domingo, 27 de fevereiro de 2022

Boukensha ni Naritai to Miyako ni Deteitta Musume ga S Rank ni Natteta — Volume 02 — Capítulo 23

Capítulo 23: Em um Quarto da Residência Bordeaux


Em um quarto da residência Bordeaux, Ashcroft jazia em farrapos na cama. Ele havia sido derrotado pelos ataques impiedosos e implacáveis ​​de Angeline. No entanto, Angeline, que deveria ter sido vitoriosa, estava desanimada e envergonhada. Na sua frente, Belgrieve estava carrancudo com os braços cruzados.

“Ange... Sei que você é forte. Porém seu pai não acha certo uma pessoa forte atacar de forma unilateral alguém mais fraco.”

“Mas pai... Ele começou.”

“Mesmo que seja o culpado, isso é motivo suficiente para perder a compostura?”

“Urgh...”


“Sem ressentimentos. Se vai deixar o poder subir à sua cabeça, é melhor não pegar uma espada de jeito nenhum.”

Pela primeira vez, Belgrieve parecia sinceramente zangado. Angeline estava deprimida, é claro, contudo não era a única — Miriam, Anessa e Sasha, que a incentivaram, também pareciam afetadas. Helvetica e Seren trocaram olhares, observando em silêncio por trás.

Foi nessa época que Ashcroft gemeu ao levantar o torso da cama. “Não, senhor... Este é meu erro. Sir Belgrieve, por favor, não fique tão bravo com Angeline.”

“Mas Ashcroft, você é um importante funcionário encarregado da gestão interna do território. Agora que Angeline o colocou fora da comissão...”

“É por esse exato motivo que eu deveria ter mostrado algum autocontrole... Apesar de ser um mordomo que deveria estar consciente de minha posição, deixei a imprudência tomar conta de mim. Belgrieve, Angeline, vocês tem minhas desculpas. Não é tão ruim quanto parece. Meus ossos e músculos não doem tanto... Ai!”

Ashcroft fez uma careta quando uma empregada pressionou um pano embebido em desinfetante contra seus ferimentos.

Belgrieve suspirou. “Não imagina o quanto estou agradecido por ouvi-lo dizer isso... Ange, peça desculpas a Ashcroft.”

“Ugh... Ma...”

“Angeline.”

“Sinto muito...” embora em uma total e clara relutância, Angeline abaixou a cabeça.

“Hmm... Sir Belgrieve.” Sasha timidamente interveio. “Tudo aconteceu por minha sugestão. Por favor, não fique com muita raiva de Ange...”

Anessa e Miriam também se desculparam, seus olhares fixos no chão.

“Nós a incentivamos... Desculpe, Ashcroft.”

“Não é tudo culpa de Ange. Desculpe...”

“Você tem alguns boas amigas...” Belgrieve abriu um leve sorriso, colocando uma mão gentil sobre a cabeça de Angeline. O rosto de Angeline, embora taciturno, suavizou aos poucos. “Agora então.” disse Belgrieve, tentando soar alegre. “Tornei as coisas um tanto estranhas entre nós. Creio que deva estar ocupada, Helvetica. Por favor, não se importe conosco e volte aos seus deveres.”

Helvetica riu. “Obrigado pela preocupação — acho que vou fazer tal como sugeriu. Voltarei com um bom remédio, Ashe. Descanse bem e restaure seu ânimo. Foi uma boa lição, não foi?”

“Foi uma honra... Fui lembrado da minha própria imaturidade.” Ashcroft inclinou a cabeça com humildade.

Helvetica sorriu ao puxar uma cadeira ao lado da cama e se sentar. “Bom... Agora que Ashe não pode se mover, precisamos ter sua discussão aqui. Afinal, parece que o Conde Malta estará aqui em breve.”

“O que?" Ashcroft fez uma careta.

Seren assentiu. “Recebemos uma carta esta manhã. Ele estará aqui amanhã o mais cedo possível, e se não, no dia seguinte.”

