Capítulo 69: Uma noite se passou
Uma noite se passou desde a chegada deles à propriedade de Bordeaux, e as informações começaram a chegar aos poucos. Helvetica sem dúvida havia desenvolvido uma rede de inteligência da qual se orgulhar. Embora receber notícias atualizadas estivesse além de suas possibilidades, eram especialistas em acumular uma quantidade considerável de informações sobre o estado de Lucrecia nos últimos seis meses. Bordeaux era uma cidade grande com um número significativo de fiéis de Viena. Estes não tinham nenhuma ligação direta com o conflito interno de Lucrecia, mas como aquela era essencialmente a sede de sua religião, algumas informações chegaram até suas mãos. Além do mais, Elmore usou um cristal de comunicação da guilda para estabelecer contato com a guilda em Orphen. Lucrecia era um parceiro comercial valioso no que dizia respeito aos mercadores de Orphen, e se mantinham informados sobre como as políticas poderiam mudar. De fato, Orphen parecia ser abundante em informações sobre quais casas nobres poderiam prosperar e quais estavam condenadas.
O grupo passou o dia juntando tudo e formando teorias, e quando o sol começou a se pôr, Sasha voltou de sua inspeção em Hazel. Ela irrompeu na sala radiante de alegria ao ver Belgrieve e Angeline, nem mesmo poupando tempo para remover seu equipamento de viagem. No momento em que notou Byaku, sacou sua lâmina, a alegria ainda evidente em seu rosto.
“Nos encontramos de novo sob a orientação de Viena! Não vou perder dessa vez! Melhor se preparar!”
“Sasha...”
“Hmm? O que foi, Ange?”
“Faça um duelo se quiser, porém isso pode esperar…?”
“Você está dentro de casa, Sash.” disse Seren.
As bochechas de Sasha ficaram um pouco vermelhas quando olhou em volta.
“M-Minhas desculpas, não pude evitar.”
“Desculpe por tudo...” Byaku disse com um suspiro. “Pode me bater o quanto quiser, se isso for necessário para ser perdoado.”
“Oh, deve estar pensando que sou estúpida, não é? Não adianta se não for uma partida séria! Você terá uma amostra das habilidades com a espada que me promoveram ao Rank AAA!”
“Promovida?” Belgrieve parecia agradavelmente surpreso enquanto alisava a barba. “Parabéns. E parece que suas feridas cicatrizaram...”
“Whoa! O-Obrigado, Mestre! Acho que esqueci de enviar uma carta... Contudo ainda tenho um longo caminho a percorrer antes de poder ficar ombro a ombro com você e Ange.” Suas bochechas ficaram ainda mais vermelhas, e Sasha envergonhada girou os polegares.
Pra ser honesto, já me superou há muito tempo, pensou Belgrieve.
Kasim, por outro lado, parecia bastante divertido.
“Outra moça turbulenta que temos aqui, pelo que vejo.”
“Hmm? Este cavalheiro... Não é um cavalheiro comum.”
“Este homem é o Sr. Kasim — amigo do meu pai e um aventureiro Rank S.”
“Minha nossa! Como esperado do Mestre! Mesmo após se aposentar cedo, segue tendo um amigo Rank S... Espere, Kasim? Não, não pode ser... Perdoe-me por perguntar, no entanto o senhor poderia seria o Destruidor de Éter...?”
“Sim, sou eu.” disse Kasim, gargalhando. Sasha de repente estendeu a mão e agarrou a mão dele, com os olhos brilhando de admiração.
“Pensar que te encontraria em minha própria casa... Eu, Sasha Bordeaux, não poderia ter pedido mais!”
“Bom, obrigado pela consideração. Ainda assim, estou surpreso que tenha me identificado pelo meu nome. A maioria das pessoas que conheci só me conhece pelo apelido.”
Era bastante comum que os apelidos de aventureiros famosos se espalhassem mais rápidos e mais longe do que seus nomes reais. Por esse motivo, a maioria deles passaria despercebida em tal introdução.
