terça-feira, 16 de novembro de 2021

Boukensha ni Naritai to Miyako ni Deteitta Musume ga S Rank ni Natteta — Volume 01 — Capítulo 12

Capítulo 12: Enquanto a Neve Derretia


Enquanto a neve derretia, deixando manchas no chão, duas figuras opostas balançaram suas espadas — uma com cabelo vermelho, a outra loira platinada. Eram Belgrieve e Sasha.

A primavera havia agraciado a vila de Turnera e, quando as flores da montanha desabrocharam todas de uma vez, as pilhas de neve derreteram, deixando manchas manchadas no solo. Brotos de trigo estavam começando a aparecer na neve, crescendo vigorosamente enquanto se aqueciam a luz do sol.

No momento em que a neve desaparecesse, os residentes de Turnera começariam logo em seguida a cuidar dos campos: o trigo seria debulhado, o solo seria revitalizado e as batatas seriam plantadas. Feito tudo isso, seria hora do festival da primavera. Cada agricultor estaria trabalhando duro para alongar seus corpos depois de não conseguir se mover no inverno.

Belgrieve também estava imerso em trabalhos de primavera quando a neve por fim derreteu o suficiente para limpar as estradas e Sasha o visitou. Antes que pudesse perguntar por que ela tinha vindo, Sasha abaixou a cabeça e pediu outra partida de treino — para a qual Belgrieve concordou com um sorriso irônico. Ele não perdeu seu treinamento em um único dia de inverno, contudo era difícil dizer que treinou até estar satisfeito. Uma parte sua queria se soltar pela primeira vez. O trabalho na fazenda e a esgrima usavam músculos diferentes.

Ambos os guerreiros balançaram suas espadas embainhadas. Os movimentos de Sasha eram muito mais refinados do que da última vez que haviam lutado, e cada golpe era muito mais pesado. Sasha mudou seu centro de gravidade mais com mais suavidade, de modo que balançava com menos frequência apenas com a força de seus braços.

No início, os dois pareciam estar bem pareados, no entanto aos poucos, Belgrieve foi empurrado para um canto. Isso não era típico dele, e começou a ficar cada vez mais acalorado.

“Hrr! Yah!”

“Gah!”

Um golpe de Sasha fez sua espada voar de suas mãos. Seu rosto se iluminou. No entanto, Belgrieve imediatamente estendeu a mão, agarrou seu pulso e torceu-o. Sasha largou a espada com um grito e, no momento em que ouviu-a, Belgrieve a soltou entrando em pânico.

“M-Me desculpe Sasha! Foi força do hábito... Você está ferida?”

Com os olhos marejados, Sasha balançou a cabeça. “Não, foi minha culpa... Como esperado do meu Mestre! O momento mais perigoso na batalha é quando abaixa a guarda pensando que venceu! E pensar que você facilitou de propósito comigo para me ensinar isso... Eu, Sasha Bordeaux, ainda tenho um longo caminho pela frente...”

“Não... Não, ouça, estava indo sério...”

“Da próxima vez, vou acertar um ataque sem baixar a guarda! Por favor, não fique desapontado comigo, Mestre!”

Sasha agarrou as mãos de Belgrieve com olhos suplicantes e marejados. Como essa garota pode ter uma imaginação tão forte? Belgrieve sorriu miseravelmente. Contudo sabia que seria derrotado por completo na próxima vez que lutassem, e essa seria, sem dúvida, a melhor maneira de dissipar suas ilusões.

Belgrieve convidou Sasha para entrar e serviu-lhe um pouco de chá. A garota tomou um gole da bebida perfumada e soltou um longo suspiro.

Oferecendo algumas passas, Belgrieve disse: “Bordeaux deve começar seu trabalho de primavera muito antes de Turnera.”

“Sim, toda a neve já derreteu e eles estão preparando os campos e debulhando o trigo lá. O número de monstros diminuiu um pouco, então tenho ajudado mais com o gerenciamento do que com o trabalho de aventureiro nos dias de hoje.”

“Estou feliz que esteja resolvido. Mas me pergunto por que há menos monstros.”

Sasha pareceu surpresa com essa afirmação. “Hã... Você não ouviu? O demônio à espreita perto de Orphen foi caçado. Foi graças a esse demônio que os monstros estavam agindo em larga escala.”