A discussão havia começado e Belgrieve evacuou o quanto antes o local. Não queria ouvir nada que não deveria.

“Boa dor... O que fazer agora? Não venho aqui com frequência, então talvez devesse ir para a cidade.” falou Belgrieve com Angeline ao seu lado, contudo ela ainda estava deprimida e não respondeu. E assim, ele acariciou sua cabeça com um sorriso irônico. “Não fique assim, Ange... Entende que foi longe demais, não é?”

“Aquele garoto Ashe é mais importante do que eu... Não é?”

“Hey, agora, nem pense nisso. Seu pai entende que ficou com raiva por minha causa...”

Por um tempo Angeline ficou em silêncio, mas pouco a pouco se virou para seu pai e estendeu os braços. “Vou te perdoar se me carregar.”

Belgrieve passou um braço ao redor de sua cintura e a levantou em seu ombro. Angeline enterrou o rosto em seu cabelo, os olhos fechados em satisfação.

Por alguma razão, Sasha assistiu com um olhar triste no rosto. “Hmm... Deveria ter bajulado mais meu pai...” murmurou.

Enquanto isso, Miriam deu uma risada maliciosa, deu a volta e a empurrou pelas costas. “Parece que Sasha quer ser carregada também, Sr. Bell.”

“O quê? Merry?”

Vendo seu rosto vermelho brilhante, Belgrieve inclinou a cabeça com curiosidade. Angeline franziu a testa um pouco, contudo acenou para si mesma e pulou.

“Está faltando paternidade em sua vida, entendo... Muito bem. Vou abrir uma exceção.”

“Hã? Hmm... Err... Tudo bem, Ange?”

“Sim... Pegue-a, pai.”

“Hmm... Bem, não me importo, no entanto... Perdoe-me, Sasha.”

Ainda sem entender muito bem o que estava acontecendo, Belgrieve estendeu a mão e colocou a jovem em seus ombros da mesma forma que fez com Ange.

“Whoa!” gritou Sasha animadamente. “Que... Que nostalgia...!” Sasha colocou as mãos na cabeça dele, os olhos brilhando. “Sim... Eu me lembro do pai me levantando assim... Quando era criança.”

“E-Entendo...”

Sasha era mais alta e mais pesada que Angeline. No entanto, seria rude chamar uma mulher de pesada, e então Belgrieve aguentou, segurando-a no ar por um tempo. Contudo, suas articulações doloridas por fim o alcançaram, e teve que deixá-la voltar. É provável que chegasse à parte inferior das costas se se esforçasse demais.

Sasha estava com um visível semblante encantado. “Obrigado mestre!”

“De nada... Hmm, poderia parar com a coisa do ‘mestre’...”

“Mantenha esse impulso, Sr. Bell! Anne é a próxima!” Miriam se intrometeu.

“Hey, estou bem, estou dizendo!” Anessa disse em uma voz em pânico.

Belgrieve deu uma risada perturbada. “Pode me dar uma folga? Minhas costas estão...”

“V-Você o ouviu! Viu, Merry? Não vai acontecer...”

“Provavelmente estará tudo bem amanhã. Pode ser?”

“Hã? Ah, err... Claro.” disse Anessa, ficando vermelha.

Miriam riu alto. “Hehe, então talvez eu o deixe me abraçar também, amanhã.”

Ao ouvir isso, Angeline fez uma careta e balançou a cabeça. “Merry não é boa... Muito pesada.”

“Hey, quem está chamando de gorda?”

A raiva de Miriam provocou risos por toda parte.


Havia outra mansão que dificilmente poderia ser chamada de luxuosa. Era feito de madeira e pedra — robusta, mas com escassez de ornamentos. As peças decorativas expostas pareciam todas de altíssimo valor, todavia não tinham muito sentido artístico ou mérito — era como se fossem escolhidas apenas pelo preço, revelando até certa falta de refinamento.

