quinta-feira, 6 de julho de 2023

Boukensha ni Naritai to Miyako ni Deteitta Musume ga S Rank ni Natteta — Volume 06 — Capítulo 83.6

Capítulo 83.6: Bônus Histórias Curtas

Sasha luta outro dia

Sasha Bordeaux cruzou os braços e refletiu profundamente. Antes de retornar a Bordeaux, queria que o renomado Paladino a levasse a sério o suficiente para pelo menos desembainhar sua espada. Os dois haviam lutado várias vezes desde a partida no primeiro dia, mas não só Graham nunca pegou uma espada durante o combate, como nem sequer usou as duas mãos. Seu estilo de combate móvel que fazia pleno uso de sua agilidade orgulhosa parecia uma mera brincadeira de criança para o velho elfo. Sasha estava orgulhosa quando subiu para o Rank AAA, porém os Ranks S que se reuniram nesses subúrbios do norte quebraram seu frágil orgulho com facilidade.

“Mais diligência! Sim, é disso que preciso!” Sasha assentiu para si mesma algumas vezes. Ela nunca foi de desanimar. Quando testemunhou um domínio de força além do seu, era do tipo que se inspirava em vez de desanimar. Sem que soubesse, essa atitude teve um impacto bastante positivo nos outros aventureiros de Bordeaux. De qualquer forma, ficar deprimida não a estava levando a lugar nenhum. Sasha sentou-se no local e respirou fundo.

“O que me falta... É uma cabeça equilibrada! Não consigo imaginar Sir Graham ou meu mestre Belgrieve deixando suas emoções afetarem sua agilidade!” Sasha murmurou, como se quisesse se convencer. Parecia não ter escrúpulos em colocar os dois nomes no mesmo pedestal.

Por enquanto, decidiu fechar os olhos e meditar. Já tinha ouvido falar que Belgrieve havia alcançado resultados superiores aos demais por meio de sua meditação. Porém, sua cabeça estava girando com muito mais coisas do que esperava, e apenas não conseguia se concentrar — e uma vez que reconheceu esse fato, sua mente começou a sair ainda mais pela tangente.

Apesar de sua irritação com seus pensamentos errantes, só aguentou e continuou sentada quieta mesmo quando Angeline apareceu.

Ela estava pulando levemente e balançando em torno de uma baqueta enquanto cantarolava uma música. A visão de Sasha a fez parar.

“O que está fazendo?” Angeline perguntou.

“Oh, se não é a Ange.” disse Sasha, abrindo os olhos. “Pensei em tentar meditar... Contudo não está funcionando como eu esperava.”

“Hmm.” Angeline se sentou ao lado da garota. O tempo estava bom hoje, resultando em um céu azul profundo com nuvens esparsas como tufos firmes de algodão. As montanhas que sustentavam o céu também eram azuis e captavam a luz de uma maneira que as tornava quase ofuscantes de se olhar.

Envolvendo os braços em volta dos joelhos, Sasha suspirou.

“Você já fez treinamento de meditação, Ange?”

“Não. Na verdade não... Não é o meu forte.” mesmo que ela não se endireitasse e meditasse, Angeline poderia captar o fluxo de mana em seu próprio corpo com o mínimo de esforço.

Sasha agarrou os joelhos com força e, com o queixo apoiado sobre eles, franziu a testa.

“Isso deve ser uma diferença de talento... Não, mas...”

“Não há necessidade de se forçar a ficar parada... Graham disse que se movimentar também pode ser uma espécie de meditação.” disse Angeline, dando um tapinha na cabeça de Sasha.

Sasha piscou, sentindo-se um tanto envergonhada.

“Pensando bem... Aos seus olhos, quão forte é Sir Graham?”

“Forte demais... Conheci algumas pessoas contra as quais pensei que poderia perder. Ele é o único que estou consciente do fato de que nunca venceria.”

“Entendo... No entanto você não perde para ele quando está lutando com as mãos vazias, certo?”

“Se eu levasse a sério, estou confiante de que poderia fazê-lo desembainhar a espada... Porém isso só diminuiria ainda mais minhas chances.”

Sasha cruzou os braços.

“Se você está dizendo isso... Eu tenho um longo caminho pela frente.”

“Quer treinar?” Angeline ofereceu, chicoteando seu bastão ao redor.

Sasha imediatamente se levantou, seus olhos brilhando.

“Posso mesmo?”

