quinta-feira, 17 de novembro de 2022

Boukensha ni Naritai to Miyako ni Deteitta Musume ga S Rank ni Natteta — Volume 03 — Capítulo 42

Capítulo 42: Ange caiu de bruços na cama

Ange caiu de bruços na cama. Charlotte olhava com evidente preocupação, enquanto Anessa e Byaku apenas olhavam para ela cansados ​​— apenas Miriam estava sorrindo. Angeline preguiçosamente balançou as pernas no ar como asas batendo.

“Por que... Por que todo mundo me rejeita...?”

“O que estava esperando?”

“Quero dizer... Quero dizer, você não vai encontrar um homem tão bom quanto o pai em qualquer lugar de Orphen... Não, vou ir além. Poderia vasculhar todo o império e sairia de mãos vazias!”

“Você só não sabe quando desistir... Estúpida como sempre.”

“Hehe, na verdade acho que a falta de vergonha de Ange é o que atrai as pessoas para ela.”

Angeline rolou com essas palavras impiedosas.

Eles estavam no quarto de Angeline; algum tempo se passou desde a batalha com os inquisidores e a figura sombria. O verão havia passado do auge e, embora ainda estivesse bastante quente, o verde das árvores estava começando a desaparecer.

Desde que derrotaram a sombra, tanto a Inquisição quanto as pessoas que pretendiam reviver os demônios se ocultaram de novo. Angeline se perguntou se estavam esperando que abaixasse a guarda uma vez mais, mas nada havia acontecido ainda.

Houve outra sublevação em Lucrecia; a facção papal que ostentava autoridade quase absoluta perdeu a maioria de seus membros e, é claro, não tinha mais tempo a perder com uma garota em alguma terra distante. Isso diminuiu ainda mais a necessidade da facção anti-papal arrastar uma figura de proa para fora. Portanto, o perigo foi bastante reduzido.

Segundo Lionel, o grupo que atacou foi presumivelmente uma força avançada que agiu assim que perdeu contato com sua pátria devido ao tumulto, e não representava a vontade de Lucrecia.

“É um verdadeiro incômodo; ao que parece houve uma revolta em Lucrecia dois dias antes do ataque... Uma organização secreta não deveria proteger seus próprios canais de comunicação secretos ou algo assim? Ah, como vou explicar essa situação para o lorde...”

Também havia uma disputa em andamento sobre quem arcaria com as taxas de tratamento de todos os soldados feridos; a dor de estômago de Lionel seguiria por mais algum tempo.

Agora que um de seus poderosos demônios havia sido derrotado, é provável que a força da qual Charlotte fazia parte não faria outro movimento em um futuro próximo — pelo menos, foi dessa forma que Byaku interpretou. Não tinham nenhuma informação significativa sobre sua própria organização e foram direcionados em maior parte para servir de exemplo para os outros membros. A organização não correria o risco de incorrer em danos substanciais apenas para eliminá-los, e seria mais problemático se sua própria existência fosse tornada pública.

De qualquer forma, Angeline agora poderia descontrair e relaxar. Ela sentiu como se algo tivesse despertado em seu interior, mas não tinha como testar isso agora que o problema havia sumido de repente.

Para desabafar sua frustração reprimida, Angeline mais uma vez dedicou seu tempo a encontrar uma noiva para Belgrieve. Prestou atenção às palavras do taverneiro e fez o possível para manter o casamento fora da conversa, porém ou acabava por ser muito óbvia, ou ninguém queria ir de qualquer maneira. Os resultados foram nenhuma mulher querendo acompanhá-la no outono.

Deitada de costas, Angeline estendeu os braços e as pernas de forma preguiçosa em direção ao teto.

“Elas quem vão perder. Agora que chegou a essa situação, vou tomar meu tempo procurando ...”

“Vamos, vamos... Ange, só vai desperdiçar seu tempo e esforço de novo.” disse Anessa.

Byaku assentiu. “Penso a mesma coisa. Que tal tentar pensar um pouco? O que está fazendo, é tudo fútil.” ele disse, então parado contra a parede. Anessa parecia um pouco satisfeita que agora havia mais uma pessoa para retrucar às travessuras da garota.

