Capítulo 01.3: O Império no Crepúsculo
“U-Uhm... 7-6 Bombardeios... Não, 3-3 Tropas de Vento Armadas.”
“Já terminou? Bem, então para mim vamos ter 4-6 tropas de bombardeio aéreo com a mescla de forças de guerra e peças de ambos os lados.”
Sentados na cama, cara a cara, Matthew e Torway travavam uma guerra no shogi¹ militar. Tanto quem trouxe as peças e o tabuleiro como quem propôs o embate foi Matthew, mas a situação da guerra parecia-lhe desfavorável.
“3, 4, 5-7 Batalhão de Tropas de Vento Armadas... Hmm, com isso, talvez quatro peões sejam xeque-mate, certo?”
“E-Espere um minuto! Eu ainda não...”
Matthew estava ficando desesperado e olhando atentamente para o tabuleiro, porém quando olhava, seu próprio exército estava cada vez mais em desvantagem a cada olhar. Ele entendeu que o resultado já estava decidido com o primeiro minuto e depois dedicou três minutos à preparação mental e, por fim, soltou algumas palavras: “... Eu morri.”
“Droga, mais um jogo! Este foi apenas um erro idiota após o outro!”
Mesmo dizendo isso, o recorde do jogo já estava enfrentando a realidade da terceira derrota consecutiva de Matthew, no entanto, odiando perder, o jovem não pôde reconhecer prontamente a diferença em sua habilidade. Torway, sentindo que apenas uma luta improdutiva continuaria nesse ritmo, ficou preocupado com seu companheiro e fez uma proposta.
“Oi, Maa-kun, tudo bem se dermos nossas impressões sobre a partida? O jogo agora, há uma parte que quero refletir.”
Visto que Matthew também aceitou com base na razão que o progresso não existia sem uma reflexão calma sobre a derrota, ele, embora relutante, consentiu com a proposta de Torway. Vendo que ambos pararam, parecia que não havia espaço para reclamar sobre a forma excessivamente familiar de chamá-lo, ‘Maa-kun’.
“Uhh, embora acredito que fiz bem até o meio do jogo... Qual foi a jogada decisiva? Foi quando enviei muitas tropas de bombardeio na sexta rodada, ou quando perdi os médicos na 12ª rodada...?”
Quando Torway, tomando cuidado para não ferir o orgulho de seu companheiro, tentou dar sua opinião, a voz de uma terceira pessoa, embora nem mesmo fosse solicitada, veio de cima.
“—— Foi no 21º turno, meu amigo Matthew. Foi quando você deixou suas Tropas de Vento Armadas, cuja fusão de forças de guerra foi obstruída, serem tomadas de forma inútil pela linha inimiga. Ali, deveria ter recuado com amabilidade e mudado para a defensiva.”
Estalando a língua ao ouvir a voz que aparentava soar provocadora de Ikuta, Matthew alinhou as peças com uma expressão desagradada. Torway arregalou os olhos e olhou para o beliche de cima.
“Ik-kun, você se lembrou do curso do jogo? Me pergunto se conseguiu ver o tabuleiro estando aí.”
“Te disse para não me chamar de Ik-kun, Ikemen. Da próxima vez, vou te bater com um travesseiro.”
Sua resposta foi direta, contudo Torway tinha Ikuta em uma sincera alta consideração. Que se lembrasse do desenrolar do jogo era algo considerável, entretanto, era o fato de também ter apreendido as ofensas e defesas que mereciam elogios. A situação do jogo que Ikuta considerou ter separado a vitória da derrota era justo a mesma parte que Torway estava prestes a mencionar.
“Pessoal, fiz chá!”
Felizmente com isso, Haro voltou para a habitação junto com Yatori carregando um grande bule de cerâmica e xícaras para todos. Ela primeiro tentou servir usando a mesa que foi instalada, todavia devido ao balanço da base, o bule de cerâmica parecia quase cair, pelo que mudaram para o método de servir enquanto seguravam as xícaras, uma a uma, em suas mãos.
“Está balançando bastante, não é...? Quando pegamos emprestada a cozinha, pudemos ver um pouco a condição da superfície do oceano, mas as ondas são sem dúvida incríveis.”
“Diante do forte efeito do vento oeste, parece que o curso está se desviando bastante para o leste. Como podemos atrasar a correção do curso, a viagem de barco vai se arrastar mais do que pensávamos. É verdade, um barco é um veículo sobre o qual não temos controle.”
Enquanto tomava uma xícara de chá de Haro, Yatori amarrou o cabelo de forma descuidada. Seu olhar estava casualmente voltado para a placa de shogi militar que Matthew e Torway seguravam entre os dois.
