Capítulo 43: Parecia uma masmorra subterrânea
Parecia uma masmorra subterrânea, na qual as frias barras de ferro inorgânico rangiam de vez em quando.
Um homem se movia com um som estridente. A fraca luz das tochas deu ao interior de pedra, de outra forma monótono, uma cor muito necessária. Havia várias correntes de ferro enferrujadas presas às paredes sem janelas, uma das quais estava presa a alguém — um humano deitado no chão.
Quem quer que fosse, o homem não parecia tão emaciado a ponto de estar imobilizado. O homem acorrentado ficou lá usando seus próprios braços como travesseiro, com as pernas cobertas de sandálias esparramadas e um chapéu-coco de abas largas sobre o rosto. Ele exalava um humor descontraído, como se fosse apenas uma soneca da tarde. Várias garrafas vazias — licor, presumivelmente — espalhadas pelo chão ao redor de sua forma deitada.
Pouco depois, o barulho da armadura de metal deu lugar a um grupo de soldados do outro lado das barras de ferro.
“Levante-se.” disse um homem de armadura preta, evidentemente o capitão. No entanto, o homem na cela respondeu apenas com as pernas cruzadas, não mostrando nenhuma outra indicação de obediência. Em sua irritação, o capitão blindado chutou as grades. “Quanto tempo planeja mentir assim?”
“Enquanto eu puder. Morreria assim se pudesse.” respondeu o homem na cela, bastante despreocupado. A voz era masculina — um pouco alta, embora um tanto rouca também.
O homem de armadura cruzou os braços. “Patético... Você é realmente um arquimago?”
“Não me importo como as pessoas me chamam sem o meu consentimento.” o homem na cela ergueu com cuidado o torso. Ele moveu o chapéu do rosto para o topo da cabeça.
Parecia ter cerca de quarenta anos. Apenas uma camisa de mangas compridas esfarrapada e um par de calças cobria seu corpo delgado e esguio. O cabelo castanho que crescia por baixo do chapéu se estendia até os ombros e se misturava à barba espessa, que parecia ter crescido mais por preguiça do que por cuidado.
“Eu estava sonhando, sabe.” o homem murmurou para ninguém em particular. Havia um toque de alegria em sua voz. “Sonhando com era uma vez... Eu e eles, éramos todos tão jovens — eu era o mais novo, sabe... Aqueles foram momentos divertidos.”
Com isso, o homem de chapéu segurou os joelhos e suspirou. Sua respiração saiu como uma névoa branca.
O capitão blindado gargalhou. “Então está se apegando às ilusões do passado… Veja o quão longe um herói caiu. Porém assim é mais conveniente para nós.”
“Um herói, heh...” refletiu o prisioneiro, rindo de maneira cínica. “Ridículo.”
O capitão blindado fez uma careta. “Hmph... Que assim seja. Agora saia daqui. O lorde o convocou.”
“De jeito nenhum.”
“O que você disse?”
“Não estou com vontade. Não sinto vontade de fazer nada hoje em dia.” e com isso, o homem de chapéu pressionou o queixo nas mãos, que estavam cruzadas sobre os joelhos.
O capitão blindado começou a bater com a ponta da bota no chão, uma veia saltando em sua testa. Os soldados atrás dele levantaram as armas para intimidar o homem na cela.
“Já chega. Continue agindo arrogante e...”
“E?” o prisioneiro olhou para os soldados. “O que pretende fazer então? Acha que você e esses seus homens são suficientes para fazer alguma coisa comigo?”
O capitão fez uma pausa. Pensou por um momento, então disse. “Não acha que isso já é o bastante?”
“Pode me tentar, mas vai morrer.”
O homem de chapéu sorriu, levantando o dedo indicador e girando-o no ar. A mana ao redor se reuniu e o vento aumentou, embora não houvesse entrada de ar. Enquanto suas capas esvoaçavam, os soldados engoliam em seco.
Franzindo os lábios com força, o homem de armadura preta encarou o prisioneiro por um tempo. Então, por fim estalou a língua e apontou para seus homens. Os soldados baixaram as armas e afrouxaram as posturas e, com passos apressados, partiram.
O homem de chapéu acenou desinteressado com o dedo. Suas algemas se desfizeram em seguida, caindo no chão. Tomando-as com dois dedos, jogou as algemas de lado. Seu olhar distraído voltou-se para o teto — para as sombras que balançavam da chama da tocha.
O homem soltou um grande bocejo, enxugou algumas lágrimas com o dedo e soltou um suspiro solitário.
