quarta-feira, 12 de outubro de 2022

Boukensha ni Naritai to Miyako ni Deteitta Musume ga S Rank ni Natteta — Volume 03 — Capítulo 37

Capítulo 37: Todos trajados em roupas bonitas

“Bom.”

“Whoa, é perfeito para ela. Bonitinho.”

“Já era fofa para começar, então tudo fica bem nela... Tudo bem, esta é a próxima.”

“U-Umm... Er...”

Toda enfeitada com roupas bonitas, Charlotte ficou ali girando os polegares. Angeline e Miriam trouxeram uma roupa após a outra, e Charlotte se tornou sua boneca de fantasia. Enquanto Anessa estava no fundo parecendo um pouco entediada com toda essa situação, também astutamente segurava alguns conjuntos de roupas que queria ver na garota.

Depois de se refrescarem na casa de banhos, eles foram comprar roupas para Charlotte. Não era uma loja luxuosa, contudo era um estabelecimento honesto que nunca tentava enganar seus clientes, e uma das lojas favoritas de Angeline.

Tanto Charlotte quanto Byaku estavam vestindo as mesmas roupas que usaram durante o tumulto em Bordeaux, e os tecidos estavam todos manchados, empoeirados e rasgados. O banho teria sido inútil se continuassem usando isso.

Charlotte parecia mortificada e envergonhada por deixar as meninas cuidarem de suas roupas também. No entanto, Angeline insistiu que atrairiam a atenção levando uma criança suja e a arrastou com força para lá. O que logo acabou sendo apenas uma fachada — Angeline estava se divertindo.

“Experimente este no próximo, ok?”

“H-Hey, e os que eu escolhi...”

“Nossa, no começo você não parecia interessada. Como você é ardilosa, Anne.”

“Se queria se juntar a nós, podia ter dito desde o início. Oho ho ho...”

“Grr... O que isso importa?”

“Não disse que está errada. Agora vamos ver do que Anne é capaz...”

Desta vez, Charlotte usou as roupas que Anessa escolheu. A princípio, Charlotte estava envergonhada tentando parecer menor, mas era uma garota e uma ex-nobre; parecia que sentia alegria em usar roupas bonitas. Aos poucos foi entrando na brincadeira, agarrando a bainha de sua saia em reverência e se inclinando em poses. Não demorou muito para que estivesse se divertindo, e as três aventureiras riram enquanto ela o fazia.

Byaku, enquanto isso, olhava com espanto. Como aquela pirralha arrogante, impertinente e alheio se tornou tão manso? ele se perguntou.

“É tudo por causa daquela mulher estúpida e seu velho ruivo. O que há de errado com eles...?”

No que dizia respeito à Byaku, tanto Angeline quanto Belgrieve viam o mundo através de lentes cor-de-rosa. Ele teria se sentido um pouco mais em paz se Angeline tivesse acabado de matá-lo e Charlotte em vez de ajudá-los. Porém parecia que sua ingenuidade estava infectando Charlotte.

Apenas uma mão calorosa, apenas uma palavra, o calor da família... Como diabos é o suficiente para mudar a vida de alguém, pensou Byaku, ardendo em raiva silenciosa. Por dentro, sentia algo terrivelmente desagradável, como se seu senso de valores estivesse sendo derrubado de sua base fundamental.

Sendo ridicularizado como um fracasso, obrigado a viver no último degrau e depois forçado a matar. Toda a sua vida, Byaku tinha sido usado como uma ferramenta. Para piorar as coisas, havia um demônio além da compreensão corroendo suas entranhas. Era vago até o quanto de si mesmo era realmente ele. O pessimismo nutrido em seu interior o convenceu de que não apenas o mundo, mas até mesmo toda a sua vida era inconsequente.

Quando foi designado como atendente de Charlotte, apenas pensou que era um pouco chato. Repetidas vezes olhou para a garota, cujos olhos brilhavam em vingança, e que colocava uma fachada muito mais forte do que o necessário, e a ridicularizava em sua cabeça.