Entendo, então foi isso que aconteceu, pensou Belgrieve, aceitando tacitamente a explicação. Ele ficou surpreso ao ouvir que havia um demônio antes de lembrar as palavras da Dama do Inverno. Foram os demônios os seres que tentaram controlar o inverno? Segundo a lenda, não havia apenas um demônio. Poderia significar que os demônios irão reviver um após o outro? Este foi apenas o primeiro?

Alheio a suas reflexões, Sasha continuou tagarelando animada. “A equipe que montaram foi incrível! Estavam com Maria, a Matadora de Dragões, Dortos, a Lança de Prata, Cheborg, o Destruidor, e quem deu o golpe final foi ninguém menos que a própria Valquíria de Cabelos Negros, Angeline! Eu tinha certeza de que já tinha ouvido as notícias...”

Belgrieve ficou chocado. Não tinha imaginado que sua filha pudesse estar envolvida. Enquanto uma parte sua se sentia feliz e orgulhosa por seu nome estar lá com os gigantes que mesmo ele já tinha ouvido falar, outra parte não queria que Angeline corresse muito perigo. Acho que é isso que significa ser pai, pensou Belgrieve, acariciando a barba.

“Quase não recebemos entregas ou cartas no inverno... Tenho vergonha de dizer que só soube agora. Obrigado, Sasha.”

“O-Oh não, oh não... Deveria ter trazido um jornal então.”

“Não se preocupe. Essa garota deve estar voltando para casa se o número de monstros diminuiu... Então, quais assuntos teria comigo?”

“Oh, é verdade. Estou aqui em nome da minha irmã hoje. Devo entregar essa carta.”

Sasha apresentou uma carta, que foi endereçada a Hoffman.

Belgrieve inclinou a cabeça. “Isto é para o chefe da aldeia, não para mim...”

“Sim, verdade seja dita, há uma proposta para manter as estradas entre Bordeaux e Turnera.”

De acordo com Sasha, o festival de outono foi a primeira vez que Helvetica veio a Turnera, e ela ficou horrorizada com as estradas ruins que teve que atravessar para chegar lá. Como pode ser tão difícil viajar dentro do território de Bordeaux? Havia uma chance de que a vila ficasse isolada caso algo acontecesse. Além disso, o queijo e as conservas de frutas que provou durante o festival de outono eram de altíssima qualidade. Se as estradas fossem mantidas, seria muito mais eficiente vendê-las para fora e possível importar mais mercadorias para Turnera.

Ela tinha razão. Se as estradas estivessem um pouco melhores, talvez fosse possível enviar cartas e pacotes também no inverno. No entanto, essa não era uma questão que Belgrieve pudesse decidir. A carta era para Hoffman de qualquer maneira.

Belgrieve se levantou, a carta na mão. “Em qualquer caso, vamos ver o chefe.”

Hoffman estava arando um campo. Ele estava cantando uma canção de trabalho enquanto conduzia um burro com um arado.

“Hey, chefe!” Belgrieve gritou e Hoffman parou.

“Oh, Bell! E aí?”

“Um momento. Esta senhorita aqui é Sasha da Casa Bordeaux .” Belgrieve a apresentou.

“Meu nome é Sasha Bordeaux.” disse a garota com um ar educado. “Você é o chefe de Turnera? Vim aqui como uma mensageira de minha irmã mais velha, Helvetica Bordeaux.”

“Irmã da se-senhorita Bordeaux...? Peço desculpas por parecer tão—”

Sasha o deteve frenética, antes que pudesse se ajoelhar. “Não há necessidade! Estou bem, não se preocupe! Não vim aqui para jogar meu nome por aí!”

Belgrieve riu do espetáculo que ambos fizeram. “Chefe, isso está me incomodando, mas no geral não o vejo agir tão humilde.”

“Grr... Sou um caipira, o que devo fazer?” disse Hoffman, encolhendo seu grande corpo.