“O que é isso, estavam jogando shogi? O resultado, quantas derrotas consecutivas para Matthew?”
“P-Por que a pergunta considera minhas derrotas consecutivas como certas...?”
“A falta de vigor em sua objeção significa que foi justo o que aconteceu, não é? Bem, não acho que seja possível me importar tanto. Não é como se um rei shogi fosse igual a um grande comandante de qualquer maneira.”
Torway encontrou e desenvolveu o início de um novo tópico nas palavras de Yatori, que havia tentado acalmá-lo por precaução.
“Agora que mencionou, em relação à entrevista na fase final deste Exame, parece que você joga um jogo de shogi com oficiais militares de alto nível servindo ativamente. Se um deles não aplicasse sua habilidade em shogi contra a habilidade de um comandante assim, então que tipo de significado esse arranjo teria —— você não concorda?”
“Como é uma entrevista durante o jogo, acho que é algo que pode medir sua capacidade de multitarefa. Mesmo se vier a se tornar um oficial militar de alto nível, se não puder gerenciar duas ou três tarefas ao mesmo tempo, se tornará inútil devido ao excesso trabalho além da sua capacidade.”
A resposta de Yatori foi baseada na lógica. Continuando, ela olhou para a figura de Ikuta estendendo apenas o braço da cama e aceitando uma xícara de chá. Surpresa com sua preguiça, Yatori ignorou a pergunta de Torway.
“Ikuta, o que acha?”
“... Nnn, é bastante delicioso. No entanto, em vez de folhas de chá embebidas com leite, prefiro leite aquecido separadamente adicionado a um chá um tanto forte feito com água fervente —— eu me pergunto se essa forma de preparo é preferível.”
“Quem pediu sua opinião sobre o sabor do chá? Aliás, quem recomendou ferver o leite fui eu, sabe. Se por acaso estragou, não posso dizer que não é minha culpa.”
Por terem passado muito tempo juntos, Yatori foi excepcionalmente suave em lidar até mesmo com as brincadeiras ridículas de seu amigo. Enquanto levantava apenas a parte superior do corpo e bebia chá na cama, Ikuta respondeu despreocupado à pergunta original.
“Acho que o raciocínio de Yatori foi mais ou menos preciso. Mesmo excluindo esse ponto, é porque isso, à sua própria maneira, está repleto dos fundamentos da arte da guerra. Não é ruim como exercício mental. No entanto, se posso afirmar minha opinião —— se os soldados vão jogar de qualquer maneira, um shogi de olhos vendados que não usa um tabuleiro seria melhor.”
“——Hã? Ik-kun, por que —— espe...”
O travesseiro que desceu acertou em cheio o rosto de Torway. De repente, pondo a cabeça para fora da cama, Ikuta gritou.
“Ik-kun está proibido! Se aplicar shogi à guerra, sendo concreto, o tabuleiro seria igual ao campo de batalha. Assim, faço uma pergunta a respeito, quando você está travando uma guerra de verdade, o comandante olha para baixo em todo o campo de batalha de cima do céu com o ponto de vista de Deus?”
“... É impossível. Em relação à localização das forças inimigas, isso é informação restrita, então se trata de uma situação onde só pode fazer suposições. Quanto aos aliados sob comando, eles não estão restritos a se mover como planejado.”
“É assim como é. Na guerra real, a luta começa quando entendesse as posições de seus aliados e inimigos. Para esse ponto, é necessária a capacidade de imaginar para obter uma imagem inteira de informações fragmentadas. Não vou dizer que o shogi de olhos vendados pode treinar esse ponto, mas pode criar uma base para o poder da imaginação. Primeiro você segura o ‘tabuleiro’ em sua mente. Começando com isso, imagine os soldados movendo-se no tabuleiro... Ah, há mais chá?”
Enquanto afirmava suavemente seu ponto de vista, Ikuta estava recebendo seu chá servido por Haro em uma posição precária, com o braço estendido para fora da cama, como sempre. Torway e Haro estavam ouvindo com admiração de um lado, e Matthew o estava ignorando e franzindo o cenho para o tabuleiro, contudo o navio balançou em grande escala.
“Ah.”
“Ahhh——!?”
O chá que derramou da xícara de Ikuta acertou certeiro à cabeça de Matthew com um ângulo diabólico. Enquanto se desculpava levemente com um “desculpe, desculpe” para seu companheiro, que acabou dando uma cambalhota por causa do calor, de repente Ikuta desviou o olhar para a porta da cabine.
