domingo, 19 de março de 2023

Boukensha ni Naritai to Miyako ni Deteitta Musume ga S Rank ni Natteta — Volume 05 — Capítulo 60

Capítulo 60: O vento seco e frio trazia uma escassa pitada de flocos de neve

O vento seco e frio trazia uma escassa pitada de flocos de neve, acariciando os passageiros do vagão. Não importa quantas camadas usassem, o frio rastejava através das camadas e esfriava sua carne. Mexendo e se contorcendo em seus assentos, e aqueles que viajavam com companheiros se aninharam neles.

Era um dia claro de inverno, o que era raro encontrar no norte. Em vez disso, os ventos estavam mais secos e gelados para compensar. O dossel de tecido pendendo frouxamente acima pouco fazia para bloquear o vento; na verdade, apenas cortou a luz e tornou a jornada ainda mais triste. A carroça balançava com o barulho das rodas sempre que passava por cima de uma rocha enterrada sob a neve. A luz do sol tornava as paisagens nevadas ofuscantes de se olhar.

Uma mulher de vinte e poucos anos se levantou de seu assento apenas para se agachar mais uma vez. Ela fez uma careta enquanto esfregava as costas e o traseiro. Por suas feições plácidas e suas roupas exóticas que se sobrepunham na frente, podia-se supor que viesse do leste. A mulher não estava usando uma túnica ritual, então é provável que não fosse de Tyldes — Keatai ou Buryou eram mais prováveis. Seu cabelo preto na altura dos ombros estava amarrado para trás, e carregava um longo item embrulhado em um pano — uma lança, talvez.

Com um forte sotaque, a mulher murmurou.

“Já chegamos? Minha bunda dói, estou com frio... Que incômodo isso tudo.”

“Em breve.” disse a jovem sentada ao seu lado. A garota era baixa e estava no meio de sua adolescência. Seu casaco comprido era de um marrom avermelhado profundo, sobre o qual usava um cachecol e um gorro de pele fofo com abas penduradas para cobrir as orelhas. O cabelo saindo de baixo era da cor de ocre amarelo. Ao seu lado estava o tipo de estojo que poderia abrigar um instrumento.

A mulher voltou a se sentar e suspirou, claramente descontente. Então, tirou um cachimbo de sua algibeira e o encheu com tabaco seco. Uma vez que ela estava com a ponta pendurada na boca, acendeu e tragou uma baforada de fumaça. Exalava um aroma levemente mentolado.


“Pode ser trabalho, mas por que tenho que lidar com isso...? Por que motivo triste tenho que ir para o norte no inverno?”

“Se estiver frio, bom, remexa-se, amor¹. É o que eles dizem.” disse a garota e balançou o corpo.

Sua atitude levou a mulher a balançar a cabeça.

“Certo, porém o que significa?”

“As pessoas do passado diziam isso. Quando ficar difícil, apenas dance, remexa-se e grite.”

A garota murmurou cada sílaba ritmicamente como se estivesse tentando cantar. No entanto, sua companheira só deu uma bufada resignada de seu cachimbo. A mulher bateu com o cachimbo na grade do vagão para desfazer-se das cinzas.

“Fale em sulista o quanto quiser. Não entendo uma palavra do que está dizendo.”

“Você apenas não tem rock suficiente em sua alma.” a garota zombou. Ela tomou um gole do frasco em suas mãos, o que fez com que suas bochechas ficassem ligeiramente vermelhas.

A mulher arregalou os olhos.

“Hey, esse é o meu vinho!”

“É como as pessoas do passado diziam. O que é seu é meu. O que é meu é meu.”

“Já chega! Sua... Vira-lata estúpida! Que tal eu torcer e gritar sozinha, hein?”

A mulher beliscou as ‘orelhas de abano’ do chapéu da menina, fazendo-a gritar. Ao que parecias, as duas não faziam parte do chapéu, porém vieram de sua própria cabeça — ela era uma mulher besta.

“Ow, ow, ow.”

“Então é esse o motivo pelo qual não se incomoda com o frio! Deixe-me ter um pouco também!”

“Que cruel...”

A mulher pegou o frasco e o inclinou para trás. Então franziu a testa.

“Você bebeu até a última gota! Sua imbecil!”

“Eep. Me perdoe. Ah, hey, olha, já pode ver. Estamos lá, estamos lá.”

“Quieta! Não vai me passar pra trás outra vez!”

“Sim.”

A mulher agarrou a cabeça da garota e esfregou seu couro cabeludo, enquanto a garota soltava gritos silenciosos e sem emoção. Os outros passageiros afastaram-se com cuidado da dupla.

