Capítulo 40: Eles acabaram descansando
Eles acabaram descansando e conversando até quase anoitecer e, quando saíram da loja, o horizonte ocidental estava tingido de um leve vermelho. O céu vermelho acima dava a impressão de que as nuvens haviam sido assadas em um forno, e as sombras lhes davam contornos bastante distintos. A noite gradualmente começou a aparecer no céu, com estrelas espreitando no zênite do crepúsculo.
Quando um vento frio da noite soprou sobre eles, Charlotte olhou para o céu e suspirou. Seu semblante parecia um pouco ansioso.
“O que há de errado?” Angeline perguntou, inclinando a cabeça.
Charlotte hesitou por um momento antes de responder. “Não sei se é certo me divertir tanto.”
Fechando os olhos por um momento; ela provavelmente estava pensando em uma memória ruim, pois seus olhos brilharam um pouco quando os abriu de novo. Era como os pratos de uma balança subindo e descendo, com sua felicidade de um lado e seus erros do outro.
Embora tivesse sido expulsa de forma injusta de sua terra natal, isso não era desculpa para as más ações que havia cometido contra estranhos não envolvidos. Tudo o que Charlotte não podia ver enquanto estava cega pela vingança agora estava voltando para pesar em seu coração, fazendo-a se perguntar se de fato tinha o direito de ser feliz.
Angeline deu um gentil tapinha na sua cabeça. “Não se preocupe com isso... Há muita diversão apenas por estar viva.”
“Obrigada, irmã.” Charlotte disse, pegando a mão de Angeline.
O grupo parou em um mercado de rua no caminho de volta. Carroças de todas as formas e tamanhos haviam colocado toldos ali e desempenhavam o papel de barracas de rua. Todos os tipos de ingredientes culinários coloriam as prateleiras sob seus beirais. O mercado estava fervilhando com compras populares da cidade para o jantar, enquanto artistas de rua faziam shows extravagantes e músicos errantes dedilhavam músicas à beira da estrada — era quase como se estivesse acontecendo um festival.
Havia até uma grande carroça com um refrigerador mágico vendendo peixe, com uma placa anunciando que a pesca vinha de Elvgren. Embora os peixes não tenham sido pescados nos últimos dias, o resfriamento os manteve brilhantes e bem apetitosos. No momento em que viu a placa, Charlotte puxou a mão de Angeline.
“Hey, irmã. Vamos comprar um pouco de peixe hoje!”
“Hmm... Não é uma má ideia...”
Eles haviam comido carne no almoço, então um jantar de frutos do mar não parecia tão ruim. Angeline começou a procurar um bom negócio quando ouviu um suspiro por trás. Ela se virou para ver vários homens olhando para Charlotte. Charlotte estava tremendo.
"Ei, o vigarista está de novo!"
“Acha que pode mostrar seu rosto pela cidade sem descaro algum, pirralha maldita?”
“Eek... S-Sinto muito!”
Ver Charlotte se encolher com tanto medo trouxe sorrisos sádicos em seus rostos.
“Você não é nada além de problemas, sabia disso? Quanto dano acha que fez para nós?”
“Para o inferno com Salomão. Tudo mentira! Como vai resolver o problema, hein?”
Quando Charlotte mordeu o lábio, Byaku saiu na frente, cansado. “Já devolvemos seu dinheiro. O que quer agora?"
“O que disse? Seu lixo insolente, é óbvio que não está arrependido!”
Um braço se estendeu para agarrar o colarinho de Byaku, apenas para Angeline agarrá-lo pelo pulso.
“Pare,” ela declarou com firmeza.
“Q-Qual é o seu problema... Não tem nada a ver com você!”
“Não vou dizer que essas crianças não fizeram nada de errado. Mas já devolveram seu dinheiro e pediram desculpas... Não é muito adulto da sua parte intimidá-los só porque pode.”
“Diga isso de novo, vadia! Não nos subestime!”
“O que vocês estão fazendo?” alguém exclamou com voz estrondosa — era a irmã Rosetta, com a cesta de compras na mão. Ela ficou lá com firmeza e olhou para os homens. “Adultos se juntando para acusar uma criança! Não sentem nenhuma vergonha? Vão fazer a Deusa chorar, agindo assim!”