“Ali, quem é?”
Yatori gritou olhando na mesma direção de Ikuta.
Ela foi distraída pelo grito de Matthew, porém no momento em que o barco balançou, o som de algo colidindo com a porta ressoou. Yatori, pensando que era suspeito, se aproximou e abriu a porta da frente da sala.
“U-Uhh... Oww...”
Yatori pegou uma garota pequena usando um grande chapéu do lado oposto da porta aberta. Ela não conseguia ver o rosto escondido pela aba larga, contudo o cabelo loiro que esvoaçava, não cabia dentro do chapéu, era liso e lindo. Suas vestes também eram simples, entretanto era óbvio que o tecido era superior e usadas com elegância.
“Uma pessoa que fará o teste... Não parece ser o caso. De onde você é, mocinha? Precisa de algo nosso?”
Quando Yatori esboçou um sorriso gentil e fez sua pergunta, a jovem parecia não ter uma resposta e murmurou, “c-com licença”, como uma forma de se esquivar e sair depressa pelo corredor. Vendo-a partir, Yatori inclinou a cabeça.
“Eu me pergunto o que foi isso. Bem, ao menos, considerando que é um passageiro comum em um navio de embarque para cadetes de oficiais militares de alto grau... Ikuta, o que acha?”
“Nnn... Restam cinco~seis anos até que esteja adequada para consumo. Até que ela esteja perfeitamente madura, talvez sejam 15 anos...”
“Ninguém perguntou o limite inferior da sua zona de ataque——”
O súbito ataque de uma forte vibração no casco interrompeu a réplica de Yatori. Todos perderam o equilíbrio ao mesmo tempo, e o conteúdo das xícaras que seguravam nas mãos foi todo derramado. Claramente diferenciado do balanço até agora, esse foi o impacto de uma colisão grave, não algo causado pelas ondas.
“——O que é isso?”
Sendo mais rápida de todos na mesma habitação para recuperar o equilíbrio, Yatori fez uma análise da situação. Por outro lado, Torway estava segurando e escorando o ombro de Haro, que caiu de cara para cima, e Ikuta, tendo caído do beliche de cima, esmagou o corpo um tanto abundante de Matthew e saiu descaradamente ileso.
“Oh, Matthew, não me diga que você me salvou oferecendo seu corpo com tamanha coragem... Vamos brindar à nossa amizade.”
“Ughh... Alguém como você deveria ter caído de cabeça...”
Quando Matthew empurrou Ikuta de lado e por fim se levantou, os espíritos que estavam sentados quietos nas camas também perceberam um estado de emergência e ganharam vida, acomodando-se nas bolsas de seus respectivos mestres. Quando todos confirmaram a ausência de ferimentos uns dos outros, o grito de um marinheiro ressoou da porta aberta.
“P-Passageiros, fiquem calmos e escutem! A sentina deste navio bateu em um recife e começou a inundar. Agora mesmo, uma ordem de abandono total do navio foi dada pelo capitão do navio! Aqueles que podem se mover, vão agora para o convés e, seguindo as instruções do marinheiro, embarquem nos botes salva-vidas!”
A voz instruindo a evacuação era estridente com a sensação de crise iminente. Encalhar, inundar, abandonar o navio —— a partir dessas palavras, todos naquela situação imaginaram juntos um único e predestinado desfecho, junto com uma imagem de desespero.
“Pessoal, vocês ouviram isso! Estamos indo para o convés!”
No entanto, houve uma pessoa que deixou de lado a premonição pessimista em um instante e começou a se mover. Essa foi Yatori Igsem.
“Não há necessidade de pressa, formem uma linha atrás de mim e sigam-me! Bagagem mínima!”
Quem poderia assumir o controle da área sem vacilar nesta situação era um humano chamado Yatori. Ela tinha a liderança para estabelecer a ordem imediatamente em um grupo que foi reduzido a uma multidão desordenada em estado de emergência.
E, todos além da mesma também não estavam resignados com a multidão desordenada neste cenário.
Um batismo de chuva torrencial e vento furioso deu-lhes as boas-vindas, enquanto o grupo subia as escadas correndo com Yatori como seu líder e emergiam no convés. O mastro, cuja espessura ultrapassava a cintura de um adulto, rangia com a pressão do vento, e ainda por cima os marinheiros trabalhavam, arriscando a vida, para baixar as velas que se enchiam de vento e se debatiam furiosas. O casco já havia afundado 20 vezes mais baixo do que o normal, e, além do mais, era início da noite. A superfície do oceano, tendo acabado de mergulhar na escuridão, ficou escura como breu o tempo todo em que trabalharam.
