segunda-feira, 3 de abril de 2023

Boukensha ni Naritai to Miyako ni Deteitta Musume ga S Rank ni Natteta — Volume 05 — Capítulo 63

Capítulo 63: A incessante neve aquosa

A incessante neve aquosa o atormentou durante todo o caminho para casa e, parado na frente da porta, sentiu que alguém o havia surrado ali. Assim que abriu a porta, encontrou vários rostos olhando-o.

Kasim ergueu a mão.

“Hey, Bel. Bem vindo de volta.”

“O que está acontecendo? Você chegou cedo.”

“Isso e aquilo... Acabamos de chegar.”

Belgrieve tirou o casaco e entrou na sala. Seus olhos se arregalaram quando avistou uma mulher adornada com pesadas camadas de roupas agachadas perto da fogueira acesa.

“Senhora Maria?”

“Hã? Oh, Belgrieve. Não ligue para mim.”

Maria olhou para Belgrieve antes de tomar um gole do copo em suas mãos. Nos poucos meses em que viveu em Orphen, Belgrieve já havia conhecido Maria antes. Ela foi arrastada para as fantasias selvagens de Angeline e, consequentemente, ele recebeu dela uma avaliação bastante dura na primeira vez que se encontraram.

Belgrieve inclinou a cabeça enquanto pendurava o casaco e sentou-se perto do fogo.

“Acho que é a primeira vez que te vejo aqui.”

“Sim, preciso conversar com eles sobre uma coisa. Cough...” Maria escondeu a boca com a manga e soltou uma leve tosse.

Belgrieve olhou para Kasim, que deu de ombros de maneira teatral. Charlotte e Byaku sentaram-se calmamente lado a lado; os olhos da garota estavam um pouco vermelhos.

“Devo sair?” perguntou Belgrieve.

“Não, é algo que deveria ouvir também. Se você está planejando cuidar desses dois, também está relacionado.” disse Maria, apontando com a cabeça para Byaku e Charlotte.

Então tem a ver com demônios. Belgrieve franziu a testa. Essa conversa era de fato inevitável, então. Não se tratava apenas da existência de Byaku, mas também havia muitos mistérios envolvendo Mit. Assim, queria o máximo de informação possível.

Kasim serviu chá floral fumegante da chaleira e o entregou a Belgrieve.

“Também considero esse assunto algo sobre o qual teremos que conversar cedo ou tarde. Você está prestes a deixar Orphen, certo? Então, antes disso.”

“Sim, está certo.” Belgrieve tomou um gole de sua xícara.

Após um momento de silêncio, Maria por fim abriu a boca.

“A Chama Azul da Calamidade, Schwartz.”

Uma carranca cruzou o rosto de Belgrieve quando Maria se virou em sua direção.

“Já o conhece, certo?” ela continuou.

“Sim... Embora apenas o nome.”

Ele era notório, e não de um jeito bom. Schwartz, a Chama Azul da Calamidade, foi um dos arquimagos mais proeminentes da história da Rodésia e o pesquisador mais proeminente quando se tratava do legado de Salomão.

Também era brilhante, desenvolvendo inúmeras sequências de feitiços e contribuindo muito para o desenvolvimento da magicologia. Porém, por trás desse verniz, estava realizando horríveis experimentos humanos entre outros atos antiéticos. Tal ato culminou na população de uma cidade inteira na região oeste do império sendo reduzida a espíritos vingativos, a vida de todos os residentes extinta. Até hoje, o local da cidade permaneceu como uma masmorra rondada por mortos-vivos cruéis.

Contudo era um homem cauteloso que cobria seus rastros. No momento em que o império percebeu seus crimes, várias aldeias vizinhas também haviam desaparecido, e o mesmo feitiço estava prestes a ser lançado na capital imperial. Seus experimentos eram para satisfazer sua própria curiosidade, e não se importava com o que acontecia com qualquer outra pessoa ao longo do caminho.

Assim que a história completa veio à tona, Schwartz foi morto no final de uma intensa luta com muitos dos aventureiros proeminentes da época; pelo menos, essa era a história oficial. Antes do mais, era conhecido como a Chama Azul. A parte “Calamidade” foi adicionada após sua morte.

“Pensei que estivesse morto, mas está vivo.” disse Maria.

“Você o conhecia?”

“Era meu superior no Laboratório de Pesquisa em Magicologia na capital. Ele me ensinou uma ou duas coisas...” um olhar conflitante cruzou seu rosto. “E por sua causa, lavei minhas mãos do laboratório. Não sabia na época, no entanto participei do que ele fez e não aguentei. Juntei-me à equipe para derrubá-lo e virei uma aventureira.”

“Você tem minha simpatia.”