Sasha estufou o peito.
“Eu memorizei os nomes e apelidos de quase todos os aventureiros de Rank S por aí!”
“Você é muito fanática, mocinha.” disse Kasim com uma risada.
Ashcroft levantou os óculos com cansaço.
“Senhorita Sasha.” disse ele. “Esta discussão não está levando a lugar nenhum, então poderia ficar quieto por um minuto?”
“Discussão? Sobre o que estavam falando? Aliás, o que esses dois estão fazendo aqui?” Sasha apontou para Charlotte e Byaku antes de inclinar a cabeça com curiosidade.
Embora fosse um grande descarrilamento, repassar tudo desde o início não era uma má ideia se quisessem organizar suas informações. Um resumo da situação foi recebido com um aceno entusiasmado de Sasha.
“Entendo, vocês dois tiveram uma vida difícil... Eu os elogio por voltarem para dar uma demonstração adequada de contrição.”
“Er, realmente sinto muito pelo que fiz lá atrás...”
“Não se preocupe — perdi porque não era habilidosa o suficiente! Embora sinta vergonha, não sinto ressentimento! Da próxima vez, serei a única que lançará o desafio, Byaku!”
“Calma, Sash...” Seren soltou um suspiro cansado com a disposição guerreira de sua irmã.
Sasha deu um tapinha no ombro de Charlotte.
“Vou guiá-la até os túmulos dos soldados que morreram. Que tal oferecer-lhes uma ou duas flores?”
“C-Claro... E se possível, gostaria de conhecer suas famílias também.”
“Isso não é bom. Por enquanto, todos estão se revezando à sua maneira. Seria bastante problemático se os provocássemos desnecessariamente.”
“M-Mas...”
“Se quer expiar seus pecados, então suportar a dor faz parte da expiação, Charlotte. Se está apenas se desculpando para se satisfazer, é melhor não se desculpar. Assuma o peso do que fez e use sua vida para os outros.”
“Tudo bem.” Charlotte baixou a cabeça.
Com um sorriso ousado, Sasha bagunçou seu cabelo.
“Não faça esse rosto! Os soldados lutaram com bravura e morreram no cumprimento do dever! Cumpriram sua missão e protegeram minhas irmãs! Que honra maior poderia haver?”
Charlotte assentiu. Embora seus olhos estivessem um pouco enevoados, parecia que uma espécie de determinação estava se formando dentro dela.
Seren gentilmente segurou os ombros da garota. Embora elas tivessem sido inimigos, talvez expor seus corações a ajudou a desenvolver algum carinho por Charlotte.
Com uma leve risada, Belgrieve levantou um papel da mesa. Depois de consolidar suas informações, parecia que a casa nobre de Hrobert estava sendo tratada como se tivesse desmoronado. Ainda assim, houve alguns relatos de que o próprio homem sobreviveu para assumir uma posição clerical. Seu status não era particularmente alto, porém era o suficiente para participar de esquemas políticos.
“De qualquer forma, temos a confirmação de que Sir Hrobert está vivo.”
“Imaginei isso, dado o anel e tudo.”
“Contudo é por esse motivo que a situação se torna estranha.” disse Seren.
Kasim puxou a barba.
“Oh? E o que há de tão estranho?” perguntou.
“O anel está ligado à vida de seu dono. Sir Hrobert deveria ter sido executado. Se tivesse um dublê de corpo morto em seu lugar, ninguém acreditaria se o anel não desaparecesse naquela época.”
“Como soa, Char? Acho que teriam confiscado seu anel para ter certeza.”
Charlotte pensou por um momento e assentiu.
“É verdade... Tenho certeza que sim. No momento em que fosse considerado herege, eles teriam confiscado o anel que deveria ser um presente da deusa.”
“Hmm, e é um item único com o brasão da casa... Não poderiam criar um dublê assim. Você acha que ninguém percebeu?”
“Pode ter havido um acordo secreto.” disse Anessa.
