domingo, 16 de outubro de 2022

Boukensha ni Naritai to Miyako ni Deteitta Musume ga S Rank ni Natteta — Volume 03 — Capítulo 38

Capítulo 38: Terminada a festa e caindo a noite

Terminada a festa e caindo a noite, as nuvens se formaram e ficaram densas até cobrirem por completo o céu. Ao amanhecer, era difícil dizer onde terminava a noite e começava a manhã, pois tudo era um tom uniforme de cinza.

O ar estava estranhamente quente e úmido, e as ovelhas, cabras e cães estavam inquietos. O gado se espalhou em direções aleatórias no instante em que foram soltos para pastar; os cães, cujo trabalho era pastoreá-los, corriam de um lado para o outro em um pânico caótico.

Desde as primeiras horas, Belgrieve foi chamado para ajudar a recolher as ovelhas, e percebeu que também estava se sentindo inquieto. Seu coração acelerou mesmo quando ele ficou em silêncio, e só piorou quando se moveu.

“É um dia estranho...” murmurou.

No entanto, não era como se não tivesse um palpite sobre a causa. Belgrieve olhou para a floresta. As árvores balançando na brisa não pareciam diferentes do normal, mas sentiu que algo estava errado. Talvez os efeitos da mana enfim começaram a se manifestar lá fora.

Era por volta do meio-dia quando a última ovelha de Kerry foi encontrada e Belgrieve voltou para casa. Graham estava de ressaca, deitado na cama.

“Como está indo, Sir Graham?”

“Minha cabeça dói... Não costumava ser assim. Quando eu era menino...”

“Ahaha, se recomponha, tio-avô.” disse Marguerite, que estava completamente imperturbável, apesar de todo o álcool que havia consumido.

Graham mordeu o lábio em frustração. “Não tenho desculpa... Tinha que ser agora de todos os tempos...”

“Sabe o que está acontecendo?” perguntou Belgrieve.

Graham assentiu. “O fluxo de mana da floresta mudou... Isso é muito repentino. Alguma coisa deve ter acontecido lá dentro.”

“Entendo, como pensei... Que incômodo.”

“Certo, você vai dormir, tio-avô. Vou dar uma olhada.” e com isso, Marguerite se levantou, espada em mão.

Belgrieve fixou sua própria lâmina em seu quadril. “Também vou.”

“Vou ficar bem sozinha, estou dizendo. Só vou dar uma olhada.”

“Espero que seja tudo, porém tenho um mau pressentimento a respeito.”

Foi quando Duncan — que estava ajudando uma casa diferente a perseguir suas ovelhas — entrou pela porta da frente. “Que sensação estranha no ar!” comentou. “Algo ruim está para acontecer, marque minhas palavras.”

“Duncan, estou indo para a floresta com Maggie.”

“Hum? Então vou também!”

“Não, quero que cuide da vila. O tempo passa de forma diferente lá, e teremos problemas se os monstros saírem enquanto estivermos fora. Sir Graham não está nas melhores condições.”

Belgrieve também tinha considerado enviar Duncan e Marguerite juntos. No entanto, o próprio Duncan admitiria que não era adequado para a exploração de masmorras. E enquanto Marguerite tinha experiência em lutar contra demônios, ainda era apenas uma novata quando se tratava de todas as outras habilidades de aventura.

Esta teria sido a hora de Graham, mas se o mesmo não pudesse se mover, então Belgrieve sabia que teria que lidar com isso sozinho.

Graham se levantou, fazendo uma careta com a dor de cabeça.

“Desculpe... É minha culpa.”

“Você não recusou uma única taça de vinho, porque queria acabar com os preconceitos dessas pessoas sobre os elfos!” Duncan respondeu com uma gargalhada. “Não é nada para se envergonhar.”