Sasha deu uma risadinha. Ela não parecia se gabar com plebeus, e nem mesmo suas irmãs. A casa de Bordeaux foi fundada por uma família que ganhou influência à moda antiga: eram os descendentes de pioneiros que derramaram suor com os fazendeiros para desenvolver as terras ao redor de Bordeaux. Parece que entrar para o ducado e ganhar um título de nobreza fez pouco para mudar sua natureza fundamental, e as meninas costumavam percorrer o território no intervalo entre seus deveres oficiais. Eles também ajudavam em algumas ocasiões os fazendeiros em seu trabalho, embora Turnera fosse um pouco longe, e só começaram a visitar há pouco tempo.

No entanto, apesar de seu lado rústico, os membros da casa se comportaram com elegância. A combinação desses aspectos tornou as meninas fáceis de conviver, mas difíceis de abordar, emprestando a elas um charme peculiar.

Insistindo que não poderia deixar a irmã da senhora de pé, Hoffman levou os dois até uma mesa em seu quintal. No canto do quintal, crianças pequenas cutucavam e batiam em uma pilha de neve com gravetos. Esses eram os netos de Hoffman.

“Oi, querida! Temos convidados! Traga o nosso melhor chá!” Hoffman gritou para dentro da casa e pediu a Sasha que se sentasse. Nuvens esfarrapadas fluíam pelo céu e, embora o vento ainda estivesse frio contra a pele, o sol estava agradável e quente.

Hoffman leu a carta e acenou com a cabeça. “Entendo, as estradas... Será ser uma grande ajuda.”

“Fico feliz em ouvir isso. E eu adoraria ter sua ajuda sobre o assunto.”

“Com prazer! Tudo bem pra você, Bell?”

Belgrieve tomou um gole de chá e acenou com a cabeça. “Não é um mau negócio. Porém é provável que tenhamos de reunir todos para conversar antes de tomar uma decisão.”

“Sim, está certo. Não gostaria de nenhuma briga! Senhorita Sasha, não acredito que vá encontrar ninguém contra a proposta, mas podemos enviar nossa resposta um pouco mais tarde?”

“Claro! Sem pressa!” Sasha deu um gole. “Oh, este chá é delicioso!”

“Você acha? Fizemos isso com as folhas obtidas em nosso humilde jardim! Adicionamos um pouco de flor de quiabo seca como o ingrediente secreto!”

Hoffman estava falando furioso como uma tempestade no momento em que Sasha o elogiou. Belgrieve sorriu e tomou um gole do chá — sem dúvida era bom. O próprio Belgrieve costumava preparar chá com folhas emprestadas, contudo ficou um pouco chocado ao saber que a flor de quiabo poderia fazer uma diferença tão grande.

Depois de uma conversa amigável, Sasha se despediu — parecia que Bordeaux estava ocupada no início da primavera. Quando partiu, Sasha apertou a mão de Belgrieve vigorosamente com olhos brilhantes.

“Pois bem, Mestre! Tenho que me desculpar! Da próxima vez, vou fazê-lo ficar sério contra mim!”

“Hum, Sasha... Estou te dizendo, e—”

“Fique bem! Que possamos nos encontrar uma vez mais!”

Ela galantemente saltou a bordo de seu cavalo e saiu correndo. Como era uma aventureira de Rank AA, ao que parecia não precisava de nenhum guarda.

Belgrieve suspirou. “É uma boa garota, mas...”

“Oi, Bell, vai ficar agitado por aqui! Vamos ter uma reunião esta noite! Ahahahahaha!”

Hoffman pareceu entusiasmado com a primeira oportunidade para a indústria desde a fundação de Turnera. Belgrieve roçou sua barba. Bem, vamos deixar isso para Hoffman e Kerry, ele pensou.

Belgrieve passou a tarde ensinando esgrima às crianças.


A carruagem balançou e sacudiu. Enquanto ainda havia neve aqui e ali, o ar estava cheio com a generosidade da primavera e folhagem fresca brotou dos lados do caminho.

A carruagem foi puxada por um cavalo solitário e Anessa agarrou as rédeas. No banco de trás, Angeline e Miriam estavam sentadas imprensadas entre as bagagens.

Mastigando frutas secas do sul, Miriam disse com alegria estampada: “O ar tem um gosto ótimo! É como se meu peito estivesse limpo.”

“Uh-huh, não é...? O ar está limpo em torno dessas partes.”

