Capítulo 10: A Guilda Era Feita de Pedra
A guilda era feita de pedra. Suas paredes de calcário provavelmente foram brancas uma vez, mas agora eram de um cinza sujo.
Angeline entrou na guilda no início da manhã, abafando um bocejo, apenas para encontrar o saguão em um grande clamor. Havia muito mais pessoas reunidas do que o normal.
Dando uma olhada ampla, encontrou muitos rostos que nunca tinha visto antes. Alguns a olharam de volta, de forma bastante rude. Quando os encarou, eles olharam de volta com raiva, apenas para empalidecer depois que seus amigos sussurraram algo em seus ouvidos.
“Quem esses caras deveriam ser...” Angeline se perguntou, indo para o balcão com uma sobrancelha franzida. Ela notou Anessa e Miriam na multidão em frente ao balcão e tentou chamá-las, porém o lugar estava muito barulhento.
De repente, Angeline voltou os olhos para o lado oposto da multidão, onde um velho musculoso usando um boné militar surrado e uma capa de inverno estava levantando o Mestre da Guilda Lionel pela nuca. Lionel parecia ainda mais cansado do que o normal — sua barba por fazer estava mais espessa e havia olheiras que pareciam doentias.
“Quão desleixado você pode ser?” o velho bravou. “Lionel! Por acaso está ao menos tentando?”
“Sim, bem, Sr. Cheborg, estou realmente fazendo tudo que posso, apesar de como pode parecer... Os surtos anormais de monstros estão causando muitos problemas. Além do mais, não precisa ser tão barulhento.”
Vendo o quão patético Lionel agiu, um velho magro em um manto largo e uma longa barba branca suspirou. “Que patético da sua parte deixar a situação ficar tão ruim ao ponto de precisar nos chamar... Embora, possamos ter alguma obrigação neste caso...”
Angeline correu alegremente. Com um salto, afastou-se da multidão e pousou no meio dos dois velhos.
“General Musculoso! Vovô Prateado! ”
Os dois rostos antigos se iluminaram quando viram Angeline.
“Oh, Ange! Fico feliz em vê-la por aqui!”
“Claro... Com quem você pensa que está falando?”
“Ahahahahaha! Você não muda!”
O General Musculoso — ou melhor, Cheborg — gargalhou de maneira estrondosa enquanto jogava Lionel de lado e começava a bater nas costas de Angeline. Ela tremia com cada impacto.
O velho alto agarrou Cheborg pelo ombro. “Oi, Cheborg, não bata em Ange com essa sua força estúpida. Sinto pena por ela.”
“Eh? O que? Você disse alguma coisa, Dortos?”
“Não grite nos meus ouvidos, idiota!”
“Bem, esses dias, sabe! Meus ouvidos, eles já não são como antes, entende!”
“Por que isso significa que tem que gritar? Meu Deus... Fico feliz que esteja bem, Ange.”
Angeline sorriu, vendo que os dois não haviam mudado nem um pouco. Ambos eram ex-aventureiros de Rank S, na casa dos sessenta anos até o início dos setenta — embora ainda parecessem estar em uma forma esplêndida. Ambos estavam ágeis, com as costas eretas.
Tendo estado no negócio por cerca de cinquenta anos, os dois se aposentaram cerca de dois anos atrás. E Angeline, que naquela época já havia começado a fazer um nome para si mesma, em pouco tempo se tornou uma amiga próxima deles.
Esses homens, ambos temidos no campo de batalha, eram como avôs amorosos ao seu redor, e Angeline gostava muito dos dois também. Cheborg era conhecido como o Destruidor, embora seus músculos esplendidamente temperados lhe valessem o outro nome de Angeline. Ao que parecia, Cheborg tinha sido um soldado de Estogal, embora seu velho boné fosse tudo o que restava daqueles dias. Seus braços — que haviam escapado de suas mangas rasgadas — estavam ambos embalados com firmes tatuagens enfeitiçadas, além de ser um lutador capaz que pulverizou muitos monstros com seus punhos apoiados por músculos e magia.
