quinta-feira, 19 de janeiro de 2023

Boukensha ni Naritai to Miyako ni Deteitta Musume ga S Rank ni Natteta — Volume 04 — Capítulo 50

Capítulo 50: Como de costume, o escritório do mestre da guilda

Como de costume, o escritório do mestre da guilda estava cheio de todos os tipos de documentos, mas algum espaço havia sido liberado ao redor do sofá e da mesa de convidados. Como um ex-aventureiro, Belgrieve ainda se sentia um pouco nervoso e tímido quando foi instado a se sentar.

“Eu meio que me sinto mal, Lionel. Não há necessidade de ir tão longe por mim.”

“De forma alguma! A guilda de Orphen tem uma grande dívida com a Sra. Ange e também com seu pai. Nem sequer comecei a retribuir o favor!”

“Porém eu realmente não fiz nada...”

“Suas palavras são a razão pela qual a Sra. Ange ficou para enfrentar o demônio. Não posso agradecer-lhe o suficiente.”

“Independente do que eu disse a ela... Ange foi quem trabalhou.”, disse Belgrieve, coçando a cabeça.

Seus ensinamentos serviram de ímpeto para Angeline salvar Orphen — talvez essa fosse a verdade, contudo ele não se sentia como se tivesse feito alguma coisa sozinho. Era desconfortável receber elogios tão imerecidos; afinal, foi Angeline quem se posicionou e lutou. Belgrieve estava orgulhoso de sua filha, no entanto não era vaidoso o suficiente para aceitar qualquer crédito para si mesmo.

Graham e Mit permaneceram em Turnera, e ele se separou de Duncan em Bordeaux — o homem desejava ir mais para o leste. Duncan pretendia encontrar um caminho pelas montanhas até a federação oriental, embora tenha prometido que eles se reuniriam em Turnera algum dia.

Belgrieve sentiu uma profunda sensação de nostalgia ao retornar a Orphen depois de tanto tempo. Passou apenas alguns anos lá, todavia esse tempo parecia tão agitado quanto os vinte anos que se seguiram. Depois de ver o prédio da guilda e a rua do centro que levava para sua entrada, suas vagas memórias começaram a se agitar e se tornar mais concretas.

Anessa olhou ao redor da sala antes de inclinar a cabeça para o lado. “Senhor Dortos e o senhor Cheborg não estão aqui hoje.”

“Sim, bem, os dois partiram para lida... Quero dizer, para prestar homenagem a alguns dos nobres que nos financiam. Eles são mais persuasivos do que eu.” admitiu Lionel.

“Entendo.” Anessa reconheceu.

Prateado e o Destruidor... Belgrieve ficou um pouco pasmo. Ambos já eram venerados Ranks S quando ele era um aventureiro ativo. Naquela época, parecia que aqueles homens viviam em um plano superior de existência. Ao que parecia, estavam se dando bem com Angeline, então talvez tivesse a chance de falar com a dupla enquanto estivesse em Orphen. Belgrieve podia sentir seu espírito se elevando com a memória da veneração e admiração que sentira tanto tempo atrás.

“Hmm...” Charlotte entrou na conversa. Ela ficou inquieta por perto, aparentemente muito ansiosa para se sentar por mais tempo.

“Hmm? Há algo de errado?”

“Posso... Posso sentar no seu colo?”

Belgrieve piscou, surpreso. Acho que ela está naquela idade em que quer ser mimada, pensou, acariciando a barba displicentemente. “Vá em frente.”

Charlotte desbordando alegria — embora um pouco tímida — sentou-se. “Hehe... Está tão confortável.”

“Afinal, é um dia frio... Então, o que vocês dois estão fazendo aqui?”

“Hum... Bem...”

Charlotte se encarregou de explicar o que havia acontecido, com Anessa e Miriam contribuindo de vez em quando: sobre o que aconteceu com elas depois do caos em Bordeaux, sobre a organização à qual Byaku pertencia, sobre a Inquisição Lucreciana e sobre Angeline assumindo a responsabilidade de proteger as duas crianças de ambos os grupos.