“Hmm... Kasim, você teve alguma coisa a ver com Schwartz?”

Kasim coçou a barba.

“Não, nunca o conheci. Existem vários grupos tentando usar os demônios, porém todos estão competindo entre si — ou melhor, tentando se matar. De qualquer forma, não são cooperativos. Fui pego por um grupo diferente.” disse ele. “Contudo ouvi uma boa quantidade de rumores. Os caras com quem eu estava não eram incompetentes, mas Schwartz estava mais do que alguns passos à frente. Havia muito mais demônios em sua posse, então nossos caras estavam ficando muito impacientes.”

“Posso imaginar. Comecei a ver todos os tipos de coisas assim que comecei a investigar. Cough, cough...” Maria cobriu a boca.

“Tudo bem, vovó?” Charlotte disse, esfregando as costas.

“Tsk... Então, de qualquer maneira. Quem tentou usar esses dois foi Schwartz.”

Belgrieve franziu a testa. Eles tinham um figurão em suas mãos.

“Então está atrás deles de novo?”

“Cough... Não tenho tanta certeza. Aquele cara não correria o risco a menos que fossem valiosos. Entretanto, pelo menos, sabe que estão aqui. Já o enfrentei uma vez em Orphen.”

Byaku se contorceu.

“Quando aquele homúnculo apareceu na guilda, hein?”

“Percebeu...? Isso mesmo. Schwartz foi quem trouxe aquele demônio.”

“Todavia o fato de não ter feito nada desde então significa que deve ter algum motivo oculto.” observou Kasim enquanto tomava um gole de chá.

Maria assentiu.

“Não sabemos muito sobre os demônios, ou melhor, os homúnculos de Salomão. Tenho certeza de que nem Schwartz compreendeu nem metade da verdade. Talvez esteja deixando Byaku vagar livre para poder observá-lo, ou talvez tenha perdido o interesse e mudado para outro experimento... No entanto a probabilidade do último é baixa. Cough, cough...” Os ombros de Maria tremeram. “Hey, coloque mais alguns troncos. Está frio.”

Belgrieve obedientemente adicionou alguns pedaços de madeira sobre o fogo.

“Eu investiguei os restos derretidos do homúnculo que apareceu em Orphen.” Maria disse com um suspiro. “Coisa ultrajante. Não tenho a imagem completa, mas poderia chamar de massa de mana em forma física. De qualquer forma, existem várias camadas de sequências complexas de feitiços, com programas para produzir ego e emoção em cima disso. Embora não diria que é perfeito — algo está faltando.”

“É por esse motivo que os demônios enlouqueceram quando Salomão desapareceu nos confins do tempo e do espaço?”

“Se as lendas forem ser acreditadas... Bem, eu, por exemplo, acredito nelas. Esses homúnculos só são estáveis quando estão junto com seu praticante. Presumivelmente, seu senso de identidade foi estabilizado por meio de um imenso senso de dependência em relação ao criador. Uma vez que o criador é removido, fica claro por que enlouqueceram.”

“Dei uma olhada antes, mas não consegui entender. O que deve estar passando pela cabeça de alguém para deixá-los assim?” Kasim disse, sentando-se um pouco e mudando a posição de sua almofada. “De qualquer forma, existem alguns experimentos que Schwartz realizou. Houve aquele surto de monstros em massa em Orphen no ano passado, e depois houve esse cara.” Kasim deu um tapinha no ombro de Byaku.

Belgrieve olhou-o com curiosidade.

“Ouvi dizer que ele tinha um demônio vivendo dentro de si...”

“Sim, sem dúvida. Porém o experimento foi bastante horrível, sabe.”

“Ele os fez nascer de uma mulher humana.” disse Byaku. Todos os olhos se concentraram. “Não sei os detalhes, contudo os homúnculos podem mudar de forma. De alguma forma conseguiu entrar em uma mulher humana. E o homúnculo se tornou seu bebê ainda não nascido.”

“Nesse caso...”

“Isso mesmo. Foi assim que nasci — com um corpo humano, no entanto com o poder de um demônio.” disse Byaku, olhando para Belgrieve. “Entretanto, de acordo com eles, sou um fracasso. Minha alma coexiste com a alma do demônio. Com as tentativas bem-sucedidas, a presença do demônio desaparece. As almas se fundem umas com as outras e todas as limitações do homúnculo desaparecem. A criança não tem mais uma dependência enlouquecedora de Salomão.”

“O que significa que o seu objetivo era ter os poderes imensos e insondáveis de um demônio à sua inteira disposição.” disse Maria com uma leve tosse.

Kasim deu de ombros.

“E de acordo com essa informação, isso é o que Ange é.”

“O que...? Ange?”

