terça-feira, 18 de julho de 2023

Boukensha ni Naritai to Miyako ni Deteitta Musume ga S Rank ni Natteta — Volume 07 — Capítulo 86

Capítulo 86: O som de sua própria respiração era detestavelmente alto

O som de sua própria respiração era detestavelmente alto. O garoto ruivo espiou a frente da cobertura de um matagal denso, suas costas pressionadas contra uma árvore. O vento estava quente e úmido enquanto enxugava o suor da testa, preocupado. Seu coração martelava como um sino de alarme. Cada vez que ouvia o estalo de um galho, sufocava a respiração e pegava a espada.

Havia algo logo além da escuridão. Por um tempo agora, sentiu o formigamento de mana contra sua pele. A saliva se formou em sua boca, mas estava com muito medo de engoli-la, preocupado que até mesmo o leve som de gole pudesse denunciá-lo.

Eventualmente, a presença desapareceu e o formigamento ficou mais fraco. O garoto deixou seu corpo relaxar um pouco, porém manteve sua tensão nervosa enquanto se afastava devagar. Ele arrastou os pés, tomando cuidado para não pisar em nenhum galho seco ou fazer qualquer som.

Quando estava a uma boa distância do que quer que fosse, recuperou por fim o fôlego. Era como se estivesse expulsando toda aquela ansiedade desagradável de seu peito. Aos poucos, o ritmo de seu coração se estabilizou e seu humor começou a melhorar.

“O que fazer, o que fazer...?” repetidas vezes, sentiu seu espírito atingir o limite. Contudo não podia desistir — não aqui.

Já se passaram cinco dias? Ele podia ver o sol se movendo, no entanto estava tão tenso que havia perdido a noção do tempo de qualquer maneira. Ainda assim, seu estômago sempre estaria lá para lembrá-lo. O menino tirou alguns feijões torrados de sua sacola e os enfiou na boca, demorando bastante para triturá-los entre os dentes. Isso foi seguido por uma lasca de carne seca, que também foi mastigada devagar até virar mingau. Com sua língua, lambeu uma pitada de sal e tomou um gole de água, que passou pela boca para enxaguar antes de engolir.

Ele empurrou seu cantil. Embora tivesse acabado de enchê-lo em uma fonte que encontrara ontem, já estava meio vazio. Todavia havia pouco que pudesse fazer a respeito — poderia beber ou morrer.

Eu quero comer uma refeição cozida... Mas um rápido aceno de cabeça afastou tais pensamentos. Pensar nisso só o deixaria com mais fome.

Era para ser uma masmorra de Rank E. Porém, escondia uma cruel armadilha de teletransporte.

As masmorras foram construídas quando a mana se reunia e se acumulava até que se formasse uma distorção espacial que distorcia o terreno. Elas geralmente não pareciam grandes por fora, contudo não era raro serem tão vastas quanto cidades por dentro. O bom senso era um conceito estranho dentro da masmorra. A mana que os formou poderia tornar todo tipo de coisa possível. Como a mana era ‘mais fina’ em masmorras de baixo escalão, seu layout não tendia a ser muito ultrajante. Nem é preciso dizer que os de nível mais alto conteriam monstros mais fortes, no entanto pior do que isso, seus interiores complicados e a vileza de suas armadilhas eram uma questão totalmente diferente. E, mesmo em uma masmorra de nível baixo, mudanças no fluxo de mana podem criar remendos irregulares.

O garoto ruivo havia sido vítima de um desses.

A julgar pelos monstros à espreita, havia sido enviado para o que era pelo menos uma masmorra de Rank A. Um novato Rank E estaria morto no momento em que baixasse a guarda.

Ele não tinha vindo para a masmorra sozinho, estava em um grupo de cinco. No entanto, como era comum entre os jovens aventureiros, todos eram propensos a enfrentar as coisas em vez de pensar nelas. Por causa disso, as palavras de cautela do menino caíram em ouvidos surdos. O garoto era um tanto ingênuo, a ponto de já ter se tornado uma espécie de saco de pancadas dentro do grupo.