“Percy, Satie... Bell... Como estão todos esses dias...” murmurou antes de inclinar o chapéu de volta sobre o rosto.
○
À medida que a época da colheita se aproximava, o trigo semeado na primavera gradualmente adquiria uma tonalidade dourada, suas espigas ficando mais pesadas enquanto dançavam na brisa.
Belgrieve agarrou com cuidado um dos talos, sacudindo-o para verificar seu peso e plenitude. Arrancou um pouco, descascando a casca e deixando-a descansar na palma da mão. Os grãos compactados eram bem brilhantes — um bom produto mais uma vez. Belgrieve já estava começando a ansiar pela colheita.
Logo haveria uma produção maior também na montanha: uvas silvestres, amoras silvestres, akebia, cogumelos e todos os tipos de frutas, nozes e ervas. Com sorte, também pode encontrar mel. Na maioria das vezes, entrava na floresta sozinho, mas os jovens costumavam acompanhá-lo nessa época do ano. É claro que, agora que aqueles jovens haviam adquirido meios de se defenderem sozinhos, eles estavam começando a se aventurar por conta própria.
A vila estava agitada com os preparativos para o festival de outono. Quando os barris de sidra estivessem cheios, o trigo estaria pronto para a colheita. Então, seria hora de espalhar o trigo para a próxima estação, colher as leguminosas, estocar combustível e preparar alimentos em conserva e ração para o gado para sustentá-los durante o inverno... Foi um evento após o outro, quase sem um momento para recuperar o fôlego coletivo. Os aldeões iriam dão tudo de si para tornar o inverno mais suportável. Belgrieve não apenas cuidava de suas próprias colheitas, como também ajudava nos campos de outros; Duncan fez quase o mesmo.
Em sua cabeça, ele pensou nas várias etapas do trabalho enquanto Mit gingava e se agarrava à sua perna. Tesouras eram inúteis no cabelo comprido do menino, então estava preso para trás.
“Pai...”
“Hum?” Belgrieve levantou-o. “O que há de errado? Cadê o vovô?” perguntou.
“Vovô, ali.”
Belgrieve se virou, seus olhos traçando o gesto de Mit antes de pousar sobre Graham e Marguerite se enfrentando com espadas de madeira na mão. Até Marguerite, que normalmente empunhava sua espada com arrogância, estava com uma visível ansiedade ao enfrentar Graham. Ela tinha uma expressão séria no rosto, mantendo uma postura firme enquanto esperava cautelosa por uma oportunidade de atacar.
O mestre elfo e a aluna se enturmar em Turnera. Eles não tinham intenção de se estabelecer aqui, contudo Graham não planejava partir por enquanto — não quando Mit estivesse por perto.
Marguerite tinha, como era esperado, ficado cara a cara com suas próprias inadequações. Não apenas implorando a Graham para retreiná-la desde o início, como também foi para a floresta com Belgrieve e os outros para aprender como pesquisar e explorar. Já tinha alguma experiência na área, porém havia algo a ser dito para ganhar uma nova perspectiva. Os elfos viam as florestas como um lugar para viver, enquanto os aventureiros as viam como uma selva a explorar; Marguerite parecia bastante intrigada com essa diferença.
Na vila, Marguerite estava turbulenta como sempre — no entanto, embora continuasse rude e imprudente, parava para pensar de vez em quando e saía para vagar sozinha pelas planícies gramadas. Seu rosto perturbado enquanto se afastava — emoldurado pelos traços graciosos característicos de sua tribo — a fazia parecer terrivelmente efêmera.
Enquanto isso, Belgrieve estava praticando com sua espada muito menos do que antes. Nunca perdia suas sessões de prática matinais e noturnas, todavia agora se concentrava mais na respiração e na meditação. Aos quarenta e três anos, treinar o corpo não era mais a forma mais direta de aumentar suas habilidades. Treinar como se ainda fosse um jovem poderia ter o efeito oposto, e o treinamento muscular imprudente apenas retardaria seu declínio.
Sob as instruções de Graham, ele deu um passo à frente para melhorar a sinergia com sua lâmina, bem como mover mana de forma mais eficiente por seu corpo. Seu estilo dinâmico mudou para um mais estático e, embora possa ter sido difícil para os outros perceberem, Belgrieve podia sentir que estava sem dúvida mudando.
Que irônico, pensou. Quando lutou como um aventureiro, sentiu como se tivesse atingido o limite de sua habilidade como lutador da linha de frente. No entanto, a perda de sua perna o forçou a balançar sua espada de uma maneira diferente. Ele nunca teria florescido assim de outra forma.