Em um dos quartos desta mansão, um homem descontente em roupas bem cortadas sentou-se. Ele tinha pouco mais de cinquenta anos. Talvez não se exercitasse com muita regularidade, ou sua meia-idade não tenha sido gentil com sua pessoa, pois estava engordando nos piores lugares. E enquanto tinha um bigode impressionante, o topo de sua cabeça não era tão abençoado. Este era o Conde Malta, Senhor de Hazel, uma cidade a oeste de Bordeaux.

O conde bebeu um gole de vinho antes de colocar o copo na mesa enquanto lambia as gotas presas em seu bigode.

“Entendo. Uma aventureira Rank S... Ouvi rumores sobre a matadora de demônios.”

Uma garota albina com um gorro de pele estava sentada à sua frente. Ela permaneceu em silêncio, olhando para o conde como faria para uma pilha de sujeira.

O menino encapuzado atrás da menina falou. “Então coloque o plano em espera. A Casa Bordeaux é suficiente para enfrentar; seria imprudente torná-la inimiga também.”

“Hmm... O poder desse tal de Salomão não deve ser tão grande então.”

A testa da garota se contraiu, porém o garoto interrompeu antes que pudesse dizer qualquer coisa. “Não adianta nos provocar. É a sua cabeça que vai voar após o fracasso. Enquanto ela sair, tudo deve sair como planejado. Apenas espere por agora.” o menino disse, seu comportamento frio nunca vacilando.

Conde Malta respondeu a isso com uma risada sem humor. “Está brincando de ser um conspirador de primeira linha, criança? Vou manter o seu aviso em mente.” o conde derramou mais vinho em seu copo. “Vou para Bordeaux depois disso. Devo chegar ao anoitecer.”

“Hey, que tal adiar o plano?”

“O que adiar realizaria? Quer que eu espere até que aquela Rank S deixe o território... Conhece a dor de se encolher em um canto com medo da incerteza, criança? A agonia de ver sua autoridade ser perdida e sofrer prisão no meio do nada ano após ano?”

O conde bateu a mão contra a mesa, ainda segurando o copo e derramando vinho por toda parte. Seus olhos opacos ardiam de ambição e ressentimento.

“Tenho suportado isso há anos, esperando por nada menos que este mesmo dia... O antigo Conde Bordeaux foi formidável... No entanto, não conseguiu triunfar sobre sua doença. Sua filha é engenhosa, porém é apenas uma mulher. Ela se comporta muito ativa. Não é nada comparada às vis serpentes que tive que enfrentar na capital.”

Nos últimos anos, o Conde Malta reuniu a facção anti-Bordeaux em seu território. A Casa Bordeaux foi inicialmente uma família influente que ajudou a colonizar a terra, e suas políticas moderadas sempre levaram em consideração o povo comum. Tais atitudes lhes renderam imenso apoio da população. No entanto, também ia em grande parte contra a mentalidade aristocrática dos nobres que se deslocavam das regiões centrais.

Os nobres da capital tendiam a desprezar a Casa de Bordeaux como caipiras ignorantes. A maneira como Sasha trabalhava como aventureira apesar de ser nobre, e a maneira como as irmãs percorriam seu território, às vezes até derramando suor ao lado dos fazendeiros — tudo parecia tão vulgar e humilde para eles.

O conde Malta passou anos tomando esses nobres adversários sob sua asa. Suas forças ainda não eram esmagadoras, contudo havia alcançado o ponto em que poderia manter o poder real se pudesse influenciar os oportunistas a seu lado, desde que pudesse tirar a condessa atual de cena.

Ele havia sido expulso da capital, mas ainda era alguém que passou quase toda a vida dedicado a lutas pelo poder. Sua competência era tal que manteve sua nobreza após a derrota, e saiu apenas sendo despachado para a fronteira.