Embora Graham mal falasse à mesa, bebia cada copo oferecido a ele, sorrindo um pouco orgulhoso toda vez que chegava ao fundo. Os aldeões ficaram encantados ao ver tal cena. Um elfo não era mais alguém nas nuvens — era possível compartilhar uma bebida no quintal. Era como se a distância entre eles tivesse diminuído de uma só vez. Entendendo a situação, Graham continuou a beber apesar de ser um peso leve. Desajeitado como era, estava fazendo o seu melhor para se misturar.

Belgrieve e Duncan entenderam sua intenção, então nem sequer consideraram provocá-lo por sua exibição vergonhosa, embora Marguerite parecesse gostar de apontar isso de qualquer maneira.

Duncan virou-se para Belgrieve. “Tudo bem, entendi. Deixe a vila comigo. Vocês dois, descubram o que está causando isso.”

“Obrigado, Duncan... Vamos, Maggie.”

“Vamos em frente!”

Os dois partiram para a floresta com suas armas. Bastava ficar de pé diante da entrada para sentir a anormalidade. Soprava um vento morno, trazendo um leve cheiro de carne crua. Algo parecia errado.

Marguerite franziu o rosto. “Mudou bastante em um dia... O pirralho finalmente mostrou suas verdadeiras cores?”

“Não sei... Teremos que verificar. Fique perto de mim.”

“Não me trate como uma criança!”

Eles deram o primeiro passo juntos. As árvores estavam emaranhadas de maneiras peculiares, e suas folhas adquiriram um tom roxo escuro. O cheiro revigorante de folhagem desapareceu sem deixar rastros, substituído por um fedor adstringente de algo em decomposição. As raízes das árvores tentaram se arrastar para fora do solo, espalhando-se pelas rochas e terra como se bloqueassem o caminho.

Esta não era mais a floresta que Belgrieve conhecia como a palma de sua mão.

Belgrieve olhou ao redor, sem saber muito bem como se sentir.

“Isso é ruim... Será que nunca voltará?”

“As árvores ainda não murcharam. Contudo nesse ritmo, é inevitável. Conheço florestas que morreram por causa de demônios.”

Ele podia sentir mais monstros do que o habitual. Os dois desembainharam suas espadas no mesmo momento em que vários irromperam pela vegetação rasteira. Além dos caçadores cinza e sapos gigantes de sempre, havia caçadores caóticos e ogros — ambos monstros de alto escalão — mesclados.

“Podemos ter esperado um pouco demais...”

“Sim! Foi por essa razão que eu disse que tínhamos que acabar com essa situação já!” Marguerite disse enquanto saltava graciosamente em seus inimigos, transformando vários em pedaços silenciosos de carne em um instante.

Belgrieve, como sempre, concentrou-se em contra-atacar o que quer que viesse em sua direção — seus movimentos eram mais precisos agora do que antes, e usou sua perna como um pivô com vantagem, flutuando muito com muito mais suavidade do que antes era capaz. Seus dois meses de treinamento com Duncan e Graham estavam enfim dando frutos.

Ele ficou bastante surpreso (e encantado) ao ver que era mais do que páreo para monstros de alto escalão. Não pensei que tinha tanto para crescer na minha idade.

No entanto, os monstros vieram aparentemente sem fim à vista. Eles superaram os cadáveres de seus irmãos, seus rugidos cheios de ódio e vingança pelos caídos.

Belgrieve recuou alguns passos e embainhou sua espada. “Maggie! Recue!”

Belgrieve nem tinha terminado de falar antes de tirar farinha de óleo de seu saco de ferramentas e espalhá-la. Era óleo processado em pó fino e vendido em todo o continente como um iniciador de fogo barato. Marguerite estava atrás em um piscar de olhos, mas não antes de franzir a testa com o cheiro familiar.

“Hey, Bell! Fogo é uma má ideia aqui!”

Porém Belgrieve pegou seu acendedor encantado mesmo assim, balançando-o com velocidade para acender uma chama. No momento em que fez contato com a farinha de óleo, ela se inflamou e fez com que os monstros parassem em suas trilhas, perplexos.

Belgrieve aproveitou esta oportunidade para correr mais longe na floresta.

