Capítulo 81: Eles pareciam no que era praticamente um casulo de árvore
Eles pareciam estar no que era praticamente um casulo de árvore, ou pelo menos era o que Graham percebia em seu estado nebuloso de consciência. Ramos finos entrelaçados em um padrão de tecelagem, formando um elipsoide longo e um pouco inclinado. Embora as lacunas nas árvores fossem muito estreitas para passar um braço, eram grandes o suficiente para ter uma vaga visão do que estava além — não que a vista fosse longe, pois muito do que estava além parecia estar envolto em escuridão total.
Mit, que estava aninhado nos braços de Graham, encarou-o com o semblante ansioso.
Graham saltou para o túnel da árvore atrás do menino e perdeu a consciência no momento em que pensou que o havia alcançado. Então, antes que percebesse o que havia acontecido, acordou dentro deste casulo. Pelo menos eu peguei Mit. Graham suspirou, acariciando sua cabeça. Mit se mexeu inquieto com lágrimas escorrendo de seus olhos.
“Vovô, me desculpe... Não sou nada além de problemas...”
“Não chore. Você não fez nada de errado.” Graham respondeu em um tom gentil e sincero. Mit enxugou as lágrimas e aninhou o rosto na camisa de Graham.
Graham deu outra boa olhada ao redor. Era um tanto verde, pontilhado com luz fosforescente peculiar. Talvez por causa disso, o cenário circundante parecia uma ilusão desorientadora que sua mente não podia aceitar. Parecia que ele estava observando o mundo através de uma cortina nebulosa.
De repente, algo com uma vaga forma humana flutuou no ar próximo. A princípio, sua forma era como a de um nevoeiro amorfo, porém gradualmente seus contornos tornaram-se mais distintos. Logo, se manifestou por completo na forma de uma mulher élfica em parte transparente. Nem uma única ruga podia ser discernida em seu rosto imaculado, e seu cabelo macio e sedoso arrastava-se para trás como água.
A elfa abriu a boca. Contudo, em vez de fala, parecia que as palavras foram transmitidas direto à sua mente.
“Criança... Por favor, por favor, perdoe-nos.”
“Você é...?”
“Éramos uma tribo que uma vez cruzou o sul da Floresta Ocidental... Fomos consumidos pela malícia da floresta e até agora nossas almas estão aprisionadas por ela...”
“Uma relíquia de nossos ancestrais, então.” Graham fechou os olhos. Estava familiarizado com as lendas de sua terra natal. Houve um cisma ideológico e um grupo se separou em busca de novas terras. Isso foi na época de seu bisavô, várias centenas de anos antes.
A forma translúcida da elfa mudou um pouco até que ela parecesse bem mais velha.
“É irônico. Vivíamos ao lado da floresta, e foi a floresta que nos destruiu...”
“O que você procura? Por que almejou Mit?”
“As sombras escuras da floresta... Para manter seu ódio e seu poder, precisam...” a forma da elfa desapareceu, e Graham se viu estremecendo de dor com a visão. Pouco tempo depois, a aparição élfica voltou, desta vez na forma de um jovem.
“Você está bem?” perguntou o espectro.
“A estranha dor que senti — era o seu sofrimento, não era?”
“Correto... As almas de nossa tribo ainda são prisioneiras da malícia desta floresta. Continua a drenar nossa mana além da morte. Muitos de nossos irmãos foram perdidos na loucura por causa de seus muitos anos de sofrimento... Sua dor deve ter ressoado na alma de um elfo companheiro.”
“Então é isso? Está procurando Mit para substituí-los...” a voz de Graham ficou um pouco rouca.
O elfo olhou para ele com tristeza.
“Correto... Essa pequena massa de mana seria um banquete maravilhoso para esta floresta... Se apenas o pequenino fosse acolhido, talvez nossas aLmaS FinALmenTe—”
O rosto bem torneado do elfo de repente se transformou em algo vil.