“Peço que, por favor, fique longe das minhas circunstâncias domésticas.” Angeline fez beicinho.

“Ei, irmãzona, por que não pode apenas chamar seu pai para vir para Orphen?”

Angeline se levantou. “É verdade... O pai me recusou uma vez, contudo deveria vir se eu disser que é por diversão, ao invés de para viver comigo...” seu rosto brilhou como se tivesse recebido uma revelação divina. Ela acariciou vigorosamente a cabeça de Charlotte. “Esplêndida ideia! Boa menina, Char.”

“Hehehe...”

“Tudo bem, vou no começo do outono e convenço meu pai a voltar comigo. Um grande tour pela capital... Com um pouco de entrevistas matrimoniais ao lado!”

Miriam parecia entusiasmada com essa proclamação. “Yay! Há todos os tipos de lugares que quero mostrar ao Sr. Bell. Mal posso esperar!”

Até mesmo Anessa assentiu, sua expressão suavizando um pouco. “A ideia do casamento é um absurdo, no entanto seria bom ver o Sr. Bell por aí...”

“Hehehe... Parece divertido.”

Os olhos das três garotas que conheciam Belgrieve se iluminaram. Por alguma razão, até Charlotte parecia animada.

Deixado de fora da conversa, Byaku soltou um suspiro de farto. “Não entendo, mas... Faça como quiser.”


A sombra da montanha se estendeu gradualmente enquanto o sol brilhante da tarde se refugiava no horizonte. Todavia o céu ainda estava claro; o céu a oeste era de um vermelho vívido, como se um grande incêndio tivesse começado.

Em uma colina com vista para a vila, quatro figuras se reuniram. Belgrieve, Duncan e Marguerite estavam sentados onde quisessem, com os olhos bem fechados e as armas desembainhadas na mão. Apenas Graham estava de pé, balançando uma criança em seus braços.

Os três sentados meditavam para aumentar a sinergia com suas armas. Ao afiar sua mana e seus sentidos, se concentraram para fazer suas armas como uma extensão de seus próprios corpos. Embora o peito de Belgrieve subisse e descesse a cada respiração, não movia um único músculo. Duncan e Marguerite não estavam tão focados e, vez ou outra, se moviam inquietos. Esse tipo de treinamento estático claramente não era para eles.

Marguerite abriu um pouco os olhos e abriu a boca, tímida.

“Já terminamos...?”

Mas não houve resposta. Enquanto embalava a criança, Graham permaneceu em silêncio como uma estátua. Marguerite desistiu e fechou os olhos de novo.

Belgrieve podia sentir uma sensação estranha vagando sobre ele. Enquanto seu corpo não estava se movendo, estava em sintonia com o que estava acontecendo dentro de um grau surpreendente. Como um rio de montanha atravessando ravinas estreitas, podia sentir seu sangue fluindo em suas veias. Cada gota continha mana potente, circulando ao redor de seu corpo. Passaria por seus dedos, para sua espada — o punho, o corpo, a ponta — antes de retornar a ele.

Uma vez que passou pelo aço, a mana que voltou estava fria, como se o metal estivesse perfurando-o. A cada batida de seu coração, colidia com o mana quente produzido por seu próprio corpo, dando origem a uma sensação de desconforto. Era como se uma batalha estivesse sendo travada. Estava suando, apesar de não mover um músculo.

Gradualmente, as duas forças resistentes começaram a girar e se fundir. Ele podia sentir a mana que passava pela espada e a mana de seu corpo se fundindo até que por fim se tornaram um único fluxo.

Belgrieve abriu os olhos e se levantou. Embainhou sua espada antes de esticar seus membros.

“É o suficiente por hoje.”

“Muito bem.” Graham assentiu.

“Qual é o seu problema?” Marguerite ficou emburrada. “Nem me respondia... Por que sempre é o Bell?”

“Você deve entender a diferença, Marguerite. Bell se levantou depois de ter feito tudo o que podia; no seu caso, apenas ficou entediada ao longo do caminho.”

“Urgh...” ela gemeu enquanto se levantava mal-humorada.