“Me siga!”

“C-Certo! Mas isso não vai começar um incêndio florestal?”

“Não precisa se preocupar. Há um poço de água nas proximidades. O solo é coberto de musgo com alto teor de umidade. Não há folhas mortas nesta época do ano, então não deve se espalhar muito.”

Entendo, pensou Marguerite. Ela não estava prestando muita atenção no entorno, contudo sem dúvida havia uma sensação de umidade sob seus pés. Marguerite olhou para Belgrieve, parecendo um pouco impressionada. “Estou impressionada. Acho que a batalha não é apenas uma questão de habilidade.”

“É assim que os aventureiros são. Você deve manter esse tipo de coisa em mente. Tenho certeza de que será útil algum dia.”

Os dois correram atrás dos monstros que haviam sido detidos pelas chamas. Às vezes, Belgrieve olhava para o céu, verificando a direção do vento e ajustando seu curso pouco a pouco. A deformação das árvores estava piorando, e um pesado miasma de mana começou a pesar em seus ombros.

“Tsk.” Marguerite estalou a língua. “Que coisa doentia... É por isso que esses demônios são tão...”

“Tem certeza que é um demônio?” Belgrieve perguntou depois de um momento.

“Hmm... A qualidade da mana parece bem próxima. Embora seja um pouco diferente dos que eu derrotei.”

Derrotar os monstros que os atacaram ao longo do caminho, levou pouco menos de uma hora para chegar à mesma cúpula de antes. Os troncos das árvores ao redor estavam bastante deformados, todavia os que compunham a cúpula estavam em perfeita ordem. Essas árvores erguiam-se em intervalos regulares quase como os pilares de um grande templo.

Marguerite agarrou sua espada com um sorriso. “Não vou baixar a guarda desta vez... É hora da vingança.”

“Vamos, Maggie. Nada de sair sozinha. Siga o meu comando.”

“J-Já entendi!”

Não havia entrada para a cúpula. Os galhos das árvores cresceram e se emaranharam em uma treliça resistente, que Belgrieve teve que cortar para forçar sua entrada.

Estava cheio até a borda com aquele ar nocivo dentro. As folhas eram verdes antes, porém agora todas murcharam e morreram. Foi obra do miasma? Belgrieve rapidamente procurou a criança.

“Lá!”

Ele estava lá, deitado no centro da cúpula, seus longos cabelos espalhados.

Não parecia estar dormindo.

Belgrieve avançou com velocidade até a criança. Seus olhos estavam fechados, sua respiração difícil e superficial e seu corpo encharcado de suor. Não era sono — estava exausto demais para se mexer.

“O que aconteceu...?”

Belgrieve tirou um lenço do bolso e enxugou um pouco do suor enquanto olhava ao redor. O ar fétido o fez sentir-se enjoado.

Marguerite olhou para a criança com uma carranca. “Então isso está acontecendo porque ela está à beira da morte... E de alguma forma está tornando a floresta ainda pior? Eu não entendo.”

“Não sabemos se é a causa, Maggie. Como está sua mana? É semelhante a um demônio?”

Marguerite franziu a testa, abaixou-se e olhou para o rosto da criança.

“Não, não é isso.”

“Então...”

“Não é ‘semelhante’. Isso é um demônio, puro e simples.” disse Marguerite enquanto desembainhava sua lâmina. “Suprimiu tão bem que não poderia dizer até chegar tão perto. É essa a causa com certeza, Bell.”

Belgrieve freneticamente segurou sua lâmina. “Espere, espere, então devemos ser ainda mais cuidadosos. A condição da criança está matando a floresta. Mate-o, e podemos passar do ponto sem retorno.”

“Está tentando sair com um estrondo. Tentando derrubar o maior número de pessoas possível.”

“Eu não acho. Caso contrário, você não teria que chegar tão perto para sentir seu poder. Em primeiro lugar, não sabemos por que está morrendo.”

“Bell. Não se deixe enganar pela sua aparência. Pretende assumir a responsabilidade se seu erro colocar Turnera em perigo?”