Porém Charlotte era como Byaku nas formas mais estranhas. Seu objetivo vingativo era de fato sombrio, mas esse invejava que a garota tivesse algo que a levasse adiante. Até achou isso bastante cativante. Sabia que ela tinha medo de sangue, então se absteve de matar quando podia. A essa altura, talvez fosse o melhor.

E agora, vendo-a sorrindo, livre de suas correntes escuras, Byaku estava assaltado por uma grande mistura de emoções. Estava um pouco aliviado, contudo muito mais invejoso.

Inveja? De que? As palavras ecoaram em sua cabeça. “Entendo. Também é um solitário. Não se preocupe, a irmãzona está aqui para você.”

“Tsk.”

Para o inferno com a irmãzona. Isso é idiota. Na certa ela rastejou para fora do mesmo buraco que eu.

Byaku estalou a língua de novo e desviou os olhos das garotas. Foi nessa época que Miriam por fim apareceu e olhou bem no fundo do seu rosto. Byaku a ignorou em silêncio por um tempo, mas eventualmente, ficou bastante desconcertante, e então a encarou de volta.

“Qual é o seu problema?”

“Hmm... Só estava imaginando quais roupas ficariam bem em você.”

“Hã?”

Seus ombros foram agarrados com firmeza. Angeline sorriu.

“Nós decidimos o que comprar para Charlotte... Você é o próximo.”

“O que... Tem que estar brincando comigo.”

“Não seja tímido, não seja tímido. Que tal começarmos com isso...”

O inferno que vou me tornando sua boneca de vestir! Byaku gritou em sua cabeça enquanto tentava apressadamente se libertar e fugir, porém Angeline o prendeu em seguida. Ele mais uma vez estremeceu com o ar intimidador de um aventureiro Rank S.

“V-Vadia! Não brinque comigo!”

“Não estou brincando... Merry, tire a roupa dele.”

“Senhora, sim senhora!”

“P-Pare!”

Os olhos de Byaku giravam ao redor enquanto procurava em desespero por ajuda. Seus olhos se fixaram em Charlotte. A garota estava usando um vestido simples, mas bonito, exibindo-o timidamente para Byaku.

“Byaku, acho que gosto disso!”

“Você também...” seu rosto congelou em desespero.

Eles deixaram a loja depois de um pouco de briga. Já era tarde e o sol começara a descer para o oeste. O grupo estava tão absorto na escolha de roupas que negligenciaram o almoço, então esse era o próximo item da agenda.

Suas roupas macias e confortáveis ​​deixavam Charlotte de bom humor, e frequentemente agarrava as meninas pela mão ou as abraçava. Ela mal podia se conter. Angeline sentiu-se aliviada ao vê-la por fim agindo como uma menina de dez anos deveria.

Byaku, por outro lado, estava cansado e abatido, arrastando os pés atrás do grupo. Depois de ser forçado a usar tantas roupas, estava mais cansado mentalmente do que fisicamente.

O grupo caminhou pelo centro da cidade, em direção ao bar de sempre. A lavanderia pendia acima deles de cordas esticadas entre os prédios altos que ensanduichavam a rua. Sem aviso, uma galinha corria por uma rua lateral, crianças vagavam com o nariz escorrendo e homens que não conseguiam encontrar trabalho ficavam sentados à beira da estrada olhando distraídos para o espaço. Era um dia normal em Orphen.

Ainda não havia sinais de um ataque iminente. Angeline poderia dizer se alguém estivesse os olhando com más intenções, e estava confiante de que poderia lidar com um ataque. Seria cansativo manter a guarda o tempo todo.

Sabia que tinha que se divertir quando tivesse a chance.

De repente, Charlotte parecia um pouco inquieta e um pouco deslocada.

“Preciso... Devolver o dinheiro...”

Este era o mesmo lugar onde havia feito seu discurso e vendido seus amuletos.