Belgrieve riu enquanto observava a espada de madeira de Graham bater em Marguerite. A garota possuía uma força incrível, mas era como se fosse uma completa amadora ao lado de seu tio-avô.
Mit apontou com um olhar curioso em seu rosto. “Vovô e Maggie brigando?”
“Eu não chamaria exatamente isso.”
“Mas parece doloroso...”
“Não se preocupe. É apenas dor e nada mais.” Belgrieve pegou o menino antes que ele pudesse escorregar. “Agora, então, tenho outro trabalho para fazer. O que quer fazer Mit? Ir com o pai? Ou voltar para o vovô?”
“Com o pai...”
“Tudo bem.”
Com Mit em seus braços, Belgrieve caminhou ao lado do campo. Podia ouvir canções de semeadura sendo cantaroladas e cantadas aqui e ali.
As batatas plantadas na primavera precisavam ser desenterradas. Esses tubérculos eram o segundo alimento básico mais importante depois do trigo. Por sorte, eles podiam crescer vigorosamente mesmo no frio do norte.
Belgrieve rasgou o chão com uma enxada e colocou qualquer batata que viu em sua cesta. Estava acostumado com o trabalho, contudo teve que se agachar para fazê-lo. De vez em quando, tinha que se levantar e esticar as costas, ou não aguentaria.
Enquanto Belgrieve escavava batatas, Mit sentava-se ao lado, deixando seu olhar vagar pelo espaço. Parecia estar focado nos insetos que passariam voando. De repente, um grilo saltou no ar — Mit rapidamente o pegou em suas mãos e o enfiou na boca.
Com um olhar de soslaio, Belgrieve franziu a testa e se aproximou.
“Hey, vamos, Mit.”
“Hmm.”
“Eu te disse, não coma coisas do chão.”
“Hmm.”
“Achou que eu não estava vendo? Você não pode fazer isso.”
Enquanto Mit parecia relutante, deu um leve acenou com a cabeça. Belgrieve soltou um profundo suspiro.
Cada vez que via tal exibição, se lembrava de que Mit não era verdadeiramente humano. Ele também não estava limitado a insetos. Na hora da refeição, o menino às vezes mordia o prato em que servia a comida e, outras vezes, comia folhas, galhos e pedras que encontrava no fundo do quintal. Belgrieve o repreendia sempre que isso acontecia, porém talvez por ser tão jovem era difícil quebrar seus hábitos.
Os aldeões adoravam Mit, vendo-o como uma criança abandonada comum; Belgrieve não tinha ideia de como eles reagiriam se visse tal comportamento. Esperava que os demais rissem de seu comportamento, pensando que era só um tipo peculiar. No entanto, também podem temê-lo como uma entidade misteriosa.
Belgrieve sempre ficava muito tenso sempre que via esse lado de Mit aparecer. Nunca o deixou fugir e brincar com as outras crianças, nem o confiaria aos cuidados de ninguém além de Graham ou Duncan.
Isso não era algo que pudesse ser escondido para sempre. Chegaria o dia em que teriam que abrir a cortina, e Belgrieve não conseguia parar de se preocupar com o que fazer a respeito. Além de seus hábitos alimentares, Mit era inofensivo. Era inocente, curioso e fofo — embora um pouco inexpressivo — e um pouco mais infantil do que sua aparência sugeria. Os aldeões o adoravam.
“O que será, será, eu acho.” Belgrieve murmurou para si mesmo enquanto jogava outra batata em sua cesta. Ele deu uma olhada em Mit para ver o menino balançando para frente e para trás com os olhos fechados.
“Heeey, Bell!” Duncan o chamou de repente.
Belgrieve ergueu o rosto. “O que foi?”
“Está quase na hora do almoço. Kerry queria saber se você queria comer com ele.”
“Oh, já é bem tarde.”
Antes que Belgrieve percebesse, o sol já estava alto no céu e sua cesta estava cheia.
“Tudo bem, vamos lá. Venha cá, Mit.”
Mit cambaleou até lá. Belgrieve colocou a cesta de batatas ao lado do campo e ergueu a criança.
○
Muitas sombras dançavam contra as paredes cinza-escuras da guilda dos aventureiros de Orphen, que estava mais animada do que nunca.
“A festa de casamento de Turnera será um fracasso total neste ritmo...” Angeline murmurou, com o rosto plantado em uma mesa no saguão.
O homem sentado em frente a ela balançou a cabeça. “Não sei do que está falando, mas meus pêsames.”