“Certo? Orphen estava um pouco enevoado... Talvez um lugar como este fosse bom para os pulmões daquela bruxa...” Miriam murmurou sem pensar, apenas para desviar os olhos um tanto cautelosa.

Angeline sorriu. “Merry realmente ama Maria, não é?”

“N-N-Não é nada disso! Não me importo com aquela morcega velha de jeito algum!”

“Hmm, vou deixar assim... Aqui, Anessa.” Angeline sorriu com malícia enquanto jogava um pedaço de fruta para a motorista.

“Oh? Obrigado, Ange. Parece que vai demorar um pouco. As estradas são ruins, então não podemos ir muito rápido.”

“Certo?” Miriam suspirou um pouco melancólica. “Contudo apenas relaxe. Não estamos com pressa.”

“Acho que sim... Ah, mas talvez Ange esteja com pressa.”

Angeline balançou a cabeça. “Não há nada para me segurar... Sem limite de tempo para estas férias, e estou me sentindo sossegada. Hehehe, papai nunca irá esperar me ver chegando...”

Um mês se passou desde que Angeline matou o demônio. Quando o demônio foi derrotado, a neve começou a derreter em Orphen, porém ainda seria espessa em Turnera. E embora Angeline quisesse voltar para casa naquele instante, ainda tinha o ombro machucado para se preocupar. Então decidiu esperar até que a neve derretesse. Na primeira chance que teve, Angeline comprou uma carroça e um cavalo com seu próprio dinheiro. Em seguida, o encheu de presentes, convidou Anessa e Miriam e, por fim, embarcou em seu grande retorno para casa.

Embora alguns monstros da classe Calamidade tenham aparecido desde então, os velhos veteranos lidaram com todos sem problemas. Eles eram apenas os sobreviventes do surto e, depois disso, Ange estava de volta aos velhos tempos de ficar sentada, esperando que um bom pedido chegasse. Os aventureiros que haviam partido estavam voltando aos poucos.

Os velhos camaradas de Lionel da capital chegaram. Não chegaram a tempo para a caça ao demônio, contudo foram capazes de participar da reforma da guilda com Dortos e Cheborg, ajudando muito a causa de Lionel. Eles ainda estavam em fase de julgamento, entretanto a guilda de aventureiros de Orphen, em vez de ser liderada por um mestre da guilda, estava mudando para resolver os problemas com um conselho. Ao fazer isso, a guilda de Orphen estava lentamente se ramificando das políticas da guilda central que giravam em torno de interesses adquiridos. No entanto, a guilda central estava exercendo um pouco de pressão e ainda havia uma verdadeira montanha de questões para resolver.

Não que Angeline tivesse muito interesse em nenhum desses assuntos agora. A ameaça a Orphen e seus arredores havia desaparecido. Ela podia ver Belgrieve sem reservas, e é tudo que importava.

Com isso dito, Angeline havia deixado Orphen cerca de oito dias atrás, passado por Bordeaux e estava agora na última etapa para Turnera. Ainda não havia ocorrido nenhum problema e pelo seu planejamento estaria lá dentro de um dia. Angeline se encostou em suas muitas caixas de coisas, as mãos cruzadas atrás das costas. O céu estava azul, o sol estava quente. Enquanto estava ficando sonolenta, se levantava toda vez que a carruagem quicava sobre uma pedra.

O vento preguiçoso carregava o cheiro da primavera, como se os brotos frescos tivessem transmitido seus tons verdes refrescantes à própria brisa.

“Hey, Ange, onde colocou a água de hortelã?”

“Hmm? Bem aqui.”

“Deixe-me tomar um pouco também, Merry.”

“Entendi. E você, Ange?”

“Estou bem...”

Miriam abriu uma garrafa de água embebida com folhas de hortelã picadas grosseiramente, deixando sua fragrância penetrante nos pulmões encher a carruagem. Então tomou um gole antes de passá-lo para Anessa, que bebeu um pouco.

Anessa soltou um suspiro profundo. “Assim que por fim vamos conhecer o pai de Ange, eh... Estou ansiosa por isso.”

“No entanto ‘Ogro Vermelho’ parece muito assustador... Talvez só seja gentil com Ange?” Miriam brincou.