“Sim. Vou. Se isso acontecer, vou matar a criança mesmo que precise sacrificar minha vida para fazê-lo. A vila ficará bem com Sir Graham lá.” a intensidade na voz de Belgrieve foi suficiente para silenciar até Marguerite.

Então, um tremor percorreu a cúpula. As folhas murchas se espalharam no ar, e os galhos e troncos se dobraram com um estalo alto. Os dois olharam para cima.

“Ah!” os olhos de Marguerite se abriram, sua espada pronta.

Um monstro muito peculiar havia invadido a lateral da cúpula. De quatro, ele se erguia muito mais alto que um humano, seu corpo negro sombrio em constante fluxo. Os rostos de vários monstros apareciam e depois desapareciam, uma e outra vez. Tudo o que permaneceu constante foi a pulsação incessante.

Marguerite notou arrepios em sua pele. “N-Nojento! Que diabos essa coisa deveria ser?”

“Parece que os monstros se fundiram.”

“I-Isso acontece?”

“De vez em quando, em masmorras de alto escalão... Ou assim ouvi. Eu mesmo nunca vi.”

Ao que parecia, a mana distorcida fez com que os monstros se fundissem, produzindo algo completamente diferente. A abominação grotesca escorria miasma de todo o seu corpo e soltou um rugido que aludiu à descrição. Foi agonizante ouvir, quase como uma criança chorando de dor.

Lágrimas fluíram de seus olhos em constante mudança.

“Assustador... Assustador...” Marguerite olhou entre a criança e o monstro. “Aquela coisa assustadora sugou a mana do pirralho... É o que está causando essa situação!”

“Está vindo, Maggie!”

Belgrieve agarrou a criança e pulou para o lado. Marguerite saltou na direção oposta. Com um uivo, o monstro avançou pelo espaço onde eles estavam. O chão tremia a cada passo maciço que dava.

“Bell!” gritou Marguerite. “Você não vai me dizer para não matar este, vai?”

“Não vou! Não baixe a guarda!”

“É claro! Vou acabar com isso em um piscar de olhos!”

Marguerite torceu seu corpo, se aproximando habilmente do monstro. Sua espada brilhou quando ela desencadeou várias dezenas de golpes em um instante. Os membros do monstro caíram no chão em farrapos.

“Hah! Não tão assustador quanto...” ela começou a dizer, apenas para cair em um silêncio estupefato. Os fragmentos de seus membros anteriores formaram um monstro menor, e o monstro grotesco também esticou sua massa de ébano para frente, restaurando rapidamente o que havia sido perdido. Marguerite congelou por um momento, mas logo depois renovou seu aperto em sua lâmina, um sorriso feroz em seu rosto.

“Interessante... Vou continuar te matando até que morra de vez!”

O monstro maior levantou seu membro dianteiro para atacar, porém Marguerite o cortou no golpe de retorno, então fez picadinho dos pequenos que se aglomeravam ao seu redor.

Com um olhar de lado para ela, Belgrieve manteve-se na ponta dos pés, mas aproveitou o momento para inspecionar a criança. Ainda parecia estar com dor, no entanto talvez a abominação tivesse parado de sugar mana para lutar contra Marguerite, pois a expressão da criança parecia um pouco mais suave.

“Um demônio, hein?”

Estaria tudo bem que houvesse um demônio como este? Belgrieve tinha ouvido que eram formas de vida artificiais criadas pelo grande feiticeiro Salomão. Mas se os demônios eram assim, então para que exatamente Salomão os criou?

Era um mistério, porém de qualquer forma, precisava se concentrar no que estava diante de seus olhos.

Belgrieve escapou da cúpula, levando a criança em seus braços. Não tinha certeza se funcionaria, contudo o alimentou com uma pílula medicinal e o embrulhou em seu manto, colocando-o em algum lugar seguro. A criança abriu os olhos um pouco, e Belgrieve sentiu como se suas pupilas negras o tivessem absorvido.