“Os nobres são diferentes daquelas classes baixas mal-educadas. Se continuarem assim, os camponeses ficarão arrogantes e começarão a proclamar que a diferença de status é apenas uma ninharia. Quando acontecer, esqueça o ducado — o próprio império vai desmoronar. Um nobre é um nobre precisamente porque mantém um comportamento nobre. Essas garotas não entendem... Escute bem, o plano sai hoje — esta noite!”

O conde bebeu o vinho de uma vez. Talvez estivesse bêbado, no entanto este homem estava tão louco da última vez que eles tiveram uma reunião com ele, e estava sóbrio então. Seu desejo de poder era tão forte que estava chegando à sua cabeça.

O menino exalou um suspiro de farto. “Não me importo com sua filosofia. No entanto, cooperaremos enquanto nossos interesses se alinharem.”

“Não se preocupe. Apenas faça a sua parte, e farei a minha. Quem você acha que sou? Um nobre deve ser nobre. Riqueza e autoridade... Você entende, não é? Santa de Salomão?”

Sem dar uma resposta a essa pergunta, a menina levantou-se irritada e saiu da sala, o menino atrás. A jovem podia ouvir a risada misteriosa do Conde Malta por trás.

Andando rápido pelo corredor, a garota cuspiu. “Ele está tão vulgar como sempre, aquele homem. Um fantasma de autoridade. Ora, me lembra daqueles malditos monges de Lucrecia.”

“Não estamos muito melhor...”

“Não nos agrupe! A autoridade deve ser mantida por aqueles dignos dessa! Acha que aquele porco tem as qualificações?”

A garota se virou com as sobrancelhas erguidas, dando um soco no garoto. O menino só pegou seu punho.

Apertando os dentes, ela se virou e foi embora novamente. “Lixo, todos eles! Vou mudar isso, maldição... Mudar este mundo inteiro!”

“Faça o que quiser, só não se autodestrua.”

“Que coragem!”

Os dois saíram para o pátio. O sol assomava diretamente acima, derramando uma luz radiante e fazendo com que a névoa subisse da terra encharcada, folhas brilhando sob ela.

A garota levantou a mão direita, que trazia um anel no dedo médio. Foi agraciado com ornamentos de arrepiar os cabelos, modelado de acordo com alguma besta ou espírito maligno, e foi incrustado com uma pequena pedra preta.

“Reino dos Abandonados!” ela cantou, praticamente uivando. “Os ventos se voltam para favorecer os vagabundos e os perdidos! Que a cortina do crepúsculo caia sobre aqueles que nos proclamam mal! Que caminho difícil está à frente!”

Uma temível torrente de mana começou a se formar ao redor dela. Era como se o corpo dessa garotinha possuísse várias dezenas de vezes mais energia mágica do que uma pessoa normal.


O turbilhão de mana coalesceu no ringue e, assim que tudo parecia se acalmar, uma nuvem escura se ergueu da pedra negra, quebrando-se e subindo para o céu. Espalhou-se e espalhou-se até pintar sobre o azul e fluir para o leste.

A garota bufou. “O Anel de Samigina... Enquanto tiver isso... Hehe... Heh...”

O menino cruzou os braços e franziu a testa. “Então, no final, estamos apenas sendo usados...” ele murmurou.


Estava animado na cidade de Bordeaux. A chuva havia passado, e as poças que restavam refletiam o azul do céu enquanto muitas pessoas passavam por elas: os fazendeiros que vinham vender produtos e plantas silvestres, os mercadores do sul, as tribos errantes que tocavam suas canções nos becos, os aprendizes puxando carroças e as crianças correndo.