“Não vou chorar pelo leite derramado, mas...”

Havia um baú do tesouro deixado em um beco sem saída. Esses eventos não naturais aconteciam em masmorras de tempos em tempos. Alguns disseram que a mana reagia ao desejo humano e os materializava. Outros acreditavam que a mana estava apenas devolvendo os pertences dos aventureiros de outrora, cujas aventuras chegaram a um fim abrupto. A verdade da questão ainda era um mistério.

Assim que os membros de seu grupo abriram alegremente a caixa, um círculo mágico foi implantado sob seus pés e, antes que percebesse, o garoto estava em outro lugar. Ele já havia estado em uma caverna e agora estava cercado por árvores. Era evidente, seus camaradas foram enviados para outro lugar, pois não estavam em lugar nenhum.

Eu disse a eles que era suspeito, pensou o menino, sua raiva crescendo outra vez. Porém, perder a calma só o colocaria em maior perigo. Você vai morrer se fizer isso, lembrou a si mesmo, batendo as mãos no rosto para recuperar o foco.

Independente disso, escapar da masmorra era sua principal prioridade. Precisava seguir em frente de maneira sistemática. Se avançasse de forma impaciente, correria o risco de encontrar um monstro poderoso, perder o caminho ou ficar sem comida ou água.

Ironicamente, ser a mula de carga do grupo foi sua graça salvadora, e não teve problemas com seus suprimentos de comida. Contudo mesmo esses estavam começando a diminuir. No começo o grupo não havia planejado uma longa aventura. Ele tentou esticar seus suprimentos, comendo apenas o suficiente para manter a fome sob controle, no entanto não durou muito. Como estava em uma floresta, forragear era possível, todavia não esperava muito disso. A situação estava ficando mais terrível, e a situação estava afetando seu estado mental.

Se o cara das bagagens está assim, os outros devem ter... Suspirou. Especialmente aqueles caras, que agiam sem pensar — desafiariam um monstro além das suas capacidades ou ficariam com muito medo de se mover. O garoto não teve uma boa impressão do grupo, mas os conhecia há algum tempo, e não era bom imaginá-los mortos.

O garoto ruivo pendurou as malas nas costas e começou a andar devagar.

Ele estava acostumado com a floresta, tendo vindo de uma pequena vila perto de uma floresta e, embora nunca tenha se aventurado muito longe, já havia colhido ervas e cogumelos antes e, às vezes, até caçava. Sabia como se esconder e sabia do que ser mais cauteloso enquanto caminhava.

Evitando com cautela encontros com quaisquer monstros, priorizou sua própria segurança enquanto avançava. Examinou o chão em busca de pegadas e prestou atenção nas marcas nos troncos das árvores. As áreas com pegadas recentes e novos arranhões deveriam ser evitadas; às vezes, até fazia longos desvios para contorná-los.

Ao longo do caminho, subia em árvores para se orientar. Estava progredindo, mas talvez por causa das distorções no espaço, as planícies gramadas além da floresta pareciam estar em outro lugar sempre que verificava.

Houve um som de chilrear. O corpo do menino enrijeceu quando sua mão disparou para a espada. Então, ouviu um farfalhar alto quando algo próximo voou e desapareceu. Um pássaro, talvez.

A área estava ficando mais escura. Desistindo de prosseguir, o menino encontrou uma árvore adequada e começou a escalar. Além de usá-las para obter instruções, também dormia com elas à noite. Isso permitiu que evitasse alguns tipos de monstros.

Na copa da árvore, ele comeu feijão, torrado e seco, e engoliu com água. Restava apenas mais um gole em seu cantil. Vamos torcer para que eu encontre algum lugar para abastecer, pensou enquanto uma carranca cruzava seu rosto. Se fosse de fato necessário, teria que evitar a sede chupando galhos gigantes de corniso, que retinham um pouco de água.