Dortos era chamado Prateado, pois empunhava uma lança de prata. Embora esguio e flexível, seu corpo ostentava três vezes a força de qualquer homem normal, e ele empunhava com agilidade e uma das mãos uma lança que, de outra forma, levaria dois adultos para erguê-la. Sua habilidade com a lança era a melhor em toda Estogal, o número de monstros que havia derrotado já era incalculável.
Angeline começou a se balançar no braço de Cheborg. “Vocês dois estão... Voltando?”
“Claro que estamos! Basta olhar como os jovens estão sendo desleixados!”
“Não tem jeito. Não posso apenas sentar e assistir tantos monstros saindo da toca.”
Assim que Dortos respondeu, Cheborg caiu na gargalhada. “Ahahahaha! Pare de tentar parecer todo maduro, Dortos! Sei que você está ansioso para entrar em erupção!”
“Silêncio. Não quero ouvir isso de você.”
“Hmm... Isso é uma boa notícia...” Angeline inclinou a cabeça. “Mas por que se aposentou de então? Vovô parece saudável o suficiente pra mim.”
“Bem, é óbvio, precisava idolatrar meu bisneto! Contudo, atualmente, ele está dizendo 'Cale a boca, vovô', sabe! Não me deixa mais cuidá-lo! Então, tenho tempo para matar!”
“Poderia falar um pouco mais baixo... Eu estava apenas exausto. Nunca pensei que viveria minha vida inteira como um aventureiro... No entanto parece que não há como escapar agora.”
Angeline sorriu, satisfeita. Talvez esses rostos desconhecidos no saguão tivessem sido recentemente convocados para se juntar à guilda. Ela só começou a importuná-lo há uma semana, porém o mestre da guilda já havia começado a trabalhar.
“Você trabalhou rápido desta vez, Mestre da Guilda... Obrigado!”
Ainda deitado de cara quando Cheborg o jogou, o mestre da guilda riu impotente. “Haha... Sim... Em parte é por causa de sua importunação, porém este velho fez o seu melhor. Tive que usar aqueles cristais loucamente caros para entrar em contato, então negociei com o senhor feudal e por fim consegui fazer um pedido da cidade de Orphen, e parece que meu pedido foi aprovado. Então, eles vão mobilizar um exército e... Bem, graças a isso, as recepcionistas estão todas grogues porque não podem ir para casa e o financiamento da guilda está acabando. E a carteira deste velho também está vazia... Como vou sobreviver amanhã?”
“No geral, eu diria: ‘Você deveria ter feito tudo antes’, contudo o que está feito está feito. Eu te perdoo...”
Lionel saltou, coçando a cabeça com uma cara azeda. “Quero dizer, me escute. Não tivemos um surto nos últimos cem anos. Nosso serviço obrigatório foi reduzido a uma formalidade, e mesmo o escritório central da guilda não tinha um manual para situações de emergência. Como deveria saber o que fazer... E quem poderia imaginar que ficaria tão ruim? A Central está cheia de cabeças-duras que gritam comigo para fazer alguma coisa, então gritam comigo por ter feito essas coisas, só não sabia mais o que fazer.”
Dortos estreitou os olhos, coçando a barba. “Ainda assim não explica seu trabalho lento, Lionel.”
“Estou bem ciente de minha própria incompetência.” Lionel suspirou. “No entanto tenho feito tudo o que um incompetente pode fazer.”
“Sua falha é nunca confiar nos outros nesses casos. Sua pessoa só entrou em contato conosco depois que Ange te disse...”
“Para constar, entrei em contato com meus velhos amigos na capital imperial, contudo levaria pelo menos um mês para chegarem aqui — nah, dois meses nesta época do ano, então estão demorando...”
“É por isso que precisa agir cedo. Ganhar status o fez perder a noção?”
“Você é duro, Sr. Dortos. Já estou em frangalhos aqui. Por favor, seja gentil...” a cabeça de Lionel caiu.
Em simultâneo, as recepcionistas gritavam no saguão, orientando os recém-chegados. Eles se filtraram com acenos de cabeça e nós dos dedos estalados.
