domingo, 16 de julho de 2023

Boukensha ni Naritai to Miyako ni Deteitta Musume ga S Rank ni Natteta — Volume 07 — Capítulo 85

Capítulo 85: Quando a porta foi aberta

Quando a porta foi aberta, uma brisa de verão passou pelo garoto ruivo e inundou a sala. O sol poente da tarde filtrava-se pelas janelas que haviam sido deixadas abertas, revelando todas as partículas de poeira levantadas pelo fluxo de ar.

Sentado na cama perto da parede, o garoto de cabelos cor de palha ergueu os olhos surpreso.

“Hey!”

“Como está se sentindo?”

“Nada mal, mas — cough, hack!”

O menino se dobrou quando teve um ataque de tosse. Carrancudo, ele apertou o peito.

“Droga... É só minha garganta... É a única coisa que não vai melhorar.”

“É porque você inalou diretamente...”

O garoto ruivo tirou uma maçã da cesta que trouxera consigo. Ele começou a descascar a pele com mãos magistrais.

O último rastreamento de masmorras terminou quando o garoto de cabelos louros pisou em uma armadilha e inalou a névoa venenosa que saiu dela. Por sorte, sua vida não corria perigo, porém estava acamado há vários dias. Enquanto estava fora do serviço, os outros três membros do grupo cuidavam de trabalhos menores, em grupo ou sozinhos, para sobreviver. O garoto ruivo acabara de voltar de uma missão de coleta de ervas.

Mordendo uma fatia de maçã, o loiro resmungou.

“Não posso parar por aqui. Não pode ser isso...”

“Não adianta ficar impaciente. Deveria estar grato por seguir vivo.”

“Claro, e eu estou... Você vai sair em outra missão de coleta de ervas depois?”

“É provável.”

“E os outros dois?”

“Não sei dizer. Ambos disseram que tinham algo para comprar, então estão de folga hoje.”

O garoto de cabelos ruivos mordeu uma maçã com indiferença. Enquanto isso, seu companheiro de cabelos claros se apoiou taciturnamente contra a parede ao lado da cama.

“Desculpe... A partir de amanhã, voltarei a — cough, wheeze!”

“Não se force, já falei. Estarei muito ansioso para deixar a vanguarda por sua conta até que se recupere por completo.”

“Se me recuperar, isso é... Parece crônico para mim...”

Foi nesse momento que a porta se abriu de novo, e uma garota élfica e um garoto de cabelos castanhos entraram.

“Olá, como está se sentindo?”

“Nada mal, nada mal. Contudo não consigo parar de tossir...”

“Imaginei. Pegamos um pouco do veneno em nossos olhos e garganta, e foi o suficiente para doer como o inferno. Não é de se admirar que esteja perdendo a conta depois de ingerir tanto.” o garoto de cabelos castanhos observou, gargalhando.

“Cala a boca. Por que vocês estão aqui?”

“Por você. O que mais seria?” disse a elfa, espalhando o conteúdo de sua bolsa sobre a mesa. Havia diversas variedades de ervas e frutas, além de uma garrafa de óleo de éter.

O garoto de cabelos castanhos sorriu.

“Depois de procurar por todo o lugar, por fim conseguimos tudo. É melhor nos agradecer.”

Então os dois começaram a picar as ervas e frutas, adicionando-as a uma tigela grande. O óleo de éter foi derramado sobre a mistura.

“O que vão fazer com isso?” perguntou o garoto ruivo, que espiava por cima de seus ombros com curiosidade.

“Você vai ver.” disse a garota. Ela pegou a tigela e trouxe para a cama. “Agora dê uma cheirada nisso.”

Apesar do olhar duvidoso em seu rosto, o loiro aproximou seu rosto e respirou fundo.

“É... Meio refrescante. Eu acho.”

“Não é? Esse formigamento em sua garganta diminuiu um pouco?”

“Sim. Ah, esse remédio vai me deixar melhor?”

“Não tenho tanta certeza. Pode ser apenas um alívio sintomático. Tanto quanto posso dizer, o estrago já foi feito.”

“Sério...?” os ombros do garoto loiro caíram, sua decepção era palpável.