Logo, o sol se pôs e a floresta estava envolta em uma escuridão sufocante. Não havia estrelas nem lua acima, com apenas uma leve cintilação ocasional de uma misteriosa luz verde abaixo. Nas profundezas escuras ao seu redor, monstros ou bestas selvagens ou qualquer outra forma de vida não identificada que pudesse estar lá fora rugiria e zurraria.

O menino ocasionalmente afastava as moscas zumbindo alto em seu rosto enquanto cochilava um pouco. Sua cautela deu lugar à exaustão e ao sono. E uma vez que o sono começou a levá-lo, foi envolvido por um sentimento misterioso. Era como se até a escuridão que o cercava o recebesse calorosamente em seu meio.

Enquanto sua mente permanecia no vago espaço entre a vigília e a deriva, pensou ter ouvido um farfalhar. De repente, foi tomado por uma sensação sinistra e pôde sentir os arrepios subindo em sua pele. Ele não poderia ter escolhido um momento melhor para se levantar, pois algo pegajoso agora pendia onde estivera reclinado momentos antes.

O garoto desembainhou sua lâmina, toda a sonolência já havia desaparecido. Oito olhos vermelhos brilhantes olharam fixos em sua direção.

Belgrieve fez uma pausa para tomar um gole de chá. Angeline estava se inclinando, suas bochechas coradas de excitação.

“E então? E então?”

“Uma aranha, hein? Você a derrotou, certo?” Marguerite cerrou os dois punhos e os bateu contra a mesa para incitá-lo. Os olhos de Belgrieve vagaram em pensamento.

“Derrotar...? Não exatamente. Sabia que tinha que fugir, então fugi.”

“Hã? Você não é nada divertido.”

“Porém estou surpresa que conseguiu.” disse Anessa. “Sua desvantagem era grande ao se deparar com um monstro do tipo aranha em uma árvore.”

Belgrieve assentiu.

“Pensei que era impossível. Para começar, joguei todos os meus suprimentos no chão e pensei desesperadamente em como me descer também. Por sorte, meus olhos se ajustaram ao escuro e pude distinguir os galhos. Desviei dos fios, descendo pouco a pouco... No final, usei meu último sinalizador para atordoá-la e pulei. Minhas pernas estavam dormentes quando peguei minhas bagagens e corri... É o que poderia chamar de uma retirada apressada.”

“‘Ao lutar contra algo mais forte que você, concentre-se em correr e garantir uma rota de fuga. Use o elemento surpresa para atordoar o inimigo...’” recitou Angeline.

“Hahaha, você se lembra bem, Ange.”

Belgrieve sorriu ao ver que Angeline ainda se lembrava do que lhe ensinara quando ela era pequena. Seu sorriso triunfante respondeu ao de seu pai.

“Então essa experiência deve ter te marcado.” disse Miriam, enquanto despejava água quente no bule.

“Sim... De fato foi vida ou morte, naquela época, e talvez isso tenha ajudado a aguçar meus sentidos. Não sei se realmente aproveitei esse tipo de experiência depois disso, contudo com certeza me tornaram mais covarde.” refletiu Belgrieve com uma risada.

Kasim cruzou as mãos atrás da cabeça.

“O que está dizendo?” ele disse, parecendo descontente. “Sua vigilância nos livrou de problemas na maioria das vezes. Não seja tão desdenhoso a respeito desse ponto.”

“Kasim tem razão. Acho incrível que não tenha tentado lutar contra a aranha depois de atordoá-la. Esse seria meu instinto natural... Só aprendi o quanto é importante saber quando correr depois que alcancei os escalões mais altos.” acrescentou Anessa, tomando um gole de seu chá. “Muitos jovens aventureiros perderam suas vidas desafiando imprudentemente inimigos além de suas habilidades.”

Belgrieve coçou a barba com vergonha.

“Haha, estou feliz que tenham entendido dessa maneira...”

A vela cintilou, tendo queimado bem baixo até então. Belgrieve não tinha nada contra ficar acordado até tarde, no entanto estava exausto e sonolento.

“Vamos deixar assim por hoje. É hora de ir para a cama.” disse Belgrieve, se espreguiçando.