Restavam cerca de trinta pessoas ao redor do balcão, e todas pareciam ser de Rank AA ou superior. Angeline notou outro aventureiro Rank S que ela não tinha visto há algum tempo com seu grupo. Eles estavam correndo por toda parte tão ocupados quanto ela, ao que parecia. No entanto, deveria haver dois outros Ranks S também — eles por fim enjoaram de Orphen?
Depois que sobraram apenas os escalões superiores, Ange conhecia a maioria dos presentes e cumprimentou alguns. Ela viu uma dúzia ou mais de membros idosos — grupos de Cheborg e Dortos. Todos tinham mais de 60 anos, haviam se aposentado por completo, mas a simples visão destes parados ali dizia muito sobre seu legado. Não eram aventureiros de alto escalão à toa.
Miriam e Anessa se aproximaram de Ange, os olhos arregalados enquanto observavam os grupos reintegrados.
“Bom dia, Ange... É uma grande seleção de pessoas.”
“Manhã. Sim, é incrível.”
“Bom dia vocês duas... Isso é reconfortante.” Angeline deu um tapinha animado nos ombros delas.
“Então, que trabalho devo fazer?” Dortos coçou a barba. “Se quiser que espere aqui até o próximo classe calamidade, estou indo embora.”
Lionel coçou a cabeça e franziu a testa. “Não temos luxo para tanto. Juntei todos para atacarmos a fonte.”
“A fonte... Conseguiu a localizar?”
“A notícia acabou de chegar ontem e não foi confirmada.” Lionel encolheu os ombros. “Nem eu quero acreditar, mas é um demônio.”
Os aventureiros estavam agitados. Rumores sobre o renascimento de um demônio já existiam há algum tempo, porém todos achavam que era um disparate completo. Com certeza só poderiam existir em lendas.
“Isso é verdade...?” Angeline se inclinou.
“Repetindo, sem uma confirmação ainda. Há um limite para o que posso investigar por conta própria, então vou pedir para outra pessoa confirmar agora.”
“Hmm? Mestre da Guilda, você investigou por conta própria? Você não acabou de assinar alguns papéis?”
“Bastante... Quero dizer, todo mundo que trabalha na guilda é civil, então só posso contar com eles para mover o lápis. Se todos os nossos aventureiros ativos estiverem ocupados, esse velho precisa colocar um pouco de graxa nas engrenagens. Mas eu tinha que negociar com a guilda central e o senhor feudal quase nunca tinha um momento livre, e ainda tinha muita papelada para fazer, então não estava progredindo muito...”
“Não poderia só ter enviado um aventureiro de patente inferior ou algo assim...”
“Não — como poderia enviar um aventureiro de baixo escalão para um lugar que está fazendo com que os monstros de classe calamidade apareçam? Eu os designei para onde é seguro, não que haja muitos desses lugares hoje em dia...”
“No entanto... E os grupos de alto escalão nos dias de folga?”
Lionel deu um sorriso amargo. “Senhorita Ange, uma investigação não terminará em um ou dois dias... Do jeito que está, os aventureiros de alto rank estão irritados por serem enviados para todos os lugares. Se colocar mais trabalho além desses, este velho será assassinado enquanto dorme. Já tenho muitos aventureiros que deixaram nossa guilda furiosos...”
“Então e os instrutores da guilda...”
“Nossos instrutores lidam apenas com F, E e às vezes Rank D. Eles são Rank A na melhor das hipóteses. Há uma possibilidade de que estariam enfrentando algo de Rank AA ou superior, então não poderia arriscar enviá-los... Vou ser sincero com aqui — nossos altos escalões são mais do tipo gênio do que do tipo trabalhador. São péssimos no ensino.”
“Ah, então, que tal solicitar aventureiros de Estogal...”
