domingo, 22 de janeiro de 2023

Boukensha ni Naritai to Miyako ni Deteitta Musume ga S Rank ni Natteta — Volume 04 — Capítulo 51

Capítulo 51: O vinho quente era doce e carregava um aroma nostálgico

O vinho quente era doce e carregava um aroma nostálgico. O vinho que Angeline trouxera de presente era bom, mas tomar uma bebida quente em um barde Orphen realçava o sabor com lembranças calorosas. Talvez o gosto não fosse exatamente o que tinha sido antes, porém sentado aqui agora, isso pouco importava.

Depois de deixar a guilda, Belgrieve foi levado ao bar — o mesmo que Angeline frequentava. Estava tão animado como sempre, e não parecia nem um pouco deslocado. Isso tirou um peso de sua mente, embora Marguerite tenha recebido sua cota de olhares estranhos como elfa.

Belgrieve observou os arredores com calma. Podia se lembrar com carinho do clamor barulhento. Estava sempre bebendo em lugares como este quando era um aventureiro ativo. Esta não era a taverna exata a que havia ido, contudo todos os pontos de encontro para aventureiros tinham uma atmosfera bastante semelhante.

“Tente este. É o favorito de Ange.” Miriam proclamou enquanto o incentivava a experimentar o pato refogado que foi colocado diante deles. A pele estava bem cozida e perfumada, coberta por um brilho visível.

“Parece delicioso.”

“Hehe, aquele pássaro que tínhamos em Turnera também era bom.”

“Elaenia?”

“Certo, certo, esse.”

“A suculência desse foi incrível.” disse Anessa com uma risada. “Merry, certifique-se de não sujar seu chapéu desta vez. Não temos nenhum sobressalente.”

“Pfft! Hehehehe! Não vai dizê-lo, Sr. Bell?”

Belgrieve coçou a cabeça. “Não me provoque. Eu não sabia...”

Charlotte inclinou a cabeça. “O que tem o chapéu? Aconteceu alguma coisa?”

“Bem... Algumas coisas.”

Marguerite, que estava encantada com a carne, ergueu o rosto. “O que? Agora vocês estão me deixando curiosa. Digam logo.”

“Hehe, vou te dizer da próxima vez. Ah, Sr. Bell. Coma um pouco antes que esfrie.”

“Obrigado.”

O suco jorrava da carne de pato a cada mordida. Entendo... Depois de crescer com elaenia, Angeline sem dúvida adoraria tal prato, pensou Belgrieve.

De repente, um grupo de vários homens entrou no bar e começou a falar alto.

“Hey, olha! Tem uma elfa!”

“Agora isso é raro! É a primeira vez que vejo uma!”

“Se divertindo, meninas?”

“Hey, senhorita elfa. Que tal uma bebida, eu pago?”

“Hã? Tem certeza?” Marguerite sorriu alegremente, no entanto Anessa agarrou seu ombro.

“Maggie, não pode aceitar esses convites.”

“Sério? Mas em Turnera...”

“Este lugar é diferente de Turnera, Maggie. Te disse para não seguir ninguém que não conhecesse.” Belgrieve a lembrou. Ele então se voltou para os homens que a haviam convidado. “Sinto muito, ela é um pouco alheia. Poderíamos encerrar por aqui?”

Os homens riram. “Você é o guardião dela ou algo assim? O que pensa que está fazendo, velho? Consegue balançar uma espada com essa sua perna de pau?”

“Agora que dou uma olhada melhor, elas são todas muito boas. Hey, garotas, vai ser mais divertido com a gente. Venham aqui.”

“Você está no caminho. Desapareça, velho.”

“Vamos, vamos, que tal nos acalmarmos? Estamos em um bar; vocês não gostariam de incomodar os outros clientes.”

Embora Belgrieve tentasse acalmá-los, Miriam seguiu um caminho diferente. Cruzando os braços atrás da cabeça, um sorriso fino surgiu em seus lábios enquanto balançava a cadeira.

“Bom, olha só. Vocês escolheram uma briga com o Ogro Vermelho. Não me culpem pelo que acontecer.”

“Hã? Ogro Vermelho...?”