“Tempo tempestuoso, não é...? Uma maldição do mau tempo nesta situação, somos pessoas odiadas por Deus.”
“Eu me pergunto de quem é o comportamento culpado. Pessoas com uma ideia levantem a mão.”
“Nem sequer considerando que você é a única possibilidade, certo? De agora em diante, vamos nos abster de piadas com as Escrituras² como material.”
Enquanto fazia uma brincadeira despreocupada com Ikuta, Yatori, como a líder do grupo, se virou para a parte de trás do deck. Lá, quatro botes salva-vidas foram preparados, e os preparativos estavam em ordem para um barco ser lançado das mãos dos marinheiros para a superfície do oceano. Instruções voaram dos marinheiros para o grupo de Yatori que havia aparecido.
“Subam a bordo com as pessoas que vieram! Vocês, os cidadãos, são a prioridade máxima!”
Yatori, fazendo uma expressão um pouco surpresa com o tom de ‘os cidadãos’, rapidamente sacudiu o sentimento e retomou a ação. Ela fez Haro subir primeiro, depois Matthew, Torway, a vez de Ikuta e, por fim, ela própria entrou no barco. Quando os corpos de todos foram acomodados, os marinheiros que observavam a figura de Ikuta acrescentaram algo, desculpando-se.
“Seu companheiro é um espírito da luz, não é? Escute, porque encalhamos, surgiram alguns marinheiros feridos, e neste momento ainda não podemos deixar marinheiros embarcarem neste barco. Já que os botes salva-vidas estão todos atracados à nave-mãe, eles não vão se afastar, mas quando se trata disso, as cordas precisam ser cortadas para enviar seus companheiros. Nesse momento, transmita sua localização para os barcos próximos com um sinal luminoso. Mesmo quando estiver mais ou menos adormecido, reúnam-se sem exceções!”
Depois de ver Ikuta e Kusu assentirem em uníssono, o marinheiro soltou as cordas de amarração e baixou o barco que as continha até a superfície do oceano. O pequeno barco abandonado ao grande oceano tempestuoso, balançando com força para a esquerda e para a direita, não permitia que as pessoas que segurava tivessem a sensação de que fossem sobreviver.
“I-Isso não é uma piada, sabe! Com um oceano tão agitado, encontrar abrigo em qualquer bote...”
“Maa-kun, incline-se um pouco mais para a direita! Bekkel-san para a esquerda! Estamos uniformizando o equilíbrio do peso corporal em todo o barco! Com essas ondas, se virarmos uma vez, não vamos ser capaz de nos recuperar mais!”
O próximo a recuperar a compostura após Yatori, Torway enviou instruções, e Matthew e Haro, perdidos em choque, obedeceram. Por outro lado, Ikuta, no meio de uma forte chuva torrencial, estava imóvel, concentrando seus olhos na nave-mãe que afundava fatalmente.
“Qual é o problema, Ikuta? Faça seus comentários desnecessários de sempre. Quando está quieto, fica uma energia bem ruim.”
“Não sabia que você considerava meu comportamento um presságio... Mais importante, Yatori, é aquela garota.”
Quando Yatori o ouviu, seguiu a linha de visão de Ikuta até avistar a jovem que encontraram na frente de sua habitação um tempo atrás. A garota estava no convés, tentando embarcar em um bote salva-vidas. O tremor de seus ombros magros era perceptível mesmo à distância.
Não parecia que a garota tinha idade para viajar sozinha, mas a jovem não conseguia ver a figura de outro companheiro.
“... Ah?”
Naquele momento, ocorreu uma tragédia. O casco inclinou-se violentamente, recebendo um grande golpe das ondas em seu flanco, e, com o impulso, a jovem que estava na beira do convés foi jogada em direção ao oceano. No ar por um instante —— sem tempo nem para gritar, seu pequeno corpo foi engolido pelo oceano negro e desapareceu.
Um dos marinheiros que mal conseguiu ficar no convés, com um tubo de flutuação na mão, despachou olhos injetados de sangue para a superfície do oceano... Mas, tarde demais. Mesmo que tentasse enviar ajuda, a forma da garota estava escondida nos vales das ondas há muito tempo.
“Hmm, deu ruim. Aquela vai morrer.”
Murmurando uma realidade extremamente próxima a um fato consumado, Ikuta se levantou de imediato e começou a tirar suas vestes externas.
“Kusu. Se vir aquela garota de novo, ilumine-a com um farol alto para mim.”
“Ikuta, isso é perigoso. Você deveria parar...”