Byaku silenciosamente fechou os olhos. O espaço ao seu redor se curvou um pouco quando seu cabelo assumiu uma tonalidade enegrecida.

“É nítido de onde vem a força dela... Sem falar que é o que o demônio dentro de mim está dizendo. Mesmo que nós, humanos, não possamos dizer, parece que os demônios podem sentir outros demônios.”

“O que o demônio está dizendo, exatamente?”

“‘Eu quero ir para casa. Por que ela é a única? É injusto.’”

“Hmm...” Belgrieve alisou a barba.

Charlotte timidamente abriu a boca.

“Hmm, não há como saber com certeza...”

“Mas não há como saber com certeza que ela não é.” disse Maria. “Schwartz parecia ter um pressentimento, então mesmo que não seja de tudo verdade, pode não estar longe da verdade. É ruim para o meu coração, porém suas habilidades são o negócio real.”

“Mas... Não posso acreditar que a irmã seja um demônio.” Charlotte baixou a cabeça.

Os olhos de Belgrieve vagaram em pensamento.

“Kasim... Quais são seus pensamentos?”

“Ouvi rumores sobre esse experimento quando eu estava com o grupo que frequentava. Quanto a saber se Ange é um deles ou não, é difícil afirmar. Se o fato de não revelar a presença de um demônio é sua prova, então quase todo mundo é um demônio disfarçado. Se é sua força, então, hey, posso muito bem ser um demônio.”

Byaku balançou a cabeça.

“Há outra característica. Cabelo preto. Meu cabelo vira preto quando lido com a mana do homúnculo.” Byaku beliscou o cabelo, que já havia voltado ao branco. Contudo sem dúvida havia ficado preto um momento atrás — quando liberou sua mana demoníaca.

Maria suspirou.

“No entanto Ange pode ter um pouco de sangue oriental também. Tendo sido abandonada, não podemos negar a possibilidade de que um de seus pais era do leste. Não estou dizendo que não há possibilidade, todavia a cor de seu cabelo preto como evidência é muito fraca para provar qualquer coisa.”

“A questão é que atualmente não podemos dizer com certeza.” disse Kasim com um encolher de ombros.

“Mesmo assim, os poderes de um homúnculo desafiam o bom senso. Todo o seu princípio de existência é baseado em seu desejo por Salomão... Não há como dizer quando Kaim dentro de mim vai enlouquecer.” Byaku disse e se virou para Belgrieve. “Você viu o que aconteceu em Bordeaux, certo? Eles podem mudar suas formas. Podem se tornar pedras preciosas, ou como fluidos... Podem ativar todos os tipos de poderes apenas injetando mana em si mesmos... O anel que ela tinha também era um homúnculo.”

Charlotte estremeceu com suas palavras, e Belgrieve estreitou os olhos. Ele se lembrou do anel de Charlotte mudando de forma quando a confrontou na propriedade de Bordeaux. Presumiu que fosse um item peculiar encantado, mas nunca considerou que fosse um demônio. Tinha tentado engolir Charlotte por um desejo de estar com alguém?

Vendo Charlotte cair em um silêncio deprimido, Belgrieve sorriu e deu um tapinha em seu ombro.

“Não precisa se preocupar com aquilo. Já acabou, Char.”

“Sim.” ela murmurou, balançando a cabeça.

Byaku fechou os olhos.

“De toda forma, os homúnculos existem além da sua compreensão.” seu olhar foi direto nos olhos de Belgrieve. “Não vou para Turnera.”

“Não quer ir?”

“Cansei de brincar de casinha.”

Charlotte ergueu as sobrancelhas.

“Não precisa falar assim! O pai não está nos mantendo por perto como um jogo! Você é que está sendo teimoso, Byaku!”

“Hmph... Você está certa, não é um jogo. Velho... Não sei o que está pensando, contudo nos manter por perto não passa de problemas. Se o está fazendo por um senso de justiça própria, deveria reduzir suas perdas.”

“Hmmm...” Belgrieve estava sem palavras.

“Bem, concordo com Byaku nisso.” interveio Maria. “É reconfortante saber que tem o elfo paladino em sua vila, no entanto ele só trará problemas se o acolher por um sentimento de simpatia. Belgrieve, você tem coragem de aturar isso?”

“Hm... Bem, vamos ver...”

“Está sendo atencioso à sua maneira, Bell. Os demônios são um grande mistério. Concordo que não devemos nos envolver ativamente com eles.”

“Acha que devemos deixar Byaku para trás?”

Kasim deu um sorriso rígido.

“Não é o que estou dizendo. Não é que eu não goste dele... Mas acho que o demônio é um pouco pesado demais para ser levado se seu coração não estiver pronto.”