Depois de sair da mansão, Belgrieve e as meninas almoçaram em um lugar recomendado por Sasha e depois passearam pela avenida. Belgrieve perguntou a Sasha se seu trabalho estava bem, mas parecia que não estava envolvida nas difíceis conversas. Mesmo que Sasha quisesse opinar, tais negociações estavam além de sua compreensão e sua opinião só causaria mais confusão — pelo menos, era o que a mesma proclamava. Belgrieve se perguntou se estava realmente bem, porém quando pensou a respeito, também estava tentando evitar todo esse assunto. Isso porque ambos confiavam em Helvetica e Seren para lidar com o assunto. A maneira como Sasha podia discernir e declarar claramente que seria inútil naquela arena era parte de seu charme.

As garotas andavam ruidosamente alguns passos à frente de Belgrieve. Estava claro que suas ressacas haviam passado e, de qualquer forma, as bebidas haviam deixado Sasha se abrir para elas.

“Hey, hey, Sasha. Existem boas lojas de doces por aqui?”

“Sim, existem! Bordeaux cultiva um bom trigo, então as padarias são divinas.”

“Oh, eu gosto de como isso soa. Hey, vamos para uma então.”

Anessa sorriu e colocou a mão no ombro de Miriam. “Quem foi que reclamou de ser chamado de gorda?”

“Calada! Não tem nada haver!”

“Ah, não, acho a gordurinha de Merry adorável! Por favor, fique assim, por todos os meios!”

“Ah, até mesmo Sasha! Waaah, Ange, todo mundo está me intimidando!”

“Aqui, aqui... Agora vamos para a loja de doces. Vamos engordá-la um pouco mais...”

“O-O que você está dizendo?”

“Hehehe, estou brincando... Quero algo doce também. Tudo bem, pai?”

“Sim, não me importo.”

Belgrieve sentiu que estava sendo mantido fora do assunto, contudo estava assumindo mais um papel de acompanhante em qualquer caso, e de fato não se importou. Bastava que as meninas estivessem se divertindo.

Depois de se fartar do tipo de doçura que seria quase impossível provar em Turnera, as garotas partiram para a guilda dos aventureiros por recomendação de Sasha. Sua intenção era apresenta-los ao mestre da guilda. Vou receber outra avaliação exagerada? Belgrieve estava um pouco apreensivo com a ideia, no entanto não conseguiu encontrar nenhuma razão para recusar, e então ele acabou indo junto.

Este também era um edifício de pedra resistente. Em Bordeaux, os novos desenvolvimentos eram muitas vezes feitos de madeira, mas as construções mais antigas eram todas de pedra. Quando a terra foi colonizada pela primeira vez, eles foram feitos resistentes e duradouros.

A guilda estava cheia de energia, repleta de homens e mulheres de todas as idades indo e vindo, enquanto outros desfrutavam de conversas amigáveis ​​aqui e ali. Os aventureiros se misturaram com mercadores e artesãos que vieram comprar materiais.

Isso me trás memórias, pensou Belgrieve. Ele já havia participado dessa confusão. Mesmo agora que se acostumou com a vida tranquila em Turnera, as lembranças de seus meros dois anos de aventuras permaneciam vivas em sua mente.

Havia aventureiros aqui que estiveram no bar da noite anterior, e seu grupo logo foi cercado por uma multidão animada.

“Oh! As Rank S estão aqui!”

“Conte-nos como você matou o demônio!”

“Quero perguntar uma coisa ao Ogro Vermelho! Como cria um aventureiro Rank S?”

“Ei, por que você fica escondido em Turnera?”

“Isso é um desperdício! Se é tão bom assim a ponto de Sasha chamá-lo de ‘Mestre’, poderia chegar ao topo da guilda de Bordeaux em pouco tempo.”

Sorrindo ironicamente para a tempestuosa enxurrada de perguntas, Belgrieve seguiu Sasha por uma porta atrás do balcão. Enquanto os aventureiros continuavam fazendo barulho sobre sua chegada, eles foram contidos pela recepcionista.

Belgrieve suspirou enquanto subiam as escadas. “Bem, acho que... Meu nome ganhou vida própria.”

“Hmm? O que está dizendo, Mestre?”