“Hey, Sr. Ed. Você conhece alguma boa candidata a noiva?”
“Não me pergunte. Em primeiro lugar, não deveria estar procurando um noivo?”
“Não para mim... Para o meu pai.”
O homem chamado Sr. Ed inclinou a cabeça. “Seu pai? Ele não é casado?”
“Sim... Eu era uma enjeitada. Meu pai me encontrou...”
O Sr. Ed — ou melhor, Edgar — assentiu, agora um tanto intrigado. Seu cabelo curto era de um tom quase preto de marrom, e usava uma bandana sobre a testa. Ele era um dos antigos membros do partido de Lionel e correu para Orphen da capital imperial. Ainda era um aventureiro Rank AAA ativo. Após seu retorno, lutou na linha de frente e negociou nos bastidores, assumindo qualquer trabalho necessário para apoiar Lionel.
Seus trabalhos raramente o colocavam perto de Angeline, então, embora trocassem uma conversa fiadas ocasionais, nunca se sentaram para uma conversa como essa.
O plano de Angeline de encontrar uma noiva para Belgrieve estava em um impasse — em especial porque todas as candidatas a noivas que havia selecionado por contra própria não estavam tão entusiasmadas quanto ela. A própria Angeline ainda não havia desistido, contudo não era como qualquer um faria. Dito isso, já havia visitado todas que achava que poderiam se encaixar no projeto e se encurralado.
Agora abatida por completo com o pensamento de que nunca teria uma mãe, Angeline reclamava para cada pessoa que a ouvia.
Edgar apagou a chama de um rolo de tabaco e tomou um gole de chá. “Seu pai é o Ogro Vermelho, certo? Acha que somos da mesma geração?”
“Quantos anos você tem, Sr. Ed?”
“Quarenta este ano. O mesmo que Leo. Ahh, como o tempo voa...” com isso, Edgar recostou-se na cadeira, deixando o peso de todos os anos se acomodarem. Colocou um novo rolo de fumo entre os dentes. Embora ainda parecesse jovem à distância, as rugas sob seus olhos eram um pouco evidentes e um pouco de branco começou a se misturar com seus folículos. “Então, qual é a idade do seu velho?”
“Quarenta e três.”
“Hmm, um pouco mais velho, porém quase da mesma geração. Seu pai era um aventureiro, certo?”
“Sim...” Angeline tomou um gole de chá.
Edgar acendeu o fumo enquanto deixava a mente vagar. “Ogro Vermelho, hein. Sim, vou ser sincero, não sei nada a respeito. Seu pai foi mesmo um aventureiro em Orphen?”
“Foi.”
“Hmm...” Edgar cruzou os braços. Parecia estar procurando até mesmo a mais leve noção para se agarrar, no entanto não havia como ter qualquer ideia de quem era Belgrieve — esse apelido foi inventado pela própria Angeline.
“Quem era famoso na sua geração, Sr. Ed?”
“Hmm, bem, vamos ver. Havia muitos fortes, mas o primeiro nome que vem à mente deve ser Lâmina Exaltada. Veja, Leo era um Rank S também, entretanto nunca deixou uma marca porque estava na sombra daquele monstro. Embora aquele cara tenha deixado Orphen muito rapidamente, então não o vi muito.”
“Foi para a capital imperial?”
“Nah, ouvi dizer que deixou o Império Rodésia. Passou por Lucrecia e Tyldes para a Federação Oriental ou algo parecido. É tudo boato, e é uma velha história. Não posso te dizer onde ele está agora.”
“Ele é mais forte que meu pai?”
“Como vou saber... Seu pai é tão forte assim?”
“É mais forte do que eu.”
“Bem, isso é incrível.” Edgar coçou a bochecha com uma risada seca.
Não havia um aventureiro nas proximidades de Orphen que não conhecesse o nível de habilidade de Angeline. Ela era famosa por matar um demônio, e muitos lutaram com ela para experimentar sua proeza em primeira mão. Se fosse feito um ranking de todos os aventureiros do ducado, seria mais rápido encontrá-la contando de cima para baixo.
No entanto, havia um homem que Angeline elogiava tanto. Talvez Angeline estivesse só o exaltando, todavia agora era famoso entre todos os ex-aventureiros Rank S reintegrados. Isso o tornava ainda mais intrigante.
Edgar ergueu a cabeça, com uma expressão de espanto no rosto. “Por que alguém tão incrível está nos confins do norte...”
“Meu pai está protegendo nossa casa... Turnera está segura porque ele está lá.”