Duncan esticou as costas e os ombros. “Bem, eu... Sou terrível nisso. Parece que estou melhor balançando meu machado com determinação.”

“Não se coloque em uma caixa como essa. Precisa escapar dessa mentalidade, ou nunca se tornará um guerreiro de primeira classe, Duncan.”

“Hmm... Entendi.” Duncan cruzou os braços em pensamento.

“Graham, posso pegar Mit de suas mãos?”

“É claro.”

Graham entregou a criança de cabelos pretos a Belgrieve. A expressão vazia do menino mal mudou — não tinha timidez com estranhos e, no geral, permitiria que qualquer um o segurasse assim. Embora ainda não gostasse tanto de Marguerite, que uma vez tentou matá-lo.

Mit se acomodou nos braços de Belgrieve.

“Pai...”

“Sim, vamos indo.”

Os quatro desceram a colina, através da grama de verão que havia crescido bastante. Havia ovelhas e cabras balindo aqui e ali, e todas as casas podiam ser ouvidas se preparando para o jantar. O céu ficou em um tom de roxo, e a maior extensão começou a brilhar sob o sorriso da lua crescente.

Algum tempo se passou desde a batalha. A floresta havia voltado ao normal, e os monstros eram mais uma vez poucos e distantes entre si. Os lenhadores ficaram encantados por poderem voltar ao trabalho, enquanto os jovens da vila ficaram um pouco desapontados com o fim da empolgação.

Em uma Turnera mais uma vez pacífica, Belgrieve continuou a trabalhar nos campos e treinar com sua espada. A única diferença era que tinha outra boca para alimentar. Era bastante animado em casa, mas embora gostasse de viver em paz e sossego, também não era tão ruim.

Ao voltar para casa, Belgrieve acendeu a lareira e começou a preparar o jantar quando Kerry chegou. Barnes estava lá com sua namorada, Rita, também. Belgrieve inclinou a cabeça, curioso. “O que todo mundo está fazendo aqui?”

“Bem, sabe o quão bagunçado foi a última festa. Pensamos em fazer uma em segredo.”

Kerry tinha uma cesta de comida com ele, enquanto Barnes carregava uma caixa de garrafas de vinho. O rosto de Marguerite se iluminou instantaneamente.

“Yay! Vinho!”

“Beba com moderação, Marguerite.”

“Eu deveria estar te dizendo isso, tio-avô. Essa quantidade não é suficiente para fazer alguma coisa comigo.”

Graham franziu a testa, porém Marguerite estava lamentavelmente correta, então não teve como refutar, exceto suspirar.

“Não beba tudo, Maggie.” Barnes disse com um sorriso irônico. “É para todos.”

“E-Eu sei, já entendi.”

O rosto de Barnes suavizou quando viu Marguerite nervosa, e Rita o cutucou logo em seguida.

“Sem trair.”

“V-Você entendeu tudo errado...”

Rita beliscou a bochecha de Barnes e virou-se para Marguerite em um beicinho. “Não vou te dar.”

“Não quero tomá-lo, não se preocupe. Vamos todos nos dar bem, hein?” Marguerite disse com uma risada, cutucando amigavelmente Rita. Mesmo assim, Rita manteve Barnes em seu abraço, com toda cautela.

As mesas foram montadas e as cadeiras foram trazidas do galpão. Esta estava se tornando uma festa muito mais calma do que a última. Graham sabia que deveria terminar logo após o primeiro copo — no entanto, a bebida ainda o estava afetando, e falou menos do que o habitual.

Mit abriu caminho entre os adultos, sentando-se de joelhos ou escalando suas costas. Ele fez uma cara curiosa enquanto se inclinava contra a gordura da barriga de Kerry.

“Kerry é todo mole... Não é como o papai.”

“Hahaha, hey, vamos, Mit. Está fazendo cócegas!”

“Sim, bem... Meu velho e o Sr. Bell têm a mesma idade, mas não poderiam parecer mais diferentes... O Sr. Bell é tão legal, e então, bem, olhe para ele...”

“Do que está falando, Barnes? Eu... Quero dizer, deveria ter me visto antes. O homem mais bonito da vila, eles diriam! Certo, Bell?”

