Capítulo 02.1: Tudo Calmo na Frente Oriental
Parecia que ela estava sendo engolida por uma escuridão fria, negra e sem fundo.
Não havia como resistir. Sendo sacudida pela corrente furiosa sem nenhum sentido de em cima ou para baixo, seus tímpanos guinchando e gritando com a pressão da água —— mas mais do que isso, a pressão do desespero esmagou seu coração. Encarar o terror da morte diante de seus olhos pela primeira vez desde o nascimento não é algo que poderia enfrentar com o poder da razão.
A força de seus braços e pernas se debatendo se exauriu rápido. Assim que aconteceu, uma luz brilhou.
Era possível ver algo vago vindo, viajando por um caminho reto que perfurou a escuridão. No início, seu braço foi agarrado —— de lá, seu corpo foi abraçado. A garota podia ouvir o som de um coração muito próximo. Ela só podia pensar que parecia que os dois pulsos, passando por sua pele se tocando, estavam sincronizando.
No desvanecimento de sua consciência, a jovem poderia dizer que a Morte estava estalando a língua e se distanciando enquanto seu corpo era envolvido em luz e calor——
“... Nnn...”
Crackle, crackle —— com o som de faíscas estourando, a jovem abriu os olhos.
Sua visão estava escura. Com uma pequena fogueira como única fonte de luz, no centro da luz laranja, silhuetas humanas emergiram. Um jovem bonito olhando ansioso para o fogo junto com um jovem rechonchudo cujos dentes batiam. Quando se virou ainda mais, havia uma mulher imponente com cabelos da mesma cor das chamas sentada na extremidade esquerda. A mulher estava abraçando seu parceiro, um espírito, que todos compartilhavam para se aquecer.
“... Ah! Você acordou?”
Com uma voz gentil perto de seu ouvido, a garota gradualmente percebeu que estava sendo mantida sentada. Havia uma sensação de seios macios em suas costas, e o calor estava sendo distribuído da pele em contato com a dela através das finas roupas íntimas.
“... Quem é você...?”
Ao ouvir sua voz, antes de qualquer coisa a ruiva —— Yatori levantou-se e logo em seguida ajoelhou-se em reverência.
“Você foi capaz de despertar, Sua Alteza, a Princesa... Por favor, não me permita nada além do privilégio de adorá-la dessa forma.”
Exceto Haro, que estava abraçando a jovem, os outros seguiram o exemplo de Yatori e baixaram a cabeça. Sendo respeitada por eles, a jovem também se lembrou, mais uma vez, de sua legítima posição.
“... Levantem a cabeça. Podem ignorar a etiqueta —— em que circunstâncias...”
“Ah, como deseja... Se me permite explicar de forma concisa, durante uma viagem de barco com destino ao local do Exame de Oficial Militar de Alto Grau, o Arquipélago de Hirgano, o barco que por acaso navegamos juntos encontrou uma tempestade e afundou. Os únicos que escaparam por pouco no bote salva-vidas fomos nós seis, incluindo Vossa Alteza. Mais importante, após cerca de dois dias à deriva, chegamos à costa de uma praia em algum lugar... Portanto, agora estamos vivendo em uma caverna subterrânea.”
Recebendo o relatório de Yatori, a jovem arregalou os olhos grandes e ficou em silêncio... Depois disso, ela levou vários minutos e organizou suas memórias, compensando as lacunas com as informações que ouviu há pouco.
“... Entendo, o navio... Então de fato não foi um sonho?”
A memória desagradável de ser engolida pela superfície do oceano escuro como breu foi trazida de volta, e seus ombros tremeram de repente. Dentro das roupas externas em camadas que usava, Haro, abraçando seu pequeno corpo, ansiosamente olhou para seu rosto de lado.
“Durante os dois dias de deriva, uma vez que o corpo de Vossa Alteza foi atingido pela constante chuva, sua temperatura corporal caiu de forma preocupante... Esta Haroma Bekkel e eu, Yatorishino Igsem, tivemos a honra de aquecer seu corpo com o calor do nosso corpo por sua vez. Estávamos cientes da nossa indelicadeza, contudo pela falta de outros métodos, peço perdão...”
“P-Perdão...!”
Quando Haro inclinou a cabeça envergonhada, a garota deu um sorriso irônico e balançou a cabeça.
“Agradeço de coração por sua gentileza. Com este corpo frágil, não tenho dúvidas de que poderia ter morrido de frio antes de acordar... Aliás, você acabou de se chamar Yatorishino Igsem.”
“Ah...”
“Já faz muito tempo. Visitei sua casa por ocasião da visita imperial junto ao imperador reinante. Já é uma história de oito anos atrás, certo?”
Com as poucas palavras que a garota falou sem rumo, Yatori ergueu a cabeça baixa sem pensar.
“... Ainda pode se lembrar? Naquela época, Vossa Alteza tinha acabado de completar quatro anos de idade...”
“Contando tradicionalmente¹, você tinha 10 anos. Você percebeu que eu estava me sentindo irritada porque minha mão não alcançava um prato e pegou doces assados da mesa para mim. Também reconheceu minha aparência?”
Mesmo assim, a própria garota sabia que aquela poderia ser uma história injustificável. Yatori sorriu vagamente e respondeu.
“Comparado àquela época, Vossa Alteza excedeu minha imaginação e cresceu esplendidamente, então... Seu cabelo dourado e o anel gravado Katjvanmaninik², se tivesse sido negligente em algum aspecto, mesmo que fosse um destes, não poderia ter certeza.”
Dito isso, a garota puxou a mão esquerda de uma abertura nas roupas externas que usava em camadas junto com Haro. O que estava encaixado em seu dedo foi um anel revestido com um desenho da Árvore do Espírito Eterno, que servia como símbolo do Império Katjvarna.
“... De fato. Sou a terceira princesa imperial do atual Império Katjvarna, Chamille Kitra Katjvanmaninik.”
Exceto Yatori, que estava meio convencida, os outros pareciam perceber que a existência diante de seus olhos era nobreza com uma auto apresentação vinda da boca da própria pessoa. Depois de um silêncio digno, o primeiro a iniciar a conversa foi Torway.
“... Eu sou Torway Remeon. É minha primeira vez encontrando-a, Sua Alteza, Princesa Chamille.”
“Hmm, você é o mais jovem dos Remeons. Também ouvi rumores sobre sua pessoa.”
“É uma honra. Se isso te agrada, poderia me permitir apenas uma pergunta...”
Sem esperar o fim da proposta de Torway, Sua Alteza, a Princesa, começou a responder em tom firme.
“Se for o motivo de eu embarcar no mesmo navio que todos, responderei sem ser perguntada. Perante o agravamento do estado de guerra com Kioka, como extensão da Família Imperial, vim conhecer os rostos dos jovens preocupados com o futuro desta nação. Também é um incentivo para quem faz o teste. Não é nada mais nem menos do que isso.”
“Mas, algum oficial militar acompanhante ou...?”
“Não termine sua pergunta. É óbvio que afundaram no fundo do oceano junto com o navio.”
De alguma forma, havia uma obstinação no tom de Sua Alteza, Chamille —— que antecipou e respondeu à pergunta —— que não permitiu que Torway a desafiasse... Mas se houvesse escoltas, era preocupante que não vissem ninguém próximo a princesa, tanto quando se encontraram a bordo como quando ela veio para o convés. Torway manteve essa dúvida dentro de seu peito por enquanto.