O garoto de cabelos castanhos e a elfa trocaram olhares.

“Vamos, vamos. Sua tosse se acalma quando o inala. Basta carregá-lo e...”

“Como vou andar por aí com um líquido? Já tenho remédios suficientes para lidar. Como vou pegar o certo quando precisar?”

“Hmm?” o garoto ruivo pensou por um momento. Ele cruzou os braços e finalmente disse. “Então, resumindo, está usando óleo de éter para extrair os componentes certos, correto?”

“Sim, está certo. Desde que estejam de molho por tempo suficiente, pode retirar as ervas.”

“Óleo de éter... Tem um coagulante para isso, eu acho. Dá endurecê-lo e carregá-lo? Coloque-o em um sachê e pendure-o em algum lugar importante. Dessa forma, não vai misturar com mais nada.”

O garoto de cabelos escuros bateu palmas.

“É isso! Boa ideia! Então, como vai ser? Consegui fazer, certo?”

A garota elfa assentiu.

“Certo... Se reduzirmos a quantidade de coagulante, podemos fazê-lo vaporizar. Hey, boa ideia.”

“Bom...” o garoto ruivo coçou a cabeça timidamente com o elogio.

O garoto de cabelos louros deu outra mordida em sua maçã.

“Então, se eu tiver esse remédio, posso estar de volta amanhã, não é? Tudo bem! Vou compensar todo o tempo que perdi!”

“É bom estar motivado, no entanto não vá se precipitar de novo.”

“Não queremos acabar precisando de outro remédio agora, não é? Hehehehe.”

“E-Eu sei!” o menino de cabelos cor de palha murmurou e desviou o olhar, a elfa rindo com a visão.



A travessia os levou apenas por um único muro de pedra, mas a sensação de estar em uma terra estrangeira já era palpável. Na verdade, a parede corria ao longo da fronteira nacional e, embora a arquitetura não tivesse mudado muito deste lado, as características faciais daqueles por quem passavam tendiam mais fortemente para Tyldes, e o cheiro de especiarias no ar havia também ficou mais forte. Embora a arquitetura fosse em grande parte a mesma, as decorações pareciam ter sutis diferenças do estilo imperial. Eles estavam se mantendo compostos, porém seus corações estavam palpitando tão ferozmente que não sabiam o que fazer a respeito.

Angeline olhou em volta, respirando fundo.

“É até como... Se o próprio ar fosse diferente.”

“Oh, vamos lá. Você acabou de sair do Ponto de Checagem. Não vai ser tão diferente, certo?”

“Acha mesmo isso, Anne?” perguntou Miriam.

“Bem... Hmm...?” parecia que Anessa também estava começando a sentir a atmosfera estrangeira. Ela cruzou os braços, resmungando consigo mesma. De sua parte, Miriam parecia bastante alegre, e Marguerite exalava alegria em cada centímetro de seu corpo.

De qualquer forma, ficar parado tonto não os levaria a lugar nenhum. Só vou causar frustração para o pai assim, pensou Angeline, estufando o peito com um senso de responsabilidade adulta. Contudo, quando olhou para o pai, viu que seus olhos também estavam ansiosos ao redor, apesar de seu exterior calmo. Na verdade, Kasim era o único que parecia de fato imperturbável.

Oh, então o pai e eu somos exatamente iguais. O pensamento encantou Angeline.

“E agora? Procuramos uma caravana?” ela perguntou, segurando o braço dele.

“Certo... Pode ser mais rápido passar pela guilda.”

“Sim, e devemos aceitar um pedido de seguranças enquanto estamos nisso. Viagem segura e dinheiro — são dois coelhos com uma cajadada só.” sugeriu Kasim, rindo.

De fato, seu grupo ostentava dois aventureiros de Rank S — para não descontar Anessa e Miriam, que eram ambas de Rank AAA. E enquanto o Rank de Marguerite era baixo, suas habilidades reais de combate a colocavam-na no escalão superior dos aventureiros. Então havia Belgrieve também — nem precisava ser dito. Com certeza qualquer um pagaria um bom dinheiro por essa formação.

Sorrindo, Angeline abraçou o braço de Belgrieve com mais força.

“Então vamos para a guilda, pai.”