Os homens olharam para Belgrieve sem expressões até que um deles congelou ao perceber. “E-Eu já ouvi falar desse nome antes! Deveria ser o pai e mestre da Valquíria de Cabelos Negros...”

“Certo, disseram que tinha uma perna de pau e cabelo ruivo... Se-Sério? O que ele está fazendo em Orphen?”

“Nã-Não, não sou assim...”

Anessa sorriu maliciosamente. “Precisam escolher melhor suas lutas. Ele é bem forte.”

“Espere, Anne, não...”

“Uma vez que sacar sua espada, não vai parar até que todos estejam mortos no chão. Quanto tempo vão aguentar?”

“D-Do que está falando, Merry...?”

“Hey! Agora que dei uma olhada nelas, são os membros do grupo da Valquíria de Cabelos Negros!”

“Porcaria! O cara é o verdadeiro negócio! É o verdadeiro Ogro Vermelho!”

“Desculpe por tudo que falamos!”

“Espera, sério, não é...”

Porém os homens não quiseram ouvir o que Belgrieve tinha a dizer e partiram antes que pudesse terminar. Os clientes que viram essa troca se entreolharam e começaram a sussurrar.

“Esse é o Ogro Vermelho...”

“Dizem que é mais forte que a Valquíria...”

“Ouvi dizer que o mestre da guilda estava implorando de joelhos de novo...”

“Isso não é novidade. Contudo o mestre estava chorando desta vez...”

“O que fez com o pobre rapaz...? Pai e filha, ambos são extraordinários.”

Belgrieve sentiu-se encolher. Como era evidente, os eventos do dia já haviam sido exagerados.

“Não quero me destacar assim... Ainda mais com estas meias verdades...”

“Hehe, desculpe. No entanto foi bem revigorante.”

“Não está feliz por não ter se tornado uma briga? E você realmente é forte, Sr. Bell.”

“Isso não é verdade... Meu Deus...”

Estou preocupado com o que acontecerá a seguir. Belgrieve suspirou. Marguerite já o olhava maravilhada.

“Nunca soube que você era um cara famoso, Bell!”

“Não sou...”

Belgrieve podia sentir os olhares ao redor ficando mais fortes, mas não adiantava se preocupar com isso agora. Ele se recompôs e voltou para sua refeição.

Até o momento, não havia encontrado nenhuma pista sobre o paradeiro de seus antigos camaradas. Não esperava fossem fáceis de encontrar, porém foi um pouco decepcionante que não conseguiu nem chegar ao ponto de partida. Mesmo assim, uma coisa era certa — todos acumularam suas próprias façanhas. Era sobre como cada um seguia caminhos separados, contudo ele não tinha como saber por quê. Só podia usar sua imaginação e sabia que não seria nada bom. Se fosse sua culpa, sabia que tinha que encontrá-los e falar com seus antigos companheiros.

Lionel disse que dedicaria os recursos da guilda à busca. Embora Belgrieve o tenha recusado, pela primeira vez na vida o mestre da guilda não cedeu. No final das contas, foi Belgrieve quem desistiu e aceitou sua ajuda, embora tenha conseguido adicionar uma condição de que a busca não impediria as operações normais da guilda.

“Este lugar estava por perto quando você estava ativo?” perguntou Anne.

Belgrieve cruzou os braços e pensou por um momento. Algumas lojas desapareceram — o bar que frequentava com tanta frequência era um desses — enquanto outras surgiram do que antes eram terrenos baldios. A cidade mudou bastante desde a última vez que a visitou.

Há um tempo atrás, ele costumava andar por toda a cidade para encontrar as melhores ofertas de equipamentos, então pensou que saberia o que fazer — entretanto essas memórias não estavam sendo muito úteis.

Belgrieve sorriu ironicamente. “Realmente não sei. Já se passaram vinte anos, então minhas memórias estão um pouco confusas. As ruas também mudaram um pouco.”

“Se faz vinte anos, nós estávamos por aí.” disse uma voz atrás. Belgrieve virou-se sobressaltado e lá estava o dono do bar.

“Embora fosse o meu velho quem cuidasse.” disse o mestre enquanto colocava na mesa uma travessa de linguiças cozidas com nabos em conserva. Ele avaliou Belgrieve da cabeça aos pés. “Você é o pai da garota de cabelo preto?”