“Eu sou chamado, Matthew Tetdrich. Vossa Alteza, a Princesa, também me permita algumas palavras, se...”
Embora seu corpo bem carnudo, agarrado com força por uma camisa molhada, estivesse tremendo, Matthew timidamente interrompeu a conversa. O olhar de Sua Alteza, a Princesa, voltou-se para o jovem.
“Tetdrich... Esse é uma linhagem a qual foi confiado à Unidade de Posicionamento da Ilha Ebdorch, na parte sudoeste do Império. Aprendi seu nome também. Se há algo que gostaria de perguntar, faça como desejar, Matthew Tetdrich.”
Yatori, que estava ao lado dela, admirava Sua Alteza, a Princesa, que havia dito com toda fluência um resumo da Família Tetdrich, por seu amplo conhecimento. Do outro lado, começando a se aproximar, o próprio Matthew, ao que parecia sem tempo para perceber que havia conhecido alguém que conhecia seu nome de família, sufocou levemente um apelo de seus lábios roxos descoloridos.
“S-Se seu corpo estiver s-suficientemente aquecido, p-poderia devolver a camada mais externa, v-você está usando m-meu casaco...”
Ouvindo-o, Sua Alteza, a Princesa, então percebeu pela primeira vez que as vestimentas externas de todos naquela área foram emprestadas com o propósito de aquecê-la. Como era de se esperar, Haro, pensando que era imperdoável, em pânico conteve a garota tentando escapar de dentro das roupas em camadas que substituíam os cobertores.
“Kyaa... Você não deveria sair! Tanto a princesa quanto eu estamos apenas de roupa íntima. Yatori-san, devolva as roupas de Matthew para ele!”
Assentindo, Yatori recuperou o manto mais externo e o devolveu, bem seco, ao seu dono. Aproveitando-se disso, Matthew, envolto em um tecido superior e parecendo dedicar todo o seu esforço para não perder o calor do corpo, não disse mais nada desde então.
“Ah, a roupa da princesa também está quase toda seca... Então, ainda que seja um pouco difícil de fazer, seria bom que trocássemos de roupa?”
“Se for o seu desejo, então não nos importamos de dispensar os homens. Bem, porém há uma tempestade lá fora.”
Ante a imagem de Yatori falando coisas cruéis com um sorriso, o corpo de Matthew estremeceu violentamente por um motivo diferente do frio. Sua Alteza, a Princesa, recusou sua proposta —— o que não era um bom material para uma piada —— descendo do colo de Haro, enquanto vestia muitas roupas com uma prontidão inesperada, a princesa ficou no chão com suas próprias pernas pela primeira vez em dois dias.
“Umm... Não me sinto mal. Me pergunto se é porque aqueceram meu corpo.”
“Isso é ótimo, contudo por enquanto, por favor, permaneça próxima do fogo. Nessas condições, se Vossa Alteza apanhar um resfriado ou algo semelhante, nada poderá ser feito, nem mesmo por nós.”
Sua Alteza, a Princesa, aceitou obediente a petição de Yatori, que a solicitou com educação, contudo em tom firme. Já que sentar no chão nua significava que sua parte inferior das costas esfriaria, ela sentou-se no colo de Haro no final.
Eles cercaram a fogueira em silêncio por um tempo, no entanto Sua Alteza, a Princesa, de repente abriu a boca com um rosto como se tivesse sido atingida por um raio.
“... É verdade. Será que, no momento que o navio afundou, a pessoa que me salvou quando fui atirada ao oceano está entre nós? Não há dúvida de que todos são os benfeitores da minha vida, porém gostaria de expressar meus agradecimentos a essa pessoa em particular. Venha para frente.”
“... Por favor, espere um momento.”
Levantando-se, Yatori saiu de seu círculo ao redor da fogueira e entrou nas profundezas da caverna. Quando sua figura desapareceu, o som de um objeto pesado e mole sendo chutado ecoou acompanhado por um grito.
“Acorde, Ikuta. É um chamado de Sua Alteza, a Princesa.”
“... Faça com que remarque. Para me encontrar com uma pessoa sem hora marcada... Oof.”
O mesmo som e grito ecoaram três vezes. Quanto a saber se a provação finalmente havia acabado, um jovem com a mão presa ao quadril como um velho se preocupando com dores lombares, nu acima da cintura e levando um espírito da luz em uma bolsa, revelou sua forma.
“... Eu sou Ikuta Solork. Obrigado, Alteza, a Princesa... De bom humor?”
“Como... Então havia outra pessoa? Então, você é o único qu...?”
“Bem, foi o impulso do momento, ou devo dizer, era a pessoa certa na hora certa... Já que era o único portador de um espírito da luz...”
Vestindo-se formalmente com uma camisa entregue a ele por Haro, Ikuta, em um gesto bastante inadequado, fez uma reverência a Sua Alteza, Chamille. Embora na verdade, fosse apenas ele sendo chutado por trás por Yatori.
“Entendo. Em qualquer caso, agradeço, Ikuta Solork. E também seu parceiro espírito da luz. Depois de voltar em segurança para a capital, vou providenciar a devida compensação em relação aos seus bravos feitos.”
Kusu levantou a cabeça de dentro da bolsa. No entanto, Ikuta estava sentado de pernas cruzadas no momento.
“Então, é melhor se puder retornar com segurança, não é... De alguma forma...”
“Ikuta. Pare de falar de uma forma que agite a ansiedade sem sentido.”
Yatori aconselhou em voz baixa. Porém, foi depois que a ansiedade do companheiro já estava agitada.
“... Quer dizer que existe a possibilidade de não retornarmos?”
“Para nós, que não sabemos onde é esse lugar, é assim mesmo. Foi uma sorte podermos chegar à costa enquanto ainda vivos, contudo ainda assim fomos carregados por dois dias inteiros no meio de uma tempestade... Embora no caminho, eu vi o sol nascer no lado superior direito do curso do barco, então eu sei que fomos carregados para o nordeste.”
O tom de Ikuta era trivial, mas não havia nenhum aspecto no conteúdo que fosse encoberto com otimismo. Quando Sua Alteza, a Princesa, mergulhou no silêncio, Torway levantou-se para mudar a atmosfera, que havia se tornado bem mais pesada.
“Parece que o som da chuva está mais fraco. Também precisamos confirmar a localização atual, e se isso significa observar do lado de fora, talvez devêssemos ir agora. Ik-kun, se quiser, podemos ir juntos?”
“Esse apelido, você realmente não aprende...”
Mesmo enquanto resmungava, Ikuta se levantou com uma obediência surpreendente. Com cada um de seus espíritos armazenados em suas bolsas de quadril —— depois que Torway pegou sua própria bolsa além daquela —— os dois se alinharam e deixaram a caverna.
Parecia ser de manhã cedo, pois o céu já estava claro e a forte tempestade havia se enfraquecido para o grau de uma leve garoa. Afastando arbustos, Ikuta e Torway abriram caminho por uma região de floresta sem trilhas que se espalhava ao longo da praia. Durante isso, tiveram uma ligeira conversa.
“Obrigado por vir comigo. Para ser honesto, me perguntei se Ik-kun não acharia muito problemático.”
“Como o Matthew estava naquele estado de saúde e as meninas eram necessárias para a proteção da princesa, a escalação foi decidida pelo processo de eliminação, certo? Relaxo quando preciso relaxar, mas às vezes, quando relaxo, eu morro, então prefiro trabalhar.”
Era um argumento distorcido, contudo Torway nunca desgostou daquele personagem de Ikuta.