“É meu dever salvar uma garota de suas preocupações... Além do mais, todos nós meditamos à nossa maneira.” declarou Angeline com orgulho, estufando o peito.

Sasha pegou sua espada embainhada, olhando entre sua arma e o bastão na mão de Angeline.

“Uh... V-Você não vai usar sua espada?”

“Se não puder me vencer assim... Então está muito longe de enfrentar Graham com a espada.” afirmou Angeline, balançando o bastão. Ainda estava decorado com folhas verdes frescas.

Sasha fechou a boca e assumiu sua posição, a ponta de sua espada ligeiramente inclinada para seu inimigo. Talvez porque estivesse usando uma arma diferente do normal, Angeline segurou o bastão com uma mão, com a outra mão balançando frouxamente. Ela observava Sasha com olhos penetrantes, todavia não revelava nenhuma abertura própria.

Devo tê-la subestimado quando disse que usaria o bastão, pensou Sasha com uma objetividade incomum. No entanto, Sasha já estava lambendo os lábios, sabendo que enfrentaria um inimigo formidável.

Acalme-se, acalme-se, dizia Sasha a si mesma enquanto observava com toda atenção cada movimento que Angeline fazia. Então, Angeline anunciou de repente.

“Se não vier, eu vou.” e avançou.

Angeline já estava bem diante na sua frente. Assustada como Sasha estava, bloqueou o bastão flexível com sua bainha. Do fundo de seu corpo, Sasha podia sentir o calor começando a subir enquanto sua mente se tornava clara. Isso era o que amava, e não podia apenas negar. Havia poucos adversários a sua altura em Bordeaux; quão abençoada foi por encontrar tantos parceiros de alto nível dispostos a tolerá-la agora?

Esta é a minha meditação, pensou Sasha regozijando de alegria. Elas trocaram vários golpes até que a lâmina de Sasha balançou no ar enquanto Angeline a golpeava com o bastão por trás.

“Wah!”

“Você está muito animada. Não pode meditar assim.”

Sasha corou.


Uma visita ao túmulo

O cemitério de Turnera ficava no lado norte da vila. Era um lugar aberto e ensolarado e, embora fosse silencioso, nunca parecia sombrio. Um pequeno riacho corria ao lado dele, que se juntava ao rio maior a uma curta distância.

Em Turnera, onde os espíritos dos ancestrais eram considerados sagrados, o cemitério não era um lugar para luto. Os mortos adormecidos eram como vizinhos queridos e eram reverenciados. E embora não houvesse ninguém oficialmente designado para a função, um ou outro sempre mantinham o local limpo e arrumado.

Foi um dia tranquilo. Um pouco de tempo se passou desde o ataque à floresta, e os campos e as casas foram quase todos reparados. Suprimentos de socorro e trabalhadores da construção chegaram de Bordeaux e estavam trabalhando constantemente para retornar às normas da vida cotidiana.

Dos picos distantes das montanhas, nuvens geladas sopravam no ar e aos poucos mudavam de forma enquanto brilhavam no céu azul. A luz do sol caiu quente no final da primavera e os ventos estavam calmos. Era o clima perfeito para uma soneca à tarde.

De sua parte, Belgrieve e Angeline foram ao cemitério. Eles estavam muito ocupados na vila para visitá-la há muito tempo.

“Que dia lindo...” disse Angeline. Ela se espreguiçou, gemendo de satisfação.

“Um bom dia, de fato.”

Ao redor da entrada do cemitério cresciam árvores de terra, lançando sombra agradável no chão. Suas folhas verdes, que brotaram no início da primavera, agora cresciam de maneira densa.

“Já faz um tempo desde que ficamos sozinhos.” observou Angeline enquanto segurava o braço de Belgrieve.

“Hahaha, acho que você está certa. Afinal, estamos aqui para visitar a família.”

Havia lápides novas entre as antigas, porém os dois poderiam encontrar as mais antigas se fossem para os fundos. Esses marcadores, que antes tinham cantos quadrados, ficaram arredondados devido ao vento e à chuva. Estavam cobertos por uma película de musgo que crescia onde a sombra era mais persistente. Os nomes esculpidos nessas pedras estavam quase gastos, e seria preciso olhar muito e com atenção para distinguir suas inscrições.

“Vovô, vovó, como vocês estão...?” Angeline se agachou e falou com um túmulo. Naturalmente, não houve resposta.