Belgrieve riu e tomou um gole de sua xícara. “Não consigo lembrar. Agora, de fato estava mais magro, isso sem dúvida.”

“Está falando sério? Não consigo nem imaginar um Kerry magro.” Marguerite gargalhou enquanto bebia seu copo.

Kerry franziu a testa e bateu a mão contra a barriga. “Você apenas não entende. É um sinal de sucesso que um pequeno agricultor seja tão completo!”

“Sim, entendo essa parte. Vejo que trabalhou muito.”

“Hahaha, pelo menos Bell entende! Hey, Mit, não bata aí. Não precisa me copiar.”

Talvez entretido quando Kerry bateu no estômago, Mit começou a bater com vontade contra a gordura do homem.

Duncan pegou a criança com uma risada. “Minha nossa, que inocência infantil!”

“Duncan, peludo.”

Desta vez, Mit começou a puxar a barba de Duncan. “Hey, Mit! Meu cabelo não é um brinquedo!”

“Tão bagunçado...”

“Hahaha! Que garoto problemático você é!” embora o tenha dito, Duncan parecia bastante satisfeito.

Depois de mexer na barba por mais algum tempo, Mit estendeu a mão para Graham. “Vovô, abraço...”

“Hum...”

Com os olhos fechados, Graham tomou Mit com cuidado e o colocou em seu colo. Mit encostou as costas nele, então pegou um pão fino da mesa e o mordeu.

Mit se adaptou tão bem a Turnera que era difícil acreditar que era na verdade um demônio. É claro que eles não contaram aos aldeões a respeito. Tudo o que disseram foi que Belgrieve o pegou na floresta. Já havia acontecido antes com Angeline, então os aldeões não questionaram.

De acordo com Graham, embora a forma de Mit fosse bastante próxima, ainda não era humano. Uma vez deixado sem vigilância, mastigava e engolia galhos, pedras e talheres — e tesouras não conseguiam cortar seu cabelo comprido. Parecia que também poderia mudar a forma de suas mãos se quisesse. Era lógico que, se suas mãos podiam mudar, seu corpo também.

Em suma, Mit nesse momento estava assumindo uma forma humana por escolha, contudo sua forma real não era fixa. Sua natureza era mais próxima daquelas figuras sombrias.

No entanto, também era verdade que o garoto era bastante estável nessa forma. Quando foi adotado pela primeira vez, de repente começava a mudar de forma enquanto dormia, porém isso quase nunca acontecia mais. Mesmo Graham não conhecia a lógica por trás dessa mudança; intrigado, continuou a observar a criança.

Tendo passado muitos anos lutando contra demônios e monstros, Graham parecia estar em um profundo envolvido nesse campo de conhecimento e tendia a ver Mit como uma amostra valiosa — embora fosse apenas no começo. Desde então, estava completamente dominado pela fofura não afetada de uma criança pequena e, embora não falasse muito, sempre ficava encantado em cuidar do menino.

Rita olhou para a criança, que estava sendo abraçada para dormir depois de terminar o pão.

“Crianças. Parece interessante...”

Barnes hesitou em responder. Rita olhou fixa em sua direção até que ele murmurou um pouco desajeitado. “S-Sim.” sua afirmativa foi rapidamente completada por Duncan.

“Então, quando é a cerimônia?” perguntou com uma risada.

“Hey! Sr. Duncan!”

“Hehe...” Rita agarrou o braço de Barnes, suas bochechas ficando vermelhas.

Kerry riu. “Apresse-se e me dê um neto para segurar!”

“Oh, cala a boca!” Barnes bebeu sua xícara para fugir do assunto. A bebida deve ter tomado o caminho errado, pois o fez ter um terrível ataque de tosse.

“Parando para pensar...” Rita disse enquanto esfregava as costas dele. “Senhor Duncan.”

“Hum?”

“Como vão as coisas com Hannah?”

“Grah!”

Duncan deu um soco no peito enquanto engasgava com a carne assada.

“Os dois tem se dado muito bem esses dias!” Kerry sorriu de orelha a orelha. “Que tal desistir de viajar e se estabelecer aqui?”