“Então, sobre Sua Alteza, a Princesa... Ik-kun, o que pensa?”
“Ainda que haja pontos suspeitos, acho melhor não fazer investigações estranhas. Na melhor das hipóteses, ficará preso em uma situação ruim.”
“Aw, direto ao cerne das coisas. Quando você falar comigo, não vai voltar com uma pitada de humor?”
“Deliberadamente aciono um interruptor. Mesmo que seja o homem engraçado aqui, Yatori³ não está comigo... Ah, eu encontrei algo bom.”
Ikuta, encontrando um objeto parecido com uma fruta pendurado em uma hera venenosa, o arrancou e jogou para Torway. Enquanto mordia sua própria parte, explicou.
“É a armadilha de insetos da planta de cântaro. Quando amadurece e passa a ser usado para atrair insetos, não é mais boa para consumo, porém se for antes de a boca se abrir, o líquido de dentro pode ser usado para beber. Tem um sabor doce surpreendente, então experimente.”
“... Ah, é mesmo. É ácido e delicioso.”
“Coloque um pouco na sua bolsa para mim. Isso vai nos ajudar a sobreviver até encontrarmos comida de verdade.”
Incapazes de colocar qualquer coisa em suas bocas fora da água criada pelo espírito da água de Haro, todos na caverna estavam sendo atormentados pela fome. Torway tirou satisfeito a bolsa de suas costas, pegou as armadilhas para insetos ao seu alcance e começou a guardá-los.
“No entanto, você e Matthew são pessoas que admiro. Já que, mesmo quando o navio em que embarcamos afundou, os dois carregaram aquelas coisas pesadas com muito cuidado.”
O que Ikuta queria dizer era a coisa parecida com uma arma de ferro dentro da bolsa de Torway que claramente afirmava sua existência. O disparo de bolas de chumbo com a pressão do uso de uma bomba como a instalada no ‘túnel de vento’ no abdômen de seu parceiro, um espírito do vento, era a principal arma dos soldados modernos —— por assim dizer, era um rifle operado por ar.
“Haha. Considerei isso pouca coisa, no entanto pensei que considerar se seria ou não um fardo e jogá-lo fora poderia esperar até depois de embarcarmos no bote salva-vidas. Por ser, para mim, um candidato à Divisão de Artilheiros Aéreos, é o mais importante depois das vidas dos meus aliados e parceiro.”
“Embora seria ótimo se não tivéssemos circunstâncias em que teria de usá-lo. De qualquer forma, ahh estou com fome...”
Jogando fora as armadilhas para insetos cujo conteúdo estava seco, Ikuta e Torway se apressaram enquanto ouviam o coro dos insetos lá dentro. Enquanto olhavam para uma bússola para que pudessem se mover em linha reta e não se perder, eles emergiram em um gramado que interrompeu a região florestal depois de avançarem por 15 minutos.
“... Estamos ferrados.”
Quando seu campo de visão clareou de repente, Ikuta examinou a área e, portanto, emitiu a primeira queixa de sua boca. Chegando um pouco mais tarde, Torway, ao testemunhar a mesma cena, ficou sem palavras.
Não havia nada de surpreendente em relação ao terreno. Estendendo-se consideravelmente de leste a oeste, um campo aberto com algumas ondulações se espalhava de forma ininterrupta. No entanto, no terreno no lado oeste que deveriam seguir de volta —— além de uma cadeia de montanhas e colinas naturais, ‘outra coisa’ permaneceu como um obstáculo adicional.
“... Não tem jeito... Quero dizer, esse é o lado oeste... Não importa o quanto tenhamos sido carregados, isso é...”
Incluso Torway, que tinha uma compostura rivalizando com a de Yatori até agora, não conseguiu suprimir o tremor de sua voz desta vez. Exibidos em sua visão estavam emaranhados de arame farpado perpendicularmente à linha da costa que dividia o campo aberto em dois, e dentro deles, separados por distâncias fixas e pontilhando a área uma a uma, torres destinadas à vigilância. Do mais próximo, podia até ver as figuras de soldados de verdade entrando e saindo.
“... De alguma forma, não parece uma ilusão. A fronteira ‘oriental’ do Império Katjvarna parece estar no ‘lado ocidental’ daqui. O que, resumindo, significa...”
Em todo caso, para não serem encontrados pelos soldados da guarda, os dois se esconderam nas sombras das árvores. Primeiros três cliques de sua língua. Então bufou um único suspiro, misturado com resignação até que estava satisfeito, e——
“Este lugar já é território da República de Kioka... É lamentável, entretanto parece que caímos no inferno, e por uma diferença tênue como papel.”
Ikuta Solork descreveu uma realidade semelhante ao seu pesadelo pessoal com uma metáfora bastante simples.
Devido ao relatório dado por Ikuta e Torway quando retornaram, a atmosfera de dentro da caverna, longe de ficar mais leve, ao invés disso acolheu um aumento na pressão para algo semelhante ao chumbo.
“... Que... Pensar que fomos transportados para o outro lado da fronteira nacional.”
Haro murmurou com o rosto pálido. Matthew, que por fim aqueceu seu corpo, também soltou um grito.
“Droga... Como pode ser assim? Bem quando pensei que tínhamos sobrevivido...”
Independentemente de serem boas ou ruins, as palavras de Matthew esboçavam os verdadeiros sentimentos de todos. Até a grande Yatori ficou em silêncio como se fosse necessário repensar suas palavras de encorajamento. Antes deste, Ikuta reconheceu as circunstâncias.
“Como ficou assim, as opções que podemos selecionar de forma ativa são limitadas. Portanto, antes de qualquer coisa, em relação a esse ponto, acho que é sábio para todos nós estabelecermos um objetivo comum.”
Sem esperar por uma resposta, Ikuta ergueu os dedos indicadores direito e esquerdo e os ergueu para que pudessem ser vistos por todos.
“O primeiro, render-se ao Exército de Kioka e solicitar a recepção como prisioneiros de guerra. Bem, é confiável até certo ponto.”
Um silêncio pesado encheu o espaço apertado. Não havia uma pessoa entre eles atraída por essa opção.
“A segunda, cruzar a fronteira nacional e retornar ao Império com nossa própria força. Esta é uma grande aposta, não?”
Falar era fácil. Quando consideraram as dificuldades de colocá-lo em ação, ninguém poderia dar seu apoio tão facilmente.
Depois de uma pausa não breve para consideração, parecendo estar falando um tanto tímido, Matthew abriu a boca.
“S-Se nos tornarmos prisioneiros de guerra, com o tratado de guerra, nossa segurança está garantida. Claro, podemos ser confinados, mas se esperarmos um pouco, não seremos capazes de retornar ao Império por meio de uma troca de prisioneiros...?”
Em vez de uma visão baseada na realidade, foi uma observação desejosa. Yatori o abateu, no entanto.
“Ainda assim, não é muito otimista? Acho que até gente sem autoconsciência está entre nós, porém no momento somos cadetes de oficiais militares de alto nível carregando o futuro do Exército Imperial, certo? Apenas isso é razão suficiente da parte de Kioka para não querer nos mandar de volta... Mesmo se ignorar esse ponto —— e isso incluindo eu —— entre nós, há muitas pessoas que podem servir como material para um intercâmbio diplomático.”
“É verdade, não é? Sem sequer mencionar Sua Alteza a Princesa, há Yatori-san, um descendente da Família Igsem, e eu, um descendente da Família Remeon... Sob qualquer circunstância, preços altos seriam fixados para nós três como prisioneiros. Digamos por enquanto que podemos retornar, quanta compensação será necessária?”