Um dos galhos formando o casulo torceu antes de disparar em direção a Mit como uma lança. Graham imediatamente puxou o menino para fora do caminho, no entanto a lâmina afiada de madeira conseguiu arranhar Mit e perfurar o flanco de Graham.
“Gah!”
“Vovô!”
“Argh — não... A loucura nos leva de novo — você deVe... Fugir—”
O casulo se mexeu. Pulsou. O elfo se dissolveu no nada. Cerrando os dentes, Graham apertou o galho cravado em seu estômago com tanta força que rangeu sob a pressão. A leve e persistente sanidade dos elfos, e sua loucura que buscava alívio — Graham podia sentir tudo através do galho. A loucura ressoou com a malícia da floresta, fazendo com que a floresta ficasse ainda mais forte.
Se eu pudesse apenas separá-los da floresta...
“Interessante...” murmurou.
Mit chorou e se agarrou a Graham, e ele colocou a mão em sua cabeça, um sorriso misterioso em seu rosto o tempo todo que nem mesmo o próprio poderia explicar, considerando sua situação desesperadora.
Quantos anos se passaram desde que me encontrei em tal situação? Perguntou-se Graham. Desde que fez seu nome, quase não havia oponentes no mundo que estivessem à sua altura.
Seus dias como um jovem aventureiro imprudente estavam fervilhando em sua mente. Os instintos que nutrira ao longo de tantos anos de aventura, mesmo em tal crise — ou melhor, porque estava em tal crise — fizeram seu sangue ferver. Eu tive coragem de dar um sermão na minha sobrinha-neta quando sou assim... Um toque de auto depreciação fez com que seu sorriso crescesse ainda mais.
O choro de Mit cessou quando olhou para Graham em confusão.
Graham puxou com força o galho de seu lado e respirou fundo.
“Tente mais... Minha vida... Vale muito mais do que isso!” declarou.
Ele deu um passo à frente e, com muita força, arrancou aquele galho da lateral do casulo. Este soltou um estalo titânico quando se quebrou, e os lados do casulo começaram a se contorcer como se a estrutura estivesse em agonia. Mas Graham impiedosamente alcançou o próximo galho, e o próximo, até que por fim abriu um buraco na lateral, revelando uma escuridão profunda a sua frente.
Levantando Mit, Graham saiu sem hesitar.
“Grrrrrrrrah!” o rosto de Jake estava vermelho brilhante enquanto puxava a espada presa na praça. E, no entanto, a espada não se moveu uma polegada.
“Não vai conseguir, Jake.” Kain disse, suspirando.
“Porém precisamos levá-la até o Sr. Graham...”
Jake voltou a puxá-la, contudo desta vez, seus esforços foram recompensados com um rugido e um flash de luz da lâmina, que fez Jake rolar no chão.
“Isso é consciente!” ele murmurou.
“O-O-O que foi aquilo?” Sola engasgou. A lâmina da espada ainda brilhava, acompanhada pelo som de um rosnado.
Angeline estreitou os olhos.
“Está irada. ‘Eu não deixo qualquer um me tocar’ — é o que está dizendo.”
“Pensando bem, essa espada está viva, não está? Hmm, como esperado da espada do Paladino...” Sasha meditou, cruzando os braços.
“Mas tem certeza de que deveríamos retirá-la? A espada está trabalhando para fortalecer nossa barreira, certo? As árvores não vão nos atacar?” Barnes perguntou.
“Acho que vai ficar tudo bem. A floresta não estava interessada em Turnera, por exemplo. E não vamos esquecer que o Sr. Bell está discutindo medidas defensivas com os outros.” disse Anessa, apontando.