Duncan era um guerreiro que empunhava um machado de batalha, e seu domínio dessa arma significava que muitas vezes ajudava os lenhadores. A personalidade de bom coração do homem permitiu que se desse bem com eles imediatamente, e começou a participar de suas reuniões também.

Agora, aconteceu que quem cozinhava para essas reuniões era uma mulher de trinta anos chamada Hannah. Ela havia perdido o pai lenhador em um acidente com uma árvore caída e morava sozinha desde então. Apesar de sua situação, é uma mulher alegre e animada, e Duncan presumivelmente viu uma alma gêmea nela. Nos últimos tempos, Hannah até tinha começado a lhe ensinar marcenaria.

Duncan limpou as vias aéreas com vinho. Seus olhos estavam girando. “Oh não, ainda não estou pronto para sossegar!”

“O que está dizendo? Você está na casa dos trinta, pelo amor de Deus. Continue dizendo isso, e os anos passarão antes que perceba. Hannah é muito solitária, sabe. Tenho certeza de que o aceitaria com muita alegria.”

“H-Hmm...” Duncan fechou a boca, seu rosto vermelho ficando ainda mais vermelho.

Seus sentimentos pela mulher eram bastante claros.

Depois de preparar um ensopado junto ao fogo, Belgrieve levantou-se com um balde de madeira na mão. “Vou buscar um pouco de água.” disse e saiu.

Marguerite serviu-se de um copo. Então, de repente, ocorreu-a.

“Parando para pensar agora, e Bell?” todos os olhos se reuniram nela.

Kerry inclinou a cabeça. “E quanto a Bell?”

“Estava me perguntando se queria se casar ou algo assim.”

“Já que tocou no assunto. As senhoras não poderiam ter deixado um homem como Bell sozinho...”

“Então que tal, Kerry? Bell deve ter sido popular, certo?”

Kerry fez uma careta e descartou a ideia. “Neste momento, Bell pode andar de forma tão natural que nem pode dizer que tem uma perna falsa, mas sabe... Antes, mal conseguia andar quando voltou para a vila. Estava sempre se mexendo com uma bengala, era doloroso de assistir. Era assim quando trabalhava também; o veria arrastando a perna para trás. Eu diria que as senhoras não gostavam tanto dele.”

Quando voltou, Belgrieve não estava totalmente reabilitado ou treinado. Seus movimentos estavam longe de ser graciosos — não conseguia andar sem uma bengala e levava mais tempo do que qualquer outra pessoa para fazer tarefas simples.

A autossuficiência era o padrão na vila, e nenhuma mulher ficaria com um homem que não pudesse trabalhar. Havia também o fato de que Belgrieve uma vez tentou deixar a vila para trás, pelo qual foi alvo de rumores e zombaria. Ainda assim, continuou trabalhando dia após dia, enquanto continuava sua reabilitação. No fim, acabou se tornando hábil em seu trabalho e chegou a um ponto em que podia fazer ainda mais do que os outros.

“Veja, agora todos se desculparam e contam com ele. Contudo as pessoas da nossa geração? Eles se sentem culpados por torná-lo o pária por um tempo. Bell não se importa, no entanto isso só os faz se sentirem piores. O casamento está fora de questão.” Kerry fez uma pausa para tomar um gole, e então suspirou.

“E também não parece que Bell está interessado.”

“Hmm.” Marguerite desinteressadamente pressionou a xícara contra os lábios. “Agora isso é um desperdício. Certo, tio-avô?”

“Hmm?” Graham estava muito absorto em brincar com Mit. Ele ergueu o rosto interrogativamente. “Sim?”

“Nah... Não se preocupe.”

Foi quando Belgrieve voltou. Transferindo o conteúdo de seu balde para um jarro de água, notou o olhar nos olhos de todos e ficou surpreso. Voltando o olhar para eles sem entender, imaginou o que poderia ter acontecido enquanto estava fora.

“O que houve?”

“Bell, oh Bell. Você... Teve de verdade seus problemas...”

“Acho que o respeito ainda mais agora...”

Sua confusão só aumentou quando Duncan e Barnes começaram a chorar.

Coçando a cabeça, perguntou. “O-O que é isso, de repente...?”