“Senhorita Ange... Sabe como funcionam os pedidos — quem emite o pedido tem de pagar. Se uma pessoa coloca, uma pessoa paga. Se uma cidade o coloca, uma cidade paga. E, se a guilda fizer um pedido, temos que usar o orçamento da guilda, certo? No momento, estamos pagando a todos os aventureiros de alto escalão um salário fixo para mantê-los conosco, e os pedidos continuam gastando nossos fundos. A questão é que não temos dinheiro suficiente para chamar aventureiros de alto escalão de outros lugares. Recebi ajuda no começo, porém quando o dinheiro acabou, foi isso. É assim que acontece com os aventureiros.”
“M-Mas estamos todos na mesma guilda, certo...? Poderia só dizer que vai pagar quando o dinheiro entrar...”
A guilda de Orphen já estava trabalhando com as guildas de outras cidades. Angeline havia aceitado esses trabalhos várias vezes.
Lionel coçou a bochecha desajeitadamente. “Tentei... No entanto os aventureiros são mais pragmáticos quanto mais alto sobem na hierarquia. Quem em sã consciência arriscaria a vida de graça? Eu mesmo sinto muito por mandá-la para todo lado, porque não pude recusá-los.”
“Fui paga, então não me importo... Contudo mesmo que os aventureiros sejam assim, e os laços entre as guildas? Eles não têm a obrigação ou o dever moral de nos ajudar?”
“A guilda central o configurou de forma que os laços entre os ramos da guilda sejam na verdade muito fracos. O dinheiro fala mais alto do que qualquer promessa vaga. Existem muitos interesses velados, e os superiores realmente querem manter seus empregos, entende? Em todo caso, o que os aventureiros mais querem é dinheiro, e as guildas da periferia também estão precisando de dinheiro, então não estão preparadas para trabalhar de graça sem resultados garantidos... Sabe, paguei uma quantia generosa a todos aqui, contudo mesmo assim eles saíram. O que isso diz sobre mim? Eu vou chorar...”
“Então... Você tem feito tudo sozinho?”
“Mais ou menos... Graças a isso, tive que tomar alguns classes calamidade sozinho, e não tenho uma noite de sono adequada há meio ano, e estou exausto... Nunca me esforcei tão duro quando ainda era um aventureiro, não é?” Lionel deu um grande suspiro e terminou com uma risada impotente. “Porém nunca pensei que todo aquele treinamento que fiz em segredo depois que perdi para você pudesse de fato vir a calhar...”
Às vezes, Angeline exigia ver Lionel para reclamar. No entanto, Lionel costumava estar fora e Angeline se convencia de que estava apenas fingindo. No final das contas, ao que tudo indicava, Lionel estava procurando a origem dos surtos sozinho. Enquanto isso acontecia, também recebia reclamações e xingamentos dos aventureiros, da guilda central e do senhor feudal.
O sistema da guilda, que funcionava bem em tempos de paz, desmoronou quando algo deu errado. Todavia, a paz durou tanto tempo que vários interesses adquiridos foram formados e o sistema não poderia ser derrubado com facilidade. Os monstros continuaram aparecendo, enquanto Lionel estava no meio, recebendo críticas de todas as partes. Como esperado de um ex-Rank S, ele suportou e continuou trabalhando nessas circunstâncias.
Ainda por cima priorizou os impotentes. Acho que o mestre da guilda é um preguiçoso e um trabalhador lento, mas tem um tipo estranho de bondade para com ele, Angeline pensou. Então ficou carrancuda.
“Poderia ter apenas me dito...”
“Não... Não queria soar como se estivesse dando desculpas. Sei que estou a dizendo agora, porém—”
“Porém não é como se você não estivesse fazendo nada, certo? Agora eu pareço uma idiota por ficar convencida e te dar um sermão... Sinto muito, Mestre da Guilda...”
Ao vê-la abaixar a cabeça desanimada, Lionel coçou a bochecha de novo. “Haha, está tudo bem, perfeitamente bem. Você não estava errada, Sra. Ange, e é verdade que sou incompetente... Sem falar que a sua pessoa foi a única que me repreendeu assim. No geral, eles só saem sem dizer uma palavra depois de conversarem com a guilda. No entanto, a tive sendo honesta e aberta, certo? Foi um belo empurrão nas costas. Obrigado.”