Na direção que ela indicou, a uma curta distância, Belgrieve, Kasim, Kerry e Hoffman estavam no centro de uma discussão entre os adultos da vila sobre como a se defenderiam enquanto o grupo de busca estivesse fora. Os jovens que aprenderam a lutar se revezavam na vigilância e serviam como a força central para afastar quaisquer monstros que aparecessem. Seria inútil se seus inimigos viessem com uma força tão grande quanto na noite anterior, porém seus inimigos cumpriram seu objetivo de capturar Mit. Com toda a probabilidade, Turnera não estava mais no radar deles, e essas medidas defensivas eram apenas um seguro.
A expressão de Barnes se suavizou um pouco enquanto coçava a cabeça.
“Entendo. Acho que está certo. Obrigado por me lembrar, Anne...” enquanto agradecia, ele de repente deu uma guinada.
Rita tinha beliscado seu quadril, suas bochechas inchadas com raiva.
“Sem trair.”
“V-Você entendeu tudo errado!”
“Nah, foi bem óbvio.” disse Angeline.
“Só está a bajulando.” Miriam riu.
“E-Estão querendo me encrencar!” Barnes gritou, vermelho de orelha a orelha.
“O que vocês idiotas estão fazendo...?” Byaku murmurou, balançando a cabeça em aborrecimento.
Enquanto isso, a discussão parecia ter terminado e Belgrieve e Kasim voltaram.
“Nós resolvemos as coisas na maior parte. Devemos estar bem indo para a floresta agora.”
“O que, ainda não sacaram a espada? O que estavam fazendo, então?” Kasim disse, distraidamente acariciando sua barba.
“Quero dizer.” Angeline fez beicinho. “A espada fica brava quando tentamos tocá-la.”
“Hmm?” Belgrieve olhou para a lâmina com um olhar duvidoso no rosto. A espada continuou a emitir sons fracos de rosnados e flashes de luz. Era uma espada viva; ele não sabia se isso significava que estava vivo da mesma forma que um humano, porém sem dúvida possuía alguma forma de vontade. Além do mais, era tão longa quanto Graham era alto, então com certeza seria bastante pesada. Embora Graham fosse capaz de empunhá-la com facilidade, eles seriam capazes de movê-la mesmo que pudessem retirá-la do chão? Com isso dito, também não significa que poderiam deixá-la para trás.
Belgrieve virou-se para Angeline.
“A espada está viva, então que tal tentar perguntar?”
“Perguntar...?”
“Sim. Quero dizer, você não gostaria de ser arrastada para algum lugar sem saber o motivo, não é?”
Angeline assentiu e ficou na frente da espada, gentilmente colocando a mão em seu punho. A espada soltou um rugido assustador em resposta.
“Não fique com raiva... Nós só queremos levá-la para o velho Graham...” ela envolveu os dedos ao redor do cabo e o agarrou. Angeline podia sentir um calor estranho em seu aperto de pano. “Que tal ajudar um pouco para nos levar até ele...?”
Os rosnados suavizaram, e o que tinha sido flashes ofuscantes diminuiu para um brilho mais suave. Querendo saber se a mudança significava que a espada havia dado seu consentimento, Angeline colocou um pouco de força e deu um puxão. Como se sua obstinada resistência fosse um sonho ruim, a lâmina deslizou suave de seu lugar de descanso. Angeline inadvertidamente se viu cambaleando para trás.
“Acho que deve ser pesada.” disse Belgrieve.
Angeline balançou a cabeça.
“É o oposto... É incrivelmente leve.”
Ela havia antecipado um pouco de peso, então sua leveza inesperada a desconcertou.
Angeline agarrou-o com as duas mãos e deu um golpe de teste. Ela podia ouvir a lâmina cortando o vento e seu rosnado. Ela balançou com tanta força que temeu que arrastasse seu corpo junto, mas no momento em que quis pará-lo, a espada parou completamente. Angeline nunca havia empunhado uma grande espada antes, porém poderia lidar com esta como faria com uma espada normal.
Angeline se viu olhando para a lâmina, enfeitiçada. Sua própria figura se refletia em seu brilho espelhado.
“É linda.”