“Grr, eles continuam vindo...”
“Hey, brigar com uma irmã de Viena não é uma boa ideia...”
Os homens, que abrigavam alguns sentimentos de culpa por terem se aliado por um momento a um culto herético, fugiram. Angeline deu um suspiro de alívio e acariciou Charlotte, que estava a agarrando.
“Obrigado, Sra. Rosetta.”
“Não se preocupe com isso. Eles fizeram alguma coisa com você? Essas crianças são...”
Rosetta olhou para Charlotte e Byaku. Charlotte se escondia atrás de Angeline com o cenho franzido, enquanto Byaku permanecia em silêncio.
“Esta é Charlotte, e aquele é Byaku. Os dois estão ficando há minhas custas por várias razões.”
“Hmm, entendi. É um prazer conhecer vocês dois. Meu nome é Rosetta; Sou uma irmã que trabalha em um orfanato próximo.” disse Rosetta com um sorriso alegre. No entanto, Charlotte permaneceu em silêncio, e Byaku apenas reconheceu a irmã com um leve aceno de cabeça.
Rosetta coçou a bochecha com uma risada um tanto perturbada. “Parece que os dois me odeiam...”
“Char... Não seja rude com ela.”
“Quero dizer...”
“Não significa não. A irmã te salvou, e a Sra. Rosetta é uma das minhas candidatas à mãe...”
“Ange, ainda está falando sobre esse absurdo?” Rosetta cutucou a testa de Angeline.
“Não é bobagem... Estou falando sério.” respondeu Angeline fazendo beicinho.
“Oh, vamos lá...” Rosetta suspirou.
“Uma irmã do culto de Viena não é digna de você, irmã...” a garota murmurou.
Os olhos de Rosetta se arregalaram um pouco quando olhou para Charlotte. “Parece que algo aconteceu... Se quiser, estou mais do que disposta a ouvir sua história.”
“Não tenho nada para te dizer...”
“Não seja assim. A luz da compaixão da Grande Deusa se estende a todos os cantos da terra. É nosso dever guiar seus cordeiros perdidos.”
“Que compaixão? É tudo uma fantasia!” Charlotte gritou, fazendo com que os transeuntes parassem e olhassem-na com desconfiança.
O peixeiro fez uma careta. “Hey, senhoritas.” disse ele. “Vocês estão meio que interferindo nos negócios. Poderiam levar essa conversa para outro lugar?”
Então os quatro foram para um canto da multidão animada. Com tantas pessoas indo e vindo, eram um obstáculo, não importava onde estivessem, então entraram em uma rua lateral para falar entre as sombras dos prédios.
Charlotte permaneceu desanimada, então Angeline explicou a essência de sua história em seu lugar: como Charlotte veio de Lucrecia como filha do cardeal e como perdeu os pais para conflitos políticos. Assim que a história terminou, a irmã Rosetta silenciosamente formou uma pequena crista no ar na frente de seu peito e fez uma oração.
“Você já passou por tanta coisa. Deve ter sido difícil.” ela disse com uma expressão gentil.
“Hmph, eu não preciso da sua simpatia. Não acredito em nada que sua igreja tem a dizer.”
Rosetta franziu a testa, um olhar perturbado em seu rosto. “Sim... Bem, quero dizer, crentes vêm em todos os tipos. Há pessoas que usariam sua posição e autoridade para fazer o mal. Contudo também há aqueles que fazem uma oração devota e vivem em paz. A Toda-Poderosa Viena nunca abandonará aqueles...”
“Isso é uma mentira!” Charlotte a interrompeu. Seu punho estava cerrado e havia lágrimas se formando nos cantos de seus olhos. “Eles eram piedosos! Ofereceram suas orações todas as manhãs e noites e agradeceram a Viena por sua felicidade! Nunca ficaram ressentidos, nunca agiram! Então, por que sua deusa não salvou a mãe e o pai? Por que... Por que?”