“Hmph...”
“Ahahahaha!” Cheborg riu, dando tapinhas rudes em sua cabeça baixa. “Não se preocupe com isso, Ange! Quando todos os adultos ficam por aí fazendo coisas chatas de adultos, as crianças avançam e movem o mundo! Não estaríamos aqui se não o tivesse empurrado! Lionel! Por que não nos chamou antes de sair fazendo coisas malucas por conta própria? Não acho que você foi feito para ser mestre de guilda!”
Dortos acenou com a cabeça, acariciando suavemente o ombro de Angeline. “Ele está certo, Ange. É sua própria culpa por deixar a situação ficar tão ruim que o mestre da guilda teve que sair em pessoa. Normalmente, é inconcebível para um aventureiro desistir de uma guilda e fugir. Essa é toda a sua folga habitual voltando para mordê-lo.”
Lionel baixou a cabeça, esmagado pelas palavras dos dois velhos.
“Vocês são muito duros, os dois. Em primeiro lugar, eu chamaria o país e o sistema de guilda central de defeituosos... Não importa o que os diga, aqueles figurões da central e o senhor feudal só pensam em fugir da responsabilidade e cortar orçamentos — o que devo fazer? Fui um aventureiro, nunca estudei para isso. Como vou competir com todas aquelas velhas raposas astutas...”
“Eh? O que? Estava dizendo algo, Lionel?”
“Tudo bem, tanto faz! Vamos agora! Vou explicar no caminho!”
Lionel endireitou os ombros ao sair do prédio. Os velhos soldados reunidos caíram na gargalhada enquanto os seguiam, e o grupo de Angeline partiu junto.
○
A luz do sol os atingiu quando saíram. Não havia nuvens grossas nos últimos dias e, embora o vento estivesse frio, o sol estava quente. Alguns pedaços de neve derretida permaneceram na estrada.
O grupo liderado por Lionel deixou a cidade, dividindo-se em carruagens separadas para seguir para o leste. Havia mais soldados nas muralhas do que o normal, deixando claro que o senhor feudal estava mobilizando o exército. Angeline observou com uma cara azeda.
“Por que demorou tanto para mover seu exército?”
“É preciso muito tempo e dinheiro para mover um exército, pelo que parece. É por esse motivo que os pedidos vêm para a guilda. É como se fosse trabalho da guilda defender o território dos monstros agora.” respondeu Anessa.
Miriam concordou com a cabeça. “Isso não foi um problema até agora, no entanto. Se a folga para eles for muito longa, serão lentos quando realmente tiverem que se mexer.”
“Sim, e ouvi dizer que há uma guerra se formando na fronteira leste, então estão colocando a maior parte de sua força de trabalho nesse ponto. Não que importe muito se sua nação for esmagada por monstros.”
“Justo como penso também... Mas isso deve acabar hoje. Não sei sobre demônios ou algo do tipo, contudo nós vamos destruí-los!”
“Hehehe, estou ansioso... Porém os veteranos estão aqui, então podem acabar resolvendo-o primeiro.”
“Não podemos perder... Vamos mostrá-los do que os aventureiros ativos são capazes.”
De acordo com Lionel, uma grande massa de mana foi detectada em uma masmorra abandonada perto de Orphen. Todos esperavam que fosse uma masmorra de alto nível, entretanto acabou sendo Rank E. Por esse motivo, Lionel no começo designou grupos de escalão inferior para sua área geral; esses grupos não conseguiram detectar a anormalidade, e ela foi amplamente esquecida. Isso atrasou um pouco a investigação.
O poder dessa massa de mana se infiltraria no subsolo e transbordaria em vários pontos críticos, o que, por sua vez, influenciaria os monstros e causaria surtos em massa.
Angeline franziu os lábios, o cotovelo apoiado no joelho e a mão apoiada na bochecha.
“Mana viaja pelo solo? Eu não sabia...”
Miriam não parecia menos perplexa. “No geral não. O mana deste demônio deve ser incrível.”