“Sim. Ouvi dizer que minha filha é uma cliente frequente aqui.”

O mestre suspirou. “Pessoalmente, acho que você deveria encontrar sua própria esposa, em vez de colocar sua filha para procurar.”

“Hã...?”

“Não que seja da minha conta...”

O mestre desapareceu atrás do balcão, deixando Belgrieve boquiaberto.

“Está espalhado tão longe.” murmurou em transe.

“A-Até o mestre sabe... Por quê?” Miriam engasgou.

“O que Ange está pensando... Ela pediu conselhos ou algo assim?” perguntou Anne. Ambas pareciam tão surpresas quanto Bell.

Marguerite sorriu. “Ange parece uma garota interessante. Mal posso esperar para conhecê-la.”

“Parece que há um monte de gente precisando de uma explicação...”

“Tem certeza que não a criou errado?” Byaku riu.

“Não iria tão longe, mas... Bem, você me pegou.” Belgrieve desistiu de defender sua paternidade e tomou um gole de seu vinho quente, que já estava morno.

Eles deixaram o bar após a refeição e caminharam para uma forte brisa de inverno que soprava desconfortavelmente em seus corpos quentes.

Belgrieve pretendia se encontrar com Angeline e contar com ela para hospedagem. Contudo Angeline partiu para a cidade do arquiduque. Parecia que ele estava completamente perdido, no entanto, ao que parecia, Angeline havia confiado à chave do quarto para Anessa.

“Ange disse que nunca se sabe o que pode acontecer.”

“Hmm...”

Angeline não poderia ter previsto essa situação, entretanto funcionou muito bem. Belgrieve decidiu dormir lá durante sua estada em Orphen. Poderia manter seu quarto até que sua filha voltasse.

Ele prestou homenagem ao proprietário ao lado de Anessa e Miriam e ofereceu uma explicação antes de ser conduzido ao quarto. Assim que a lâmpada acendeu, a habitação se encheu de uma luz opaca.

As meninas se viraram para sair assim que souberam que ele estava situado.

“Bem, então, Sr. Bell nos vemos amanhã.”

“Boa noite!”

“Obrigado a vocês duas. Você tem que ouvir o que elas dizem, Maggie.”

“Já sei, já sei! Boa noite, Bell!”

Depois de se despedir das três, Belgrieve entrou no quarto mais uma vez. Era pequeno e quase não tinha nada — um balcão de cozinha, armários e uma despensa, uma mesa de jantar cercada por quatro cadeiras, uma cômoda para roupas, uma pequena estante, uma prateleira para seu equipamento aventureiro, um sofá e uma pequena mesa, com gaveta embutida.

A cama era um pouco maior — melhor para ela dormir confortavelmente, ele supôs — mas, fora esse detalhe, não havia nada em termos de decoração neste quarto que indicasse que pertencia a uma garota morando sozinha. E, no entanto, isso era claramente condizente com Angeline.

Byaku e Charlotte haviam se mudado para a casa de Anessa e Miriam, então o quarto não era usado por um tempo. Havia uma grande confusão de presentes que Angeline pretendia trazer para Turnera perto da parede, mas fora isso o espaço era mantido em boa ordem como um todo. Além de uma fina camada de poeira que se formou na ausência do ocupante, não havia nada de especial.

Belgrieve assentiu, uma sensação de alívio tomando conta dele. “É bom saber... Que Ange o mantém arrumado.”

“A irmã na verdade não guarda coisas suficientes para fazer uma bagunça, pai!” Charlotte disse, puxando sua manga.

“Assim parece... Porém você tem certeza que quer ficar aqui? Não estaria melhor com...”

“Quero ficar aqui!” Charlotte agarrou seu braço antes que pudesse terminar.

Marguerite tinha ido para a casa de Anessa e Miriam. A princípio, elas propuseram separar os meninos e as meninas, entretanto Charlotte insistiu que queria ficar com Belgrieve e permaneceu no quarto.

Belgrieve lançou um olhar preocupado para Byaku. “O que deveríamos fazer?”

“Não me pergunte.” Byaku respondeu de maneira seca de onde estava esparramado no sofá.