“Hmm...” Angeline murmurou antes de soltar um grande bocejo, como se tivesse acabado de perceber seu próprio cansaço. Marguerite parecia querer mais, entretanto sabia que ainda tinham muitas noites pela frente. Ela se levantou sem reclamar.

“Boa noite, pai.”

“Boa noite.”

“Hehehehe, a pequena Ange vai ficar bem sem dormir ao lado do papai?” Kasim perguntou zombeteiramente.

“Ah, pare com isso, Kasim.” Angeline estufou as bochechas e saiu bufando. As meninas riram enquanto cada uma dizia seu próprio “boa noite” e a seguiam para fora.

Belgrieve suspirou e serviu mais chá em sua xícara vazia.

“É uma sensação de solidão ver sua filhinha partir, Bell?” Kasim perguntou se divertindo.

“O que está falando? Pra ser franco, ela acabou de parar de dormir na minha cama e ainda se apega a mim tanto quanto antes.”

“Acho que posso imaginar.”

Ultimamente, Angeline tinha parado de querer dormir na mesma cama que Belgrieve. Talvez a provocação de Kasim a tivesse afetado. A garota não se incomodava tanto com as provocações sobre sua proximidade com Belgrieve. Todavia, era um pouco constrangedor ser tratada como uma criança pequena na frente de seu pai, a quem tanto admirava.

De sua parte, Belgrieve não tinha certeza se isso era crescimento — na verdade, não sabia sequer como chamá-lo. Por mais que Angeline o bajulasse, estava ansioso para saber se sua filha poderia viver sozinha, mas agora que havia provado que podia, ele não podia deixar de se sentir vazio.

Que egoísta da minha parte, Belgrieve se repreendeu enquanto bebia outro gole de chá e relaxava em sua cadeira. Evidentemente, os pais precisam se ajustar tanto quanto os filhos — talvez até mais.

Kasim bocejou.

“Eu me pergunto o que Percy está fazendo agora.”

“Quem sabe? De acordo com Yakumo, ele tem derrotado monstros, dia após dia...”

“Tem...?” Kasim meditou, enxugando as lágrimas sonolentas nos cantos dos olhos. “Porém tenho certeza de que ficará feliz em vê-lo. Você está na mente dele há muito tempo.” Kasim cruzou os braços.

“Espero que sim...”

Contudo, Belgrieve não pôde deixar de se sentir ansioso. O tempo pode curar feridas, no entanto também pode piorá-las. Embora Kasim estivesse otimista com a situação, Belgrieve estava com um pouco de medo — entretanto não encontrar Percival não era uma opção.

“Depois de Percy, teremos que encontrar Satie.” declarou Kasim.

“Acha que vai ser tão fácil?”

“Poderia ser. Surpreendentemente. Quero dizer, você me encontrou tão rápido, e já saímos para ver Percy. Tenho a sensação de que Satie não estará muito longe.”

“Entendo... Acho que é verdade.”

De acordo com Kasim, a magia era a habilidade de usar mana para interferir no mundo exterior, uma ferramenta para realizar os desejos de alguém. Mana fluiu ao longo do mesmo fluxo que a consciência humana e trouxe fenômenos especiais de acordo. Talvez também pudesse atrair acontecimentos fortuitos.

Estamos seguindo o fluxo dos reencontros? Belgrieve se perguntou com os olhos baixos.

“Se desejar, nos encontraremos... É assim?”

“Agora está entendendo! Também fiquei desiludido... Mas acreditar é importante.” Kasim riu enquanto amarrava o cabelo para dormir. “Ainda assim, mal posso esperar. Encontrar Percy é uma coisa, porém também estou ansioso pela jornada. Percy pode ter um ataque de raiva e inveja quando contarmos o contarmos a respeito.”

“Não tenho tanta certeza disso...” Belgrieve não negaria que estava com medo de encontrar Percival, todavia seu desejo era maior. Que tipo de cara ele fará quando o encontrarmos? Belgrieve sorriu e bebeu o resto do chá. A chama da vela cintilou e as sombras dançaram em seus rostos.