“Sim. No entanto é uma cidade nova; temos que ter cuidado para não nos perder...”

Belgrieve estreitou os olhos, olhou em volta até encontrar um marco e lentamente se dirigiu para ele. A estrada era larga para permitir que as carruagens entrassem e saíssem, e estava repleta de lojas de todos os tamanhos em ambos os lados que fervilhavam de atividade. Houve até mascates que, assim que passaram pelo Ponto de Checagem, espalharam suas mercadorias e abriram a loja no local.

Descendo a estrada principal — que estava envolta em uma nuvem de poeira constante de todo o tráfego — e então ao longo de uma rua lateral, encontraram a guilda. Era uma grande construção de pedra e madeira, de dois andares, e sua porta nunca permanecia fechada nem por um momento. Havia vários tipos de aventureiros vagando do lado de fora porque o prédio aparentava estar lotado demais para entrar. E era bastante turbulento lá dentro — tão animado quanto a guilda em Orphen, embora houvesse mais pessoas adornadas à moda de Tyldes. Angeline reconheceu que seus olhos podem só ter sido atraídos para eles como consequência de viajar para uma terra estrangeira.

“Agora o que fazer...? Para começar, devemos ir até a mesa e conversar com o pessoal da guilda...” Belgrieve sugeriu, acariciando sua barba.

“Será muito mais rápido enviar Ange e Kasim.” disse Anessa.

Belgrieve assentiu.

“Certo. Eles podem estar mais interessados em ouvir os aventureiros de Rank S. Vocês podem cuidar dessa parte?”

“Deixe comigo!” era uma alegria ser confiada por seu pai. Angeline sorriu enquanto arrastava um Kasim bastante entretido através da multidão. Assim como em Orphen, havia um balcão reservado apenas para aventureiros de alto escalão, e estava um tanto vazio em relação ao outro. Guildas menores agrupariam todos os aventureiros em um balcão, entretanto quanto mais aventureiros uma guilda hospedasse, mais contadores precisavam. Era apenas natural para uma cidade tão grande quanto Yobem.

Não demorou muito para que estivessem diante de uma recepcionista sorridente.

“Olá. O que posso fazer por vocês hoje?”

“Estamos procurando por alguém indo para o sul ao longo das montanhas.” disse Angeline, passando sua placa de ouro de aventureiro pela mesa.

A princípio, a recepcionista ficou surpresa.

“Rank S... Você está procurando por um pedido de escolta, então?”

“Sim. Estamos indo nessa direção de qualquer maneira, então vamos trabalhar para pegar alguns trocados.” disse Kasim. Ver mais uma placa Rank S deixou a recepcionista boquiaberta.

“Dois Ranks S... En-Entendido. Verei o que posso fazer. Por favor, preencha suas informações aqui.”

Angeline começou a preencher o papel de pergaminho que a mulher tinha fornecido. O primeiro nome que ela escreveu abalou a recepcionista com mais uma surpresa.

“Angeline... A Valquíria de Cabelos Negros que recebeu uma medalha diretamente do Arquiduque Estogal?”

“Algo parecido.”

Então eles sabem disso, até aqui, pensou Angeline, coçando a cabeça. A recepcionista olhou para frente e para trás entre o papel e Angeline, com as bochechas coradas de excitação.

“Wow, você é uma heroína matadora de demônios! Espero que tenhamos uma caravana para você...”

A competição seria intensa se um aventureiro de alto escalão estivesse disposto a aceitar um emprego barato. Nessa situação, o papel da guilda seria garantir que não se transformasse em caos. Em alguns casos, eles negociavam diretamente com um cliente em potencial e mantinham o assunto em segredo. Independente das circunstâncias, estavam sempre tentando organizar os pedidos de uma forma que levasse em consideração os aventureiros.

Claro, essa era uma vantagem especial de alcançar um alto nível como aventureiro. Era pouco provável que aventureiros de nível inferior pudessem escolher seu próprio trabalho e eram eles que competiam por todas as listas de empregos disponíveis. Foi a competência de um aventureiro que permitiu que a guilda criasse novos trabalhos para sua demanda.

A recepcionista folheou uma pasta de arquivo, com a testa franzida.