“Está ficando convencida agora?” perguntou Miriam.
“Não, esta espada... É uma garota. Uma muito bonita também. É como uma princesa severa, afetada e adequada...”
“As espadas podem ser masculinas ou femininas?” perguntou Anessa.
Angeline assentiu.
“Eu não sei sobre outras espadas, contudo esta é uma menina. Está dizendo que não tem jeito e que vai emprestar sua força. Parece que adora bastante Graham...” a espada de repente ficou mais pesada do que Angeline poderia ter imaginado, forçando-a freneticamente a apoiar as pernas. O brilho da espada assumiu um leve tom vermelho.
“Hehe...” Angeline riu. “Não há necessidade de ficar tão envergonhada.”
“Ela é estranhamente expressiva...” Belgrieve concluiu com um sorriso irônico. Mesmo que estivesse tão quieta quando Graham a carregava, ele pensou. Angeline acariciou a lâmina na lateral para acalmá-la.
“Acho que se mostra forte quando o velho está por perto...”
“Hmm, de repente essa espada parece muito mais bonita, então.” Miriam riu. A espada rosnou e cintilou em protesto.
A espada havia sido extraída e, portanto, não havia mais necessidade de ficar por perto. O rosto de Belgrieve estava marcado por uma determinação sombria.
“Tudo bem, vamos embora. Ange, você deveria segurá-la. É provável que consiga lidar com ela melhor do que qualquer um de nós.”
“Entendi!” Angeline assentiu alegremente e apoiou a espada em seu ombro.
O grupo da floresta consistia em Belgrieve, Angeline, Kasim, Anessa, Miriam e Byaku. Além destes, Sasha, Jake, Sola e Kain estavam acompanhando. O que acabou por criar um grande grupo de dez membros. Charlotte permaneceria na vila com Seren. Em simultâneo, Barnes, Rita e os outros jovens se tornariam a espinha dorsal das defesas de Turnera.
Todos os viram partir da entrada da vila.
“Cuide-se, pessoal... Sash, por favor, não faça nenhuma loucura.”
“Não precisa se preocupar, Seren! Temos Ange e Kasim, e o mais importante de tudo, temos o Mestre!” Sasha declarou, estufando o peito.
Charlotte cerrou os punhos, um pouco ansiosa.
“Tenham cuidado... Voltem para casa em segurança.”
Belgrieve sorriu e colocou a mão na cabeça da garota.
“Cuide da casa por nós.”
Então seu olhar voltou para a floresta, que não parecia diferente do normal. Uma busca de vida ou morte estava prestes a começar, no entanto isso criava um forte contraste com a detestavelmente quente e acolhedora luz do sol que caía sobre eles.
O grupo deixou a vila, passando pelos trigais devastados até chegarem à orla da floresta. Nada parecia ser notavelmente diferente.
Kasim apertou os olhos enquanto olhava mais fundo.
“Eles fugiram. A floresta por aqui é apenas a floresta normal. Aquelas árvores que atacaram a cidade devem estar mais para dentro.”
“De onde vieram, pra ser exato?” Belgrieve murmurou, embora em seguida se lembrou do que Seren o havia dito sobre as sombras da Floresta Antiga. Talvez as árvores tenham atravessado as montanhas, atraídas pela mana de Mit. Se for o caso, só pioraria as coisas — não haveria nada que pudesse fazer se aquelas árvores voltassem para sua casa na Floresta Antiga.
“Vamos, depressa.”
O grupo entrou na floresta com toda a pressa.
Muitas das árvores que apareceram na vila ostentavam troncos velhos e retorcidos. Estavam magnificamente envoltas em musgo pendurado, e isso por si só era o suficiente para saber que nenhum destas árvores estava aqui. As árvores ao seu redor ainda eram jovens, baixas e cheias de vegetação fresca.