“Lá vem!” uma voz gritou da beira do poço. Todos os aventureiros que estavam curvados ficaram atentos e prepararam suas armas.

Uma explosão de ar irrompeu das profundezas, anunciando o surgimento de uma criatura longa e esbelta disparando para o céu. Era um dragão prateado; seu corpo longo e serpentino brilhava com escamas metálicas. Uma crina de cavalo flutuava de sua cabeça e descia pelas costas, e presas afiadas se projetavam de sua boca grande e escancarada. O corpo do dragão se contorceu enquanto voava pelo céu do pôr do sol, seu rugido uma declaração de domínio sobre os aventureiros olhando para ele de baixo.

Os arqueiros e magos atiraram em uníssono. Eles eram todos aventureiros de alto escalão com força para igualar. Porém com outra volta de seu corpo, o dragão golpeou todos os projéteis para baixo. Os aventureiros estavam todos mobilizados agora.

O dragão rugiu outra vez. O som era como uma onda de choque, deixando os aventureiros fisicamente feridos. Seu corpo serpentino ondulava no ar com a flexibilidade de um chicote antes de descer como uma flecha disparada. Como esperado de um grupo de elite, não vacilaram sob o ataque do dragão. De fato, alguns apenas viram uma oportunidade chegando; os espadachins e outros lutadores de curto alcance estavam ansiosos para atacar. Todavia as robustas escamas imbuídas de mana do dragão não podiam ser prejudicadas por meios convencionais.

“Saiam do caminho!”

Um homem empunhando um enorme machado de batalha saltou para frente com sua arma balançando sobre a cabeça, acertando o torso do dragão. O dragão gritou de raiva, balançando a cauda como um chicote. A maioria dos aventureiros conseguiu se proteger ou se esquivar, contudo alguns foram derrubados. Por sorte, nenhum sofreu ferimentos fatais. Os aventureiros imediatamente recuperaram o equilíbrio e prepararam suas armas.

“Isso não vai ser fácil...”

“O mesmo de antes. Sem novidades! Apenas continue atacando!”

No entanto o dragão, com medo de ser atacado, irrompeu no céu mais uma vez. Suas capacidades de voo o tornavam mais difícil de lidar do que gigantes e dragões da terra. Entretanto, todos os aventureiros presentes viram sua parte nas batalhas. Eles não iam perder, mas todos previam uma batalha prolongada.

Naquele momento, alguém começou a tossir perto do final de suas fileiras. O homem com porte de leão emergiu da multidão. Sua testa estava franzida em desagrado quando guardou seu sachê e colocou a mão no punho de sua espada.

Os aventureiros murmuraram entre si ao vê-lo.

“Aquele é...”

O homem olhou ao redor antes de voltar sua atenção para o dragão de prata no céu. A besta devolveu seu olhar, focando em sua presença. Ele claramente o reconheceu como uma ameaça diferente de qualquer um dos outros aventureiros.

“Você... Não será capaz de me matar.” O homem sacou sua espada desinteressadamente. Sua arma era uma espada longa de um gume; seu aço foi estampado com várias ondas em camadas umas sobre as outras.

Sentindo o desdém do homem, o dragão rugiu com raiva, o som intimidador ondulando com força sobre sua pele. Por um momento, parecia que o homem havia encolhido, porém então avançou rápido como uma flecha. Com um passo final — tão pesado que abriu crateras na terra sob seus pés — voou para o dragão, seu pesado manto ondulando atrás dele. Seus olhos nunca se desviaram do dragão, nem a besta desviou o olhar do homem.

A serpente e o homem rugiram ao mesmo tempo. A espada do homem cravou-se para cima...

Por um momento, foi como se todo o som tivesse desaparecido antes que tudo abaixo da cabeça do dragão parecesse ter sido apagado. O torso do monstro era tão pesado que seriam necessários quatro adultos de braços dados para abraçá-lo. Era muito mais grosso do que o comprimento da lâmina do homem, porém mesmo assim sua cabeça havia sido separada do pescoço. Só assim, o cadáver estava em rota de colisão com o solo.