“Hmm, quanto tempo pretendem ficar em Yobem?”

“Não temos planos concretos. Se encontrarmos alguém indo para o sul, pretendemos ir junto... Somos todos estranhos para Tyldes, sabe.”

“Entendi... Então não vai ser ida e volta... Hmm... Pelas montanhas, e só ida...”

“Não estamos com pressa.” insistiu Kasim. “Tome o seu tempo procurando. Que tal passarmos de novo amanhã?”

“Oh, hmm, claro! Obrigado, isso é uma grande ajuda para mim.” aliviada, a recepcionista sorriu para Kasim enquanto ele guardava a placa.

“Tudo bem, vamos voltar então, Ange. Viemos até Yobem — qual é o problema em passar um dia vagando por aí e apreciando a paisagem?”

“Você está certo.” Angeline concordou, balançando a cabeça.

O sol ainda estava alto no céu, então o grupo poderia se divertir passeando assim que decidissem onde ficariam. Angeline não podia comprar nada muito volumoso, mas alguns lanches não deviam ser problema algum.

Ela voltou ao saguão com Kasim para encontrá-lo bastante barulhento. Depois de passar pela multidão, ela foi saudada por uma Marguerite furiosa, com Bell a segurando desesperadamente. A seus pés estavam vários aventureiros do sexo masculino gemendo de dor.

“Gostou? Agora, quem é o próximo? Quem mais quer um pedaço meu?”

“Dá um tempo, Maggie! Recomponha-se!”

“Cala a boca! Solte, Bell! Não podem me desprezar só porque sou uma elfa!”

Embora ela estivesse agitando os braços em sua exasperação, Marguerite parou de repente como se uma corda tivesse sido puxada a sua volta. Seus olhos esvoaçaram em perplexidade.

“O-O quê?”

“O que pensa que está fazendo, sua delinquente teimosa?” Kasim perguntou, dando um suspiro. Ao que parecia, a deixou imóvel por meio de magia. Belgrieve, por fim capaz de soltá-la, soltou um longo suspiro.

Marguerite estava uivando. “Vou me lembrar disso, Kasim!” o tempo todo.

“O que aconteceu?” Angeline perguntou, franzindo a testa.

Anessa se separou da galeria de amendoim para explicar.

“Eles estavam começando uma briga, e Maggie os aceitou.”

“Certo, certo. Acontece o tempo todo.” Miriam riu.

As belas feições élficas de Marguerite chamaram a atenção da multidão. A princípio, os homens se aproximaram tentando dar em cima dela, porém logo se transformou em insultos e desprezo depois se recusar a dar-lhes atenção. Isso deixou Marguerite furiosa, e os derrubou em um piscar de olhos.

Tanto Anessa quanto Miriam experimentaram algo semelhante quando começaram e entenderam o sentimento de Marguerite. Assim, as duas ficaram em silêncio, contudo Belgrieve tentou desesperadamente acabar com a confusão. No final, foi o único exalando um suspiro cansado.

“Eu não vou dizer para você não ficar com raiva. No entanto não pode tentar resolver as coisas de uma maneira um pouco mais pacífica...?”

“Até parece, Bell! Como uma aventureira pode fazer negócios se permitir que as pessoas a menosprezem?” agora que ela não conseguia se mover, Marguerite estava colocando toda a sua energia em berrar. Os homens caídos foram levados em seguida por seus aparentes camaradas. A multidão reunida só assistia com intriga.

Kasim se abaixou e bateu no topo da cabeça de Marguerite com a palma da mão.

“Entendo. Você tem sangue quente. Amável. Entretanto devemos ficar em Yobem até que encontrem um trabalho para nós. Achei que poderíamos ir com calma, mas agora está nos fazendo destacar de uma maneira ruim. Continue assim e vou te dedurar para o velho Graham.”

“Hã? Isso é contra as regras!” Marguerite avançou para ele como um verme.

Angeline deu uma risadinha.

“Agitado como sempre... Devemos procurar uma pousada, então?”

“Meu Deus... Eles não tinham um pedido?”

“Bom, haveria um caos se começassem a anunciar dois Ranks S prontos para trabalhar a preços de barganha. Assim, farão algumas pesquisas e retornarão para nós.”