Orphen estava à vista, brilhando no final da estrada. No entanto, uma espessa camada de nuvens apareceu logo além.


A nova casa era mais espaçosa, porém administrável. Não era tão grande que a limpeza fosse um problema, contudo era grande o suficiente para que as cinco pessoas que moravam lá não se sentissem apertadas. A casa foi feita por imigrantes Tyldesianos com paredes de pedra e piso de madeira. Toda a estrutura consistia em um único quarto, lembrando Belgrieve de sua cabana em Turnera.

Uma diferença era que, em vez de uma lareira, havia uma fogueira no centro, com um tapete colocado sobre a terra nua ao redor para eles se sentarem. Além do mais, o teto era uma cúpula com seu ponto mais alto logo acima do poço.

O grupo buscou por mais alguns dias e por fim encontraram um bom local. Era uma propriedade pequena e isolada nos fundos do bairro residencial. Esta era uma área onde os imigrantes do leste se reuniam e eram cercados por casas de construção semelhante.

Achei que não conseguiríamos uma casa, pensou Belgrieve com um meio sorriso.

Eles conseguiram alugá-la sem problemas, embora o contrato durasse apenas dois meses. Angeline não tinha muitas posses para começar, e Belgrieve nunca pretendeu ficar muito tempo, então também não trouxe muito com ele. Ambos estavam acostumados a viajar com pouco peso, então a mudança para a nova residência quase não demorou.

O paradeiro dos antigos membros do grupo de Belgrieve ainda era um mistério. Todos os dias, Belgrieve se engajava em um concurso de olhares unilaterais com as letras pequenas de vários documentos, então estava com vontade de descansar um pouco os olhos. Passar dia após dia sem resultados apreciáveis estava apenas promovendo uma sensação de futilidade em suas ações.

Embora a neve caísse desde o início da manhã, a temperatura transformou-a em granizo ao meio-dia, dificultando a saída. Belgrieve começou a fiar a lã que trouxera de Turnera. Desde que chegou a Orphen, começava a trabalhar sempre que estava entediado. Ele girou o fuso várias vezes, torcendo os tufos fofos em fios de lã. Fiar fios ajudava a acalmar seu coração; o trabalho ajudou a evitar que sua mente divagasse.

Por um tempo, Angeline ajudou, contudo estava tão relaxada que aos poucos foi ficando sonolenta. Ela agora estava encolhida na almofada com os braços em volta dos joelhos, em um sono profundo.

Belgrieve enrolou o fio em uma bola e suspirou, sua respiração pairando como vapor no ar. Embora o tempo estivesse um pouco mais quente do que o normal, ainda estava muito mais frio do que gostaria de suportar, e não sentiu vontade de deixar a fogueira.

Angeline se contorceu e murmurou algo em seu sono. Belgrieve colocou um cobertor sobre os ombros antes de retomar seu olhar ocioso para a fogueira. No entanto, de repente se lembrou de algo e acordou Angeline.

“Ange. Acorde, Ange.”

Angeline murmurou incompreensivelmente antes de abrir os olhos.

“Hmm... Bom dia, pai.”

“Não é mais manhã. Você não disse que tinha que se preparar para uma festa na casa de Anne e Merry?”

Angeline esfregou os olhos.

“É verdade... Eu peguei no sono...”

“Você parecia tão confortável que não queria acordá-la, mas seria melhor ir logo.”

“Sim... Estou indo...”

Angeline se levantou e se espreguiçou. Levantou o cabelo trançado, franzindo a testa.

“Está tudo bagunçado. Faça uma trança para mim, pai.”

“Claro. Sente-se...”

“Sim!”

Angeline sentou-se alegremente de costas para Belgrieve. Depois de desembaraçar o cabelo emaranhado, Belgrieve escovou-o e trançou-o. Desde que tentou trançar o cabelo de Charlotte, Angeline gostou bastante do estilo e começou a trançar o próprio cabelo todos os dias até que Belgrieve veio e assumiu a tarefa de fazer isso para ela todas as manhãs.

Era bastante peculiar para Belgrieve ver suas próprias mãos grandes e ásperas cercando seus cachos sedosos. Porém, quando criança, Angeline sempre o mantinha curto, e vê-lo longo o suficiente para estilizá-lo o enchia de uma emoção que não conseguia colocar em palavras.

“Tudo bem. Feito.”

“Obrigado!”

Ela passou a mão pela trança com um sorriso satisfeito. Então, assim, encostou as costas nele.

“Quem vem hoje...?”

“Hmm, Sr. Ed, Sr. Leo... Depois eu, Kasim e Byaku.”