“Meu Deus, pessoas com preços altos em suas vidas são de fato uma merda, não é? Não podemos nem mesmo proteger nossos interesses próprios como queremos.”
Nenhuma pessoa teve a compostura para responder ao comentário cínico que Ikuta proferiu com uma expressão perplexa.
“Bom, em poucas palavras é isto, meu amigo Matthew. Mesmo que nos tornemos prisioneiros de guerra neste lugar, não seremos devolvidos tão de forma tão fácil ao nosso país, e digamos que o tenhamos devolvido, então o custo seria grande para nós. E você deve imaginar o quão insignificantes nos sentiríamos, entre outras coisas, quando voltarmos ao nosso país... Além do mais, se escolhermos essa opção, só podemos esperar que o povo de Kioka não ache a fama da Família Tetdrich como uma informação interessante, certo?”
Chegando a esse ponto, não havia como escapar da dureza do sarcasmo das palavras de Ikuta. Matthew segurou o rosto e agonizou, contudo, no momento seguinte, um rugido soou através da caverna como se para afastar aquelas preocupações.
“Prisioneiros de guerra e coisas do gênero —— isso não é uma piada!”
Sua Alteza, a Princesa Chamille, fazendo bem em se levantar vigorosamente, gritou com um olhar ameaçador o suficiente para sacudir a chama do fogo aberto. Mesmo quando olhares surpresos se reuniram sobre sua pessoa, a jovem ainda não afrouxou o tom.
“Não há tempo para ficar preso em um lugar como este! Devo voltar o mais rápido possível! Esqueça os soldados da guarda —— atravesse a fronteira usando todos os meios necessários! Vocês, ouçam, em caso de nosso sucesso, qualquer recompensa —— mmph!”
Naquele momento, indelicado ao extremo, dois dedos pressionaram por sobre os lábios da princesa cansada. Enquanto os outros presentes ficavam perplexos, Ikuta olhava para a nobre diante de seus olhos com uma expressão terrivelmente fria.
“Fique quieta, Princesa. Não importa o quanto fale e balance uma recompensa extravagante na frente de nossos narizes, não há como tornar o impossível possível. Esse grau de razão é algo que gostaria que aprendesse com a história. Isto é, de nossa história de repetir as mesmas coisas em um grau doentio.”
“——C-Como...?”
Tendo o chamado o benfeitor de sua vida, a princesa ignorou sua grosseria desavergonhada até agora, entretanto ainda assim, ela estava sem palavras com esse desprezo. Já que escalou mais alto do que poderia suportar, a jovem não soube o que dizer de volta em um primeiro momento. No final, não precisou dizer nada. Como Yatori se interpôs entre os dois, torceu o braço de Ikuta para cima e empurrou seu corpo para o chão sem aviso.
“——Vossa Alteza, esta coisa cometeu uma irreverência grave. Pela minha palavra, ele não falará de tal maneira pela segunda vez então, poderia mostrá-lo alguma misericórdia. Tendo em vista o serviço desta coisa no momento do naufrágio do navio.”
Embora Yatori usasse força suficiente para fazer seus ossos rangerem e suas juntas produzirem um som desagradável de trituração, Yatori implorou perdão com uma voz sem esforço. Com seu poder aterrorizante, a princesa esqueceu sua fúria e apenas balançou a cabeça.
“Está bem... A verdade é que, parece que me faltou compostura também...”
Ikuta, tendo recebido o perdão, foi por fim liberado de sua técnica de defesa. O jovem se levantou sem gemer nenhuma vez, mas estava segurando o ombro torto e parecia estar sofrendo uma dor considerável.
“Você refletiu, não é? Depois de agradecer a generosidade de Sua Alteza, vá esfriar um pouco a cabeça lá fora.”
“Entendido.”
Deixando para trás uma resposta que não sugeria que tivesse refletido, Ikuta deixou a caverna junto com Kusu. Quando sua figura desapareceu do lado de fora, Yatori se virou para todos os restantes e fez uma única proposta.
“Seja qual for as opções que tivermos, não há sentido em debatê-lo em nosso estado atual de julgamento. É impossível tentar uma discussão construtiva enquanto estamos com fome. Por enquanto, que tal priorizar nossa sobrevivência imediata e coletar alimentos?”
“... Sim, concordo. Se pudermos encher nossos estômagos, com certeza um bom plano virá à mente.”
Seguindo Torway, Haro e Matthew também concordaram um por um. O último remanescente, Sua Alteza, Princesa Chamille, com os olhos intensos da garota de cabelo flamejante na frente dela, não teve outra escolha a não ser assentir.
Mandado para fora da caverna, Ikuta começou um suprimento de comida para satisfazer sua fome, mesmo sem ser induzido por outra pessoa. Ele parecia torcido na superfície, no entanto, fundamentalmente, estava apenas se movendo de acordo com os três desejos principais e seus princípios de comportamento eram simples.
“Hmm... Nozes de palmeira cohune com certeza são difíceis de colher sem uma ferramenta...”
Palmeiras carregadas de nozes estavam aparecendo aqui e ali, porém Ikuta as deixou por enquanto e olhou para o chão. Quando concentrou os olhos com intensidade, dentro do mato úmido, as criaturas vivas da floresta, tendo saudado a manhã, estavam se movendo.
“Ah, ei, serpente-san ali, fique quieta e se transforme em carne para o meu prato, ok? Wah, o quê, você é comprida! E-E-Então é uma píton-sama? Não, desculpe, não foi nada.”
Observado de forma atenciosa por uma presa de tamanho inesperado, Ikuta se retirou desanimado. Ikuta não tinha a coragem para lutar com uma serpente da classe de três metros. Usar uma cobra no pescoço, entre outras coisas, não era considerado muito na moda.
“Em tempos como este, talvez deva seguir os princípios cruéis da Mãe Natureza e buscar coisas fracas em vez de algo maior... Oh, encontrei um gafanhoto. Tudo bem, se fritá-lo para comer, vai ter um cheiro muito bom...”
“Isso é bom apenas para nós, no entanto. Comer insetos é uma culinária de classe baixa, então Sua Alteza, a Princesa, com certeza o rejeitará.”
Enquanto continuava perseguindo os gafanhotos de quatro, a voz de sua amiga, que não há muito tempo atrás torceu impiedosamente seu ombro até o limite, soou por trás. Ikuta continuou sua aquisição sem se virar, mas Yatori continuou falando apesar de tudo.
“Aquele caso anterior não era muito típico seu. Mesmo que cuspa sarcasmo tão simples quanto respira, aquele que nunca faria isso sério seria Ikuta Solork, certo?”
“Em vez de ser sempre consistente, é mais encantador para um personagem ficar agitado de vez em quando.”
“Ainda se for esse o caso, não podemos ter seu verdadeiro caráter exposto aqui, podemos? Mostre-se realizando uma ação sólida e composta durante um urgente estado de emergência. Não há outro recurso tão eficaz quanto esse, sabe.”
Estranhamente, a troca de palavras com Yatori na liderança parou por aí. Lá, com um feixe de gafanhotos em uma das mãos e de costas para a companheira, Ikuta começou a falar, enfático.
“Mesmo assim, estou refletindo, sabe. Eu tinha o conhecimento prévio de que ela era nobre, contudo não pensei que ser perturbado por alguém na minha frente me faria sentir tão irritado.”