Belgrieve estreitou os olhos.
“Um acordo... Em que tipo de acordo está pensando, Anne?”
“Tenho a sensação de que Sir Hrobert é um vira-casaca e se juntou à facção papal. Presumo que, quando foi considerado herege, vendeu alguns antipapais em troca de sua vida. É por esse motivo que todos fingiram ignorância quando alguém foi executado em seu lugar...”
“Haha, entendo. Não é uma má dedução. Parece bem lógico.” Kasim acariciou a barba.
“Ou pode ter sido calculado desde o início.” disse Ashcroft. “Embora originalmente antipapal, Hrobert poderia ter traído os outros revolucionários para garantir a si mesmo uma posição elevada na facção papal. Toda a sua execução pode ter sido uma farsa.”
“Quer dizer que o tio traiu meu pai e seus companheiros?”
Belgrieve fechou os olhos.
“Não posso negar a possibilidade... Embora não tenhamos nada para confirmá-la.”
“Entendo...”
Enquanto Charlotte baixava os olhos, Angeline a abraçou por trás.
“Não se preocupe. Não vamos mandá-la para lugar nenhum com pessoas assim.”
“Sim... Obrigado, mana.” Charlotte manteve um aperto firme nos braços em volta dela.
“No entanto agora esses revolucionários estão no poder, certo? Acha que ainda seriam amigos depois que os traiu?” perguntou Miriam, recostando-se na cadeira.
“Ou ele tem uma língua de prata¹...”
“Ou conseguiu encobrir.”
“A estrutura de poder de Lucrecia é um pouco complicada. Tenho certeza de que não tomam todas as decisões com base em quem alguém apoia.”
“Certo. A facção antipapal também não é monolítica. Sir Hrobert quer que Char aumente sua própria autoridade, certo? Depois que tomaram o poder, tenho certeza de que tiveram algumas divisões.”
“Faz sentido. Talvez estejam discutindo sobre quem deve ocupar o centro do palco. Duvido que Sir Hrobert tenha muitas cartas para jogar a esse respeito.”
“Ele queria proteger Char em segredo, então usou o método indireto de contratar um aventureiro. Minha nossa.”
“Nesse caso... Além de Hrobert, pode haver outras partes mirando em Char.” apontou Angeline.
Belgrieve assentiu.
“Creio que sim. Yakumo pode ser a menor das nossas preocupações. Podemos encontrar pessoas que aceitaram pedidos de outros nobres.”
“Vai ser uma corrida...”
“Que problema.”
“Honestamente...”
“Hmm... Independente de quem vier, não temos apenas que cortá-los?”
“Não é sobre isso que estamos falando, Sash...”
“Agora então, o que fazer, o que fazer...? A filha de Balmung daria um impulso bastante poderoso à autoridade da facção antipapal, ao que parece. Todo mundo gostaria de colocar as mãos nela e farão o que puderem para evitar que a concorrência a pegue primeiro.”
Estavam todos cansados, espreguiçando-se ou agachando-se nas cadeiras. Enquanto acariciava Charlotte, Angeline de repente levantou o rosto e abriu a boca.
“Aguentar...”
“Hmm? O que foi, Ange?”
“Não podemos só matar Char?”
○
Conduzidos à sala por Angeline, Yakumo e Lucille pareciam bastante desajeitadas, cercadas pelos VIPs locais.
“Então vocês chegaram a uma conclusão?” Yakumo perguntou.
“Me mate, baby?”
“Pensei que vocês poderiam ter a honra de matar Char.”
Seus queixos caíram.
“Do que está falando...? Não deveria protegê-la?” Yakumo perguntou.
“Essa é a nossa intenção”, disse Belgrieve alegremente.
Yakumo e Lucille trocaram olhares confusos até que sua atenção foi atraída pela risada repentina de Kasim.
“Nós pensamos que as duas poderiam ser ótimas cúmplices, hehehe.”
“Está falando sério?”
“Sim. Char?”