Os pais de Belgrieve morreram quando ele ainda era criança — seu pai, quando ele tinha sete anos, e sua mãe, quando estava com onze. Angeline nunca teve a chance de conhecê-los.

Belgrieve usou a vassoura que trouxe para limpar um pouco o túmulo e os que estavam ao redor, sua mente correndo pelas memórias de seus pais. Seu pai tinha sido um homem de poucas palavras, contudo era trabalhador, e se lembrava de sua mãe sorrindo muito. O cabelo ruivo de Belgrieve foi herdado de seu lado da família, embora sua tendência a cachear viesse de seu pai.

Depois de enterrar a mãe e voltar para casa, a casa parecia terrivelmente espaçosa. Sua memória ainda viva de como se sentiu ao pensar em passar a vida ali, sozinho. No entanto os rostos de seus pais pouco a pouco desapareceram de sua memória; Belgrieve não conseguia se lembrar de como era o rosto de seu pai, e o de sua mãe também tinha ficado nebuloso nos últimos tempos. Todavia ainda tinha uma lembrança distinta do cabelo ruivo ardente de sua mãe e da barba desalinhada de seu pai. Talvez Belgrieve tenha subconscientemente deixado sua própria barba crescer como uma espécie de comemoração.

“Acha que o vovô também ansiava por aventuras?” Angeline perguntou enquanto começava a raspar o musgo.

“Eu não vi isso nele.” respondeu Belgrieve, balançando a cabeça. “Acho que o pai nunca deixou Turnera.”

“Oh, entendo... Um filho legítimo de Turnera, então.” concluiu Angeline.

“Esse era o seu avô. Mas a vovó não cresceu aqui. Ela era filha de mascate, sabe... Quando eu era pequeno, ela sempre me contava sobre todos os lugares que tinha visto antes de eu ir para a cama.”

“Como o Ponto de Checagem de Haril...?”

“Oh, estou surpreso que se lembrou.”

Algumas das histórias que Belgrieve contou a Angeline quando criança vieram de sua mãe.

A maioria de seus contos eram simples. Sua mãe contou sobre suas viagens como mascate, e isso foi o suficiente para confundir um menino que só conhecia Turnera. Havia algo além do pequeno mundo da vila, e alguém tão próximo a ele o havia visto. Tal coisa acendeu o desejo de aventura de Belgrieve — embora talvez sua mãe lamentasse que suas histórias tivessem resultado em ele de fato se aventurando por conta própria.

Posso não ter sido o melhor filho, pensou Belgrieve. Seus pais amavam sua vida pacífica em Turnera, e ele não conseguia imaginar que algum deles desejasse que seu filho se tornasse um aventureiro. Ainda menos, visto que sua aventura terminou com sua mutilação.

Porém, não se arrependeu de sua escolha. Era da natureza humana imaginar o que poderia ter acontecido se outro caminho tivesse sido seguido, contudo nenhum outro caminho o teria levado até o presente. Talvez não tivesse escolhido o melhor caminho, no entanto também não acreditava ter cometido um erro.

Assim que terminou de varrer, Belgrieve ofereceu as flores que havia colhido a caminho do cemitério.

“É bem curioso. Meu pai tinha um pai e uma mãe... Deveria ser óbvio, mas não consigo imaginar.” disse Angeline, olhando entre a lápide e Belgrieve. “O vovô se parecia com você, pai?”

“Não tenho tanta certeza... Já se passaram quase quarenta anos desde que faleceu. Para ser honesto com você, esqueci completamente.”

“É tão fácil esquecer um rosto? Mesmo quando é seu pai...?” Angeline se perguntou, soando um pouco desamparada.

Belgrieve coçou a barba em reflexão.

“Todos os tipos de coisas aconteceram desde então. Desde que você veio até mim, Ange, tenho estado muito ocupado para lembrar.”

“Entendo...” Angeline pegou a mão de Belgrieve e esfregou sua bochecha contra ela.

“Porém não importa o que aconteça depois... Nunca vou esquecer o seu rosto...”

“Sim... É bom saber.” Belgrieve sorriu e gentilmente deu um tapinha na cabeça dela. “Tudo bem, vamos indo.”

“Sim.”

Os dois voltaram pelo mesmo caminho de onde vieram. O vento balançava os beirais das árvores de terra, e a luz que se filtrava por suas folhas tremeluzia e se movia no chão abaixo.

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