O mais peculiar, no entanto, era o fato de que o chão da floresta parecia imperturbável, apesar da passagem de um exército tão grande. Nenhuma das árvores nativas parecia ter sido derrubada também. As florestas chegaram a um tipo de compromisso? Eles têm um senso de parentesco? Belgrieve se perguntou.
Quase não havia vestígios e nada para indicar o caminho, e mesmo assim Angeline — sua vanguarda — avançou sem um pingo de hesitação. Ela se moveu com tanta ousadia que na verdade os deixou ansiosos.
“Estamos indo na direção certa?” Jake expressou suas preocupações.
“Nós estamos... Provavelmente bem.” respondeu Angeline, sem parar.
Sasha perguntou.
“Esse é o seu instinto?”
Todavia Angeline balançou a cabeça e tirou a espada do ombro.
“É essa garota.”
A espada emitia uma luz fraca. Depois de canalizar sua mana por tanto tempo, a espada parecia ter formado um vínculo profundo com Graham. Essa sinergia não desapareceu mesmo quando estavam tão longe, e assim os passos de Angeline foram guiados pela espada. Portanto, não havia com o que se preocupar. A conexão de Graham com a espada era forte e não havia como confundir sua orientação.
Mesmo assim, por mais que seja uma espada viva, era incrível para um guerreiro se gabar de tal vínculo com sua lâmina. A compreensão simultânea desse fato fez Belgrieve, Sasha, Jake e Sola soltarem longos suspiros.
O grupo continuou caminhando cada vez mais fundo nas profundezas sem um segundo de descanso, seus arredores aos poucos se tornando densos com folhagem e o número crescente de árvores altas. O céu que vislumbraram através das aberturas estava distante e claro, transbordando com a luz do sol quente, entretanto as folhas o bloquearam antes que atingisse o solo sob seus pés. Por esse motivo, quase não crescia grama ali. Em vez disso, as folhas murchas que se acumularam nos meses frios anteriores permaneciam suavemente sob cada passo.
O grupo não precisava ser lembrado de ser cauteloso com os arredores. Algo sem dúvida os estava observando.
“Acha que é um demônio?” Kain deu um suave sussurro para Kasim.
“Bem, quem poderia afirmar? Talvez uma dessas árvores esteja escondida entre as normais.”
Os jovens aventureiros olharam em volta confusos.
“Hehehe.” Kasim gargalhou. “Brincadeira, brincadeira. Nós saberíamos na hora se fosse algo assim.”
“Bom, não é mais uma piada.” disse Belgrieve, olhando por entre as árvores. O grupo seguiu seus olhos e engoliu a respiração. Um pastor de árvores se aproximava devagar. Sasha sacou sua lâmina.
“Nós lutamos?” ela perguntou a ele.
“Espere...” Belgrieve não sentiu nenhuma hostilidade. Sua mão manteve um aperto firme no punho da espada, mas esperou que o pastor se aproximasse. Logo estava na sua frente com o leve balançar das folhas, parando a apenas alguns passos de distância.
Angeline mudou seu controle sobre a grande espada e saiu na frente.
“De que lado você está?”
“Qual lado?” Anessa inclinou a cabeça. “Do que está falando, Ange?”
“Havia um pastor que pediu minha ajuda...”
“Houve? Então alguém está controlando os pastores?” perguntou Miriam.
“Eu não sei...” Angeline só sabia que nem todos eram inimigos.
O pastor ficou parado, olhando em silêncio sem dizer uma palavra, então começou a balançar levemente da direita para a esquerda. As folhas em seu rosto faziam um leve farfalhar.
Salve-os.
“O-O que foi isso agora...?”
“Falou?”
A confusão era evidente nos rostos piscantes de Sola e Jake.
O pastor de árvores balançou seu corpo mais uma vez: Liberte-os.
“Libertar...? O que nós temos que fazer? E para quem?” Belgrieve perguntou, antes de se virar bruscamente e circular para o fundo do grupo. “Em guarda! Algo está vindo!” gritou, desembainhando sua espada.