“Entendo... Vocês tiveram uma vida difícil. Bom trabalho.” Belgrieve sorriu enquanto despenteava a barba pensativamente. Ficou encantado ao saber do crescimento de Angeline e simpatizou com a perseverança de Charlotte e Byaku.

Em silêncio, Charlotte se recostou e pressionou o rosto no casaco de Belgrieve. Parecia que estava tentando esconder as lágrimas.

Embora tivesse um sorriso irônico no rosto, Belgrieve acariciou sua cabeça. “Apesar de tudo, você ainda é uma criança, hein?”

“Char está faminta por afeto paterno, Sr. Bell.” Miriam disse com uma risada travessa antes de se virar para Byaku. “Tem certeza de que não quer ser mimado, Bucky?”

“Por que eu ficaria feliz em ter um velho agarrado em mim, sua gata estúpida?”

Miriam inchou as bochechas. Ela apontou o dedo para o menino e olhou para Belgrieve. “Ele é um azedo, não é? Por favor, discipline-o, Sr. Bell.”

“Não tenho certeza se sou o cara certo para a tarefa.” respondeu Belgrieve.

“Apenas fique de fora.” Byaku resmungou. “Não é da sua conta.”

“Haha, bem, isso está certo. Byaku, todo esse tempo você protegeu Charlotte sozinho, não foi? Não há mais nada para um velho como eu te ensinar.”

“Tsk...” Byaku franziu a testa e se virou.

Miriam e Anessa sorriram.

“Está com vergonha.”

“Com certeza está envergonhado.”

“Não estou envergonhado!” Byaku rugiu.

Marguerite fez uma careta e deu um tapinha no ombro do garoto. “Hey, não precisa ser tão mal-humorado.”

“Qual é o seu problema? E o que você tem a ver?”

“Tem muito a ver comigo, idiota... É como se estivesse olhando para mim mesma, e é tão embaraçoso que estou prestes a morrer aqui... Por favor, apenas relaxe.” disse Marguerite, cobrindo o rosto avermelhado com a mãos. Belgrieve quase caiu na gargalhada. Pensando bem, no começo Marguerite foi hostil, afastando qualquer um que tentasse se aproximar.

Com outro estalo de língua, Byaku ficou em silêncio. Anessa olhou entre Marguerite e Belgrieve, inclinando a cabeça com curiosidade.

“Pensando bem, como vocês dois se conheceram?”

“É verdade! Por que estão tão próximos?”

“Nós moramos um pouco juntos. Claro que nos daríamos bem.” Marguerite afirmou com indiferença, saindo de seu constrangimento. A frase dela fez Belgrieve colocar a mão na testa. Como era de se esperar, todos ali pareciam perplexos.

“Mo-Morando junto com uma elfa?”

“Hehe, parece que o Sr. Bell é um bom operador... Ele é uma boa pessoa, não é, Maggie?” Miriam sorriu, cutucando a elfa.

Marguerite coçou a bochecha. “Sim, Bell é um cara legal. O que tem?”

“Maggie, eles parecem pensar que estávamos morando sozinhos juntos.” Belgrieve informou-a.

Depois de pensar por um breve momento, Marguerite de repente caiu na gargalhada. “Ahahahaha! Não, estão entendendo tudo errado! Nós não somos assim, eu e Bell! Sem falar que meu tio-avô e Duncan estavam conosco... E Mit também, não posso esquecer de Mit. Era um lugar bastante animado.”

Anessa olhou para Belgrieve interrogativamente. “Senhor Bell, quando conseguiu uma família tão grande?”

“Bom, isso e aquilo aconteceram... Nem sei por onde começar.” parando por um momento, de repente lembrou-se. “Certo, certo, o que há com essa história de encontrar uma noiva para mim? Acredito que a Sra. Yuri disse algo a respeito...”

Anessa e Miriam trocaram olhares e sorrisos preocupados.

“Isso é bom...”

“Você deveria... Provavelmente perguntar a A-Ange sobre.”