Belgrieve suspirou e levantou o colchão da cama. Ele o trouxe até a janela, onde limpou a poeira. “Como vocês três dormiam quando Ange estava por perto?”

“Byaku estava sempre no sofá! Eu dormia com a irmã!”

“Hmm...”

Então, como ditava a ordem, Belgrieve estaria dormindo com Charlotte. Ele realmente não se importava, porém quando olhou para Byaku, o menino estava com o rosto para cima em uma postura desconfortável, usando os braços como travesseiros. Isso o preocupava.

“Byaku... Eu fico no sofá. Durma na cama com Char.”

“Hã?” Byaku virou uma cara irritada para Belgrieve. “Por que...? Não é da tua conta.”

“Não seja assim. Você vai crescer com as costas tortas se dormir assim na sua idade.”

“Por que deveria me importar? Em primeiro lugar, seu corpo é grande demais para o sofá.”

“Certo... Acho que tem razão.”

“Não consegue dizer só olhando? Você é um idiota?”

“Bem, bem. Então nós três podemos dormir juntos.”

Belgrieve sussurrou algo no ouvido de Charlotte antes de ir rapidamente até o sofá e erguer Byaku.

Os olhos de Byaku dispararam para a esquerda e para a direita enquanto gritava.

“O que está fazendo?”

“É bem leve. Está comendo direito?”

“Cale-se! Me solte!”

“Sim, sim.”

Belgrieve o jogou na cama, houve um baque alto quando Byaku colidiu com o colchão, e assim que caiu, Charlotte puxou um cobertor sobre ele.

“Te peguei!”

“Cadela! Vocês dois queriam me segurar!”

Quando colocou a cabeça para fora das cobertas, Belgrieve o cutucou na testa. “Palavras ruins podem se tornar um hábito. Deixe sua boca estragar e seu coração sem dúvida o seguirá.”

“E daí?”

Belgrieve sorriu e bagunçou o cabelo de Byaku. “Estou te dizendo para se acalmar e dormir.”


O sol da manhã entrava no quarto através das cortinas finas. Angeline se mexeu inquieta na cama até que por fim acordou. Seu cabelo comprido estava uma bagunça esvoaçante, e a bainha de sua camisola estava toda amassada.

Ela estava bem quando foi para a cama. Porém então achou difícil se acalmar por algum motivo, e a noite terminou com ela se revirando. Ainda assim, sua memória era bastante confusa, então imaginou que dormiu pelo menos um pouco.

Ontem, veio a esta grande mansão, teve um encontro cansativo com Villard, vestiu todo tipo de roupa, conversou com Liselotte e foi apresentada a um homem misterioso chamado Kasim. Ao acordar, parecia que tudo tinha sido um sonho.

“Se fosse um sonho, teria preferido acordar em Turnera em vez de Estogal.” murmurou Angeline para si mesma. Enterrando o rosto no travesseiro, descobriu-se afundando muito mais do que com os travesseiros aos quais estava acostumada. O tecido intrincado parecia sedoso contra sua pele.

“Hmm... Muito mole.”

A cama na propriedade de Bordeaux também era macia, contudo ainda estava dentro da zona de conforto de Angeline. Isso era algo bem diferente — era tão suave que era desconcertante. A cama em seu quarto em Orphen era dura, enquanto a de sua casa em Turnera era apenas um lençol sobre o feno. Qualquer coisa tão distante apenas tornava mais difícil dormir.

Então os nobres que se acostumam com esses macios se tornam incapazes de dormir em camas duras? O hábito é um amante severo, refletiu Angeline.

Ela não voltou a dormir; ao invés rolou para frente e para trás, testando a sensação do colchão até que houve uma batida na porta.

“Bom dia, Madame Angeline. Está acordada?” Angeline sentou-se devagar e levantou-se da cama.

“Estou acordada.” respondeu, e as empregadas se reuniram no quarto.

Gilmenja não estava à vista; Angeline se perguntou o que poderia ter acontecido com ela. Talvez estivesse coletando informações dentro da mansão.

Vendo a expressão vazia de Angeline, as empregadas riram divertidas.

“Hehe, você dormiu bem?”

“Honestamente, não.”