“É como ouviu. Você não entende como os homúnculos são perigosos. Chega dessa hipocrisia doce e doentia — apenas me deixe já. Não devo significar nada para você. Não tem nenhuma obrigação comigo.”

“Pai... Byaku vai ficar pra trás?” Charlotte parecia prestes a chorar.

Coçando a cabeça, Belgrieve tropeçou em suas palavras.

“Bom, a questão é... Eu já...”

Sem saber como lidar com sua incapacidade de articular seu ponto de vista, Kasim inclinou a cabeça.

“Está agindo estranho, Bell. O que há de errado?”

“Como devo colocar isso, uh...” Belgrieve olhou para o fogo na cova por um tempo antes de levantar o rosto. “Se lembra de como eu te disse que peguei uma criança chamada Mit em Turnera?”

“Sim, o pegou na floresta, certo?”

“Uh... Bem, isso está de acordo com o diagnóstico de Graham, mas aquela criança é...” Belgrieve hesitou um pouco, escolhendo suas palavras cuidadosamente enquanto contava a história de Mit — sobre os estranhos eventos na floresta e como a situação foi resolvida. De acordo com Graham, Mit era um demônio ou algo próximo. Independente disso, ainda estava sendo cuidado em Turnera, e os aldeões o adoravam.

Maria e Byaku estavam olhando fixos, enquanto Kasim batia palmas.

“Ahahahahaha! Então é assim? Não tem apenas um híbrido humano-demônio, tem um demônio em carne e osso como seu filho? Agora isso é algo!”

“Hey, é verdade? Este não é o seu julgamento pessoal, o Paladino que o determinou?” Maria disse, inclinando-se.

Belgrieve puxou os pelos da barba.

“Sim. Estava um pouco cauteloso no começo, no entanto nós nos aproximamos um do outro. Como um avô com seu neto... Não sei o que acontecerá se descobrirem sua identidade, mas os aldeões o adoram e Mit não representa nenhum mal. É por esse motivo que não consigo imaginar os demônios sendo tão perigosos.”

“Incrível, pai! Por que estava mantendo em segredo? Poderia só ter nos contado!” Charlotte animadamente pulou em seu colo.

Belgrieve coçou a bochecha, desajeitado.

“Como devo dizer... Não sabia como explicar... De toda forma, não tenho intenção de deixar você para trás, Byaku.”

“O que há contigo...? Sério, é...” Byaku segurou a cabeça, incapaz de acompanhar a situação.

Belgrieve suspirou e olhou para Kasim.

“Contudo estou um pouco impressionado, Kasim. Se eu dissesse que deixaria Byaku para trás, teria concordado mesmo com isso?”

“Nunca pensei que faria algo do tipo... No entanto se dissesse, pensei em ficar perto de Orphen. Com a vovó Maria e eu pensando juntos, achei que poderíamos fazer algo a respeito.”

Belgrieve ficou surpreso ao saber que Kasim tinha seus próprios pensamentos sobre o assunto e sentiu vergonha de sua própria mente superficial.

“Entendo... Então já tinha considerado a respeito. Esqueça que eu perguntei.”

“Não se preocupe. Cheguei aqui fazendo todo tipo de coisa desagradável, então estou pronto para me meter em encrenca. Ainda que isso signifique que nunca mais nos encontraremos, tenho certeza Percy e Satie me perdoariam. Hey, Bell, estamos perseguindo o passado, porém esse garoto aqui tem o futuro pela frente. Nem preciso dizer qual é mais importante, né?”

“Meu Deus, realmente devo ter perdido um passo se estou sendo ensinado por você.” disse Belgrieve com um sorriso amargo.

Maria suspirou e Charlotte riu.

Belgrieve olhou para Byaku e continuou em um tom gentil.

“Hey, Byaku. Não sou santo nem nada. Claro, não quero ter problemas se puder evitar... Mas não penso nada no fato de ter um demônio dentro de você. Nada mudaria, mesmo que também fosse verdade para Ange. Você pode ser franco, entretanto sempre sinto uma espécie de gentileza de sua parte. Sua razão de não querer vir para Turnera é porque não quer me incomodar, certo?”

“Errado. Não me entenda mal.”

“Sério? No entanto você sempre protegeu Char, mesmo que ninguém tenha pedido. Gosto dessa parte sua. Demônio ou não, quero que veja Turnera. Você não quer?”

“Hmph. Faça o que quiser!” Byaku virou as costas para Belgrieve.

“Ele está envergonhado.” brincou Kasim.

“Oh, está envergonhado.” disse Charlotte.

“Que embaraçoso.” observou Maria. “Não estou envergonhado!” Byaku gritou, sua voz ligeiramente embargada.

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