“Foi o que pensei... Então você não pode perdoar uma pessoa da classe governante se comportando de forma pouco inteligente?”
“Ainda que eu devesse ter desistido há muito tempo. Nada aconteceria mesmo se não permitisse.”
Ikuta deu um suspiro autodepreciativo. Yatori abriu a boca após escolher um pouco as palavras.
“... É uma maneira um tanto irreverente de dizer, mas o comportamento de Sua Alteza, Chamille, antes de sugerir se a Família Imperial é assim ou daquilo, é adequado para sua idade. Não, apenas não explodir em lágrimas com essas circunstâncias é uma coisa bastante considerável, não acha?”
“Certo, é isso. Para alguém como eu, apenas dizer que falei com a realeza são os melhores dois terços de mim. Ah, aliás, se tiver uma faca, pode me emprestar?”
Quando Ikuta se virou agachado, Yatori, que estava ali, sem perceber, armou-se com o equipamento sem que suas roupas ficassem nem um pouco desarrumadas. Ela usava um sabre no quadril direito e no esquerdo, um gauche principal4.
Esta foi a postura de espadachim de duas mãos que se tornou a razão para a famosa rivalidade entre “Igsem da Lâmina, Remeon da Bala”. Como o rifle de ar era para Torway, essas espadas eram para ela a próxima coisa mais preciosa depois de sua vida —— o objeto de seu orgulho.
“Se você trincar a lâmina, vou matá-lo.”
Mesmo assim, Yatori removeu com extrema facilidade o gauche principal que era metade daquele orgulho de seu quadril e o concedeu a Ikuta. Claro, não permitiria isso com qualquer pessoa. Porém, no que diz respeito à força de sua relação de confiança mútua, houve partes que de alguma forma ultrapassaram o entendimento das outras pessoas.
“Então todos estão reunidos. Bem, então, por favor, relate cada um suas colheitas.”
Quando o sol que estava acima do horizonte apareceu logo acima, todas as seis pessoas se reuniram em frente à caverna e contribuíram com os resultados de sua busca por comida. Flora e fauna de cores e formas deliciosas estavam alinhadas na grama.
“Umm, como não sou muito boa em perseguir presas que se movem, tentei coletar enquanto focava em espécies de frutas e cogumelos. Para cogumelos, com o suprimento de Boletales5 como meu foco, juntei uns grandes e recheados, mas as frutas eram mais problemáticas e... No início, pensei que poderia encontrar bananas ou mamões, mas na verdade essas foram as únicas coisas que pude colher.”
O que Haro, dizendo com um sorriso um tanto irônico, estava apontando eram frutas parecidas com pimentões laranja. Havia facilmente o suficiente para o número de pessoas, e a casca vibrante e de cores quentes parecia na verdade deliciosa. Sua Alteza, a Princesa, tendo um interesse, pegou um do meio e olhou-o.
“Que tipo de fruta é essa? Não tinha visto uma antes...”
“Ahh, é caju, né? Bem, ao invés de ser intragável, não é cem vezes mais adequada? Afinal, são carboidratos preciosos.”
Todos, exceto a princesa, compartilharam um sorriso forçado. Ante sua expressão desconcertada, Haro acrescentou uma explicação.
“Princesa, você já comeu castanha de caju antes, certo? Isso faz parte da semente desta fruta.”
“Oh, castanha de caju? Se for esse o caso, parece ter uma expectativa para o sabor?”
Sem falar muito, Haro apenas sugeriu: “Dê uma mordida.”
Como dito, a princesa colocou a fruta laranja em sua boca, franziu a testa e enrijeceu no momento em que seus dentes morderam a superfície. Sua boca recuperou a liberdade em cerca de 30 segundos, após aparentemente alguma dificuldade em morder.
“Como foi, princesa?”
“... É dura... Viscosa... E, um tanto doce...”
Apesar de simples, as impressões acertaram em cheio. Sentindo pela primeira vez que a atmosfera da área relaxou um pouco, embora o clima ainda não tivesse mudado de todo, Torway assumiu o controle.
“Com isso, acho que é a minha vez a seguir. De preparo simples além de bom sabor, o caranguejo de coco. Embora só consegui pegar dois, já que é tarde.”
Duas criaturas enormes e agrupadas, semelhantes a caranguejos eremitas, estavam dispostas lado a lado na grama. Vozes de admiração surgiram espontaneamente para eles. Caranguejos-cocos se escondiam em tocas no solo durante a tarde. Para poder pegá-los, foi necessário encontrar a entrada da toca e desenterrá-los, mas não era uma tarefa fácil.
“... A meio do dia, aliás neste curto espaço de tempo, dois exemplares deste tamanho? Você não é tão ruim...”
Yatori observava Torway com os olhos ardentes, contudo a própria pessoa, constrangida por ser observada por Yatori, desviava os olhos e coçava repetidas vezes o rosto. Eles eram duas pessoas em comprimentos de onda bem diferentes.
“Então, sou a próxima... Foi uma luta acirrada, porém pretendo assumir a responsabilidade como quem sugeriu a ideia.”
Dando essa introdução com um largo sorriso, Yatori caminhou até um arbusto próximo e voltou arrastando sua própria presa para fora de lá, que ela havia escondido com o objetivo de uma surpresa.
Gritos de alegria aumentaram em seguida.
“Ehhh? I-Isso é um javali...? De jeito nenhum, como conseguiu com apenas uma pessoa...?”
“Um golpe de espada na nuca... Se olhar, esse é o único ferimento. Dito isso, você usou mesmo aquela espada...?”
Yatori, tendo reunido olhares de admiração para si mesma, ergueu o peito com orgulho. Para ela, que tinha estado em uma classe própria desde o início, quando recebeu essas duas coisas, admiração e respeito, quanto mais recebia, maior era sua recompensa inestimável.
“... O próximo sou eu, não é, como esperava...”
À primeira vista, Matthew estava desanimado. Olhando para a colheita que trouxe, não foi de admirar.
“Embora que também ocorreu a mim... O que é isso? Três pequenas nozes de palma —— tudo bem, mas a casca está quebrada e o suco de dentro vazou para fora, não é? Estou curioso para saber que tipo de método de colheita usou para que acabasse assim.”
“... Quando tentei colher nozes de palma, elas estavam em um lugar mais alto do que pensei. Já que não caíram quando joguei pedras, achei melhor tentar derrubá-las...”
Seu parceiro, o espírito do vento Tsuu, virou-se para Matthew da bolsa do quadril com olhos ansiosos. Mesmo que ninguém tenha dito nada, seus olhos e o cano do rifle de ar usado nas costas contaram toda a história de seu fracasso.
“... Meu amigo Matthew, toda ferramenta tem sua utilidade. Você não pode disparar sua arma para chegar a uma solução para tudo, entende. Esse tipo de tiroteio aleatório, sem meias palavras, é algo que os países do terceiro mundo fazem.”
“V-Você é a última pessoa de quem quero ouvir isso! Seu caso não é pior do que o meu?”
A piada perigosa escapou da boca de Ikuta, mas antes que alguém percebesse, o grito de Matthew mudou o alvo da conversa. Olhares frios se concentravam na colheita de Ikuta, que estava empilhada em uma montanha a seus pés.
“... Cigarras, gafanhotos, besouros de chifre longo, besouros necrófagos, percevejos gigantes da água, todo tipo de lagarta. Como devo dizer, é um conjunto deveras selvagem, não é...”