Angeline franziu os lábios. “Meu pai não é tão mesquinho assim... É uma pessoa gentil com todos e muito forte também.”

“Haha, ele deve ser incrível para elogiá-lo tanto... Oh, whoa, ali.”

Havia uma garota em um cavalo cavalgando na direção oposta, então Anessa diminuiu a velocidade e mudou do centro para o lado da estrada. A garota acenou com a cabeça respeitosamente e estava prestes a passar quando algo deve ter chamado sua atenção na carruagem, quando deu meia-volta com o cavalo e cavalgou ao lado delas.

A garota as chamou com uma voz clara e valente. “Um momento do seu tempo, por favor! Sei que é rude falar estando em um cavalo, mas... Senhorita na carroça! Com seu esplêndido cabelo preto e olhos pretos... Por acaso você seria Angeline, a Valquíria de Cabelos Negros?”

Angeline acenou com a cabeça em dúvida. “Sim sou... Quem é você?”

A garota saltou do cavalo e se aproximou com um sorriso alegre.

“Oh, imaginei que seria o caso! Sou Sasha Bordeaux! Não posso te agradecer o suficiente por salvar minha irmã mais nova, Seren! E pensar que poderíamos nos encontrar aqui de todos os lugares...”

A garota era Sasha, e estava voltando de Turnera. Seus olhos brilharam quando ficou cara a cara com uma das pessoas que admirava.

No entanto, a expressão havia desaparecido do rosto de Angeline. “Irmã mais velha de Seren...?” murmurou.

“Sou eu! Eu te admiro como uma companheira aventureira—”

“Entendo... Então é você...”

“Perdão?”

Angeline saltou da carruagem, se aproximou de Sasha como um espectro vingativo, exalando uma quantidade terrível de pressão, espírito de luta e até um pouco de sede de sangue. Até Sasha, com suas habilidades como aventureira de Rank AA, deu um passo para trás em relação ao medo primordial.

“A-Angeline...? F-Fiz alguma coisa...”

“Você tem coragem de tentar se esquivar de mim e levar meu pai embora... Porém não pense que pode se tornar minha mãe tão fácil assim...”

“D-Do que está falando?”

“Não se faça de boba... Sei como tentou levar meu pai à força para o território de Bordeaux...”

“N-Não, isso é um mal-entendido! Essa era a outra irmã mais velha...”

“Há... Ahaha... Heh... Sem desculpas. Terei que verificar minuciosamente para ver se de fato pode entender o que torna o pai tão maravilhoso!”

“O-O que vai fazer comigo?”

Angeline agarrou Sasha pelo ombro e olhou em seu rosto. Ela tinha a aparência de uma divindade feroz, e Sasha não conseguiu evitar um fraco “Eek!” de escapar de seus lábios. Todos os aventureiros de Rank S eram tão assustadores?

Angeline abriu lentamente a boca. “Pergunta um... Qual é a comida favorita do meu pai?”

“Eep... Hã? C-Comida, não é? O prato favorito de Sir Belgrieve?”

“Sim... Depressa.”

“Não sei! Só tomamos chá juntos e nunca compartilhamos uma refeição!” Sasha gritou sua resposta e, de repente, Angeline estava zombando.

“Nem sabe disso...? Lembre-se bem. Meu pai gosta de carneiro cozido com framboesas. Um pouco salgado, com orégano seco para temperar... Você mergulha um pouco de pão seco na sopa e come... Também adoro. Além do—”

“Calma, idiota.” Anessa deu uma leve batida em sua cabeça.

Angeline se virou com os olhos estreitos. “O que? Estou ocupada...”

“Ouça-a, ok? Você não está fazendo sentido aqui.”

Angeline inclinou a cabeça, enquanto Miriam ria da carroça.

Com uma defesa desesperada, Sasha de alguma forma conseguiu esclarecer o mal-entendido. Angeline estava vermelha, mal-humorada por ter pulado a conclusão, enquanto Sasha se agachou, incapaz de se impedir de tremer. Anessa esfregou suas costas.

“Tudo bem? Ela se torna uma pessoa diferente no que diz respeito a seu pai...”

“S-S-Sim. De uma forma ou de outra...”