Em um piscar de olhos, toda a área estava envolta em hostilidade. Caçadores Cinza irromperam entre as árvores, com um Cão Infernal de classificação mais alta liderando o bando. Antes que esses monstros lupinos pudessem se aproximaram, eles se chocaram contra algo — os círculos mágicos invisíveis de Byaku. Este contra-ataque surpresa interrompeu o ímpeto de seu avanço diabólico.
Sem deixar a oportunidade passar por ela, Sasha entrou na briga como uma tempestade, sua espada balançando ao seu redor. O arco de sua lâmina era flexível como um chicote e, com sua técnica, despachou a vanguarda em grande velocidade.
“Oh, nada mal.” Kasim sorriu, girando o dedo no ar. Sua mana rodopiante sacudia suas roupas e as folhas das árvores próximas. Vários raios de magia se manifestaram no ar ao seu redor e dispararam, acertando com precisão um monstro após o outro.
“Hehehe, traga algo mais forte da próxima vez.”
“Hey, não gaste muita energia, Kasim. Não sabemos o que enfrentaremos depois.”
“Isso não é nem um aquecimento para mim.” Kasim parecia imperturbável enquanto matava mais lobos em sucessão. Qualquer um que escapasse de seu ataque era eliminado sem esforço com a magia de Miriam e as flechas de Anessa.
Dois Ranks S e três Ranks AAA — esta era uma formação de batalha que só seria formada para um pedido de guilda do mais alto grau. Contra tal grupo, Caçadores Cinza e Cães Infernais não eram nenhum desafio. Quase não demorou muito antes que todos os monstros fossem despachados.
A batalha acabou antes que Sola pudesse encontrar o momento certo para se juntar à briga, então quando embainhou sua espada, ela o fez com um olhar bastante insatisfeito.
“Vocês são muito fortes... Não havia espaço para nós.”
“Se não precisa desperdiçar sua energia, então não...” disse Angeline. Ela também permaneceu imóvel, permitindo que os outros lidassem com a ameaça, então se virou para Belgrieve.
“Certo, pai?”
“Sim. Porque isso com toda certeza não é o fim.”
E estava certo. Eles não tiveram tempo de recuperar o fôlego antes que as profundezas da floresta se agitassem e uma única grande árvore aparecesse, agitando seus galhos nodosos e retorcidos. Hordas de insetos grandes e irreconhecíveis subiam e desciam por seu tronco maciço.
“Oh, isso é desagradável!” os ombros de Miriam estremeceram, seu cabelo se arrepiou enquanto preparava seu cajado.
“Estou sofrendo algum dano mental aqui...”
“Eu odeio como suas pernas se movem.” Sola e Kain fizeram caretas.
Os insetos tinham corpos achatados e seis patas. Suas carapaças eram ricamente coloridas, porém tinham padrões bizarros e não eram agradáveis de se olhar por qualquer extensão da imaginação. Aqueles do grupo que eram fracos para insetos já tinham ficado de joelhos só de vê-los. Para piorar a situação, uma enorme centopeia roxa emergiu das cavidades da árvore. A maneira como suas muitas pernas se moviam era uma visão arrepiante.
Kasim parecia bastante enojado enquanto estendia os dedos.
“Não quero olhar para aquilo mais do que o necessário. Vamos esmagá-lo e seguir em frente.”
“Posso...?” Angeline deu um passo à frente. A espada de Graham brilhava sobre seu ombro. Com sua criação no campo imersa na natureza, parecia que os insetos eram a menor de suas preocupações. “Deixe-me alongar um pouco.”
No segundo em que viu Kasim acenar em aprovação, Angeline ergueu a grande espada. A lâmina, rosnando e brilhando ao mesmo tempo, transbordou com rajadas rodopiantes de mana que fizeram o cabelo preto de Angeline se arrepiar. Os insetos enrolados no tronco desceram ao chão logo em seguida e correram em sua direção. Angeline deu um passo à frente com decisão e com um forte “Hah.” balançou a lâmina para baixo.