Belgrieve já tinha uma vaga ideia, dadas às reações delas. Assim como o apelido de ‘Ogro Vermelho’, é provável que essa fosse uma das demonstrações ridículas de afeto de filha de Angeline. Ele suspirou. Com base em como Yuri colocou, Angeline parecia estar operando sob o mal-entendido de que Belgrieve havia pedido a sua filha que o encontrasse uma noiva em Orphen.

Belgrieve, é claro, não tinha opinião sobre o assunto, mas Angeline tendia a desenvolver uma visão estreita sempre que tinha uma ideia em sua cabeça.

“Que garota problemática... Preciso me desculpar com todos que incomodou com esse assunto.”

“Você não fez nada de errado, Sr. Bell.”

“Contudo, hey, agora que o Sr. Bell está aqui, pode ter uma chance. Não quer uma esposa, Sr. Bell?”

Marguerite deu uma risadinha. “Você está latindo para a árvore errada. Bell já tem uma garota em seu coração.”

“Hã?”

“Maggie... Continuo repetindo. Não é assim...” Belgrieve suspirou mais uma vez, porém as meninas estavam se inclinando, com nítido interesse.

“Quem? Quem? Quem? Alguém em Turnera? Ah, talvez alguém de seus dias de aventura?”

“Se for verdade... Ele deve ser incrivelmente fiel...”

“Não, estou te dizendo...” Bell coçou a cabeça. As garotas com certeza gostam desse tipo de coisa.

Reconhecidamente, Belgrieve pode ter nutrido sentimentos fracos de afeição quando era jovem, no entanto foi há vinte anos. Neste ponto, tudo estava acabado e encerrado. De sua parte, apenas queria conhecê-la e pedir desculpas por ter ido embora sem dizer uma palavra.

As meninas insistiram para que falasse, então, relutante, continuou contando o que havia acontecido depois que voltou para a vila. Marguerite entrou na conversa assim que chegou ao assunto de sua crescente lista de colegas de casa. Por fim, falou sobre como veio a Orphen para encontrar seus antigos camaradas e confrontar seu passado.

Miriam soltou um suspiro de saudade. “Então, muitas coisas aconteceram, hein, Sr. Bell.”

“Então... Vai voltar assim que encontrar aqueles velhos camaradas?” Anessa parecia um tanto desamparada.

Belgrieve sorriu. “Não, em todo caso, não posso voltar para Turnera até que a neve derreta. Estarei aqui durante todo o inverno e tenho certeza de que Ange voltará eventualmente.”

Ele nunca imaginou que estaria esperando por sua filha em Orphen também. Anessa, Miriam e Charlotte compartilharam rostos muito felizes.

“Nesse caso, vou ajudá-lo a encontrar seus companheiros!”

“Sim, está certo. Vamos fazer isso, pelo menos.”

“Obrigado...” Belgrieve disse, sorrindo. “Seria uma grande ajuda. Embora eu não saiba se eles ainda estão em Orphen.”

“Hmm... Ainda são aventureiros? Quais são os seus nomes?”

“Seus nomes... Nosso líder era Percival. Ele era um bom espadachim. Tínhamos uma elfa chamada Satie, que sabia usar magia e também era habilidosa com a espada. Então, havia Kasim; nosso mago e o membro mais jovem do grupo.”

Belgrieve relembrou enquanto falava. Já faz um tempo desde que eu disse o nome de Percival ou Kasim. Quando atingiu seus limites e voltou para Turnera, houve um tempo em que seu coração doía toda vez que se lembrava deles, suas boas lembranças em guerra com sua auto aversão.

Ele intencionalmente manteve seus nomes em sua língua. Sempre que Angeline o pressionava por histórias antigas, nunca os chamava pelo nome. Talvez estivesse com muito medo de enfrentar seu passado. Quando Graham perguntou sobre Satie, ficou surpreso com a facilidade com que falava sobre ela. Talvez fosse por essa razão que sabia que tinha que fazer essa jornada — precisava acertar as contas com seu passado e seguir em frente.