Quando Angeline a chamou, Charlotte saiu da sala dos fundos com um saco na mão. Tanto Yakumo quanto Lucille lançaram olhares arregalados para a garota.
“Hehe, combina comigo...?” a garota perguntou timidamente. Seu cabelo selvagem e comprido tinha sido cortado na altura do ombro de uma forma elegante, mas bonita. Charlotte avançou e apresentou a bolsa.
“Isso é...” Yakumo olhou para o cabelo de alabastro contido dentro. Então, arranhou seu próprio couro cabeludo e gemeu. “Entendo... Pensaram em uma saída bastante drástica.”
“Bom, parecia o método mais seguro.”
“Vamos precisar das suas cooperações. Estão dispostas a participar?”
“Acha que podemos rejeitá-la nessas circunstâncias?”
Lucille fungou de felicidade e foi abraçar Charlotte, aproveitando para enfiar o nariz no cabelo da menina e dar uma boa cheirada.
“Está muito mais bonita agora, gatinha...”
“Hey, pare de me cheirar...” Charlotte corou enquanto cambaleava para trás.
Yakumo cruzou os braços e recostou-se na cadeira, ainda segurando o saco.
“Você quer que retiremos isso e digamos que ela está morta. Bem, não se encontra cabelos brancos assim com frequência. Porém do jeito que as coisas estão, é muito arriscado para nós. Digamos que os ajudamos. Precisamos planejar um pouco mais.”
“Claro. Estamos felizes em tê-las a bordo.”
“Meu Deus... Você com certeza tira meu ritmo.”
O plano de Angeline era essencialmente fazer uma cena. Mesmo que conseguissem fazer algo sobre Yakumo e Lucille, deixava em aberto à possibilidade de uma segunda ou terceira pessoa sucedê-las, e talvez não fossem tão compreensivos. Proclamar a morte de Charlotte impediria qualquer outra tentativa de assassiná-la ou arrastá-la de volta para Lucrecia.
“Se isso se tornar uma luta por Char, pensei que poderia acabar matando-a para que ninguém mais pudesse pegá-la...”
Yakumo assentiu.
“É possível. Contudo não recebemos essa ordem. Disseram-nos apenas para garantir sua segurança e trazê-la de volta, não importa o quê.”
“No entanto se ele quiser assumir o primeiro lugar nessa luta pelo poder, vai querer evitar entregá-la à concorrência. A morte de Char não é o melhor resultado, mas também não é o pior para Sir Hrobert.”
“Tem razão. Porém, a menos que possamos convencer Hrobert desse fato, a culpa recairá sobre nós. Será um pouco problemático, por assim dizer. Quero ajudá-los, contudo também não queremos correr riscos desnecessários.”
“Hmm, entendi. Também não queremos isso para vocês.”
“Sério... Quão moles podem ser...?” Yakumo se perguntou.
“Agora o que fazemos? Devemos dizer que os compadres de outro cardeal a assassinaram?”
“Se o convencer... Entretanto Lucrecia está muito longe. Precisamos pensar em algo que não soe muito como uma desculpa.”
Lucille cutucou Belgrieve. “Podemos usar isso?”
“Hmm?”
Lucille mostrou um pingente pendurado em seu pescoço -—um pequeno cristal, refinado na forma de uma esfera.
“Um comunicador?” Kasim pensou. “Deveria ter dito que o tinha antes.”
“É de mão única... Só podemos receber mensagens.”
“No entanto há uma conexão, certo? Quando foi seu último contato?”
“Foi quando saímos do território de Estogal. Não conseguimos nada desde que fomos para o norte.”
“Hmm, não seria natural se estabelecêssemos contato do nosso lado.”
“Talvez. É preciso um pouco de mana para chegar a Lucrecia pelo norte, ainda mais com um transceptor unidirecional... Posso fazê-lo, mas... O que acha?” Kasim perguntou.