“Hey, Bell. Tem alguém de quem você gosta?”

“Hmm? Tipo... Bem, gosto de todos em Turnera... E de Ange, é claro. Minha filha é preciosa para mim.”

“Não é o que eu quis dizer! Quero dizer, já pensou em se casar?”

O rosto de Belgrieve relaxou e se sentou com uma risada leve. “Eu? Tenho quarenta e três. Não penso mais sobre casar.”

Marguerite, parecendo agitada, encheu seu copo. Ela serviu com tanta força que um pouco da mistura acabou na mesa. “Que desperdício! Se você tem quarenta ou cinquenta anos, não importa! Não faria mal ter uma esposa ou duas!”

“Não, eu não sou um nobre — duas seriam más notícias...”

“Há alguma mulher pela qual esteja apaixonado, não é?” Graham murmurou e instantaneamente se tornou o centro das atenções. Ele parou de acariciar Mit e olhou para Belgrieve. “Foi aquela elfa chamada Satie, não é?”

“Err...” Belgrieve coçou a cabeça.

Depois de olhar fixo por um momento, Kerry disparou para frente. “B-Bell! Você se apaixonou por uma elfa?”

“Não tenho certeza se chamaria isso de amor...”

“Bell! Você conheceu outro elfo antes do meu tio-avô e de mim?” Marguerite o agarrou pelos ombros com entusiasmo.

Belgrieve se serviu amargamente de uma taça de vinho. “Foi há muito tempo... Nós fomos apenas membros do mesmo grupo por um tempo."

“Hey, hey, hey! Nunca ouvi nada sobre essa história!”

“Não, quero dizer, Não é algo que eu faria de tudo para trazer à tona...”

“O que está dizendo? Não seja tão estranho, cara! Conte-me com os detalhes!” Kerry deslocou sua cadeira para Belgrieve, inclinando-se, todo ouvidos. Marguerite, Duncan, Barnes e até Rita o observavam com grande intriga, embora Graham parecesse mais interessado em entreter Mit.

Ele deu uma risada perturbada. Um pouco de timidez o atingiu quando percebeu que contaria tal história em sua idade. As memórias podem ser amargas às vezes; só esperava poder fazer disso uma velha história engraçada para se distrair.


A taverna estava sempre animada. Aventureiros de todos os tipos bebiam e comiam juntos, independente do rank. Houve rugidos beligerantes trocados por uma melodia empolgante do povo viajante. O cheiro de guisado e álcool, e odor corporal, e todas as outras coisas misturadas, pairavam sobre toda a cena.

“Hah, fui vencida.” disse a menina elfa enquanto se esticava sobre a mesa para dar um tapinha no ombro do menino ruivo.

O menino coçou a bochecha. “Não parece.”

“Hehe, quero dizer, é tão emocionante. Sempre espero ansiosa por cada nova masmorra.”

O garoto de cabelos castanhos sentado ao lado dele riu enquanto distribuía cuidadosamente a comida entre eles. “Ser muito enérgico também é problemático, sabe.”

“Que diabos é isso?” disse o garoto de cabelos cor de palha ao lado da garota elfa. “Quanto mais espírito tiver, mais longe irá. Não é mesmo? Temos um longo caminho pela frente.”

“Hehehe, você está certo. Ainda estamos no fundo, mas um dia alcançaremos os níveis mais altos!”

“Errado, seremos Rank S! Não se contentem com menos!” disse o garoto de cabelos cor de palha, cutucando a garota. A garota riu em resposta.

O menino de cabelo ruivo sentiu uma pontada no coração. Não sabia bem por quê, porém era dominado por uma sensação muito peculiar cada vez que via o menino de cabelos cor de palha e a menina elfa riam juntos. Era de alguma forma doloroso sempre que o sorriso da garota se voltava para alguém ao lado dele.

Nada bom. Ela está apaixonada por ele, pensou o menino, levando a mão ao peito. O garoto de cabelos castanhos ao seu lado estreitou os olhos desconfiado.

“O que há de errado? O peito está doendo?”

“Não... Tem uma espinha de peixe presa...”

“Wow, isso não típico de você. Precisa ter cuidado.”