Dominada pela emoção, Charlotte atacou Rosetta com uma voz alta, agitando os punhos minúsculos enquanto as lágrimas escorriam por seu rosto. Embora ela soubesse que sua raiva não era razoável, não conseguia reprimir seus sentimentos crescentes — as lágrimas caíram incessantemente no momento em que os rostos de seus pais passaram por sua mente.
Rosetta fechou os olhos com tristeza e, com gentileza, colocou a mão sob a cabeça de Charlotte. “Eu sinto Muito. Não tenho uma resposta para você.”
“Eu sabia! Sabia que diria isso! Sua hipócrita!”
“Acalme-se, Char. Rosetta não fez nada de errado.”
No entanto Rosetta ergueu a mão antes que Ange pudesse dizer mais alguma coisa.
“Poderia se afastar um pouco, Ange?”
“Certo.”
Angeline recuou para vigiar a situação com Byaku. Rosetta se abaixou, colocando a mão no ombro de Charlotte. “Desculpe, fui irresponsável...”
“Hmph!” o nariz de Charlotte estava escorrendo agora. “Você nunca vai entender como me sinto!”
“Sim... Não vou. Não tenho certeza que nunca vou. Mesmo assim.” Rosetta acariciou suavemente a garota. “Quero que ore. Não pelo que aconteceu, mas para que seu futuro seja abençoado. Então poderá superar seu passado difícil.”
“Que idiota! Está apenas falando da boca para fora!”
“Não é isso. Quero dizer, você está com Ange agora, não está? Ainda tem um futuro inteiro pela frente. Conseguiu retornar a um mundo caloroso do seu caminho de vingança. Não deve rejeitá-lo!”
“Ugh... Cala a boca! Cala a boca! Cala a boca!” Charlotte com raiva empurrou Rosetta para longe. Desamparo, raiva e tristeza — várias emoções se agitavam em seu coração, e ela saiu do beco uma vez que eram demais para suportar. Charlotte sabia que correr não a levaria a lugar nenhum, mas não podia suportar a ideia de ficar nem mais um segundo.
No entanto, logo depois colidiu com algo. Charlotte ergueu o rosto, seus olhos encontrando o olhar duvidoso de um soldado em patrulha.
“O que está fazendo aqui?” perguntou o soldado.
Rosetta correu e sorriu. “Boa noite, soldado. Agradecemos o trabalho que faz por aqui. Hmm, não é nada demais. Estávamos apenas conversando.”
“Conversando lá atrás? A esta hora do dia? Isso é perigoso. Pode se deparar com um vagabundo mau. U-U-Um vagabundo, mau... Q-Que mau... C-Criança você é...” os olhos do soldado ficaram desfocados, suas pupilas perdendo a luz. De repente, ele puxou a espada da cintura.
“A-A-As crianças más devem... Devem ser mortas, certo?”
“Eek!”
Charlotte se encolheu quando a espada desceu em sua direção e fechando os olhos com força. Contudo, se viu envolvida em um calor suave antes de bater no chão.
Angeline gritou por trás, “Rosetta! Char!”
Os olhos de Charlotte se abriram. Ela não sentiu nenhuma dor que estava esperando. “Hã? Por que...”
Rosetta a estava abraçando, um sorriso débil no rosto. “Ai, ai... Você está bem?"
“Não, não!”
Charlotte se agarrou em desespero à mulher que tinha sido sua odiada inimiga apenas um momento atrás. Sentindo algo pegajoso, teve um vislumbre de vermelho em suas mãos. As vestes verde-esmeralda de Rosetta estavam ficando de um preto doentio enquanto o fluido se espalhava de suas costas. Os itens de sua cesta de compras se espalharam pelo chão.
Charlotte caiu em transe, seu rosto uma imagem de desespero.
Mesmo agora, o soldado continuou balançando sua espada, apenas para ser derrubado por um chute voador de Ange. O soldado caiu, apenas para se levantar como uma marionete.
Estalando a língua, Angeline o chutou de novo. “Não senti nada até o último segundo... Sou tão estúpida!”