Vendo o sorriso conhecedor de Kasim, Belgrieve deu de ombros.

“Se você colocar dessa forma... Muito bem. Há algumas coisas que quero comprar, então vamos começar procurando uma pousada.”


O grupo deixou a guilda e desceu a rua movimentada, passando por várias pousadas. Porém o tráfego intenso de pedestres apenas tornava mais difícil escolher uma; eles apareceram em algumas pousadas e perguntaram por aí, contudo todas estavam lotadas.

Marguerite foi liberada assim que estavam a uma boa distância da guilda. Ela gemeu enquanto girava seus pulsos e tornozelos dormentes.

“Droga... Deveria ter me deixado surrá-los até virar uma polpa.”

“Estou lhe dizendo, aprenda a saber a hora e o lugar certos. Começar uma briga na guilda dá uma má impressão. Pelo menos arraste-os para o beco primeiro.”

“Hum, Kasim, esse é realmente o problema...?” Belgrieve perguntou, seus ombros caídos. De sua parte, Angeline e suas amigas apenas riram da exibição.

Os aventureiros viviam para a batalha, então eram invariavelmente rápidos em começar uma. Contudo não significava que deveriam causar problemas onde quer que fossem. Como um ex-aventureiro, Belgrieve poderia simpatizar até certo ponto, no entanto sua disposição naturalmente calma e todo o tempo que passou cultivando atenuaram qualquer excesso de espírito de luta que poderia ter sido impulsionado. Era muito difícil agir como um obstáculo para a turbulência de alguém que era mais forte do que ele.

Belgrieve olhou em volta, ainda procurando por uma pousada adequada, todavia as da estrada principal estavam lotadas e não pareciam ter vagas. Era a temporada de comércio e os negócios estavam crescendo. Enquanto colocava as malas em uma posição mais confortável sobre o ombro, podia ouvir suas panelas batendo umas nas outras.

“É inconveniente se for muito longe da guilda...” disse Anessa, suspirando. “Entretanto acho que todas as próximas estão cheias.”

“Certo... Podemos encontrar algo se seguirmos por uma rua lateral, mas podemos nos perder, pois não conhecemos a área.”

A cidade grande também atraiu os pobres. Assim como Orphen, Yobem tinha uma favela bem distante das alegres ruas principais. Aqueles becos também teriam sua cota de pessoas perigosas. Já era possível sentir o olhar incessante daqueles que aproveitariam qualquer oportunidade que aparecesse.

Como elfa, Marguerite chamou um pouco de atenção; seu comportamento deslocado e o tamanho de suas malas também deixavam claro que eles eram estranhos e, portanto, presas fáceis. Afinal, qualquer um teria um ego em seu próprio território. Belgrieve não estava muito preocupado com sua própria segurança — estava mais preocupado com qualquer um que tentasse algo engraçado contra seu grupo.

Colocando suas malas na beira da estrada, revirou os ombros. A rigidez em seu corpo se desfez com um fino estalo.

“O que fazer, o que fazer...?”

“Deveria ter pedido ajuda à guilda...?” Angeline perguntou.

“Hmm, não é uma má ideia. Vamos voltar, então.” sugeriu Belgrieve.

“Vou dar uma saidinha rápida. Apenas esperem por aqui .” disse Kasim. Ele havia desaparecido na multidão antes que alguém tivesse tempo de fazer perguntas.

“Bom... Kasim é o mais viajado de nós, então vamos deixar isso com ele.” Belgrieve sentou-se e exalou um longo suspiro. Coçando a cabeça, imaginou se Kasim havia assumido o comando em consideração ao cansaço de Belgrieve. Ele ainda queria fazer compras, porém não podia baixar a guarda nem por um segundo.

À sua frente passava todo tipo de gente: um comerciante puxando uma carroça, um grupo de aventureiros armados, um grupo de diaristas, alguns meninos de rua, um fazendeiro que vinha vender sua safra... Era um pouco estranho pensar que tantas pessoas variadas viveram vidas diferentes aqui.

“Está cansado, pai?” Angeline perguntou enquanto se sentava ao lado, olhando-o com ansiedade em seu rosto.