“Deve ser um inimigo poderoso... Que tipo de oponente poderia ser?”
“Não importa o que seja... Vamos apenas esmagá-lo.”
Anessa suspirou com a indiferença cruel de Ange. “Estou com medo de que acabe mesmo assim...”
A carruagem seguiu por pouco menos de uma hora por uma pequena floresta e chegou a uma extensão de colinas. Uma caverna ao lado da mais alta entre elas conectava-se ao que um dia fora uma masmorra subterrânea. No entanto, a masmorra havia perdido seu núcleo há muito tempo e foi abandonado depois disso. Os aventureiros não iam mais para lá, pois não havia motivo.
Desta vez, entrariam e caçariam a suposta causa do acúmulo de mana — provavelmente um demônio.
As carruagens pararam e os aventureiros desembarcaram.
Angeline esfregou seu traseiro dolorido, carrancuda na entrada da masmorra. Ela não sentiu nada de anormal. Existe alguma coisa de fato aqui?
De repente, notou alguém parado na entrada com cabelos longos, opacos e grisalhos, um casaco grosso e um lenço. Quem quer que fosse, usava roupas tão grossas que escondiam cada linha de seu corpo.
Lionel correu até essa pessoa. “Como foi, Sra. Maria? Sentiu algo errado?”
“Nada. Contudo, sem dúvida há um pedaço distorcido de mana ali. Alguém colocou uma barreira para que não pudesse ser detectada de fora, e quem fez isso é um mestre em seu ofício. É por essa razão que não está sentindo nenhum mana ou monstros aqui.”
“Eu sabia... E quanto ao solo?”
“Graças à barreira, o mana não tem para onde ir, a não ser para baixo. Está sangrando na terra — não é de admirar que os monstros estejam todos excitados. Meu Deus, como pôde deixar uma donzela delicada aqui sozinha? Cough, cough.”
Virando-se para Lionel com um ruído cortante estava o rosto descontente de uma mulher aparentemente jovem. Seu rosto atraente exalava uma atmosfera um tanto apática. Embora fosse sem dúvida uma mulher, quando parou ao lado de Lionel, tornou-se evidente que era bastante alta.
Bem como antes, Angeline correu alegre até a mulher. “Vovó Maria!”
“Cough, hack... Hã? Ange? É você? Ainda uma pirralha, pelo que vejo.”
“Tudo bem, vovó? Como está a sua doença...?”
“Está terrível. Nunca me senti pior. Cough... No entanto, aquele homem ainda me arrastou assim.” Enquanto continuava a reclamar, Maria não parecia muito insatisfeita enquanto acariciava Ange na cabeça. Olhando em seguida para Anessa e Miriam também. “Hey, meninas, estão se dando bem? Você não está parecendo muito feliz em ver—” ela engasgou no meio da frase e explodiu em outro acesso de tosse.
Anessa correu e esfregou suas costas o mais rápido que pode. “Não se force, Maria... Você já está nessa idade.”
“Hack... Cala a boca, ainda sou um pêssego de sessenta e oito.”
“Sessenta e oito não é ótimo, sua velha bruxa!” Miriam apontou e riu.
Maria encarou-a. “Discípula estúpida! O que acha que está dizendo a sua mestra? Cough, hack!”
“Ahaha, é o que merece por atormentar seus discípulos. Bem feito.”
“Pirralha maldita... Hack, cough!” a raiva de Maria a levou a outro acesso de tosse. Anessa apressou-se em esfregar suas costas enquanto Miriam ria alegre com sua miséria.
Ela era uma aventureira Rank S que se aposentou três anos atrás. Maria era a instrutora de Miriam, uma maga mestra chamada Matadora de Dragões e Ashen. Devido a suas grandes realizações em exterminar monstros vis e desenvolver magias benéficas, seu nome era conhecido não apenas no ducado, mas em todo o Império Rodesiano.