“Sim...”

O garoto ruivo engoliu sua bebida.

Enquanto isso, a garota sorriu e olhou para ele. “Hehe, é tudo tão novo para mim. O tempo que passei até agora, ora, nunca poderia ter sonhado com isto em casa.”

“Sério?”

“Sim. Aonde quer ir amanhã?”

O menino de cabelos cor de palha riu. “Nós iremos para uma masmorra diferente amanhã. Só mais um pouco e vamos caçar nossa cota. Então é mais um avanço de rank! Podemos aceitar trabalhos ainda mais difíceis depois que o fizermos!”

“Oh, wow. Finalmente é a hora, hein.”

“Sim, mal posso esperar. Não há nenhum lugar que nós quatro não possamos ir. Vou te mostrar um mundo totalmente novo.”

Enquanto a garota elfa se maravilhava com todas as novas visões à sua frente, o garoto de cabelos de palha deu um gentil tapinha em seu ombro. O garoto ruivo soltou um suspiro suave demais para qualquer um perceber.

Nunca serei capaz de liderá-la assim. O garoto riu para si mesmo, afiando os ouvidos para a pulsação de seu próprio coração. Isso é doença de amor? Ou algo diferente? Fosse o que fosse, seu coração martelava sempre que via a garota elfa sorrir para o garoto de cabelos cor de palha.

Eu a valorizaria... O garoto sabia que essas emoções nunca dariam frutos, mas ainda eram dele. Não pretendia causar problemas a ninguém, no entanto sem dúvida estava livre para deixar sua imaginação correr solta. Por enquanto, se deixou levar por uma fantasia.

A garota olhou em sua direção e sorriu. O menino sorriu de volta. Sempre ficava muito feliz quando o sorriso da garota elfa era para ele.


Belgrieve enviou Kerry para a fria calada da noite; a brisa seria perfeita para refrescar seu ardor bêbado.

Belgrieve mal havia começado a contar a história quando os outros começaram a engolir bebidas para conter sua excitação. Logo chegou ao ponto em que Kerry estava tão bêbado que mal conseguia articular qualquer coisa, soluçando e reclamando sobre isso e aquilo. Estava começando a ficar fora de controle, então Belgrieve terminou ali.

Pegando emprestado o ombro de Barnes, Kerry cambaleou pelo caminho. Então se virou e gritou: “Beellll... Você vai pegá-los, campeão! Eu estou sempre do seu lado.”

“Vá para a cama já, ou você será inútil amanhã!”

Então eles seguiram seu caminho, cambaleantes, a luz de sua lanterna ficando distante.

Belgrieve soltou um suspiro e olhou distraidamente para o céu. A lua crescente flutuava além das montanhas, deixando apenas um mar de estrelas em seu rastro. Tentou se lembrar se costumava olhar para o céu assim em Orphen, quando tinha que acampar para trabalhos longos. Pelo menos o céu não mudou nada desde então. Se eles ainda estão vivos, estarão olhando para o mesmo céu?

Todos eram todos aventureiros talentosos. Mesmo agora, Belgrieve não conseguia entender por que permitiram que ele estivesse em seu grupo. Embora tivesse rompido o contato há muito tempo, eles certamente ainda estavam vivendo a vida ao máximo em algum lugar lá fora.

Parece que ainda não cheguei a um acordo com isso, pensou. Fazia mais de vinte e cinco anos, contudo ficou surpreso ao descobrir que ainda tinha muito a dizer sobre a garota élfica.

“Talvez seja por essa razão...”

Belgrieve nunca tinha estado tão interessado em se casar. Talvez...

Ela segue sendo uma aventureira? Se for, em qual rank está agora? Teria sofrido algum ferimento grave? Ou se aposentou e se casou com alguém?

“Um aventureiro, hã...” Seus pensamentos se voltaram para Angeline. Quando era noite em Turnera, era noite em Orphen também. Belgrieve não se sentia tão sozinho quando sabia que Ange estava sob o mesmo céu que ele. Belgrieve respirou fundo, virou-se e entrou em casa. Atrás dele, uma coruja piou alto sob as estrelas cintilantes.

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