“B-Bom, os insetos são a fonte mais conveniente de proteína. Não acham?”
“E os sapos...? Até considerou a preservação e os secou —— bem, posso dar uma avaliação?”
Embora Ikuta tenha recebido uma avaliação muito delicada, a própria pessoa assobiava sem comer. Sua Alteza, a Princesa, olhando para a comida que ele reunia, perdeu um pouco de cor em seu rosto e um tanto tímida fez uma pergunta.
“V-Você, os come...? Ou seja, como devo dizer, são realmente insetos...?”
“Claro que como. Esta é minha opinião pessoal, mas insetos aquáticos gigantes são tão nojentos que eu preferia morrer.”
“Hey —— é aqui onde você deve suavizar as coisas! Sua Alteza, a Princesa, por favor, relaxe. Mesmo que não toque nos insetos, há flexibilidade na comida que temos.”
Sua Alteza, a princesa, deu um suspiro de alívio. Colocando os ingredientes que reuniram na frente dela, Haro se empolgou e arregaçou as mangas.
“Com isso, devemos preparar a comida agora? Mesmo tendo nos decidido já, não temos uma panela, então só podemos fritar. Se usarmos coisas como folhas e argila com inteligência, me pergunto se conseguiremos algo como cozinhar a vapor...?”
“Deixando de lado a parte que poderíamos comer agora, gostaria de fumar a carne de javali, porém soltar quantidades conspícuas de fumaça não é o melhor. Matthew, Torway, poderiam fazer seus parceiros sugarem a fumaça?”
Quando o cozimento começou sob a liderança de Haro e Yatori, cheiros agradáveis começaram a se espalhar pela caverna.
O desempenho de Haro, a quem foi confiada à cozinha, foi surpreendentemente bom, e quando o sol começou a se pôr, eles puderam almoçar tarde. Com a sensação de serem restaurados à vida, as seis pessoas encheram as bochechas com sua primeira refeição decente em cerca de dois dias.
“A carne está deliciosa! Você nem colocou temperos, mas quando mordo, sai um sabor forte...”
“Os cogumelos cozidos no vapor e o caranguejo de coco também são muito bons. Se fosse fazer alguma reclamação, seria que não há sal suficiente.”
“Se ferver a água do mar, poderá obtê-lo bem fácil, contudo se formos para a costa, ficaremos expostos no horizonte. Será ruim se formos encontrados por soldados de Kioka observando da fronteira nacional, então acho que vamos nos contentar com o sabor das matérias-primas aqui.”
Rodeando todos os tipos de itens do cardápio que eram colocados em folhas e alinhados no chão, eles continuaram um jantar harmonioso dentro de suas limitações. Passado algum tempo, Matthew, que de repente recuperou as energias com a comida à sua frente, começou a revelar sua visão positiva sobre seus fracassos até agora.
“Estive pensando o tempo todo, sabe, como temos dois atiradores aéreos aqui, não dá até pra cruzar a fronteira nacional dependendo de como a gente fizer? Já que deve haver algum lugar na longa fronteira onde sua guarda está com falta de pessoal.”
“Quando seu estômago está cheio, com certeza você se torna arrogante, não é? No entanto, apenas ouvindo a história de Ikuta —— talvez Kioka esteja concentrando seu curso de avanço para o lado do Império nesta área —— sua defesa parece bastante forte. Mesmo se caminharmos ao longo da fronteira nacional para um local onde sua vigilância se torne escassa, acho que as chances são de 10 para 1 de que seremos descobertos no caminho.”
Matthew, tendo recebido as críticas implacáveis de Yatori, cruzou os braços e cantarolou. Ao seu lado, Ikuta inseriu um comentário enquanto jogava gafanhotos grelhados em sua boca.
“Não podemos cruzar a fronteira nacional de forma leviana. Uma chance de sucesso nasce somente quando há um assistente tanto deste lado quanto do outro lado da linha. Não temos essa pessoa. Embora de preferência, se pudermos subornar um soldado, é provável que seria rápido, mas quanto a bens que podem virar dinheiro entre os pertences desses membros...”
Os olhos de Ikuta se voltaram para a mão de Sua Alteza, a Princesa, beliscando a carne do caranguejo do coco —— para ser exato, para o pequeno anel colocado em sua mão. Falando em objetos de valor simples, isso cabia na conta, porém ainda assim era demais.
“... Pode ser muito arriscado tentar subornar os soldados da República com um anel gravado abertamente com o brasão da Família Imperial. Se for esse o caso, ainda é realista vender as duas lâminas de Yatori. O artesanato é simples, no entanto é uma lâmina bem afiada, certo?”
“Oh, que olho especialista. Quem foi que o permitiu preparar um sapo com aquela lâmina afiada?”
“Foi você usando-a para derrubar um javali, não? Uma lâmina é a vida de um espadachim.”
Foi a desculpa hipócrita de Ikuta, contudo, de qualquer forma, não houve mudança no fato de ser insuficiente como material de suborno.
Com o assunto prestes a ser interrompido já que todos estavam pensando, Sua Alteza, a Princesa, que estivera em silêncio até agora, abriu a boca pela primeira vez.
“... Quer cruzemos a fronteira nacional por conta própria ou nos contentemos como prisioneiros de guerra. Todos têm contribuído com sabedoria há algum tempo e, quando surgir um plano em que podemos esperar uma chance adequada de sucesso, ou se nada surgir, quero que a decisão seja tomada de maneira adequada... A realidade é que nada muda, não importa o quanto grite. Confio no seu poder de julgamento e eficácia.”
Ouvindo seu discurso, todos olharam para a princesa com expressões de surpresa. Ikuta se arrependeu de suas palavras abusivas, porém também pareciam ter levado quem as ouviu a alguma reflexão. Em qualquer caso, que a princesa estivesse disposta a ceder era algo desejável. Visto que, de um ponto de vista genuíno, não importava que tipo de exigência irracional fosse feita por Sua Alteza, a Princesa, os outros tinham que obedecer.
“... Como Sua Alteza disse, não há necessidade de apressar a decisão, certo? Não podemos ser preguiçosos a respeito, contudo vamos tomar bastante tempo para decidir. Já que não podemos ser facilmente encontrados aqui, e a dificuldade de sobrevivência não é tão alta neste ambiente. Acho que está tudo bem se tivermos um ou dois dias para pensar.”
Todos concordaram com as palavras de Yatori e estabeleceram um longo período de carência para a consideração.
Quando o almoço acabou, havia uma atmosfera tranquila à sua maneira. Todos, tendo recuperado sua energia e resistência, estavam ao ar livre, cada um gastando seu tempo trabalhando para garantir e manter seu espaço de vida. No entanto —— já que era esse o caso, porque ela não tinha conhecimento de sobrevivência nem experiência, uma pessoa surgiu tendo apenas seus polegares para distrai-la.
“Yatori, para que isso é usado?”
Enquanto entrava e saía preguiçosamente da caverna, Sua Alteza, a Princesa Chamille conversava com sua parceira de cena, que continuava seu trabalho manual em silêncio. Sem parar as mãos que continuavam com o trabalho, Yatori virou apenas o rosto para sua parceira de cena. Seu parceiro, o espírito do fogo Shia, também enviou um olhar indiferente de sua bolsa no quadril.
“Sim, sua Majestade. Estou fazendo um dispositivo de alarme simples que usa nozes e barbante. Se o colocarmos ao nosso redor, quando alguém se aproximar, as nozes da árvore penduradas perto da entrada da caverna farão barulho e nos alertarão.”