Angeline franziu a testa. “Eles vão te bater. Já fez coisas horríveis com você, certo...?”

“Sim... Porém tenho que devolvê-lo.”

Charlotte colocou a mão no hematoma em sua bochecha que havia desaparecido em boa parte.

Com um sorriso irônico, Anessa deu acariciou sua cabeça. “Precisa mesmo? Se os amuletos eram reais ou não, ter alguma esperança para se agarrar é o que vai ajudá-los a superar isso. E as pessoas aqui se cansam das coisas facilmente. Se os amuletos não tiverem efeito, vão esquecê-los em breve.”

“Mas...”

“Está bem. Não estou dizendo que é culpa deles por cair nessa, só que não precisa ficar tão nervosa... Vocês todos serão mais felizes se puderem esquecer o que aconteceu.” disse Angeline.

Charlotte mordeu o lábio. “Mas então como posso expiar...”

Miriam riu e bagunçou o cabelo da garota. Seu cabelo exalava um perfume doce e floral depois do banho.

“Existem muitas outras maneiras. Bem, por enquanto, vamos deixar essas coisas difíceis de lado e almoçar.”

“Sim, parece o certo... Estou morrendo de fome.” disse Angeline, dando um tapinha em seu estômago.

Segurando a mão de Charlotte, Miriam perguntou: “O que gostaria de comer, Char?”

Depois de se mexer um pouco, Charlotte disse hesitante. “Umm... Gosto de peixe. Dentro Lucrecia, sabe, havia todos os tipos de peixes recém-pescados!”

“Peixe?” disse Anessa. “Parece uma boa ideia. Os frutos do mar em Elvgren eram ótimos, contudo a comida de Lucrecia também parece boa.”

Charlotte esticou o peito, orgulhosa. “Hehehe, tenho certeza que é ainda melhor lá do que Elvgren! Essa massa de anchova salgada é absolutamente viciante!”

“Anchovas salgadas... De uns tempos pra cá tenho conseguido engoli-las.”

“Aquele olhar que o Sr. Bell deu quando os experimentou foi um espetáculo para ser apreciado.” disse Miriam com uma risadinha.

“Sim, foi como um tapa no rosto.” disse Anessa, sorrindo da mesma forma.

Charlotte inclinou a cabeça. “Quem é o Sr. Bell?”

“O meu pai.”

“Seu pai...?”

“Exato. É conhecido como o Ogro Vermelho Belgrieve. Ele é alto com cabelo ruivo e muito forte e legal.”

Charlotte se afastou, seus olhos vagando em pensamentos. “Seu cabelo é... Ruivo?”

“Sim. Não é muito comum, certo? Uma de suas pernas é falsa, mas meu pai é ainda mais forte do que eu. Vou ter que deixar você conhecê-lo um dia desses...”

Depois de ouvir isso, Charlotte parecia que iria chorar de novo. Mas então abriu um sorriso e se agarrou a Angeline.

Angeline ficou surpresa, no entanto ainda assim, acariciou a cabeça de Charlotte.

“O que há de errado, Char...?”

“Estou tão feliz! Hehe... Obrigado, irmãzona!”

Charlotte riu enquanto esfregava o rosto nas roupas de Angeline.

Angeline realmente não entendeu, porém por enquanto, decidiu continuar acariciando-a.

Seu cabelo lavado e oleado estava perfeito, afinal. Atrás delas, Byaku soltou um suspiro profundo.


A temporada de tosquia das ovelhas havia terminado, e a colheita também. Os campos de trigo foram arados, a vasta extensão de grãos mudando de dourado para marrom. No entanto, as folhas das árvores ainda estavam verdes, e a luz acima vinha de um sol de verão.

As ovelhas roíam a grama com olhares renovados em seus rostos enquanto cordeiros recém-nascidos brincavam nas proximidades. Não importa o quanto comiam, não parecia que eles estavam colocando um dente nas planícies gramadas.