Anessa cruzou os braços. “Percival, Satie, Kasim...” murmurou. “Sim... Os nomes soam um tanto familiares...”

“É verdade! Você era da mesma geração, certo mestre da guilda? Não os conhece? Hey, mestre da guilda?”

Todos os olhos se concentraram em Lionel. Porém, Lionel, que já tinha ouvido de tudo, lutava para acompanhar tudo o que aprendia. “O pai e mestre da senhorita Ange, amigo do Paladino Graham, guardião da princesa elfa... E ainda por cima, os membros de seu grupo eram Percival, Satie e Kasim? Sr. Belgrieve... Quem é você, de verdade?”

“L-Lionel?”

“Ah... Desculpe.” Lionel rapidamente corrigiu sua postura e limpou a garganta. “Ahem, em primeiro lugar, Sr. Percival... É um aventureiro Rank S conhecido como Lâmina Exaltada.”

Todos, exceto Belgrieve e Marguerite, ficaram surpresos.

Belgrieve puxou alegremente sua barba. “Entendo... Sabia que Percival faria sucesso algum dia. Deve ter trabalhado muito... Ele também era alegre e confiável, sempre nos arrastando junto.”

“Senhor Belgrieve, você era um membro do grupo da Lâmina Exaltada...” Lionel mal conseguia falar. Ficou tão surpreso que alcançou um estado de serenidade.

Belgrieve deu uma risada seca. “Foi muito antes de ter esse nome grandioso para si mesmo, quando Percy e eu éramos Ranks E.”

Uma súbita dor fantasma latejante atingiu sua perna direita. Belgrieve estremeceu um pouco, mas recuperou a compostura logo depois.

“Já ouvi falar da Lâmina Exaltada antes! Ouvi dizer que matou o ciclope no Cume Chitra e derrotou o vampiro de sangue verdadeiro do velho castelo! Ele é incrivelmente forte!” Charlotte cantarolou, puxando suas roupas com entusiasmo.

“Hmm, um vampiro, hein? Não é pouca coisa.” Marguerite cruzou os braços, parecendo um tanto impressionada.

Ainda que Anessa e Miriam não conhecessem o nome Percival, era evidente que já tinham ouvido falar da Lâmina Exaltada antes. Seus olhos estavam girando.

Lionel levou a mão à testa. “Percival deixou Orphen cerca de quinze anos atrás... Ouvi dizer que parou por algum tempo na capital imperial, mas ninguém sabe para onde foi depois.”

“Entendo, obrigado.”

Lionel baixou a cabeça desculpando-se. “Para o Sr. Kasim... Ele também é um aventureiro Rank S, ou um ex-Rank S, de qualquer maneira... Também se juntou às fileiras dos arquimagos, e é conhecido como o Destruidor de Éter.”

“O-O Destruidor de Éter? Sabia que já tinha ouvido o nome Kasim em algum lugar antes!” Miriam gritou.

“É famoso?”

“Ele é um arquimago! Desenvolveu um novo sistema para sequências de feitiços paralelas que aumentaram a eficiência operacional em trinta por cento!”

Isso não significou muito para Belgrieve, contudo claramente realizou algo incrível.

“Entendo... Sim, Kasim era um verdadeiro gênio... No entanto estava sempre se escondendo, com medo de estranhos, mesmo sendo tão amável... Se preocupava com todos, porém também gostava de fazer travessuras...” os olhos de Belgrieve pareciam distantes, como se embora olhando para alguma terra longínqua.

Vendo isso, a voz de Lionel só ficou mais apologética. “E, bem... Trocou Orphen pela capital imperial há cerca de vinte anos. Foi aí que derrotou o Senhor do Vazio e ganhou seu Rank S, e o legado do Destruidor de Éter começou... Entretanto um tempo depois, devolveu sua licença de aventureiro. Houve um pouco de alvoroço sobre como o Destruidor de Éter havia se aposentado.”

“Aposentado, hein... Sabe onde está agora?”