Como uma imensa onda de choque, uma torrente de mana foi expelida da lâmina, arrancando a terra abaixo e esculpindo as rochas e árvores ao redor. Os insetos atacando-a foram pulverizados por completo. Fragmentos de carapaça e fluidos sangrentos foram lançados para longe, contudo todos foram consumidos pela violenta torrente de energia. Este único ataque rasgou os galhos e o tronco da árvore que transportava os insetos para o campo de batalha, que parecia que cairia a qualquer momento.
Embora tenha sido a própria Angeline quem golpeou com a arma, a própria pessoa ficou estupefata com seu poder evidente. Agora, o rosnado e o brilho da espada tinham um tom de orgulho e realização, como se esperasse receber aplausos estrondosos por sua façanha.
“Isso é totalmente injusto. Parece que não vou derrotar Graham tão cedo.”
A lâmina sagrada encabeçou a lista dos já tremendos pontos fortes de Graham. Como alguém pode esperar igualar-se a ele? Angeline pensou com um estremecimento enquanto firmava a mão. O grupo que assistia por trás ficou imóvel, boquiaberto.
“W-Wow...”
“Há ainda menos espaço para nós do que da última vez...”
“Ahh, pensar que seria capaz de testemunhar a Valquíria de Cabelos Negros empunhando a espada do Paladino.” comentou Sasha. Ela parecia estar profundamente comovida até o âmago.
Recordando a última vez que um incidente aconteceu na floresta, e como Graham conseguiu erradicar o demônio grotesco por trás dele com um único golpe, Belgrieve deu um leve sorriso. Quem teria pensado que seria capaz de ver minha própria filha fazer algo assim?
O tronco ferido balançou para frente e para trás por alguns momentos antes de se inclinar e virar com um baque no fim. Seu tronco estava em frangalhos, como se tivesse apodrecido por dentro.
“Hmm...” Belgrieve estreitou os olhos e correu até o tronco. Ao vê-lo agachado com o cenho franzido, Angeline e os outros se apressaram em acompanhá-lo.
“O que foi, pai...?”
“Ossos. Ossos humanos.”
De fato, havia o que pareciam ser restos humanos espreitando entre os fragmentos de madeira podre.
“Da vila...?” Byaku murmurou, fazendo o rosto de Angeline mudar.
Belgrieve balançou a cabeça.
“Não, não pode ser. Todos em Turnera foram contabilizados. Mais importante, estes são ossos antigos.”
“Que estranho... Uma árvore que cresce usando cadáveres como nutrientes teria ossos em suas raízes. Não seu tronco.” disse Kain.
Belgrieve assentiu.
“Elas são mesmo um enigma. Não podemos subestimá-los.”
“Bem, o fato de termos encontrado um significa que devemos estar chegando perto.” Kasim gargalhou, ajustando o chapéu na cabeça. Tinha sido derrubado pelo impacto da queda calamitosa da árvore.
De repente, eles ouviram outro estrondo — desta vez, vindo de trás. Como se tivessem vindo pelo mesmo caminho que o grupo havia seguido, várias árvores apareceram, acompanhadas por mais insetoides e lupinos monstruosos.
“Continuam vindo...” Angeline estalou a língua em aborrecimento, no entanto antes que pudesse se encarregar da situação, Sasha interveio. Em seus flancos estavam Jake e Sola e Kain fornecendo apoio.
“Por que deixar que esses pequenos incômodos os atrapalhem? Vamos interceptá-los aqui, então todos sigam em frente!”
“Nesse ritmo, nem vou saber por que viemos aqui!”
“Sim, vamos mostrar os resultados do nosso treinamento!”
