmm... Estou acordado.” respondeu suavemente sem abrir os olhos.

“Hehe... Eu não consigo dormir.” disse Angeline. “Ainda que eu estivesse com tanto sono.”

“Certo... Estou no mesmo barco.”

“Então, sabe... Já pensou em ir até Orphen? Estou ganhando muito dinheiro... Poderia alugar uma casa grande o suficiente para nós dois juntos...”

Por um tempo, Belgrieve manteve os olhos e a boca fechados. Eventualmente, ele estendeu devagar a mão e deu um tapinha na cabeça de Angeline.

“Isso parece uma ideia maravilhosa.”

“Então—”

Contudo Belgrieve continuou antes que Angeline pudesse tomar sua fala como afirmação.

“Porém, sabe... Se o fizesse, não voltaria mais para Turnera.”

“Hmm... Bem... Mas...”

“Seu pai, sabe... Considera este lugar sua casa. É de onde seu pai veio, e de onde você veio também, Ange... Claro, estou feliz que se sinta assim. Entretanto acho que vou protegê-lo como um lugar para onde você pode voltar. Você gosta de Turnera, não é, Ange?”

“Sim, eu amo isso.” Angeline se contorceu sob a coberta, prendendo Belgrieve em um abraço.

“Entendo... Mas estamos juntos até Bordeaux!”

“Sim, assim mesmo... Então vá dormir.”

“Sim... Boa noite, pai.”

“Boa noite, Ange.” A noite foi se arrastando lentamente.

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