Angeline tomou tanto cuidado para se manter atenta, porém esse foi o resultado. Ela desprezou seu próprio fracasso vergonhoso. Certamente seu pai nunca cometeria tal erro.
De repente, a área se encheu de presenças assassinas, e facas vieram voando de todas as direções. Angeline brandiu sua espada para proteger Charlotte e Rosetta, contudo as facas caíram antes de chegarem perto.
“Não se afastem.” disse Byaku, que se levantou para protegê-la. Seus círculos devem ter voado sem ser visto.
Colocando Rosetta de costas, Angeline agarrou Charlotte pela mão e a colocou de pé.
“É minha... É tudo minha...”
“Char! Recomponha-se!”
O ar se encheu com o som de passos enquanto as presenças se aproximavam. Eles eram soldados da capital e, embora seus olhos também estivessem vazios e parecidos com bonecas, se moviam com extrema ferocidade, correndo ao longo das paredes assim como os assaltantes mascarados haviam feito antes.
Angeline embainhou sua espada e segurou Charlotte perto.
“Byaku, eles estão sendo controlados! Não os mate!”
“Tsk...” Byaku balançou o braço. Seus círculos invisíveis explodiram um grupo de soldados. “Sem enrolação! Saiam do beco!” gritou.
“Você vem com a gente! Eu vou te proteger, não tem que lutar!”
Caso contrário, ele nunca abrirá seu coração, pensou Angeline enquanto esmagava o punho de sua espada no plexo solar de um soldado bloqueando seu caminho. Ela usou a mão livre para arrastar o braço de Byaku.
O grupo correu para a rua principal. Estava escuro; o sol estava quase se pondo. Ainda havia luz das barracas e das lanternas penduradas nos beirais; as sombras dos compradores mudaram como um ser vivo.
Rosetta mantinha uma fraca respiração nas costas de Angeline. Ainda não estava morta. No entanto ela sofreu o impacto de um golpe protegendo Charlotte, e estava sangrando bastante. Sem dúvida acabaria morrendo se nada fosse feito.
Ela deixou Charlotte — que ainda não estava lá — para Byaku, e deixou sua mente pensar.
“O orfanato... É proibido... Então, a guilda!”
O orfanato ficava perto, porém não podiam arrastar as irmãs e as crianças para lá. Seria impossível proteger mais pessoas sozinha.
Angeline abriu caminho pela multidão e Byaku seguiu atrás, sentido os soldados controlados os seguindo. Às vezes, esses bonecos recebiam olhares odiosos das pessoas em quem esbarravam com os cotovelos e ombros.
Angeline ficou intrigada com eles enquanto corria. Alguém tinha que controlá-los; até que essa pessoa fosse derrotada, os soldados os perseguiriam até seus últimos suspiros. Este praticante tinha que estar observando-os de algum lugar, seja por magia ou de um bom esconderijo. Não podiam estar longe, visto que o feitiço tinha um controle tão excelente.
Todavia, o tratamento de Rosetta teve prioridade. A guilda tinha um estoque de elixires, e ela rezou para que o coração da irmã não parasse de bater antes que chegassem.
Angeline sentiu as pessoas correndo paralelas a ela no topo dos prédios de ambos os lados. O agressor devia estar observando de cima. Eu poderia cuidar deles se minhas mãos estivessem livres, pensou Angeline, cerrando os dentes.
A multidão trabalhou a seu favor, e Angeline conseguiu chegar ao prédio da guilda. Irrompendo para dentro, enviando ondas para os aventureiros que vagavam pelo saguão. Não prestando atenção nestes, Angeline pulou no balcão.
“Um elixir! Traga-me um elixir!”
A recepcionista pulou e gritou. “Ahhh, Angeline? A-Aconteceu alguma coisa?”
“Não há tempo para explicar... Ela vai morrer se você não se apressar!”
A expressão da recepcionista se apertou ao ver Rosetta.
“Entendido! Vou levá-la para a enfermaria!”
“Entendido... O mestre da guilda está? Ou Prateado, ou General, não importa quem...”
“Houve uma chamada de um dos nobres investidores, então todos saíram...”
“Argh! Justo quando eu precisava...”