Belgrieve deu um sorriso irônico com a facilidade com que Kasim afirmou ser capaz de fazer o trabalho. Francamente, até os olhos de Miriam estavam girando, e ela entendia a mecânica melhor do que ele.
“A comunicação depende de mana?” perguntou Angeline.
“Bastante. Não é muito difícil de conectar. Funcionará se colocar mana nele.”
“Então... E se Char fizer a conexão?”
“Ah.” Miriam exclamou. “Pelo que me lembro... Char tem um pouco de mana.”
“Entendo, se elas disserem que prenderam Char e a mandaram falar com Hrobert... Isso faria sentido, Sr. Kasim?” perguntou Anessa.
Kasim riu.
“Faria, com certeza. Essas pessoas em Lucrecia devem saber sobre sua capacidade de mana. Ange, você está bastante afiada hoje.”
“Sou uma Rank S... Não sou incrível, pai?” Angeline perguntou, orgulhosamente estufando o peito.
Belgrieve estava, de fato, impressionado.
“Sim... É muito incrível. Conseguiu me surpreendeu aí.”
“Hehe...”
Agora que seu plano havia sido decidido, eles discutiram como conduziriam a conversa com Hrobert.
Só tornaria as coisas mais complicadas dizer que ela já havia morrido e, nesse caso, não faria sentido Charlotte estabelecer a conexão. Também queriam evitar que a proposta de matá-la viesse do seu lado. Dar a impressão de que a missão de devolvê-la estava se mostrando um problema pode ter o efeito oposto. Para tal, precisariam do próprio Hrobert para chegar à conclusão de que a existência contínua de Charlotte era prejudicial as suas intenções.
A parte importante era Charlotte. Yakumo e Lucille estavam mais acostumadas a negociar, porém Charlotte certamente teria dificuldades.
No entanto, por mais incrível que fosse, a garota estava calma.
“Diga o que quiser sobre mim, contudo eu saí por aí pregando uma mensagem, sabe. Tenho alguma confiança na minha atuação.”
Charlotte bateu com as mãos no rosto e endireitou as costas. Momentos antes, havia dado o ar de uma criança de sua idade, contudo levou apenas um momento antes que fosse tão severa quanto antes de se juntar a Angeline. Até mesmo suas características faciais pareciam mudar.
Descansando a pequena esfera na palma da mão, Charlotte fechou os olhos.
Mate-a — essas eram as palavras que precisava arrancar de seu tio.
○
“— E, o que é agora? Hey... Espere...? Por que estabeleceu uma conexão por esse lado?”
“Ah, desculpe por isso. Entretanto não recebemos uma única palavra sua, então terá que me desculpar por ficar curiosa. Seria um desperdício de nossos esforços se nosso cliente perdesse sua posição enquanto estivéssemos fora.”
“Não deve negligenciar suas responsabilidades...”
“Chega de vocês duas. Já capturaram Charlotte? Em primeiro lugar, como usou um receptor para...”
“Sou eu, tio.”
“Oh! É você, Charlotte...? Vejo que está viva e bem!”
“‘Bem’ é um pouco demais, agora que me capturou e tudo mais.”
“Hey, não seja assim. Só expressei mal...”
“Agora entende nossa situação? Por sorte, conseguimos capturá-la, mas a garota insiste que não quer voltar para Lucrecia, e avistei os capangas de Minerva e Whitlock à espreita. Não estamos fazendo muito progresso na estrada de volta.”
“Aqueles bastardos... Como pegaram a trilha...?”
“Se você foi capaz de descobrir, é claro que eles também seriam. Não que planejemos entregá-la.”
“Claro que não vão! Ouça aqui, tragam-na para mim, não importa o que aconteça!”
“Está fazendo parecer fácil...”
“Como as pessoas do passado costumavam dizer, ‘mais fácil falar do que fazer’.”
“Fique quieta.”
“Silêncio, vocês duas. Por que acham que estou pagando tanto?”
“Eu não vou. Tio, me recuso a voltar para Lucrecia.”