“Senhor Leo... Ah, quer dizer o mestre da guilda. Noite dos garotos... Soa divertido.”

“Todo mundo, exceto Byaku, é um homem velho.” brincou Belgrieve. “Mas tem certeza que não quer vir?”

“Vai se sentir sozinho sem mim?” Angeline brincou, avaliando sua reação.

Belgrieve coçou a cabeça.

“Pode acontecer. É raro você recusar uma oferta como essa.”

“Hehe... Está tudo bem. Você precisa abrir suas asas às vezes, pai...”

“É verdade.”

Belgrieve coçou a barba. Era sua intenção aceitar o convite de Edgar para ir beber juntos. Todos estavam tão ocupados que já havia passado algum tempo desde que ele propôs a ideia pela primeira vez, porém as coisas finalmente estavam se encaixando para o encontro naquele restaurante de comida oriental. Eles planejaram se encontrar lá após o pôr do sol.

Belgrieve convidou Angeline, contudo para sua surpresa ela acabou recusando. Ao que parecia Angeline estava sendo diplomática, insistindo que Belgrieve ficaria mais relaxado se fossem apenas homens.

Ele não sabia se ficava triste ou feliz com esse sinal de maturidade da filha, contudo aceitou o gesto de boa vontade de qualquer maneira. Embora não fosse exatamente um substituto, as meninas planejavam se reunir na casa de Anessa e Miriam. Elas compraram comida e vinho e planejavam ficar bêbadas e dormir no local.

Como é bom ser jovem, pensou Belgrieve com um sorriso.

Depois de pular, Angeline vestiu o casaco e enrolou um lenço no pescoço, e logo se preparou para sair.

“Não beba muito, pai...”

“Vou ter cuidado. Não exagere também.”

“Eu sei.” Angeline sorriu e saiu com passos saltitantes.

Belgrieve olhou pela janela. Talvez a temperatura estivesse caindo de novo; o granizo estava voltando a ser neve.

Embora o céu estivesse nublado, a luz fraca lhe disse que o sol estava se pondo. No entanto ainda estava claro o suficiente para dizer que o pôr do sol ainda estava longe.

Pegando outra vez seu fuso, juntou os tufos e começou a fiar de novo. O fuso emitia um som fraco ao girar e, às vezes, o centro tocava o chão e fazia um barulho mais alto.


A sala de treinamento era mais do que um grande espaço aberto usado para treino; também consistia em várias salas menores. Às vezes, elas eram usadas para instrução e, em algumas ocasiões, os magos os usavam para meditar ou construir seus círculos mágicos.

De fato, havia uma reunião de magos em uma dessas salas — Kasim, Miriam, Byaku e Charlotte. Byaku e Charlotte estavam lado a lado enquanto Kasim estava diante deles com os braços cruzados. Miriam estava apoiada em seu cajado na parede.

“São seus próprios pés, certo? Você precisa estar ciente de sua forma o tempo todo.” disse Kasim.

Carrancudo, Byaku fechou os olhos. Estava descalço e podia sentir o frio do piso de madeira abaixo. É fato que podia sentir essa sensação, e ainda assim, entre os dedos dos pés e os calcanhares, era estranhamente incerto quais partes estavam tocando o chão e como sustentavam seu corpo.

O silêncio durou um pouco mais até que Charlotte soltou um profundo suspiro. Ela também estava descalça.

“Sigh... Estou apenas parada aqui, mas é cansativo.”

Kasim riu.

“Bem, não precisa se apressar. Está melhorando aos poucos. É tudo sobre continuar tentando.”

“Nunca vi esse tipo de treinamento antes. É bem interessante.” comentou Miriam.

“Não é? A magia é uma técnica para usar sua mana para interferir no mundo exterior. Esses encantamentos e círculos, eles estão lá apenas para simplificar e sistematizar o processo. O que estamos fazendo agora são os fundamentos básicos. Primeiro, precisa estar ciente de sua própria forma. Tenha uma boa ideia disso e poderá mover melhor a mana pelo corpo. Simples, certo? Encantamentos e sequências podem vir depois.”

“Então está tentando torná-lo instintivo. Essa bruxa em roupas de menina começa com você memorizando todas as palavras e símbolos, e então colocando em prática. Eu só meditei um pouco de tempo em tempo.”

“Essa não é uma maneira ruim de fazê-lo. Porém para esses dois, nosso objetivo é deixá-los lidar melhor com sua mana. A teoria não é tão importante.”

“Entendo. Então é por esse motivo que a bruxa está sempre intimidando o garoto Bucky em combate, em vez de ensiná-lo.”