A resposta de Yatori foi nítida e fluente, como a de um soldado. Quando a princesa tentou dizer “há algo em que eu possa ajudar?”, Yatori já havia terminado seu trabalho e se levantou vigorosamente.
“Então, vou instalar o produto acabado e voltar. Peço desculpas por forçar seu transtorno, porém, por favor, não saia além do alcance visível da caverna.”
Quando ela confirmou acenando com a cabeça, Yatori virou seu corpo satisfeita e desapareceu entre as árvores. Sua Alteza, a Princesa, tendo perdida mais uma vez seu lugar, aproximou-se de Haro, a única pessoa remanescente do mesmo sexo.
“Haro, o que está fazendo?”
“Ah, princesa. Hmm, agora estou fazendo uma pasta medicinal para inchaços com algumas plantas. Se for cautelosa com os ferimentos, pode evitar os inchaços, entretanto não pode fazer isso com relação a picadas de insetos.”
No topo de uma pedra com um centro afundado que ela deve ter escolhido por conta própria como um substituto para um recipiente, Haro estava moendo folhas, raízes e coisas do gênero. Seu parceiro, o espírito da água Miru, estava de pé na beira da pedra e, por vezes, derramava água do “bico de água” em seu torso, ajudando Haro a fazer uma pasta lisa.
“Existe algo que possa fazer para ajudar?”
“Hã? Não, não, digo... Para tomar suas mãos emprestadas, princesa! Continue descansando!”
“E-Entendo.”
Impelida pela intensidade de Haro, que estava sacudindo a cabeça com nervosismo, Sua Alteza, a Princesa, sem conhecimento nem experiência em mãos, retirou-se incapaz de dizer qualquer coisa.
Algo que até eu posso fazer —— enquanto pensava, mudou seu olhar para outro lugar.
“Oi, Torway. Aquele rifle de ar, o cano não é um pouco longo demais?”
“Hmm… É porque quero mirar com precisão o mais longe possível, e não posso com um cano mais curto do que esse. Embora se fosse um soldado da linha de frente, que teria que atirar enquanto avança, como Maa-kun, então um mais curto seria melhor.”
Tsuu e Safi, os dois espíritos do vento, estavam enviando ar fresco e sugando a fumaça para controlando o fogo aberto. Por ali, Matthew e Torway seguravam seus atiradores aéreos nas mãos.
“... Hmm.”
Mesmo aqui, ela não sentia que poderia forçar sua entrada. Depois de hesitar e considerar, a jovem escolheu relutante Ikuta Solork, que estava sentado um pouco afastado da entrada da caverna.
“... Solork. Se estiver fazendo algo, posso ajudá-lo?”
O fato de chamá-lo apenas pelo sobrenome, e não pelo primeiro nome, expressava seu estado mental complexo. Todavia então, a pessoa que foi chamada, sem uma indicação de que percebeu, continuou seu trabalho manual sem desviar o olhar.
“Nn... Vai me dar uma mão? Estou tecendo essas vinhas assim.”
Quando ela olhou para suas mãos, ele tricotou vinhas resistentes e fez algum tipo de objeto tecido. Concluindo por uma armadilha de animal ou algo assim, Sua Alteza, a Princesa, aprendeu por imitação e participou do trabalho.
“Certo, certo, assim. Não há realmente necessidade de torná-lo bonito.”
“Entendo, pode deixar.”
Foi sua primeira experiência fazendo algo com as próprias mãos, contudo depois que entendeu o truque, a tarefa não foi tão difícil. Enquanto movia as mãos sobre o objeto em silêncio, sem qualquer conversa, a princesa dava olhares repentinos e furtivos para o rosto de Ikuta.
Ikuta é um homem indiferente, pensou a jovem a princípio. Considerando aquelas observações precipitadas de antes, e que me deixou ajudar com o trabalho, eu me pergunto se ele não diferencia de forma alguma os status sociais.
“Suas mãos pararam de se mover.”
Finalmente, a franqueza de até mesmo dar esse lembrete. A princesa, sem vergonha, teceu com avidez as vinhas. Depois de cerca de 10 minutos, o trabalho de todo o coração deu certo e o que os dois estavam fazendo foi concluído.
“... Solork, o que é isso? Não parece que é grande o suficiente para uma rede.”
“É um item essencial para o estilo de vida humano, muito mais do que uma rede. Quer tentar usá-lo?”
Propondo-a e se levantando, Ikuta abriu um espaço adequado, escolheu duas árvores em pé e estendeu as vinhas entrelaçadas entre elas como uma teia de aranha. Olhando para o objeto preparado, acenou com a cabeça com satisfação.
“É um artesanato muito bom... Bem, vá em frente.”
“’Vá em frente’... Você diz, mas——”
Ser instigada estava bem, mas isso era comparável a uma situação em que nada poderia ser feito desde que Sua Alteza, a princesa, não sabia para que a coisa era usada. Enquanto ficava parada com uma expressão confusa, Ikuta tomou a iniciativa e saiu antes dela.
“Coloque seus quadris um pouco para dentro. Você usa assim, viu?”
Ikuta colocou seus quadris nas trepadeiras, e usando-os como um ponto de articulação para girar seu corpo, virou de lado com seu corpo balançando entre as árvores.
Observando aquela figura, Sua Alteza, a Princesa, por fim esclarecida sobre para que era usada, pensou no tempo e no trabalho que foi gasto e pendurou seus ombros.
“... Uma cama, certo?”
“É uma coisa chamada cama suspensa da Marinha, ou seja, uma rede. Quando se acostuma, fica bem confortável.”
Disse Ikuta enquanto escalava habilmente usando movimentos invertidos de quando subiu. Ikuta recomendou a Sua Alteza —— como descreveu —— esse ‘item essencial para um estilo de vida humano’, uma segunda vez. A princesa era uma princesa e, pensando que queria recuperar pelo menos o custo de sua ajuda, colocou um tanto quanto tímida os quadris na rede.
“Certo, certo, agora como se endireitando seu corpo com seus quadris como um eixo —— Oh, wow, você foi capaz de seguir em frente sem problemas, não foi?”
Ikuta bateu palmas para a princesa que de alguma forma conseguiu deitar. Ela se sentiu ridícula, mas experimentando o aconchego de uma rede pela primeira vez, não teve tempo de dizer nada a respeito.
“Embora os principiantes costumam cair na primeira vez ao subir, sua alteza é muito talentosa.”
“Você esperava que eu caísse agora...? P-Porém isso não me convém. Em vez, temo que possa cair. Não posso acreditar que realmente haja pessoas que possam dormir em algo assim.”
“Não fique tão nervosa, por favor, relaxe suas forças na posição mais estável. Em vez de colocar as folhas na terra nua e dormir, acho que perceberá como essa rede é muito mais confortável.”
Ela ajustou à posição do corpo e, no final de suas tribulações, quando encontrou uma posição que não era nada instável, a princesa tomou uma decisão e deixou escapar a tensão de seu corpo. Por um momento, sentiu como se pudesse virar, contudo a rede improvisada estava, para sua surpresa, levando seu peso corporal com segurança.
Quando superou o primeiro obstáculo, a compostura para apenas aproveitar as circunstâncias por fim nasceram na princesa. Em primeiro lugar, essa nova perspectiva era refrescante para si mesma. A princesa, bem educada, não teve a experiência de se deitar ao ar livre até agora.