Sasha respirou fundo algumas vezes antes de por fim recuperar a compostura. Miriam ofereceu-a um pouco de água de menta. Quando seu aroma refrescante encheu sua garganta, Sasha abaixou a cabeça.

“Obrigado, já me acalmei.”

“Oh, não, somos nós que devemos nos desculpar por nossa idiota. Vamos, Ange. Pare de fazer beicinho e peça desculpas.”

Ange taciturnamente inclinou a cabeça. “Sinto muito...”

“O-Oh, não se preocupe, estou feliz por termos esclarecido esse mal-entendido...”

“Contudo você é uma aventureira, Sasha? Já ouvi falar de nobres que abandonaram o posto para se tornarem aventureiros, mas esta pode ser a primeira vez que encontrei uma aventureira que ainda é nobre.” observou Miriam. Sasha coçou a bochecha com timidez.

“Sim, no geral os nobres veem isso como uma profissão para pessoas humildes, afinal... Pessoas como eu são muito raras.”

“Seu rank é AA, certo? Não deve demorar muito para subir outro rank também.”

“Ainda tenho um longo caminho a percorrer! Só posso me considerar de primeira classe quando puder fazer Sir Belgrieve me levar a sério.”

“Belgrieve... Quer dizer o pai de Ange? Está aprendendo a espada com ele?”

Os olhos de Sasha brilharam. “Sim! Precisamente! O estimado pai de Ange, meu mestre, e o Ogro Vermelho Belgrieve! Sua habilidade com a espada é maravilhosa! Mesmo que sua perna direita seja uma prótese, não deixa que isso o atrapalhe — na verdade, usa seus movimentos irregulares a seu favor, todos concebidos por ele mesmo! Colocando todo o peso de seu corpo em sua espada, tornando-a rápida e pesada! Sem mencionar que é hábil na frente estratégica também! Quando eu o confrontei hoje cedo, Belgrieve facilitou comigo, e quando tirei sua espada de suas mãos e estava me sentindo embriagada pela vitória, ele se aproximou e me desarmou com as mãos vazias! Não baixe a guarda, mesmo quando a vitória estiver próxima! Aprendi uma lição maravilhosa hoje! Agora devo fazer o meu melhor para que o Mestre leve nosso treino a sério na próxima vez!”

Anessa parecia bastante desanimada com seu discurso apaixonado, enquanto Miriam parecia bastante intrigada. Quanto a Ange, ela se aproximou de Sasha sem fazer barulho e a agarrou pelo ombro. Ainda tomada por um medo persistente, Sasha se viu congelada no lugar.

“Sasha!” Angeline disse depois de pensar um momento.

“Sim, sim senhora!”

“Por favor, perdoe-me por meu mal-entendido... Vejo que é uma camarada, afinal!” Angeline disse, então a abraçou com paixão.

“Oh... Ohh...! V-Você reconhece meu potencial, Angeline...! Eu, Sasha Bordeaux, não medirei esforços para alcançá-la!”

Sasha, às lágrimas, abraçou-a de volta. As duas se abraçaram, girando em círculos, e Anessa murmurou para si mesma: “Tenho essa sensação de... As duas ainda não estão se entendendo.”

“Hehe, Sasha é uma garota interessante.”

Depois de uma conversa agradável, as garotas se separaram de Sasha e voltaram para a estrada para Turnera. O horizonte se abriu para campos cultivados, onde trigo verde e fresco brotava da neve derretida. Como se estivessem deixando para fora todas as suas frustrações reprimidas, suas pequenas folhas se estendiam em direção ao sol.

Elas estariam em Turnera em breve. Quanto mais perto ficavam, mais o peito de Angeline estava cheio de nostalgia.

“Só um pouco mais...”

“Oh, olhe como os campos são vastos. É impressionante.” Anessa deu um suspiro agradável e profundo.

Miriam cutucou Angeline maliciosamente. “Você vai ver seu pai em breve, Ange. Como se sente?”

“Estou pulando de alegria... Estou feliz por estar viva!”

“Que diabos está falando...” Anessa suspirou, embora fizesse o cavalo aumentar o passo.