“Não morra agora.” disse ele, em seguida, olhou de volta para a cúpula.

Marguerite voou com movimentos elegantes que pareciam como se estivesse livre da gravidade, chovendo golpe após golpe no monstro. No entanto, este se regenerou, não importa quantas vezes o cortasse, e ela não parecia estar fazendo nenhum progresso. O ar cheio de mana que permeia aquele espaço parecia estar dando força ao monstro.

Contudo, amálgamas desse tipo sempre tiveram um núcleo em algum lugar. Sem um único núcleo unificador, seria impossível que tantas criaturas fossem uma só. Com um último olhar para a criança, Belgrieve puxou sua espada e correu.

“Maggie! Não corte cegamente! Tente mirar em seu núcleo!”

“Um núcleo? O que quer dizer?”

“Não sei como é! Mas seu corpo deve ser construído em torno dele. Tente rastrear por onde ele se regenera!”

“Entendo...”

Marguerite deu um grande salto, despejando mana em sua lâmina para cortar sua cabeça. Todavia, mais substância negra se estendeu de seu torso, regenerando até isso. Parecia que o núcleo estava no peito.

Em termos de habilidade, Marguerite era claramente superior. Belgrieve se concentrou no suporte, derrotando os monstros que se separaram do grande.

Ao mesmo tempo, Marguerite continuou rasgando seu peito. Ela trabalhou nisso mais rápido do que poderia se reparar. O monstro gritou e se debateu, mas Marguerite permaneceu inabalável, rasgando a carne para encontrar o núcleo sem vacilar.

“É isto?”

Uma fatia revelou uma porção de cor diferente do resto. Sua carne escura rapidamente cresceu para cobri-lo. Marguerite enrolou seu corpo como uma mola e empurrou com sua espada, apunhalando com a ponta. A abominação deu um grito agudo.

“Ha, com isso—”

No momento em que Marguerite relaxou, o peito do mostro caiu de repente em pedaços, cada fragmento assumindo a forma de um monstro diferente e a cercando em um piscar de olhos.

Marguerite puxou sua espada, porém o núcleo que havia perfurado derreteu como alcatrão, grudando na lâmina e prendendo-a lá. Quando vacilou, as presas afiadas de um monstro se aproximaram.

“Maldição!”

Ela fechou os olhos por reflexo e sofreu o impacto. No entanto, a dor que estava esperando nunca veio. Ao invés, um golpe inesperado a derrubou no chão.

“Estúpida!” disse uma voz irritada. “Quem se encolhe no campo de batalha?”

Ela abriu os olhos bem a tempo de ver Belgrieve chutar o monstro cujas presas estavam presas com sua espada.

“B-Bell...”

“De pé! Ainda não acabou!”

Belgrieve puxou uma adaga do cinto e desferiu um arremesso forte. A ponta acertou um monstro que se aproximava de Marguerite por trás, que caiu gritando de costas.

Marguerite ficou parada ali por um momento, mordendo o lábio por sua própria inconstância. Então ela se enrolou e saltou para frente, agarrou o punho de sua arma e arrancou-a com força da gosma em ruínas que uma vez foi um núcleo.

“Filho de uma...”

Marguerite chutou do chão e imediatamente massacrou vários monstros de uma vez. Sua espada era feroz, embalada com sua raiva. Baixei a guarda de novo. Só estar me sacaneando!

Em pouco tempo, os monstros foram liquidados. Marguerite e Belgrieve pararam para respirar.

“Você está bem, Maggie?”

“Longe disso. Você me avisou, mas...”

“Agora já está ciente para a próxima vez. Fui eu quem disse que acabaria se destruísse o núcleo. Sinto muito.” disse Belgrieve enquanto se sentava. Ele tirou bandagens de sua bolsa.

Marguerite olhou-o, chocada, e só então notou o sangue escorrendo por seu braço esquerdo.

“Bell, você se machucou...?”