Algum tempo se passou desde que o mestre élfico e sua aluna chegaram a Turnera. Os aldeões tiveram alguns problemas para se acostumar com o Graham de fala mansa e digno, mas rapidamente aceitaram Marguerite, que era alegre, animada e um pouco áspera. Sua bela aparência contribuiu para que muitos dos jovens da vila aceitassem melhor os estrangeiros.

Seus dias ainda eram ocupados com afastar monstros, entretanto ainda precisavam se aventurar nas profundezas da floresta de novo. Belgrieve não achava que derrotar a criança misteriosa resolveria a situação, e Graham parecia compartilhar dessa opinião. Pelo que viram na batalha de Marguerite, ele era o tipo de inimigo que Graham poderia despachar sem suar a camisa, então decidiram que não era muito arriscado observar e esperar.

Dito isso, se mantinham cautelosos, mas passavam os dias com uma tranquilidade curiosa.

“Sim, lembas, estou lhe dizendo. Ah, isso é ótimo! De qualquer forma, comi tudo antes de chegar aqui!”

Marguerite falou em alto astral, uma taça de madeira na mão. Os jovens se juntaram a ela, ouvindo com rostos extasiados. Enquanto o traje de Marguerite era um pouco grosseiro, seu rosto e seus maneirismos naturais eram um espetáculo para ser visto; tanto que não se podia deixar de ficar observando-a. Os jovens de Turnera não podiam evitar, pois só conheciam as moças da vila e os viajantes. As meninas, entretanto, ficaram um pouco irritadas.

Houve um banquete modesto no quintal de Kerry. Kerry, que estava querendo se dar bem com os elfos, convidou Graham e Marguerite através de Belgrieve.

Era para ser mais uma reunião de família, todavia a informação vazou de alguma forma, e todos os rapazes e moças da vila apareceram, tornando-a uma reunião muito maior do que deveria ser. Em cima da cidra, um barril do precioso vinho de uva de Kerry foi aberto a contragosto. Kerry fechou os olhos, dizendo a si mesmo que era um preço barato a pagar se ajudasse os aldeões a aceitar os elfos.

Enquanto ele também era um convidado no banquete, Belgrieve sentou-se em silêncio e observou Marguerite e o povo da vila desfrutando de sua juventude. Turnera quase não tinha nenhuma interação com o mundo exterior dos homens, contudo de repente estavam compartilhando bebidas com elfos, que estavam ainda mais longe de suas vidas comuns do que isso. Que curioso, pensou.

“Então adivinhe! A ponte suspensa estava balançando... Hein? Está vazio. Hey, Bell, você tem mais vinho?”

Marguerite veio até Belgrieve acenando com sua xícara vazia.

Belgrieve sorriu. “Tem certeza de que não está bebendo demais, Maggie?”

“Do que está falando? Ainda não estou embriagada. O vinho aqui desce bem e fácil, certo?”

“Vai fazer Kerry chorar, sabe. Ele já trouxe dois barris.” disse Belgrieve.

No entanto, Kerry — que estava sentado ao seu lado — caiu na gargalhada. “Bwahahaha! O vinho terá uma história para acompanhar se puder satisfazer uma princesa elfa! Oi, vocês, peguem outro barril do porão!”

Os jovens correram para o porão, cada um competindo para ter a honra de presentear Marguerite com sua próxima bebida. “Vocês todos não precisam ir.” Kerry murmurou para si mesmo.

O outro elfo, Graham, estava sentado em silêncio. Seu rosto pendia e seu corpo balançava de um lado para o outro. Ainda havia um pouco de vinho em sua taça. Surpreendentemente, parecia que o velho elfo não era tão forte quando se tratava de segurar sua bebida. Quando a bebida chegou aos outros aldeões, instaram o herói elfo a beber mais e mais, e assim este o fez — no entanto já estava cochilando como resultado.

Duncan deu um tapinha no ombro dele. “Como está, Graham? Se estiver com sono, posso te levar de volta.”

