Capítulo 18: Suruga Monkey 001
O nome Suruga Kanbaru pertence a uma celebridade conhecida em toda a escola, o que significa, claro, que eu também ouvi muitas vezes. Minhas colegas de classe Tsubasa Hanekawa e Hitagi Senjougahara podem não ser menos célebres, mas isso é estritamente entre os alunos do terceiro ano. Sim, apesar de estar um ano abaixo de mim, Tsubasa Hanekawa e Hitagi Senjougahara e, portanto, sendo do segundo ano, o renome de Suruga Kanbaru é tão extraordinário que chega aos ouvidos de um veterano como eu, que é bastante distante desses tipos de rumores. O que, no geral, não deveria acontecer. Você pode agir superior e rir de que é impressionante para alguém tão jovem, mas no caso dela, a afirmação seria desconfortavelmente próxima da verdade.
Talvez tenha uma noção melhor de quem é Suruga Kanbaru se eu disser ‘estrela’ em vez de ‘celebridade’. Enquanto Tsubasa Hanekawa e Hitagi Senjougahara são vistas (apesar da verdadeira natureza desta última) como alunas chamadas modelos, alunas diligentes com boas notas e excelente conduta, essa não é a imagem aqui — embora, sendo uma ‘estrela’, não queira dizer que seja conhecida como a líder de uma gangue de garotas más. Em contraste com Tsubasa Hanekawa e Hitagi Senjougahara e seu domínio voltado ao acadêmico, seu domínio está no âmbito dos esportes. Suruga Kanbaru é a melhor jogadora de basquete da nossa escola. Depois que ela se juntou ao clube em seu primeiro ano, chegou na lista titular em pouco tempo, porém se fosse isso, poderia argumentar que uma equipe desconhecida e com histórico de ser eliminada na primeira rodada era uma piada de qualquer maneira. No entanto seria estranho tratá-la como tudo menos uma estrela quando ela acabou construindo uma lenda monstruosa ao liderar a equipe desconhecida e sempre eliminada na primeira rodada, que era uma piada de qualquer maneira, para o torneio nacional. Não há melhor maneira de dizer do que ‘acabou construindo’ porque você quase queria perguntar o que ela achava que estava fazendo e repreendê-la, a lenda era tão abrupta. Nosso time de basquete feminino explodiu e foi elevado a um esquadrão de craques que os times masculinos de escolas secundárias vizinhas solicitaram, de verdade e não de uma maneira a meias, para jogar contra, para praticar — tudo graças a uma garota.
Ela não tem uma altura excepcional nem nada.
Também tem a constituição de uma garota comum do ensino médio.
Se há um detalhe a comentar, é um pouco pequena e esbelta.
O termo ‘delicada’ lhe cairia bem.
Contudo Suruga Kanbaru — pode pular.
Apenas uma vez, um ano atrás, por algum motivo ou outro, tive a oportunidade e de dar uma olhada em um jogo que Suruga Kanbaru estava jogando — e ela era tão rápida e ágil que não passou apenas pelos defensores do outro time, mas os deixou perplexos, e como no mangá esportivo que uma vez varreu o Japão¹, marcou com uma enterrada limpa — uma enterrada atrás de uma enterrada, dezenas dessas, como se fosse a atividade mais prazerosa, com conforto, com facilidade, com o sorriso contagiante de um garota atlética nunca deixando seu rosto. Quando os times de basquete feminino fazem a maioria de seus arremessos usando as duas mãos, quantos alunos do ensino médio podem esperar testemunhar uma enterrada de todas as coisas? Da minha posição na torcida, mais do que ser abrumado por ela, me senti mal pelas jogadoras da equipe adversária, pois era visível como elas perderam a vontade de jogar, esmagados por ela, e não podiam mais assistir, era tão doloroso, e tiveram que ir embora. Lembro-me como se fosse ontem.
De qualquer forma, embora minha escola seja uma escola preparatória orientada ao acadêmico, ainda é uma escola secundária, cheia de jovens sensíveis no meio da adolescência, então heróis esportivos chamativos recebendo mais atenção do que alunos-modelo evidentes que apenas se destacam em seus estudos é um resultado natural — e Suruga Kanbaru fazendo isso ou aquilo em resposta a qualquer coisa, cada detalhe de seu comportamento que dificilmente parece importar e dificilmente importa, se transforma em fofoca e percorre a escola. Eu teria o suficiente para um livro se reunisse tudo. Mesmo que eu não esteja interessado e tente ativamente evitá-lo, as informações sobre Suruga Kanbaru chegam até mim de qualquer maneira. Se você for à nossa escola, independente do seu ano, se ela está na frente ou atrás de você, quem quiser pode descobrir, em um determinado dia, o que ela pediu no refeitório. É fácil, basta perguntar a alguém próximo.
Mas rumores são rumores.
Meio sério.
Não são necessariamente verdadeiros.
Na verdade, muitos dos rumores que chegam até mim carecem de credibilidade e são difíceis de aceitar pelo valor nominal — ou melhor, não é raro que dois rumores perfeitamente opostos estejam circulando ao mesmo tempo. Ela é irritável, não, ela é gentil; se preocupa com seus amigos, não, é fria; é modesta, não, é arrogante; ela vai de um romance selvagem para o outro, não, ela nunca namorou um garoto antes — qualquer um que de fato satisfizesse essas condições seria uma pessoa quebrada. Alguém como eu, que a viu, mas nunca falou com ela, que nunca se aproximou mais de cinco metros, tem que deixar isso para a imaginação nesses pontos. No entanto, na prática, não há necessidade de exercitar minha imaginação, absolutamente nenhuma — afinal, estamos em anos diferentes, e não há como uma estrela do esporte e uma jogadora de basquete craque (já que as atividades do clube são apenas para os alunos do primeiro e segundo ano na minha escola, sinto que posso pelo menos seguir em frente e confiar no boato de que ela foi nomeada capitã) vai ter algo a ver com um aluno do terceiro ano fracassado como eu.
Nós não temos nada a fazer um com o outro.
Naturalmente, sequer deve ter ideia de quem sou.
Não deveria haver nenhuma razão para ela saber.
Foi assim que supus.
Essa era minha suposição.
Me dei conta que estava enganado, pois maio estava chegando ao fim, quando estaríamos trocando para nossos uniformes de verão em junho. A essa altura, meu cabelo tinha crescido até quase esconder os dois pequenos buracos na parte inferior do meu pescoço, e me senti aliviado de que com um band-aid por algumas semanas deveria bastar... Dez dias se passaram mais ou menos desde que Hitagi Senjougahara e eu começamos a sair, como dizem, após um encontro casual.
Já naquele momento, quando Suruga Kanbaru se aproximou de mim com passos ressonantes e falou comigo, sua mão esquerda estava envolta em uma bandagem branca—
Notas:
1. Não estou de todo certo, mas suponho que se refira ao mangá de “Slam Dunk”.
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