“Não é nada sério.” Belgrieve deu um sorriso irônico enquanto arregaçava a manga e passava pomada no ferimento no ombro. “Desculpe, poderia enrolar para mim?”

“Sim.”

Marguerite aproximou-se timidamente. Ela se agachou e pegou as bandagens antes de inspecionar o ferimento — parecia que um conjunto de presas o havia rasgado.

“Essa ferida foi de quando você me cobriu?” perguntou com uma carranca.

“Sério, não é nada.” disse Belgrieve uma vez mais. “Não se preocupe. É minha responsabilidade ter interpretado mal a situação.”

Errado. Sou a única que foi descuidada. Marguerite entrou em pânico, percebendo suas lágrimas estavam crescendo enquanto enrolava as bandagens ao redor de seu braço. Ela havia causado problemas de novo ao agir sem pensar. Foi tão idiota.

“Hey... O que devo fazer? O que posso fazer para me tornar como meu tio-avô e você?”

“Bem, vamos ver... Um aventureiro vive e morre por decisões em frações de segundo. Não pode tomar uma decisão racional com o sangue correndo para sua cabeça. Nunca perca a calma, mantenha sempre outro par de olhos atrás da cabeça... Não sei se sou um bom exemplo a seguir, porém é o que sempre tenho em mente.”

Pensando bem, lembro-me de ensiná-lo para Angeline uma vez, pensou Belgrieve.

Houve outro tremor de mana. Os dois ergueram os rostos para ver o monstro grotesco se formando mais uma vez no centro da cúpula. Seu núcleo derretido se remodelou, pedaços se contorcendo crescendo como mofo, assumindo os rostos de monstros que apareceriam e desapareceriam.

“H-Há ainda mais monstros no núcleo... Vou acabar com isso de uma vez por todas!” Marguerite estava com sua espada em punho, contudo Belgrieve a deteve.

“Não há fim para isso. Vamos nos retirar; Estou preocupado com essa criança.”

“M-Mas...”

O monstro formou seu corpo em um ritmo tremendo. Era duvidoso se eles iriam conseguir fugir ou não se corressem. Marguerite concentrou mais poder em seu braço segurando a espada, resolvendo-se a protegê-los por trás até que o fizessem.

No entanto, foi quando um manto cinza apareceu.

“T-Tio-avô...!”

“Você fez bem, Maggie. É a minha vez.” Graham deu um sorriso estranho antes de desviar os olhos para Belgrieve. “Desculpe, Bell. Causei-lhe mais problemas.”

Belgrieve sorriu alegremente de volta. “Há quanto tempo estamos fora?”

“Já é noite.”

“Como está se sentindo?”

“Poderia ser melhor.” Graham puxou sua espada de suas costas. A lâmina viva rosnou e brilhou. Sua mana subiu para níveis inimagináveis; com uma sinergia furiosa, ele ergueu a espada sobre a cabeça e desceu com um passo.

O instante seguinte foi envolto em uma onda de choque explosiva; o monstro abominável foi reduzido a nada. Todavia não havia sido tudo. A mana brilhante irradiando de sua lâmina limpou o miasma retorcido que enchia o ar. Logo em seguida ficou muito mais fácil respirar.

Sua espada era impressionante o suficiente para ser chamada de ‘lâmina sagrada’, e suas habilidades eram dignas do nome ‘Paladino’. Belgrieve ficou admirado com a esgrima desta lenda viva.

Respirando fundo, Graham guardou sua espada. Havia suor em sua testa — um balanço foi o suficiente para exauri-lo. Olhando para Belgrieve com um sorriso amargo. “Eu envelheci. Já estou sem fôlego.”

“Ha, porém isso foi extraordinário... Obrigado, Sir Graham. Você nos salvou.” Belgrieve deu-lhe um tapinha no ombro. “Agora, e a criança...?”

Ele correu até a criança, que ainda estava no mesmo lugar onde a havia deixado. Seus olhos estavam fechados enquanto estava lá em silêncio. Belgrieve prendeu a respiração enquanto verificava seu pulso.