Belgrieve refletiu sobre o dilema. Se todo o grupo se unisse contra o inimigo, as árvores e os monstros não seriam nenhuma ameaça. Todavia estava preocupado com Graham e Mit, e sabia que não tinham tempo para ficar parados. Se todos enfrentassem todos os inimigos que viessem, o sol se poria antes que pudessem alcançar a floresta em fuga.
Deixando Sasha de lado, os três jovens aventureiros vão ficar bem? Enquanto Belgrieve refletia a respeito, Anessa e Miriam lhe deram um tapinha nas costas.
“Nós também vamos ficar. Só posso adivinhar, mas provavelmente haverá muito mais vindo depois.”
“Sim. Se você está investindo contra a base deles, prefere ter Ange e Kasim junto, certo? Vamos nos juntar depois de cuidarmos desses monstros.”
“Tudo bem... Estou contando com vocês.” Belgrieve sorriu para eles antes de virar as costas. Ele olhou para o pastor de árvores que ainda estava parado ao lado; olhava-o suplicante através de seus buracos nodosos.
Por favor.
“Vamos.”
“Tudo bem! Todos, cuidem-se...”
“Boa sorte, Ange!”
Deixando seis para trás, os quatro restantes correram na frente.
Belgrieve deu um leve suspiro enquanto ouvia os sons da batalha vindos de trás. Em uma situação ideal, deveria ter ficado para trás e permitido que Anessa e Miriam fossem em frente, porém com Mit em mente, uma parte sua apenas não podia deixar ninguém lidar com o assunto. Afinal, foi decisão de Belgrieve trazer Mit de volta para Turnera. Mesmo que houvesse uma maneira mais confiável de lidar com a crise, não pareceria certo se ele deixasse de assumir a responsabilidade por suas decisões.
“Estou sendo egoísta?” não consigo agir de acordo com a minha idade... Belgrieve coçou a cabeça, então notou Kasim rindo enquanto corria ao seu lado. Belgrieve encarou-o interrogativamente.
“O que é tão engraçado?”
“Bem, sei que pode não ser a hora ou o lugar certo... Contudo estou feliz por poder explorar outra masmorra com você. Hehehehe.”
“Que coisa.” Belgrieve suspirou. É verdade que não era um sentimento ruim, no entanto aquelas ondas de nostalgia podiam esperar. Ele reforçou seu foco enquanto dava um gracioso salto por sobre as árvores caídas e caminhava a passos largos no terreno irregular.
Gradualmente, os galhos acima formaram um dossel com várias camadas de profundidade. O líquen e os musgos se espalharam mais e a atmosfera abaixo mudou. O cheiro forte de grama enchia o ar, sombras estranhas pairavam sobre suas cabeças e o céu azul havia desaparecido para sempre. À frente deles, árvores emaranhadas umas nas outras para bloquear seu caminho. Parecia que por fim haviam alcançando a floresta.
Não havia mais razão para correr de forma imprudente. Os quatros esgotariam sua resistência se continuassem a correr. O grupo diminuiu o ritmo, dedicando ainda mais energia à vigilância dos arredores. Embora não parecesse haver nenhum monstro por perto, parecia que algo os estava observando constantemente.
“Estamos no meio do nosso inimigo.”
“E agora, Bell?”
“Você está me perguntando... Bem, tanto faz. Ange, assuma a liderança. Por favor, ouça a espada e nos guie. Kasim, Byaku, fiquem atrás dela. Eu vou cuidar de nossas costas. Byaku, você só precisa se concentrar na defesa. Ange e Kasim têm poder ofensivo mais do que suficiente. As árvores podem muito bem se virar contra nós, então fique de olho no que está acima também...”
Belgrieve examinou a área enquanto dava ordens sem hesitação. Seu porte estava muito distante do simples fazendeiro balançando uma enxada em seus campos que estava em Turnera.
Byaku olhou para Angeline duvidosamente.
“Por que está sorrindo?”
“Hehe... Não é nada.” Angeline sorriu antes de levantar a espada no alto e afiar seus ouvidos para seus rosnados.
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