Angeline confiou Rosetta aos seus cuidados, então se voltou para Byaku. Byaku estava franzindo a testa, enquanto Charlotte ainda estava atordoada.
“Byaku, deixe-me vê-la...”
O momento em que Angeline estendeu a mão foi o mesmo momento em que os soldados manipulados invadiram o prédio. Havia ainda mais do que quando começaram a perseguição. Alguns estavam sangrando, outros com os braços e pernas claramente quebrados, mas ainda assim, seguravam armas e avançavam com os olhos vazios.
Os aventureiros da guilda se levantaram abruptamente, preparando suas próprias armas. Eles levantaram gritos ásperos e intimidadores, prontos para afastar esses intrusos a qualquer momento. Angeline rapidamente os refreou.
“Esperem! Essas pessoas estão sendo controladas! Não os mate!” ela disse enquanto puxava sua espada embainhada de sua cintura. “Nós ficaremos bem assim que eu cuidar do praticante. Segure-os até lá!”
“Isso é uma tarefa difícil.” um dos aventureiros reclamou enquanto recuavam. Os soldados ergueram as armas e avançaram.
E então, houve um grande estrondo e um flash, e muitos soldados na parte de trás foram lançados no ar. Angeline e os outros aventureiros abriram a boca sem entender. Alguém voou sobre as fileiras de soldados caídos, seus cabelos azul-marinho arrastando atrás.
“Ah! Yuri!”
“Nossa, o que está acontecendo aqui?” Yuri afastou o cabelo, franzindo a testa enquanto observava os soldados se levantando ao seu redor.
“São soldados... Você fez algo ruim, Ange?”
“Errado. Alguém os está controlando... Vou lidar com o responsável. Não os mate!”
Um dos soldados se levantou e atacou Yuri. Com apenas um pequeno balanço para o lado, ela se esquivou e golpeou sua mandíbula com o punho. Um flash branco explodiu com o impacto e, depois de convulsionar, o homem caiu no chão.
“Não estou certa se entendi, mas, por enquanto, temos que incapacitá-los. Certo?” perguntou Yuri, rapidamente amarrando o cabelo para trás. Quando cerrou os punhos, o movimento foi acompanhado de estalos e faíscas, como se suas mãos estivessem eletricamente carregadas.
Angeline sorriu. “Você entendeu!” gritou enquanto derrubava um soldado próximo com sua espada. Os outros aventureiros, relutantes, envolveram suas armas em panos ou as embainharam, tentando ao máximo não matar os inimigos que interceptaram.
No entanto, mesmo que se abstivessem de ataques letais, seus inimigos sem dúvida os atacaram com intenção de matar. Além do mais, se levantaram, não importa quantas vezes fossem derrubados. Era como se estivessem lidando com os mortos-vivos, e os aventureiros estivessem aos poucos perdendo a vontade de lutar. Não era como se tivessem alguma obrigação de ajudar Angeline.
Em meio a tudo isso, Yuri saltou agilmente pelo campo de batalha, seus punhos carregados ensinando aos soldados o gosto da dor um após o outro. Como esperado de um ex-aventureira de Rank AAA, não havia um aliado mais confiável. Com suas habilidades, parecia que poderia retornar às linhas de frente sempre que quisesse.
A área estava coberta por um brilho fraco. Massas cor de areia de símbolos geométricos voavam. Byaku havia revelado seus círculos, martelando-os em qualquer inimigo ao seu alcance. Ele os pressionava nas costas e nos braços desses atacantes, aumentando o peso até que não pudessem mais se mover.
Muitos aventureiros gritaram de espanto.
Angeline olhou-o, com descontentação nítida. “Eu disse que você não precisava.”
“Hmph... Por que tenho que ser protegido por você? A culpa é sua por ser tão lenta.” Byaku dirigiu seus círculos com um aceno de suas mãos, contendo soldado após soldado.
Angeline mordeu o lábio. Apesar de tudo o que havia dito, acabou sendo incapaz de realizar qualquer coisa por conta própria. Como estava agora, era como se estivesse só tentando imitar Belgrieve, e ela tinha se superado por causa disso.