“Com certeza. É uma maneira brutal de fazer, contudo está pessoalmente martelando todos os maus hábitos dele.” e com isso, Kasim deu um tapinha na cabeça de Byaku, fazendo o garoto fazer uma careta. “Lutar com a vovó Cinzenta para pegar o sentimento não é uma má ideia, no entanto também é importante se confrontar às vezes. Especialmente quando tem um demônio morando aí. Depois de entender sua própria forma, será mais difícil para o disforme te influenciar.”

“Oh, entendo. Vou tentar também!” Miriam tirou os sapatos em seguida e ficou com os pés juntos. “Wah, agora está frio. Quer que eu compreenda a forma da sola dos meus pés, certo?”

“Exato. Você tem uma boa ideia de como é?”

“Hmm...” Miriam fechou os olhos e ficou parada por um tempo. “É mais difícil do que parece. Os contornos são muito mais vagos do que pensei.”

“Certo? Você já é uma maga habilidosa, Merry. Tente se concentrar. Trace esses contornos com mana. Deve ser capaz de fazê-lo, sem dificuldades.”

Conforme instruído, Miriam se concentrou em direcionar a mana que circulava por todo o corpo, enviando o fluxo para apenas roçar as solas dos pés. Então, as reentrâncias e saliências que não estavam claras um momento antes de repente se definiram, e pôde dizer com exatidão onde estava tocando.

“Ooh.” ela se viu impressionada.

“Parece que conseguiu. No momento em que puder fazê-lo sem sequer pensar, será a mestra em mover mana.”

“É por essa razão que está sempre descalço, tio Kasim?” Charlotte perguntou, seus olhos brilhando. Mesmo com esse frio, Kasim usava suas habituais sandálias abertas. Ela nunca o tinha visto usar sapatos ou meias adequados.

Kasim desajeitadamente coçou a cabeça.

“Não... Só não me incomodo em usar sapatos. Cubro meu corpo com mana, então nem sinto o calor ou o frio.”

“É incrível poder fazer isso...” Miriam murmurou, parecendo bastante impressionada.

Ao treinar para obter uma compreensão precisa de sua própria figura, Kasim aprendeu a aplicar uma camada fina e constante de mana sobre seu corpo. Este intrincado grau de controle de fato seria impossível sem uma compreensão completa do alvo. Miriam ficou atordoada com a habilidade do arquimago na sua frente.

Charlotte deu um tapa nas próprias bochechas e começou a se preparar psicologicamente.

“Farei o meu melhor e farei com que o pai me elogie!”

“Soa como um objetivo. Talvez eu consiga alcançar o próximo nível.”

Então Charlotte e Miriam fecharam os olhos, lado a lado.

Kasim riu baixinho, então olhou para Byaku, que estava parado em silêncio o tempo todo. O garoto estava imóvel, sua respiração calma e ritmada. Kasim coçou a barba, impressionado. Seus olhos podiam perceber a mana fluindo ao redor do garoto.

A sobrancelha de Byaku se contraiu. O fluxo mudou e as pontas de seu cabelo começaram a ser salpicadas de preto.

Kasim estendeu a mão e colocou a mão em seu ombro.

“Acorde.”

Uma pequena onda de choque emanou da mão de Kasim. Os olhos de Byaku se abriram com um sobressalto e seu cabelo voltou ao branco.

Byaku voltou um olhar duvidoso para a palma da mão, abrindo e fechando.

“Eu...”

“Te arrastou, não é? Precisa se concentrar em sua própria forma. Deixe o demônio fora disso.”

“Droga...” Byaku balançou a cabeça e olhou para Kasim. “Será que eu existo?”

“Claro que sim, bem por aí.” Kasim gesticulou para ele.

“Poupe-me das piadas. Sei que entendeu... Você já andou com pessoas semelhantes a eles antes.”

“Podemos falar sobre isso outra hora.” disse Kasim com um encolher de ombros. “Este não é o lugar certo para essa conversa.”

“Tudo bem...” Byaku franziu a testa. Ele respirou fundo e voltou a respirar metodicamente.

Kasim bocejou enquanto mantinha sua vigília sobre o trio meditando. Ele perdeu a noção de quanto tempo se passou antes que a porta do quarto por fim fosse aberta e pudesse ouvir batidas contra o chão de madeira.

Charlotte foi a primeira a abrir os olhos. Disparando em direção ao som, pulou no homem que havia entrado.

“Pai!”

“Whoa, aí.” Belgrieve disse quando a pegou. “Estou atrapalhando?”

“Não. Se está aqui, já deve ser noite.”

“Sim.” Belgrieve assentiu.

Kasim colocou o chapéu e se espreguiçou.