O cenário que Angeline viu da carroça quase não mudou desde quando partiu: as planícies onde brincou com as outras crianças, os caminhos estreitos que andou com Belgrieve e a floresta onde colheu bolotas. Cada vez que uma visão familiar entrava em sua visão, sentia algo apertar por dentro.

Ela estava sentido falta disso por muito tempo, mas aquele buraco estava sendo preenchido. Ao mesmo tempo, uma estranha ansiedade começou a se formar. O cenário não mudou, mas e sobre Belgrieve?

Angeline nunca tinha encontrado ninguém em Orphen que pudesse substituir seu pai. Porém e se Belgrieve tivesse encontrado alguém que pudesse substituí-la? Parecia que tinha uma nova discípula, Sasha, que parecia ter mais ou menos a mesma idade de Angeline. Uma garota animada, alegre, bonita e admirava Belgrieve o suficiente para falar com tanta devoção. Com certeza não era um sentimento ruim ser adorado de todo o coração.

Ainda havia muitas crianças pequenas em Turnera também. Conhecendo Belgrieve, ele os tratava como se fossem seus.

E Ange também tinha ouvido falar de como a condessa Bordeaux o abordara. Seren e Sasha eram lindas, então sua irmã mais velha com toda certeza também é bonita. Claro, sabia que Belgrieve a rejeitou, contudo e se tivesse feito isso apenas por consideração a Ange?

Belgrieve sentia um forte senso de responsabilidade e era possível que Angeline tivesse se tornado uma algema impedindo-o de fazer o que queria. E se ele não sentiu muito minha falta quando parti? E se não estiver ansioso de verdade para me ter de volta em casa? E se passasse a me odiar do fundo de seu coração?

Angeline balançou a cabeça. “Meu pai não é esse tipo de pessoa!”

Contudo a ansiedade não a deixava. Ficava maior à medida que se aproximavam da aldeia. Angeline queria tanto voltar para Turnera, no entanto agora, de repente, sentia vontade de fugir. Havia borboletas voando em seu estômago.

As garotas haviam entrado na vila agora. As pessoas olharam para a carruagem com curiosidade e esfregaram os olhos ao ver Angeline. Alguns a cumprimentaram, porém Angeline manteve a cabeça baixa e não tentou olhar em sua direção.

“Para que lado, Ange?” perguntou Anessa.

Angeline ergueu os olhos sem expressão, uma paisagem familiar entrando em seus olhos.

“Ali...” apontou.

Algum tempo depois, elas estavam na frente de uma casa. Angeline timidamente olhou para ele.

Havia crianças reunidas no quintal e pareciam estar brandindo espadas de madeira. Belgrieve os observava com olhos gentis.

Algo agarrou seu peito. Lágrimas quase escorreram por seu rosto.

Com pés tímidos, Angeline desceu da carruagem.

Uma das crianças a notou, apontou e disse algo. Belgrieve se virou para encará-la. Talvez tivesse mais algumas rugas do que antes. Talvez seu cabelo estivesse um pouco desbotado. Mas eles eram os mesmos — aqueles mesmos olhos gentis.

“Pai! Hum... Você sabe!” antes que percebesse, Angeline estava correndo, saltando para o quintal. Ela ficou na frente de Belgrieve e chorou. “Eu... Eu! Tenho trabalhado muito duro! Me tornei uma aventureira Rank S! Bati em muitos monstros! Hmmm... E, er, salvei pessoas em apuros! Outro dia, venci um demônio e... Hmmm... Estou fazendo o meu melhor e...”

Ela não conseguia descobrir o que dizer e, enquanto se esforçava para encontrar as palavras, uma mão grande e gentil repousou sobre sua cabeça. Uma palma áspera que tinha empunhado uma espada e uma pá por tanto tempo acariciou amorosamente seus cabelos. A força foi drenada de seu corpo.

“Você ficou tão grande.”

“Sim.”

“Vejo que deixou seu cabelo crescer. Combina muito com você.”

“Sim.”

“Já é uma adulta de pleno direito agora. Por um momento, não te reconheci ali.”

“Sim.”

Por que ela duvidou dele? As lágrimas caíram de seus olhos.

Belgrieve sorriu. “Bem-vinda ao lar, Angeline.” “Estou em casa, pai!”


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