“Oh, querida... Gostaria de tomar café da manhã então?”

“Claro, por que não... Quero dizer, isso parece adorável.”

“Então devemos vesti-la primeiro.”

“Seu cabelo precisa ser penteado.”

“Vamos, vamos, por aqui, por favor, madame.”

“Certo...”

Conduzida diante de um espelho de corpo inteiro, Angeline foi cercada por criadas. Seu cabelo estava alisado e rapidamente tirou a camisola. Angeline não sabia como reagir, então concordou com suas travessuras, mas este era sem dúvida um território desconhecido. Era mais estranho do que desagradável.

Depois de se vestir veio o café da manhã. Foi uma refeição leve desta vez, porém ainda deu uma sensação de elegância. O pão não era o pão duro e queimado de sempre; era fofo, macio e branco, e servido com ovos levemente cozidos e vegetais escaldados e uma sopa que parecia conter tiras de carne defumada e abóbora.

Angeline terminou tudo sem hesitar. “Vou ter que experimentar roupas de novo hoje?” perguntou, tomando seu chá após a refeição.

“Sim, contudo decidimos a maioria dos detalhes ontem. Vamos reduzi-lo ainda mais hoje. Seu cabelo é lindo e sua pele tão macia. Não é sempre que encontramos uma modelo melhor. Nisso, se nada mais, acredito que você brilha mais do que a maioria dos nobres.”

“É mesmo...?”

Angeline se mexeu e corou. Não odiou ouvir sua resposta, no entanto apenas não parecia certo. Estava acostumada a receber elogios como aventureira, entretanto era um tanto perturbador ser elogiada como mulher. Ontem, Angeline estava tão confusa que a estranheza não a atingiu de fato, todavia agora que havia se acomodado, seu constrangimento cresceu a um grau indesejado.

Mais uma vez, vestia e tirava todos os tipos de roupas. Parecia que elas haviam evitado cores mais brilhantes e estavam optando por tons calmos e frios. Foi um pouco interessante ver suas próprias transformações, no entanto o processo seguiu sendo exaustivo. Este era um tipo de fadiga bem diferente do que sentia quando lutava contra monstros.

Era pouco antes do meio-dia quando seu vestido por fim fora decidido. Satisfeitas com o trabalho, as empregadas saíram para preparar o almoço.

Angeline afundou no sofá e deixou a força drenar de seu corpo.

Ela murmurou para si mesma.

“Esses nobres fazem esse tipo de coisa todos os dias...?”

“Não exatamente.”

“Hwah!”

A resposta repentina fez a cabeça de Angeline girar para o lado. Gilmenja, em seu uniforme de empregada, estava ao lado do sofá com um sorriso.

Angeline suspirou. “Não me surpreenda desse jeito...”

“Não me consideraria particularmente furtiva. Você deve estar muito cansada se foi o suficiente para surpreendê-la.”

“Sim... Estou bastante confiante em minha resistência. Queria entender o por quê.”

“É por causa da energia de alta classe. Quando as massas absorvem essa energia, elas se cansam.”

“Está brincando certo? Não importa, acho que sei exatamente o que quer dizer.”

“Vai precisar aprender a dar de ombros. Hehehehe”. Gilmenja riu enquanto colocava uma xícara de chá na frente de Angeline. “Bem, apenas respire fundo. É quase meio-dia.”

“Entendo... E quanto à tarde? Vou aprender etiqueta?”

“Isso mesmo. Além do mais, precisará aprender a fazer uma oração à Grande Viena. Afinal, é uma cerimônia.”

“Hmm, uma oração... Espere, o quê? Tenho que fazer isso?”

“Na verdade, não. Sendo franca, só precisará aprender a se curvar e andar.”

“Não me assuste... Por que preciso aprender a andar?”

“Quero dizer, quando está usando um vestido tão lindo, não pode apenas se pavonear diante do arquiduque como costuma fazer. Precisa ser graciosa e gentil, entende o que estou dizendo?”

“Esse tipo de coisa não sou eu.”

“Sim, estou ciente. Porém hey, eles vão ignorar alguns erros. Você está aqui como uma aventureira, Ange.”

“Então gostaria de poder me vestir como um...”