“Estou confiando em você.”
Aceitando a petição de seu mestre, ainda relutante, Kusu saiu da bolsa de quadril enquanto eles discutiam e, de pé na borda da bolsa, disparou uma luz forte da ‘cavidade luminosa’ de seu abdômen, começando a iluminar uma seção da superfície do oceano.
Continuando, Ikuta agarrou um tubo de flutuação salva-vidas que estava próximo e confiou a Yatori a ponta livre da corda amarrada a ele.
“Se me soltar facilmente, voltarei para assombrá-la como um fantasma.”
“Es... Você——?”
Sem dar a Yatori tempo para pensar, Ikuta mergulhou de cabeça no oceano. Sem desanimar-se pelas ondas furiosas e se movendo na água com seus membros, Ikuta avançou direto para o local mostrado pelo farol alto. Não havia nada para todos no barco fazerem a não ser prender a respiração e cuidar de suas costas com atenção enquanto ele quase escorregava no meio do oceano escuro como breu.
“... Bwahh!”
Após dez segundos, que pareceram uma eternidade para os observadores, Ikuta subiu à superfície, abraçando o corpo da jovem, que estava flácido como um cadáver. Yatori e os outros deram um grande suspiro de alívio.
“É impossível, estou morrendo! Salvem-me!”
Respondendo ao grito que escapou naquele momento, os quatro começaram a puxar a corda ao mesmo tempo. Apesar de manter o equilíbrio no meio do balanço capaz de derrubá-los mesmo agora, apenas puxar duas pessoas para cima do barco era difícil.
“Hahh, hahh... Ahh foi por pouco... A água do mar é terrivelmente salgada...”
“Pare de reclamar, se vai fazer algo legal, então se exiba até o fim... Haro, como está à condição dessa garota?”
“Ela não bebeu água do mar e sua respiração e pulso estão normais. Parece que ainda está em estado de choque, mas...”
Deitando a cabeça no colo de Haro, a jovem ficou em silêncio. No momento, parecia que seus olhos ligeiramente abertos recuperariam a luz da razão em breve, porém apenas escapar sem confrontar as coisas como elas eram, isso poderia ter sido uma sorte.
“Parece que lá ela não tem hematomas ou lacerações... Hmm? Isso...”
Para verificar a presença de ferimentos, Yatori, dividindo o trabalho com Haro e examinando o corpo da menina, teve sua atenção capturada por um anel colocado no dedo médio da menina. Era uma peça superior que também funcionava como um selo, porém em vez de uma mera sensação cara, o design folheado a ouro na base de prata era muito familiar.
“Não adianta, o bote não vai aguentar mais! Estou cortando a corda!”
Esse grito fez com que o pensamento de Yatori congelasse. Com a onda recebida no flanco parecendo ter sido um golpe final, o afundamento da nave-mãe já atingiu a faixa impossível de recuperação. De acordo com o seu dever, os marinheiros remanescentes em cima do barco que descia, executavam o rompimento do cabo de reboque, que se tornaria o trabalho para durar toda a vida. O barco que continha Ikuta e os outros teve sua conexão com a nave-mãe cortada e começou a se afastar.
“... Não me diga... Nós fomos os únicos que pudemos escapar?”
Agora, enquanto mordia o lábio com força e olhava para a forma da nave-mãe, que estava apenas esperando para ser completamente submersa, até mesmo Yatori, sendo quem era, tinha uma expressão abatida. No fundo, Matthew estava agitando seus membros e soltando um grito agudo.
“O-O que vamos fazer? Jogados bem no meio de um mar tempestuoso em um pequeno bote, vamos morrer assim!”
Torway prendeu os braços em pânico de Matthew atrás de suas costas e o segurou. Do outro lado, abraçando com força o corpo da garota inconsciente, Haro protestou com um fraco gemido.
“N-Nós vamos morrer, não vamos? A-Ainda há alguma——”
“... Faremos o que pudermos. Por enquanto, sobrevivemos à tempestade.”
Yatori disse isso com uma voz firme, como se estivesse dando instruções a todos, inclusive a ela mesma.
Concordando com isso, Ikuta, apesar de fungar, retomou suas palavras.
“Ah-choo! Como disse Yatori, deste ponto em diante é o domínio do acaso. Não há nada que possamos fazer até que a tempestade passe. Relaxe o máximo possível, e depois, vamos colocar Deus para trabalhar.”
Notas:
1. Shogi, também conhecido como xadrez japonês, é um jogo de estratégia de tabuleiro para dois jogadores.
2. Escrituras é homônimo de bom clima (seiten).
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