Com seu manto se arrastando em suas costas, o homem caiu de pé. Ele caminhou até o cadáver e, com um golpe de sua espada, raspou um pedaço de carne. Então seguiu seu caminho. Um dos aventureiros que estava assistindo timidamente deu um passo à frente.

“H-Hey, podemos ficar com o resto, como de costume...?”

O homem deu um aceno irritado. Os aventureiros se reuniram sem perder tempo em torno do cadáver do dragão.

“Escamas! Me de as escamas! Os que estão perto da cabeça são as melhores!”

“Alguém mais quer o fígado? Caso contrário, vou levá-lo!”

“As presas estão aqui! As mais longas são minhas!”

“Acalmem-se, pessoal! Hey, onde está minha faca de campo?”

Com um último olhar para a multidão clamorosa, o homem se afastou do desfiladeiro, deixando para trás muitos aventureiros que ficaram encantados com os materiais raros a sua frente. Alguns deles, em conflito, observaram sua partida, no entanto uma garota com orelhas de cachorro o seguiu. Ela o alcançou e puxou sua manga.

“Senhor, senhor.”

Ele olhou para a garota, muito mais intimidador do que o dragão. Contudo a garota não vacilou — seus olhos grandes e redondos encararam-no de voltar.

“Vou preparar um bife de dragão, baby.”

“Não se preocupe.”

“Você sempre queima. É um desperdício.”

“Tch...” o homem irritado estalou a língua antes de empurrar a carne para a garota, fazendo-a cambalear com o peso. Os pingos da costeleta ensanguentada mancharam sua roupa.

“Baby!”

O homem a ignorou e foi embora. Ele matava monstros, porém não mostrava interesse em seus materiais colhíveis. No máximo, cortava um pouco de carne para se sustentar, mas mesmo isso era tratado com descuido — ele salpicava superficialmente com um pouco de sal e jogava no fogo se deixado por conta própria. Foi só depois que a garota com orelhas de cachorro e seu parceiro armado começaram a se envolver em seus negócios que por vezes conseguiu uma refeição decente.

Ele pensou no passado — em uma época em que ainda era um jovem aventureiro, lutando ombro a ombro com camaradas em quem confiava. Lembrou-se de como eles se envolviam em brincadeiras estúpidas e tolas assim que terminavam um trabalho. Muitas vezes, se deliciava com a comida feita pelo garoto ruivo. Naquela época, todos os dias eram tão radiantes; todos os dias, seu coração dançava.

O homem cerrou o punho. Essas deveriam ser memórias calorosas, no entanto sua expressão era amarga. Então, agarrou seu sachê com pressa quando um desconforto nas profundezas de seu peito quase o levou a outro ataque de tosse.

“Que irritante...” o homem murmurou, afastando-se com passos lentos e raivosos.

A garota, cambaleando com o peso repentino da carne, foi apoiada por trás por uma mulher de cabelos pretos.

“O que você pensa que está fazendo?”

“Nós estaremos tendo um banquete hoje à noite.”

“Minha nossa. Uma escama é suficiente. Apenas pegue alguns materiais, ok?”

“Estou bem. Tenho certeza de que aquele velho senhor está sozinho.”

A mulher de cabelos negros suspirou.

“Você quer morar com ele ou algo assim? Não podemos contá-lo sobre o Sr. Bell.”

“É por isso que vou acompanhá-lo até lá. Espera.”

“Como se pudéssemos substituí-lo. Ele só vai te ver como uma praga.”

“Ele me mandaria voando se realmente me odiasse.”

“Hmm... Bem, talvez...”

O rabo saindo das roupas da garota com orelhas de cachorro estava abanando.

“Senhor Bell está vindo... Sei que está. Até lá, vou distraí-lo e garantir que ele não se atormente.”

“Bem... Faça o que quiser. Estou com muito medo de tentar.” a mulher de cabelos negros suspirou, tirando o cachimbo e enfiando-o entre os dentes. A garota menor cambaleou atrás do homem com a carne na mão.

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