“Sua terra natal está em guerra com os elfos ou algo assim?”
De repente, houve uma chamada da mesa. “Isso é para mim.” disse Edgar, fazendo uma reverência e se despedindo.
Angeline bebeu o resto de seu chá floral e se recostou na cadeira, olhando em volta. O prédio fervilhava de candidatos a emprego e de funcionários que os designavam. Com tantas pessoas por perto, não posso culpá-los por me deixar esperando.
Angeline estava esperando o veredicto sobre seu pedido de folga.
As coisas mudaram desde o surto de monstros em massa, e não deveria haver nada a impedindo de partir, contudo vários sistemas estavam sendo testados e formalizados enquanto a guilda tentava se tornar independente. Por enquanto, pelo menos, e mesmo que apenas para aparência, eles tiveram que passar pelos procedimentos adequados para tudo. Assim, aqui estava ela, esperando.
O braço de Angeline lutou contra o tédio. Havia confiado Charlotte e Byaku a Anessa e não tinha absolutamente nada para fazer agora que seu parceiro de conversa havia partido. Mesmo assim, não podia sair ainda, então sentou e esperou.
Em momentos como este, só podia deixar sua imaginação correr solta. Assim que tivesse uma folga, pretendia voltar para Turnera. Se estaria de volta a Orphen antes do inverno, ou se passaria o inverno em Turnera e retornaria na primavera, decidiria depois que chegasse lá. Por que valeu a pena, seu formulário dizia que ficaria fora por dois meses, porém não tinha intenção de se prender a isso e não conseguia imaginar como poderia ser um problema.
Para começar, apresentaria Charlotte e Byaku ao pai. Meu pai certamente ficaria surpreso, mas os receberia com carinho. Charlotte não ficaria sozinha com Belgrieve, e a personalidade distorcida de Byaku também seria moldada.
Então, ela iria para a montanha para colher amoras, uvas, akebias e cogumelos também. Com sorte, talvez pudesse até pegar um pássaro elaenia.
As batatas estariam colhidas nessa altura. Então, e o trigo da primavera? Se a colheita terminasse, eles poderiam comer pão feito com farinha moída na hora. A massa era boa quando rasgada em pequenas tiras e fervida. Se tivermos carneiro, podemos prepará-lo com vegetais de raiz e framboesa...
“Hah... Mal posso esperar.” Angeline riu para si mesma enquanto um grupo de jovens aventureiros que passava lançava olhares duvidosos em sua direção.
Depois de brincar na floresta de sua imaginação por algum tempo, por fim foi chamada à recepção. Angeline se dirigiu para encontrar Yuri sorrindo enquanto espalhava documentos sobre o balcão. “Tudo bem, por favor, leia esse documento. Se tudo estiver em ordem, preciso que assine aqui.”
“Feito.” a caneta de Angeline correu suavemente sobre a página sem pensar duas vezes antes de devolver o formulário a Yuri. Ela confiava que a guilda Orphen não tentaria enganá-la neste momento. Sendo franca, se sentiu bastante ofendida porque toda a espera não passou de uma única assinatura.
“Alguma coisa que você possa fazer sobre toda essa papelada...?”
Um olhar preocupado cruzou o rosto de Yuri. “Sinto Muito. A guilda não tem nenhum problema com sua partida, no entanto os nobres proeminentes vão nos dar uma bronca. ‘Por que estão mandando embora um bem tão valioso?’, eles reclamarão conosco. Precisamos pelo menos parecer um pouco relutantes.”
“Hmm... Também sou humana. Não uma ferramenta para matar monstros. Preciso do meu tempo de folga.”
“Sim, acho que é assim que deve ser. Acho que uma pequena bronca será suficiente para Leo perceber.”
Angeline sorriu ao imaginar o rosto pálido de Lionel. “O mestre da guilda é muito fraco de vontade...”
“Hehe, Leo sempre foi um covarde. É assim que sobreviveu por tanto tempo.”
“Sim... Meu pai disse que um pouco de covardia é necessário... Você deveria vir para Turnera um dia desses, Yuri.”
Yuri riu e deu um tapinha na cabeça de Angeline. “Boa tentativa, Ange. Agora vá e divirta-se.”
“Grrr...”
Agora ela estava sendo ignorada mesmo quando não havia falado sobre casamento. Angeline franziu os lábios, mas não adiantava levar Yuri ali contra sua vontade. Ela se virou e se dirigiu para a taverna de sempre. Soprava um vento de outono, mas o sol ainda carregava o cheiro do verão.
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