Como seu poderoso mana congelou seu corpo no tempo, Maria parecia bastante jovem para alguém de sessenta e oito anos. No entanto, quando matou o dragão amaldiçoado, um monstro de Rank S, foi salpicada com seu sangue e amaldiçoada. Seu corpo estava sendo comido e era atormentada por calafrios permanentes, dores espasmódicas e tosse. Todavia, nada disso mudou o fato de que era uma das maiores magas do império.
Dortos e Cheborg surgiram. Dortos coçou a barba, parecendo agradavelmente surpreso. “Ah, Maria, Lionel te arrastou para essa confusão também?”
Maria estalou a língua e estreitou os olhos. “Oh, Dortos... Assim mesmo. Meu Deus, de que adianta reunir todos esses velhos decrépitos? Cough, cough!”
Ao vê-la começar a tossir mais uma vez, Cheborg gritou: “Maria! Ainda não superou essa sua doença falsa? Controle-se, senhora!”
“Não é falsa, droga! Apenas morra, seu pedaço de — Hack! Cough, cough!”
“Eh? O que? Dizia alguma coisa, Maria?”
“Disse para você cair morto! Ou posso matá-lo também!”
“Hum... Já posso falar?”
Deixado de lado por essas reuniões tardias, Lionel saltou com uma expressão de cansaço no rosto. Os mais velhos sorriram, sinalizando para que continuasse.
Ele suspirou. “Hum, pedi a Sra. Maria que desse uma olhada. Com certeza há uma massa de mana lá que está se espalhando pelo solo. Se pudermos retirá-lo, acho que esses surtos de monstros em massa devem se acalmar.”
“O que deveríamos fazer...? Qual é o plano, Mestre da Guilda?”
“Sim... Considere isso uma exploração normal de masmorra e mire na parte mais profunda. Era uma masmorra Rank E no passado, então não deve ser muito profunda. Embora seja possível que o mana tenha aumentado o rank dos monstros lá... Entretanto, bem, com tantos lutadores fortes aqui...”
“Chega de baboseira! O que quero dizer é que abrimos nosso caminho!”
“Não, espere—”
Cheborg ergueu o punho antes que Lionel pudesse detê-lo. Sua capa balançou com o vento, quando todos os círculos mágicos em seu braço explodiram em luz, ele colidiu na colina à sua frente. Eles foram posteriormente atacados por uma onda de choque terrível, e mais da metade da própria colina foi reduzida a pedacinhos. Fragmentos de terra e rocha caíram como chuva.
“Ah, a barreira sumiu... Cough.” Maria murmurou.
Isso foi seguido por uma enxurrada de monstros do buraco — tudo o que restou da entrada da masmorra — envolto em um miasma sinistro. Era para ser uma masmorra Rank E, contudo Angeline conseguia distinguir demônios de rank B até A.
Lionel segurou sua cabeça. “O que é que está fazendo...”
“Ahahahaha! Nos salva o problema! Oi, demônio, saia daí!”
“Espere, Cheborg. Não vou deixá-lo tomar a frente.”
Cheborg riu e balançou os punhos, erradicando todos os monstros que vieram em sua direção. Ele disparou em direção ao buraco. Dortos removeu o pano de sua lança enquanto perseguia atrás, perfurando vários monstros próximos em um piscar de olhos. Não parecia mais um velho bem-humorado — tinha assumido a aparência de um guerreiro e parecia estar se divertindo muito.
Os dois velhos deram o alegre mergulho em uma horda de monstros, abrindo caminho sem dificuldade. Seus companheiros mais velhos os seguiram, massacrando monstro após monstro com assustadora competência. Todos pareciam muito animados, apesar da idade. Eles estavam tão animados porque todos sentiram falta de seus dias de batalha contra os monstros?
Olhando para trás, para a massa estupefata de aventureiros mais jovens e ainda ativos, Lionel balançou a cabeça, bateu palmas e gritou: “Ok, que tal mostrarmos algum respeito aos mais velhos! Vão em frente, preparem o palco para que seus veteranos possam mostrar suas façanhas!” Recuperando a compostura com essas palavras, o resto dos aventureiros preparou suas armas.
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