“Não, ele eventualmente desapareceu sem deixar vestígios...”

“Oh, entendo.”

Belgrieve coçou a bochecha com pesar. Não achava que seria fácil encontrar seus companheiros, todavia nunca imaginou que seria tão difícil. Erguendo o rosto, continuou hesitante. “Então e quanto a Satie...?”

“Elfos aventureiros são raros, então me lembro da Sra. Satie. Não que tenhamos conversado antes... Parece que ela finalmente alcançou o Rank A. Por infelicidade... Deixou Orphen um pouco antes dos outros dois. Não há nem mesmo rumores de suas façanhas depois de sua partida...”

“Os três não estavam no mesmo grupo?” Belgrieve perguntou.

“Não, quando soube deles, já haviam seguido caminhos separados. Só ouvi rumores de que já foram camaradas... Nunca soube se eram boatos verdadeiros.”

Belgrieve suspirou. Os três não estavam mais em Orphen. Ele por fim resolveu deixar Turnera, mas talvez tenha partido em uma missão tola.

“Não sei o que dizer...” Lionel falou com genuína sinceridade. “Sinto muito.”

“Pelo que está se desculpando, Lionel? Eles são pessoas vivas; se movem por vontade própria, assim como eu fiz quando fui para Turnera.”

Uma risada solitária escapou dos lábios de Belgrieve. Não conseguiu ir tão longe quanto a capital imperial para encontrá-los. Ainda que fosse até lá, não havia garantia de que os encontraria também. Por enquanto, decidiu ficar satisfeito com as informações que obteve. No entanto, era preocupante que todos seguissem caminhos separados. “Aconteceu alguma coisa...?” Belgrieve se perguntou.

De qualquer forma, ainda era seu primeiro dia de volta. Era muito cedo para desistir. Por enquanto, tomaria seu tempo reunindo informações enquanto esperava por um alegre reencontro com Angeline. Essa foi, afinal, uma razão significativa para sua vinda para Orphen.

Nesse ponto, percebeu o quanto estava ansioso pelo reencontro, embora a tivesse visto na primavera. Não estava mais em posição de rir do afeto arrogante de Angeline agora.

Miriam colocou a mão no queixo, fazendo o papel de detetive.

“Entendi. Aquela elfa chamada Satie é a amada do Sr. Bell.”

“Excelente dedução!” respondeu Marguerite.

Esse tópico voltou imediatamente, e Belgrieve foi assaltado por uma enxurrada de perguntas.


“Wow! Incrível!”

Liselotte recostou-se no sofá. O sol já havia se posto lá fora e o ocasional vento sacudia a janela.

Histórias de matar monstros, de masmorras conquistadas, de fracassos que Angeline agora podia olhar para trás e rir... Depois de participar de muitos contos, Liselotte parecia satisfeita. Ela ofereceu uma grande reação a cada pequeno detalhe e fez todos os tipos de perguntas. Depois de entrar nisso, Angeline sentiu que havia falado inadvertidamente por muito tempo, e o chá foi ainda mais refrescante para sua garganta.

“Você é incrível, Ange... Você é uma garota, mas fez tantas coisas!”

“Sim...”

“Hehe, foi divertido. Obrigada! Hey, Ange, somos amigas, não somos?” Liselotte disse, inclinando-se.

Angeline deu um sorriso cansado. “Sim... Amigas.”

Liselotte estendeu a mão e alegremente agarrou a mão dela. “Sempre quis amigos aventureiros! Hehe, maravilhoso... Hey! Vou te mostrar meu segredo! Vamos!”

Angeline estava com sono, porém foi arrastada pelo entusiasmo de Liselotte. Seu olhar voltou-se para Gilmenja, que piscou de volta.

Pegando uma garrafa de destilado na prateleira da sala, Liselotte instruiu Angeline a usar um casaco. Ela silenciosamente abdicou isso.

“Está muito frio lá fora! Vai pegar um resfriado se não tomar cuidado!” Liselotte repreendeu.

“Onde estamos indo?”

“É uma surpresa!”