“Por favor, direcione essas reclamações ao jovem mestre Villard, e não a mim.” Gilmenja fez uma reverência exagerada, fazendo com que a expressão de Angeline se suavizasse.

O almoço consistia em uma omelete fofa, batatas cozidas no vapor, coxa de frango assada e peixe do rio cozido no vapor polvilhado com especiarias. Cada refeição que comia parecia completamente diferente da anterior, e Angeline ficou surpresa e perplexa por terem reunido uma seleção tão variada. Apenas uma refeição saborosa já era suficiente para ela e, em vez de gastar dinheiro com tanta variedade, não se importaria em comer a mesma coisa várias vezes.

“É gostoso, no entanto... Parece um desperdício para mim. É o mesmo para a mansão. Não acho que tem que ser tão grandioso...”

“É tudo uma demonstração de poder.”

“Poder?” Angeline inclinou a cabeça.

Gilmenja assentiu. “‘Olhe aqui, eu posso montar uma variedade dessas. Não consegue ver as coisas extravagantes que posso arranjar com tanta facilidade?’ Os recursos, é claro, se ligam diretamente ao poder. Lembra-se de como congelou quando entrou nesta propriedade? Essa opulência é uma certa forma de intimidação, hehehehe.”

“Então é assim...”

Para piorar as coisas, esta era a casa de um arquiduque. A mansão foi feita para intimidar outros nobres; Angeline estava completamente perdida.

“Essa situação pode ser mais problemática do que um monstro de alto escalão.”

“É tudo sobre se acostumar. É uma mentalidade.” Gilmenja riu, então olhou fixa para Angeline. “Não é um vestido ruim o que tem aí. O penteado também é legal. Ficou muito fofo.”

“Vo-Você acha...?”

Angeline beliscou timidamente a cauda de seu vestido. Era uma peça suave e calmante com um azul esverdeado como cor de base. A ornamentação foi reduzida ao mínimo, embora houvesse acentos nos pontos importantes, e era luxuosa o suficiente para não parecer de mau gosto. Seus ombros expostos há deixavam um pouco inquieta, todavia não havia muito que pudesse fazer a respeito.

Parte de seu cabelo foi trançada no topo, enquanto o resto foi deixado solto para enfatizar seu belo comprimento. Um enfeite de cabelo leve foi preso à trança e, quando Angeline ficou na frente do espelho, houve um momento em que nem ela mesma sabia para quem estava olhando.

“É um pouco embaraçoso... Acha que papai iria me elogiar se me visse assim?”

“Sim, tenho certeza que até mesmo seu pai ficaria impressionado. Ele pode até ser levado às lágrimas.”

“S-Sério? Teehee...”

“Você pode receber algumas propostas de casamento de nobres. O que faria então?”

“Sem chance. Vou recusá-los.”

Angeline estufou as bochechas. Seria definitivamente sufocante se casar com um nobre. De qualquer forma, já era hora de começar a aprender etiqueta. Angeline declarou que primeiro precisaria de uma mudança de ritmo e decidiu dar um passeio pela mansão.


“Você precisará saber o layout se algo acontecer.” disse Gilmenja com um sorriso malicioso.

“Não é por esse motivo que estou saindo... Pensando bem, aprendeu alguma coisa nova?”

“Nada sobre o arquiduque. Ao que parece ele é bem difícil de agradar, mas um governante sábio. Seus filhos podem precisar de atenção especial, no entanto. O filho mais velho não parece um idiota, então não pode levá-lo levianamente. O segundo filho é um idiota, então não há como saber o que fará. O terceiro filho é um pouco misterioso.”

“E a Liz?”

“Essa jovem não representa nenhum perigo. Seria melhor se concentrar no noivo dela.”

“Entendo.”

Angeline se sentiu aliviada. Liselotte era tão pura quanto parecia. Ela não estava preocupada, mas se algo sombrio estivesse por trás daquele rosto inocente, ela sabia que não confiaria mais em ninguém.

Angeline se esticou e moveu os ombros.

“Tudo bem... Vamos avaliar os movimentos do inimigo.”

“Permita-me acompanhá-la, minha dama.”

“Isso está ficando um pouco interessante.” As duas compartilharam uma leve risada enquanto saíam da sala.

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