Belgrieve sorriu.

“Eu só não estou acostumado. E pensar que estaria viajando para um país estrangeiro na minha idade.” Belgrieve tirou seu cantil de água de sua bagagem. Embora tivesse desenvolvido resistência em seus dias de fazendeiro, o cansaço da viagem e o cansaço do trabalho de campo pareciam completamente diferentes. Apenas lidar com a aquisição de diligências e um lugar para ficar já o deixou exausto. Supondo que encontrassem uma rota ao longo das montanhas — então acampar provavelmente também seria necessário. Sem dúvida seria ainda mais cansativo. Não estava prestes a começar a reclamar, contudo não era jovem o suficiente para administrar apenas com força de vontade.

Ele se sentiu um pouco confuso enquanto tomava um gole d’água.

Angeline desconsoladamente puxou sua manga.

“Não pareça tão derrotado, pai...”

“Ela está certa, Bell. Se já está assim, fico preocupada com o que está por vir.” disse Marguerite ao cutucá-lo no ombro pelo lado oposto.

Belgrieve deu uma risada perturbada.

“Desculpe, desculpe... Entretanto não sou tão jovem quanto todos vocês. Vão com calma comigo.”

“Kasim parece perfeitamente bem...”

“Kasim já teve sua quota de viagens. Eu me estabeleci em um lugar por muito tempo...”

“Mas, Sr. Bell, naquela época, você estava explorando a masmorra tão bem quanto o resto de nós. Certo, Anne?” perguntou Merry.

“Merry não está errada. Porém pensando bem, Sr. Bell, você disse que foi um aventureiro ativo por cerca de dois anos, certo? Há algumas coisas sobre as quais estou me perguntando, dada a sua experiência. Ou seja, não entendo como consegue agir tão bem sob pressão ou de onde vem essa confiança... Como foi seu tempo de aventura?”

“Bem vamos ver...”

Belgrieve cruzou os braços, relembrando em seus dias de aventuras. A maioria de suas memórias eram de Percival, Kasim e Satie, contudo também passou por muita coisa antes de se juntar a eles. Houve alguns pontos de virada importantes em sua vida que os antecederam.

“Para ser sincero, quando comecei... Quase morri em uma masmorra.”

“Essa é uma história que você nunca me contou?” os olhos de Angeline se arregalaram quando ela abraçou o braço de Belgrieve.

“Não, já te contei algumas partes. Lembra daquela história sobre como tive que me virar sozinho na masmorra?”

“Oh! Sim, pedaços, talvez.”

“Acho que nunca te contei os detalhes...”

“Quero ouvi-la!”

“Eu também!”

Marguerite, com os olhos brilhando, também agarrou o ombro de Belgrieve. Acho que temos tempo para matar, considerou Belgrieve. No entanto enquanto reunia a história em sua cabeça, Kasim voltou.

“E aí.”

“Isso foi rápido. Eles o direcionaram para uma pousada?”

“Sim. Foi tão simples que deveríamos ter feito logo no início. Aqui está nosso ingresso.”

Kasim acenou com uma folha de papel. É provável que a guilda o acomodou por causa de seu status de Rank S, pensou Belgrieve com um tom de auto depreciação. Quando estava perto de todas essas pessoas incríveis, não podia deixar de se iludir de que também era alguém incrível. Preciso remediar isso...

Belgrieve se levantou, pegando suas malas.

“Então essa é a nossa primeira parada. Vou contar a história na hora de dormir.”

“Yay!” Angeline ficou de pé animadamente.

Não era uma lembrança divertida. Ele tinha acabado de deixar Turnera, ainda um mero pirralho que não sabia distinguir a direita da esquerda. Então, de repente foi empurrado para a realidade de ser um aventureiro. Foi um evento que martelou em casa o quão difícil sua vida seria. Contudo também fazia parte de uma longa série de acontecimentos que o levaram até onde estava hoje.

Kasim assumiu a liderança e o grupo o seguiu. Belgrieve relembrou os dias passados enquanto caminhavam, o que o fez sentir como se o jovem aventureiro que ele havia sido uma vez estivesse mexendo nas profundezas de seu ser.

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