Angeline seguiu Liselotte para cima e para baixo pelos vastos corredores da mansão e saiu para um quintal modesto nos fundos. Ao contrário do jardim da frente, não era decorado com ornamentos berrantes nem era bem cuidado. No geral, este parecia ser um lugar para os criados trabalharem.

Flocos de neve espalhados flutuavam no ar. Deveria ter esperado isso ao deixar o interior aquecido pela magia, mas se viu tremendo mesmo assim.

Liselotte atravessou o pátio e abriu uma porta na imponente parede de pedra semelhante a uma muralha. Talvez fosse um antigo arsenal, pois podia ver pilhas empoeiradas de armas sem manutenção atrás, atrás de pilhas de várias outras coisas. Em suma, estava sendo usado para armazenamento.

Outro caminho se estendia da parede mais distante, e este pequeno corredor semelhante a um túnel levava a um conjunto de escadas de pedra. Estava escuro como breu, sem nenhuma tocha à vista. Liselotte puxou um colar da gola do vestido e bateu nele, produzindo uma luz fraca. Era uma ferramenta mágica portátil feita de pedra brilhante amarela.

Elas desceram os degraus devagar e com cuidado, saindo por fim para um amplo espaço aberto que estava iluminado. Havia tochas acesas nas paredes, iluminando várias celas com portas de metal gradeadas. Isso tinha que ser uma masmorra subterrânea, e não do tipo que um aventureiro gostaria de mergulhar também.

Era completamente diferente da deslumbrante mansão acima — este lugar era escuro e frio. No entanto, a mansão tinha sido originalmente um forte, então não era tão estranho que houvesse uma ou duas masmorras no local.

“Kasim! Kasim!” Liselotte gritou em um sussurro alto.

Além de uma das portas enferrujadas da cela, um homem emaciado jazia de bruços no chão, um chapéu cobrindo o rosto.

Liselotte, com os lábios contraídos de raiva infantil, pegou uma pedra e bateu-a nas grades. Um som seco ecoou pela cela.

“Levante-se já, Kasim! Eu trouxe álcool!”

“Quer calar a boca?”

Lânguido, o homem chamado Kasim sentou-se e colocou o chapéu na cabeça. Seu rosto tinha uma barba fulva que crescia como o resto de sua longa juba.

“Eu disse para não vir de novo.”

“Hmph! Os únicos que podem me dar ordens são o pai e a mãe!”

“Bem, que garota egoísta você é. Meu Deus...” Kasim riu.

Angeline olhou para o homem sem expressão. Já era o início do inverno e, como do lado de fora, a masmorra estava fria o suficiente para fazê-la tremer. Tanto Liselotte quanto Angeline usavam casacos pesados sobre os vestidos e ainda sentiam frio. No entanto, apesar de ser praticamente pele e osso, o homem usava apenas uma camisa de mangas compridas e um par de calças. Seus pés mal estavam cobertos pelas sandálias, contudo não estava tremendo.

Os olhos de Kasim se voltaram para Angeline. “Você está com uma amiga hoje.”

“Isso mesmo! Angeline, a Caçadora de Demônios! Ela é uma aventureira Rank S!”

A testa de Kasim se contraiu. “Hmm... A suposta Valquíria de Cabelos Negros?”

“Sim! Ange, esse cara é o Kasim! Ele era um aventureiro muito forte!”

“Está tudo no passado.” disse Kasim enquanto se deitava em decúbito dorsal outra vez, lançando um olhar de soslaio para Liselotte. “Oh, deixe o álcool aí. Vocês deveriam ir. Está frio.”

Liselotte fez beicinho ao passar a garrafa pelas frestas das grades da cela. Mesmo assim, Kasim não se mexeu para pegá-la.

“Por que precisa ser assim, Kasim?”

“Como você veio parar aqui?” Angeline perguntou hesitante.

Kasim rolou de lado para encará-la. “Quer dizer eu?” perguntou, soando terrivelmente despreocupado. “Eles me pegaram jantando e fugindo. Então, fiquei um pouco furioso e, como pensaram que eu era alguém perigoso, estou aqui desde então.”