“O que está dizendo, Charlotte? Lucrecia é sua pátria. Fiz os preparativos para recebê-la. Esta não é uma chance de recuperar a honra da Casa Bain — e de Balmung?”
“Hmph... Como você ainda está vivo?”
“Ouviu delas, não foi? Arrumei um bode expiatório... Consegui escapar de uma forma ou de outra.”
“Pensei que fosse uma farsa. Tinha certeza de que já o tinham executado.”
“O que está dizendo? Elas têm o anel, não é? Esse anel não existiria se eu morresse.”
“Certo, e é esse detalhe que é estranho. Tio, por que não pegaram seu anel quando o executaram? É um item sagrado concedido por meio de um ritual divino. Não há como o deixarem com alguém que consideram um herege.”
Hrobert não respondeu.
“Oh? O que há de errado? Falei algo estranho? Hey, tio. Você não traiu meu pai, não é? Não vendeu seus camaradas para conseguir um novo sopro de vida, apenas para mais tarde tentar descaradamente me usar para aumentar sua reputação, não é?”
“Isso é tudo um mal entendido, Charlotte. Ouça...”
“Que desculpa vai me dar? Vai dizer que teve sorte? Ou que subornou o carrasco? Não sei como ganhou seu status atual, porém duvido que tenha que cavar muito para descobrir o que fez. Se me arrastar com força de volta para Lucrecia, venho com uma pá na mão. Veja bem, não confio nem um pouco no que diz.”
“Cala a boca dela.”
“Como ordenar, chefe."
“O-O que estão — mmf! Mmmmf!”
“Que garota problemática. Deve ter herdado a astúcia do pai.”
“Então, o que quer que façamos? Devemos trazê-la de volta assim?”
“Estamos em Bordeaux agora, a propósito... ‘Há um longo caminho pela frente, baby.’”
“Ela é mais problema do que vale a pena. Tsk... Chega. Mate-a. Pelo que parece, não vai me obedecer de qualquer maneira.”
“Quer que matemos uma criança? Que homem pecador você é.”
“Cale-se. E traga de volta a prova de sua morte. Ainda posso encontrar um uso para ela.”
“Quer que levemos sua cabeça? O dedo? Nariz ou olho, está tudo bem... Ah, mas é provável vão apodrecer. Pode acabar fedendo um pouco, mas é toda sua.”
“N-Não preciso de algo assim! Ela é albina ou algo do tipo, certo? Seu cabelo será prova o suficiente!”
“Hmph... Se está mudando o trabalho, é melhor dar um bônus.”
“Tudo bem, tudo bem, apenas comece logo... Que garota infeliz você é, Charlotte. Poderia ter vivido em paz se fosse um pouco menos perspicaz...”
“Mmmf! Hrrm! N-Não! Parem! Não!”
“Que vocês saiam com a graça de Viena... As duas, voltem para cá e rápido.”
○
Quando o brilho fraco desapareceu do cristal, Yakumo caiu no chão.
“Phew... Faz muito tempo desde que me segurei por tanto tempo.”
“Conseguimos! Sucesso!” Miriam pegou Anessa pela mão e pulou de alegria.
Soltando um suspiro longo e profundo, Charlotte correu para Angeline e a abraçou com toda a força. Angeline bagunçou o cabelo em um grau quase violento.
“Você conseguiu... Você trabalhou duro, Char.”
“Sim!” quando a tensão quebrou, Charlotte começou a chorar e se agarrou a Angeline. O ar tenso que enchia a sala se dissipou enquanto as garotas ao redor de Charlotte a acariciavam.
“Funcionou de uma forma ou de outra.”
“Certo, hehehe. Na verdade, ficamos ansiosos quando tudo dá certo, porém essa será uma história para outro dia. Digamos que o plano de Ange funcionou.”
“Sim...”
Ela está crescendo, pensou Belgrieve enquanto olhava para Angeline.
Notas:
1. Língua de prata se refere a alguém bajulador, que tende a levar outras pessoas na lábia.
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