“Só estou falando comigo mesmo... Além do mais, Sasha, não precisa me chamar de ‘Mestre’.”

“Mestre da Guilda! Você está aqui?”

Sasha abriu a porta no final da escada. Dava para um amplo escritório, com um sofá e uma mesa de seis lugares na frente, talvez para receber convidados. Havia uma mesa de escritório nos fundos, empilhada de forma ordenada com vários documentos.

Atrás da mesa, estava sentado um velho. O homem estava talvez em seus sessenta e poucos anos. Seu longo cabelo branco estava preso na parte de trás, e enquanto as rugas em seu rosto eram profundas e seus olhos estavam embaçados pelo tipo de melancolia que só vem para os idosos, o velho dava uma impressão bastante gentil. Sasha descaradamente se aproximou e colocou a mão sobre a mesa.

“Peço desculpas por interromper seu trabalho. Há alguém que devo apresentá-lo sem falta!”

O mestre da guilda sorriu para Sasha. “Sim, todo mundo está sussurrando a respeito, Sasha. A Valquíria de Cabelos Negros, Angeline, e seu grupo, assim como o Ogro Vermelho, Belgrieve, certo?”

Sasha apresentou a todos com um sorriso orgulhoso no rosto. “Esta é Angeline, a Valquíria de Cabelos Negros. Por aqui, temos seus membros de equipe, Anessa e Miriam. Este homem é o Ogro Vermelho de quem lhe falei. E, todos, este é o mestre da guilda de Bordeaux, Elmore!”

Cada um acenou com a cabeça quando Sasha mencionou seus nomes. O mestre da guilda levantou-se lentamente e deu uma reverência cortês de sua cabeça em troca.

“Eu sou Elmore. Faço o meu melhor para gerenciar a guilda dos aventureiros em Bordeaux. É um prazer conhecer a todos.”

“Estamos muito agradecidos. E, sobre invadir tão de repente...”

“Ah, não, eu não estava trabalhando em nada importante.”

Com o mesmo sorriso gentil, Elmore conduziu os cinco ao sofá de hóspedes.

Quando se sentou, Angeline disse. “Muito honesto, Sr. Elmore... Bem diferente do nosso mestre da guilda em Orphen.”

“Hey, não diga isso...” Anessa disse com uma risada. De fato, o escritório do mestre da guilda de Orphen não era tão arrumado e Lionel não tinha um pingo de dignidade.

Elmore pegou uma garrafa de água com menta da prateleira. “Lionel está fazendo o seu melhor. Acredito que ele fez um trabalho muito bom em lidar com esse surto em massa de monstros sem qualquer ajuda das outras guildas. Teríamos enviado reforços, mas não temos nenhum aventureiro de rank S em Bordeaux...”

Tomando um gole do líquido derramado em seu copo, Angeline perguntou. “Qual é o seu rank, Sr. Elmore...?”

“Eu era rank AA. Foi até onde meu talento de aventureiro me levou, porém tinha um talento surpreendente para o trabalho de mesa, como pode ver. Faz vinte anos desde que assumi o cargo.”

“Hmm... De acordo com nosso mestre da guilda, é um trabalho inútil para incompetentes... Isso é verdade?”

“Hey, Ange, está sendo rude.” Belgrieve a repreendeu com pressa.

No entanto, Elmore riu feliz, nem um pouco ofendido. “Sim, sim, entendo completamente. Hoje em dia, quase todos os mestres de guilda são meras figuras de proa. Eles ficam entre a guilda central e sua própria guilda e existem para receber as reclamações de ambos. Contudo, a situação é um pouco diferente em Bordeaux.”

Sasha se inclinou. “A guilda de Bordeaux sempre teve conexões com o senhor. Os nobres de pedigree da capital, por sua vez desprezam, os aventureiros, mas a Casa Bordeaux sempre esteve muito próxima do comércio de aventureiros.”