O som agradável de folhas farfalhando em seu ouvido, e o azul do céu espreitando pelas brechas no teto verde eram lindos. Devido à boa ventilação de suas costas, ela não se importava muito com o calor. Depois de cair em um oceano escuro e abrir os olhos em uma caverna escura, parecia que em algum lugar em seu coração já endurecido, algo estava se desmanchando.
“... Entendo, isso não é ruim. Eu me sinto à vontade.”
“Não é? O começo de um único dia perfeito só pode vir a partir de uma cama confortável.”
A princesa estava pensando que era engraçado como Ikuta estufou o peito, no entanto, de repente, algo cortou o pedaço de céu azul para o qual estava olhando. De início, a jovem se perguntou se era um pássaro, contudo os movimentos eram lentos demais para serem.
“... Solork. A coisa estranha flutuando no céu, sabe o que é aquilo?”
Ouvindo essa pergunta, Ikuta olhou para o céu, mas no instante em que a mesma coisa apareceu em sua linha de visão, sua expressão imediatamente tornou-se sombria. A partir daí, seu braço direito empurrou com firmeza o peso do corpo para um lado da rede.
“O qu...”
Enquanto vigiava, o braço de Ikuta segurou com precisão o corpo da princesa, que estava prestes a tombar e cair. Negligenciando a garota atordoada, ele girou os calcanhares e começou a caminhar com pressa.
“Eles são a Unidade de Guerra Aérea de Kioka. Uma aeronave voando sem definir uma formação significa que sua missão é de reconhecimento ou patrulhamento. Seja o que for, se estiver em uma posição que possamos vê-los daqui, então significa que eles também podem nos ver. É uma pena, até porque você parecia estar entendendo as alegrias de uma rede, mas estaremos nos escondendo na caverna por um tempo.”
Dando sua aprovação após o fato, a princesa foi levada quase sem consentimento. Ela apenas se rendeu a essa audácia, no entanto quando estava sendo carregada por braços não particularmente fortes, uma memória foi trazida de volta sem querer.
De dentro de seus braços, Sua Alteza, Chamille, em silêncio espiou o rosto de Ikuta. Então, se lembrou —— que teve seu primeiro encontro com este homem dentro do oceano frio, dentro do único feixe de luz que estilhaçou o desespero e a escuridão.
Diante da existência da Unidade de Guerra Aérea, todos se esconderam dentro da caverna como medida de cautela, porém em pouco tempo o dirigível escondeu sua forma dentro de uma nuvem baixa e, aproximadamente ao mesmo tempo, chegou o pôr do sol. Porém, por um tempo após o ocorrido, a realidade de que estavam ‘sendo observados do céu’ provou ser uma grande pressão, e o número de palavras que falaram tornou-se reduzida.
Na madrugada daquele mesmo dia. Dentro da caverna, ecoando com sua respiração individual e inconsciente, Sua Alteza, a Princesa, abriu os olhos.
Além disso, não era porque o ronco de Matthew era alto. Seu sono não foi perturbado a tal ponto. Apesar de ser esse o caso, acordar foi o resultado de uma circunstância mais severa e urgente.
Para sua sorte, parecia que todos, incluindo os espíritos, estavam dormindo bem. A princesa saiu furtivamente sozinha.
“... Se estou aqui, então devo ficar bem.”
Ao chegar a um grupo de árvores bastante afastado da caverna, a princesa, olhando em volta ansiosa, reviu a área e, após hesitar um pouco, baixou o short e a roupa íntima. Desde que ela conheceu a experiência de aliviar-se ao ar livre uma vez em sua vida durante a tarde, esta foi apenas sua segunda vez. Ela não queria ficar nem considerar se acostumar com isso.
“... Ufa...”
Tomando seu tempo para terminar de urinar, Sua Alteza, a Princesa, tirou um lenço do bolso de seu casaco e o usou para enxugar. Sob condições normais, teria jogado o lenço fora após usá-lo, mas agora, era sua única folha preciosa. Precisaria lavá-lo com água e secá-lo.
Levantando a calcinha, sentindo-se miserável, quando estava prestes a se levantar...
“Ali, quem está aí?”
O som farfalhante de alguém empurrando o mato e, em seguida, a voz rouca e ecoante, fez o tempo parar para a princesa.
Recuando um pouco no tempo. O barulho de chocalho quando frutas duras colidiram acordou quatro dos cinco dentro da caverna que estavam em sono profundo, exceto Matthew.
“Todo mundo, por favor, acordem! Algo cruzou o fio que colocamos viagem!”
“... O quê?”
A voz de Yatori, suprimida a perfeição para não ecoar do lado de fora, junto com o despertar de Matthew, despertou a vigilância nos jovens já acordados. Um momento depois, uma lâmpada que irradiava uma fraca luz acendeu dentro da caverna. Uma luz branca diferente de uma chama —— era uma luz do espírito da luz Kusu, a quem Ikuta estivera abraçando enquanto dormia.
“... O-O quê? A princesa...?”
Haro esfregou freneticamente os olhos sonolentos e olhou ao redor da área, contudo a figura de Sua Alteza, Chamille, não estava em lugar nenhum. No momento em que perceberam esse fato, Yatori, Ikuta, Torway —— aqueles três se levantaram quase ao mesmo tempo.
“... Yatori, Torway, dois segundos. Preparem suas armas.”
Antes mesmo que Ikuta falasse, as duas espadas já estavam postas no quadril de Yatori, e Torway terminou de instalar o cano do rifle de ar no torso de seu parceiro, o espírito do vento Safi. Kusu e Shia também guardaram seus corpos em suas respectivas bolsas.
“Podemos ir a qualquer hora. No entanto, Ik-kun, você vai desarmado?”
“É a floresta à noite. Não há arma superior a um espírito de luz e, se não houver luz, seu atirador aéreo é inútil.”
“Quando olhei, o que se mexeu foi o segundo sensor da esquerda. Nosso oponente está bem à nossa esquerda quando sairmos da caverna.”
Haro e Matthew, ao contrário dos três que trocavam olhares de ciência do que falavam, não estavam acompanhando a mudança em sua situação. No entanto, entre o grupo de Yatori, as pessoas das quais se poderia esperar um desempenho adequado durante uma emergência, ninguém incitou as duas pessoas restantes depois de descobrir seu objetivo.
“Matthew, Haro. Se não voltarmos, por favor, optem por se tornar prisioneiro de guerra sem hesitação.”
Tomando as palavras curtas e severas de Yatori como um sinal, os três saíram correndo para fora da caverna.
Notas:
1. Método antigo de contagem da idade em que os recém-nascidos são considerados com um ano de idade, e os anos são adicionados a cada Ano Novo.
2. Katjvanmaninik está escrito como “Árvore do Espírito Eterno”; lido como “Katovanniniku (Katjvanmaninik).
3. Geralmente Ikuta e Yatori simulam membros de uma dupla de comédia que são conhecidos como homem hétero (tsukkomi) e o homem engraçado (bokke).
4. Gauche Principal é uma categoria de pequenas armas portáteis do final da Idade Média e do início da Renascença na Europa. Essas armas foram usadas como armas de mão inábil em conjunto com uma espada de uma mão, como um florete. Como o nome indica, eles foram projetados para aparar, ou defender, de forma mais eficaz do que uma simples forma de adaga, normalmente incorporando uma guarda mais ampla e, algumas outras características defensivas para melhor proteger a mão também.
5. Boletales são uma ordem de Agaricomycetes que contém mais de 1300 espécies com uma ampla variedade de corpos frutíferos.
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