“Des... Desculpe...”

Graham piscou seus olhos nebulosos enquanto tentava se levantar, apenas para tropeçar e cair de volta em sua cadeira.

Marguerite gargalhou. “Você ainda é um peso leve, tio-avô! Só bebeu cinco ou seis xícaras, certo?”

“Maggie... Beba com moderação... O excesso de confiança será... Sua ruína...” Graham fechou os olhos, a ruga em sua testa ficando mais profunda.

Duncan o apoiou pelo ombro, segurando o homem com uma risada. “Oh, pensar que o Paladino teria tal fraqueza, hahaha! Foi um banquete esplêndido, Kerry. Vou me despedir primeiro. Agora, Graham, Sir Graham, vou ajudá-lo a andar. Vamos.”

“Minhas... Desculpas... Estou... Inca... Pa hã... Pato...?” Graham murmurou algo baixinho, sua cabeça balançando frouxa para lá e para cá. Era evidente que tinha chegado ao seu limite. Duncan praticamente teve que arrastá-lo. Os dois ficaram bastante próximos depois de morarem juntos.

Belgrieve sentiu que era hora de partir também, porém não podia deixar Marguerite sozinha. Sentou-se em silêncio, saboreando aos poucos seu vinho.

Enquanto bebia entusiasticamente do novo barril, Marguerite contava uma história após a outra de viagens e demônios, e da terra além das montanhas. No entanto à noite por fim chegou, e os aldeões se dispersaram para dormir no início da manhã. Os jovens da vila também saíram um tanto relutantes, e o quintal de Kerry ficou em silêncio mais uma vez.

Kerry bocejou. “Homem, isso com certeza foi animado.”

“Sim... Está bem, Kerry? Passamos por mais de sua adega do que o esperado...”

“Hey, não se preocupe, Bell. Graças a essa festa, todos sabem como é fácil conviver com os elfos. Contudo vamos manter isso em segredo da próxima vez que tivermos um desses encontros, hein?”

“Haha, entendi. Fico feliz em ouvir.”

Talvez não fosse o mesmo para os elfos vivendo entre sua própria espécie, mas aqueles que partiram para o mundo exterior estariam mais interessados ​​em conhecer os humanos. Belgrieve deu um tapinha no peito, aliviado.

Foi quando Marguerite se empinou. Ela havia bebido uma quantidade considerável, porém não parecia nem um pouco bêbada.

“Ah, todos eles foram embora.”

“Acho que devemos ir também. Temos uma madrugada.”

“Eu não bebi o suficiente... Hey, Bell. Faça-me companhia um pouco mais. Duncan e o tio-avô fugiram.” Marguerite mal-humorada chutou uma pedra a seus pés.

Belgrieve acariciou a barba, parecendo bastante perturbado, porém Kerry deu um tapa nas costas dele com uma risada. “Vá beber até ficar satisfeito! A adega é toda sua! Vou dormir, mas acho que posso confiar em vocês dois!”

“Tudo o que eu queria ouvir! Você é um bom homem, Kerry!” Marguerite riu.

“Não, eu me sentiria mal... Que tal levarmos um pouco para casa conosco? Vamos começar de novo quando voltarmos, ok?”

Marguerite assentiu, e os dois se despediram de Kerry.

Cada um deles carregava uma grande garrafa de cidra junto pelo caminho iluminado pela lua. A lua estava tão brilhante que não precisavam de uma lâmpada para iluminar o caminho.

Marguerite teve um salto em seu passo; na verdade, quase parecia que estava dançando. Seu cabelo prateado brilhante brilhava como vidro ao luar.

“Você parece feliz.”

“Hehehe...” Marguerite riu timidamente, então se alinhou ao lado de Belgrieve e acompanhou seu ritmo.

“Sempre foi um sonho meu. Reunir-se, beber e conversar sobre coisas sem sentido.”

“Hmm. Não o fazem no território élfico?”