“Apenas dormindo...”

Sua respiração estava calma. Belgrieve deu um tapinha no peito com alívio, depois pegou a criança. Resmungando em seu sono e enterrou sua cabeça em seu peito. As árvores farfalharam ruidosamente enquanto os galhos retorcidos voltavam aos poucos ao que eram antes. A escuridão desceu abruptamente quando a diferença de tempo desapareceu, e através dos galhos, Belgrieve podia ver um céu pontilhado de estrelas.



“Só posso adivinhar as especificidades, mas pelo que presumo, em vez de uma mudança gradual, foi o tipo de magia que trouxe uma transformação explosiva no momento em que alguém entrava em um determinado espaço. Caso contrário, não posso explicar como foi desfeito de forma tão rápida.”

“Entendo... E essa criança...?”

“Desde seus órgãos vitais até a composição de seu corpo, é impecavelmente humano. No entanto, a mana que reside dentro conta uma história diferente. É quase idêntico ao que os demônios possuem. Embora não tenha muito sobrando; talvez tenha usado sua mana para construir seu corpo. Não corre muito perigo.”

“Consegue dizer tanto? Eu não poderia deduzir nada disso...”

“Precisa estudar um pouco mais, Marguerite.”

“Urk... F-Farei o meu melhor.”

“A coisa aterrorizante é... Quão perto de um humano essa criança se tornou. Lutei com muitos deles na minha época, contudo isso é um mistério para mim.”

“Contudo o que era aquele monstro bizarro? Por que a criança estava prestes a morrer?”

“Esta é apenas a minha suposição, porém a mana de um demônio e um humano são completamente diferentes. Quando construiu um corpo humano, essa discrepância fez com que a maior parte da mana fosse ejetada. Sua influência fez com que os monstros atraídos por ela se fundissem e sugassem o pouco de mana que restava. Essa perda rápida fez com que seu corpo enfraquecesse. Talvez seja esse o motivo.”

“Hehe, ainda assim, aquela coisa assustadora não foi nada para você, tio-avô!”

“Grr, que inveja! Nunca vi um ataque sério de Sir Graham!”

“Haha, desculpe, Duncan. Estou feliz que a vila esteja segura... Ah, hey, isso não é comida!” Belgrieve rapidamente pegou a criança que estava roendo a lenha ao lado da lareira. Seus olhos negros olharam encararam-no.

Um dia de clima peculiar foi seguido por uma bela e fresca manhã. As ovelhas e cães que estiveram em tal tumulto se acalmaram e estavam nos campos como de costume. Monstros voltaram a ser escassos; a floresta estava de volta ao seu estado normal, e a vila estava de volta aos seus dias imutáveis.

A criança que Belgrieve trouxe de volta havia perdido toda a sua mana. Parecia não ter ideia de quem era, agarrando-se inocentemente a ele. Um ex-demônio não tinha um lar para onde voltar, então Belgrieve não viu escolha a não ser criá-lo.

Observando Belgrieve balançar a criança, Marguerite perguntou. “Então, o que vamos fazer com isso?”

“Bem... Não posso só jogá-lo fora depois de tudo. Vou tomar conta da criança.”

“Tomar conta... Estamos falando de um demônio. Tem certeza?”

“Ele perdeu a maior parte de sua mana, certo?”

“Bom, é verdade...”

A criança subiu pelas costas de Belgrieve, envolvendo os braços em volta do pescoço e agarrando a barba com curiosidade. Belgrieve deu-lhe um tapinha na cabeça, deixando-o fazer o que quisesse.

“Não acho que essa criança seja perigosa.”

Marguerite pensou por um momento. “Bem, esta é a sua casa.” ela deu de ombros. “É a sua decisão.”

Parecia que Duncan e Graham não tinham objeções desde o início. Parece que minha família cresceu, ele observou. No entanto isso não é tão ruim. Eu me pergunto como Ange vai reagir?

“Que será, será...” ele murmurou, baixinho demais para alcançar um único ouvido.

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