“Então, como foi? Descansou um pouco?”

“Sim, graças a sua ajuda.”

“Tudo bem, vamos encerrar por hoje.”

Os céus já começavam a escurecer. Gotas de água tremiam nas pontas dos pingentes de gelo pendurados nos beirais. Assim, eles aos poucos cresceriam mais. A neve que caía das nuvens espessas se desfazia em pequenas partículas geladas ao vento que batia em seus rostos, forçando-os a semicerrar os olhos enquanto caminhavam.

Com Charlotte agarrada a seu braço, Belgrieve moveu sua capa para protegê-la e puxou conversa com Miriam.

“Então você veio aqui hoje, Merry?”

“Sim, estava curiosa sobre o treinamento do Sr. Kasim, então deixei as coisas para Anne e saí."

“Ange pode já estar lá. Ela saiu no início desta tarde.”

“Hmm, não sei. Provavelmente está lá — oh, mas ela saiu para fazer compras com Anne, então elas podem não ter voltado ainda.”

“Entendo.”

Enquanto Miriam parecia ter vindo ao salão de treinamento por curiosidade pelos ensinamentos de Kasim, Angeline e Anessa estavam andando pelos bares e mercados se preparando para sua noite de folia. Desde então, o granizo do dia voltou a ser neve e a temperatura estava caindo. Belgrieve temia que Angeline pudesse pegar um resfriado se não tomasse cuidado. Esperava que a garota já tivesse voltado para casa e começado a cozinhar.

“É bom conhecer seus iguais de vez em quando.” Miriam riu. “Não há algumas coisas sobre as quais não gostaria de falar com Ange por perto, Sr. Bell?”

“Hmm, não sei... Não é como se tivesse algo a esconder...”

Belgrieve sorriu sem jeito. Ele não estava exatamente escondendo, porém não sabia como explicar a identidade de Mit. Havia contado a Angeline sobre seu irmão mais novo que havia encontrado na floresta, e Angeline se alegrou, agora tendo mais um motivo para voltar para Turnera.

Contudo, não foi tão longe a ponto de dizer que Mit era uma existência peculiar derivada de um demônio. Não sabendo como trazer o assunto à tona e não querendo que Angeline tivesse nenhum preconceito estranho a respeito, ainda chegaria o momento em que precisaria contar a verdade. Não era como se temesse que Angeline fizesse algo drástico se soubesse o que era Mit; era apenas uma questão de encontrar o momento certo.

Em todo caso, não havia necessidade de pressa. Uma vez que ambos estivessem em Turnera, ela conheceria Mit, e poderia conversar sobre o menino depois que tivessem a chance de se conhecerem. Isso foi o que decidiu; não adiantava causar pânico em Orphen.

“Então iremos por aqui.” disse Miriam.

“Cuidado para não pegar um resfriado! E não beba demais!”

Separando-se de Miriam e Charlotte, Belgrieve, Kasim e Byaku caminharam no meio da multidão, subiram e desceram uma colina e viraram por várias ruas.

“Hehe.” Kasim riu, segurando o chapéu.

“Agora isso me traz memórias. Costumávamos passear assim, procurando equipamentos.”

“Sim, costumávamos. Eu não tinha olho para itens encantados, então precisei arrastá-lo comigo.”

“Certo, certo. Porém com farinha de óleo, repelente de insetos e bombas de fumaça, você era o homem certo para o trabalho.”

“Ainda se lembra? Daquela vez que Percy comprou uma bomba de fumaça barata, e nada aconteceu quando a jogou?”

“Eu lembro agora! É verdade, ele inclinou a cabeça e caminhou até ela, e foi aí que decidiu explodir. Só de lembrar daquela cara que fez...”

Depois de gargalhar, os olhos de Kasim de repente ficaram tristes.

“Espero poder vê-lo outra vez.”

“Eu também... No entanto tenho certeza que Percy e Satie estão indo muito bem. Nós os veremos de novo, assim como me encontrei com você.”

“Sim você está certo.”

“Hey... Não é este o lugar?” Byaku chamou os dois por trás, fazendo com que Belgrieve olhasse em volta sem expressão por um momento. Estava tão absorto na conversa que quase perdeu o restaurante.

Byaku soltou um suspiro farto ao ver os dois homens voltando às pressas.

“Se controlem, velhotes...”

“Desculpe, desculpe.” Belgrieve riu desajeitadamente e despenteou a barba.



Notas:
1. Aqui está uma característica que será recorrente nessa personagem, o hábito de usar falas que são referenciais a alguma música. No caso, uma referência à música Twist and Shout dos Beatles.

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