“Temos banquetes, sim. Contudo todo mundo é tão, bem, sofisticado. Não riem alto ou brincam, nada parecido. Sempre falam sobre conceitos filosóficos ou práticos com rostos sérios. Como devo dizer... Seus banquetes são uma espécie de troca intelectual para aprofundar seus pensamentos e conhecimentos. Sim, algo assim. É sufocante para mim.”

Não soava tão ruim para um aventureiro que estava sempre falando sobre coisas sem sentido.

Marguerite cruzou as mãos atrás da cabeça. “Hey, que tal irmos para a floresta de novo? Não vou baixar a guarda desta vez. Vou ouvir o que meu tio-avô diz também. Que tal, Bell?”

“Hmm... Bem, me sinto bem perdido no assunto. Não consigo deixar de pensar naquela criança.”

“Porém a criança é a causa de tudo isso, certo? Não vai acabar se derrotá-lo?”

“Não tenho tanta certeza. Tenho a sensação de que não é tão simples. De acordo com Graham, a mana massiva que enchia aquele espaço parecia ter sido cortada da criança.”

Marguerite cruzou os braços e pensou. “Aqueles velhos elfos em casa estão sempre falando e falando, e nada é feito. É por essa razão que comecei a pensar que é melhor ir lá e esmagar o problema pela raiz. Estou errada?”

O orvalho da tarde estava começando a cair, e ele podia ver uma umidade crescendo no topo de seus sapatos quando pisou na grama. Belgrieve olhou para longe.

“Resolverá se de fato for a causa de tudo. Entretanto devemos fazer algum esforço para ter certeza de que é a causa real. É fácil quando há um cara mau claro, todavia há muitas vezes em que não são a raiz do problema de verdade.”

“Urgh... Odeio esse tipo de coisa. Gostaria que o mundo fosse mais simples, onde as pessoas boas são boas e as pessoas más são más, sabe. Bata no bandido, e então seja feliz para sempre. As histórias do meu tio-avô foram todas resolvidas depois que derrubou um demônio atroz. Seria muito mais fácil se funcionasse com pessoas ruins.”

“Haha, certo... Mas monstros à parte, as pessoas não são boas ou más. Seria muito mais fácil se pudesse derrubar todos os obstáculos sem um momento de hesitação, porém acabará perdendo muitas das pequenas coisas. As pequenas coisas escondidas pela emoção da vitória e aplausos da aclamação.”

“Então o que acha que devo fazer, Bell? Que tipo de mundo é ideal para você?”

Belgrieve coçou a bochecha, um pouco desajeitado. “Turnera é quase tudo que conheço... No entanto acho importante que as pessoas enfrentem as coisas de forma adequada. É incrível se a resposta vem de forma fácil, e isso torna muito mais rápido, contudo...” Belgrieve acariciou sua barba. “Acho que há significado no pensamento e na cautela também. A vida não é apenas pura repetição, e prosseguir sem problemas não é tudo. Então precisa pensar e hesitar e viver independentemente. Tenho certeza que é quando você descobre coisas novas e cresce. Esse é o tipo de vida que eu aprecio.”

“É assim que funciona? Eu realmente não saberia.”

“Haha... Estou ficando muito velho. Você ainda é jovem, Maggie...”

Marguerite esticou os lábios em um beicinho e cutucou Belgrieve. “Não me trate como uma criança.”

“Esse é um mau hábito seu. É muito rápida para começar a ficar de mau humor.”

“Não estou de mau humor, estúpido.”

Marguerite saltou. Ao longe, ele a viu abrir a porta de sua casa.

“Tio-avô!” ela gritou. “Está com sono?”

“Ei, Maggie? Não me assuste assim!” Houve um barulho — um som de estrondo, talvez de Duncan caindo de sua cadeira. Belgrieve caminhou devagar em direção a casa. Deixando de lado se eles iriam derrotar a criança ou não, seria melhor dar outra olhada na situação. De repente, Belgrieve se perguntou: O que Angeline faria nessa situação?

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