“Droga...”
Preciso encontrar o praticante, pensou Angeline enquanto avançava. Ela deslizou sem problemas por entre as fileiras de soldados, agora que seus movimentos estavam entorpecidos, e escapou do prédio. O sol já havia se posto e, sob o brilho das lâmpadas da rua, era difícil distinguir a expressão de todos que passavam.
Onde está? Angeline olhou ao redor, estendendo seus sentidos ao limite.
Se seu inimigo estava usando magia de manipulação de marionetes, com certeza haveria fios de mana que pudesse seguir. A mistura caótica de magias de todos os magos da guilda dificultava a identificação, porém mesmo assim, conseguiu detectar uma dica fraca.
“Bem ali...”
Ela se lançou do chão, agarrando-se a um pilar e subindo até o topo de um toldo, correndo todo o caminho até o telhado em uma explosão.
“Te achei.”
Um grupo de várias figuras mascaradas encarou-a. Aquele que lançou o feitiço tinha um símbolo ligeiramente diferente em sua máscara. Seus companheiros atacaram Angeline com suas espadas.
“Você não tem misericórdia!”
Sacando sua espada, Angeline cortou cada um assim que entraram em seu alcance, nunca perdendo velocidade. Quando apontou sua espada para o lançador de feitiços, um dos homens mascarados usou seu próprio corpo para bloqueá-lo. A lâmina estava presa com força entre carne e ossos. Não iria ceder.
Enquanto fazia uma careta, as espadas dos outros vieram em sua direção. No entanto, Angeline soltou sua espada e rapidamente se abaixou para evitar os ataques. Puxando uma faca do cinto, enfiando-a na garganta de um enquanto varria a perna de outro, fazendo-o cair do prédio e causando uma comoção nas ruas abaixo.
“Vamos torcer para que ele não aterrisse em ninguém...” ela murmurou enquanto chutava um atacante mascarado enquanto puxava uma espada das mãos da figura. Mantendo esse ímpeto, usou aquela lâmina para mais uma vez limpar tudo ao seu redor no espaço de uma respiração.
Angeline ergueu o rosto para encarar o praticante. Era difícil dizer a expressão deles enquanto usavam uma máscara, mas continuaram murmurando algo baixinho.
“Grande... Todo-Poderoso... Proteja-nos dos ímpios...”
“É isso que faz com as pessoas, Lucrecia?” Angeline gritou enquanto balançava sua espada. A cabeça do lançador de feitiços voou no ar enquanto os fios de mana que se estendiam do cadáver esvaiam-se.
Angeline limpou o sangue de sua espada antes de embainhá-la. Ela se sentiu exausta.
Mancando até a borda do prédio, olhou para a rua abaixo. De lá, podia ouvir os soldados gemendo por suas feridas, tendo voltado a seus sentidos. Embora tivessem sobrevivido, foram completamente espancados.
“Não me sai nada bem.”
Um clima sombrio tomou conta de seu corpo, mas ao se lembrar de Rosetta e Charlotte, percebeu que não tinha tempo para perder.
○
Um homem de túnica branca estava com os braços cruzados. Seu capuz foi puxado sobre os olhos. Ele estava um pouco distante de onde Angeline lutou, porém observou bem.
“Hmm...” o homem colocou a mão no queixo. “Ela é forte com certeza... Mas não pode ser isso.”
O homem voou pelo ar para onde a batalha havia ocorrido, onde os corpos ainda estavam espalhados e o cheiro de morte aumentava com o calor do verão. Caminhando pelos cadáveres, verificou-os um por um.
“Achei que seria um bom teste, porém eram fracos demais para medir a sua força... Acho que só mostra que a Inquisição não sabe como lidar com aventureiros.” ele olhou para a guilda. “Que tal outro então?”
O homem tirou uma pedra preciosa escura do bolso do peito. Depois de cantar uma espécie de feitiço, canalizou sua força em sua mão. Uma luz pálida vazou de sua palma, suas mangas agitando descontroladamente apesar da falta de vento.
“Vá em frente.” O homem jogou a pedra na direção da guilda.
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