“Está mentindo, não é? Isso é mentira, certo Kasim? Você está em uma missão secreta para nossa família e tem que fingir ser um prisioneiro, certo?”

“O que te deu essa ideia? Sua imaginação é muito grande, garota.” Kasim gargalhou quando estendeu a mão para a garrafa. Liselotte rapidamente a pegou, mostrando a língua.

“Não pode ficar com isso se vai ser mau comigo!”

Kasim sentou-se e acenou com um dedo, cansado. A garrafa começou a se mover sozinha, escorregando das mãos de Liselotte e flutuando pelas grades. Kasim pegou e puxou a rolha antes de beber direto da garrafa.

“Pelo menos a bebida é boa aqui.”

“Hey! Isso é trapaça!”

Liselotte fez beicinho; enquanto isso, Angeline olhava a cena em estado de choque. Parecia que Kasim era um mago, e um de considerável habilidade. Ela reteve apenas um pouco do conhecimento do que Miriam e Maria lhe ensinaram, mas ao que parecia era muito difícil manipular a mana no ar. Dispará-lo como uma onda de choque ou dar-lhe peso para esmagar um inimigo era bastante simples, porém a manipulação motora fina exigia um comando de construção. Somente mestres entre mestres seriam capazes de levitar algo tão frágil quanto uma garrafa de vinho. Ela não conseguia ver nenhuma razão para que este homem ainda não tivesse escapado de sua cela.

Por um momento, se arrependeu de ter deixado sua espada para trás, no entanto não sentiu nenhuma hostilidade de Kasim. O homem era um enigma, entretanto não um perigo por enquanto. Ainda assim, levantou a guarda e se reposicionou para poder agarrar Liselotte e correr a qualquer momento.

Kasim parecia um tanto divertido com essa exibição. “Não precisa ter tanto medo. O que lutar com você vai servir para mim?” ele falou com ela como se não a considerasse mais uma ameaça do que uma brisa passageira.

Angeline franziu a testa enquanto Kasim tomava um gole da garrafa. “Não quer sair?”

“Na verdade, não. Não tenho nada para fazer lá fora.”

Kasim limpou a boca com as costas da mão. As gotas grudadas em seu bigode brilhavam sob a luz das tochas.

Por alguma razão, esse homem deu uma impressão bastante triste. Seus olhos pareciam que não se importavam se vivia ou morria. Havia uma espécie de desespero em sua fingida indiferença e, por algum motivo, doía vê-lo assim.

“O que? Sua simpatia não me deixa feliz nem nada.” disse Kasim com uma careta.

Angeline fechou os olhos. “Não é simpatia... Parece apenas um desperdício.”

“Hum.” Kasim deu outra garfada. “Um desperdício? Que parte de mim?”

“Eu não posso dizer. Mas parece um desperdício quando olho para você.”

“Haw, haw, haw.” Kasim riu, embora soasse como se estivesse engasgando. Seus olhos vidrados. “Vejo que diz algumas coisas interessantes... Mas pode ter razão. Minha vida tem sido um desperdício, para ser completamente honesto... Hey — você tem amigos, certo? Valorize-os.”

Liselotte olhou entre os dois, perplexa. “O que é isto?” ela perguntou. “É algo que apenas os aventureiros entendem...?”

“Hmm... Não exatamente. Vamos, Liz. Está começando a esfriar.”

“Oh, tem razão. Kasim não está com disposição para falar hoje, então não há nada para fazer aqui.” Liselotte suspirou quando agarrou a mão de Angeline. “Wow, sua mão está congelando!”

“A sua não está muito melhor. Vamos, ou vai pegar um resfriado...”

“Ok. Até logo, Kasim. Volto em breve!”

“Haha, eu realmente preferiria que não o fizesse.”

Enquanto eles se afastavam, Angeline deu outra olhada em Kasim por cima do ombro. O homem olhava distraidamente para a parede, observando a dança das sombras das tochas.

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