“Sim. E é por essa razão que nossa guilda tem um papel nas defesas da cidade. Os senhores de suas regiões, no geral, desprezam o mero pensamento de fazer pedidos aos aventureiros. É preciso dinheiro, e eles têm sua própria honra a considerar.”

“Tudo absurdo.” disse Sasha, franzindo a testa.

Elmore sorriu. “Mas Bordeaux é diferente. A família fez um contrato adequado com a guilda desde o início, estabelecendo um sistema onde seus soldados trabalham em conjunto com aventureiros para lidar com monstros e outras anormalidades. Por isso, minha posição é semelhante à de um comandante. Como o sistema aqui é diferente, tenho um pouco mais de trabalho do que os outros mestres de guilda, porém acho muito gratificante.”

Belgrieve ficou impressionado. Quando era um aventureiro, era normal que os soldados da cidade tivessem relações terríveis com os aventureiros. Aqui, ambos trabalharam juntos, com a irmã mais nova da condessa trabalhando como uma aventureira ativa.

No entanto, ao mesmo tempo, Belgrieve podia ver tal atitude prejudicando sua reputação com os nobres. Talvez os nobres com os quais tivessem conexões por gerações estivessem bem, entretanto os que se mudassem das regiões centrais teriam dificuldade em aturar Bordeaux quando aprofundassem seus laços com os aventureiros — praticamente o degrau mais baixo da escala social. Provável que está seja uma das razões pelas quais estão dificultando a manutenção da estrada, Belgrieve meditou com uma sobrancelha franzida. Ele nunca conseguiu entender o mundo da nobreza.

Enquanto conversavam, o céu do lado de fora da janela de repente escureceu e, como não havia velas acesas, a sala também ficou na escuridão. Elmore inclinou a cabeça com curiosidade, levantou-se e foi até lá. Por um momento, pensou que o sol estava se pondo, apenas para ver o céu coberto de nuvens espessas.

“Isso é estranho. Estava claro um momento atrás...”

Miriam foi até lá com uma carranca. Olhando para fora, seus olhos estreitaram. “Com certeza é estranho... Posso sentir uma mana incrivelmente distorcida.”

A testa de Angeline se contraiu. “Sinto uma sensação de formigamento... Tenho um mau pressentimento sobre isso.”

Um aventureiro irrompeu na sala. “Mestre da Guilda! Temos um grande problema! Há um surto em massa de mortos-vivos do cemitério!”

“O que? Como pode ser...” Elmore franziu a testa. “Quantos deles?”

“Mais de cem. Todo mundo que estava disponível os está segurando, mas não há fim à vista.”

“Entendido, teremos os soldados no caso também. Sasha?”

“Pode deixar! Vou convocá-los nesse instante! Com licença!”

Sasha decolou como o vento, e Angeline se levantou também.

“Eu ajudo...”

“Ah, mas... Tem certeza?"

“Será um bom aquecimento antes de voltarmos para Orphen...”

“Tenho que recuperar meus sentidos. Caso contrário, dirão que estou relaxando.”

“Faz um tempo desde que nos metemos em um tumulto.”

Elas não estavam usando seus equipamentos de aventura habituais, contudo mesmo quando saíam para se divertir, sempre carregavam suas armas. Este era o hábito de um aventureiro.

Elmore parecia aliviado. “Não podia pedir mais... Vou à igreja e pedirei que coloquem uma barreira. Posso pedir para que investiguem o cemitério?”

“Deixe para mim.” Angeline olhou para Belgrieve. “Você também vem, certo... Pai?”

“Como poderia dizer não?”

Só espero não atrapalhar. Porém ele guardou seu pensamento para si mesmo — desculpas eram inúteis no campo de batalha. Belgrieve só podia dar tudo de si. Angeline ficou encantada por lutar ao lado de seu pai e ficou visivelmente motivada. Estava escuro lá fora, e parecia que a chuva voltaria.

Nenhum comentário:

Postar um comentário