sexta-feira, 13 de outubro de 2023

Boukensha ni Naritai to Miyako ni Deteitta Musume ga S Rank ni Natteta — Volume 09 — Capítulo 116

Capítulo 116: Era como flutuar na água

Era como flutuar na água. Os arredores de Angeline estavam envoltos em escuridão, mas quando ela focou seu olhar, pôde perceber símbolos estranhos e minúsculos emergindo de forma fugaz através da escuridão, apenas para desaparecer de novo. Ao olhar para baixo viu que conseguia ver suas mãos com perfeição, porém seus contornos externos pareciam um tanto nebulosos. Um pavor terrível tomou conta ao perceber isso, como se seu corpo fosse de repente derreter e se dispersar como névoa no momento em que perdesse o foco.

Angeline sabia instintivamente que estava descendo. Ela tensionou os músculos das pernas, contudo pouco fez para impedir sua descida gradual. O ar tinha uma qualidade pegajosa quando respirou pelo nariz e cuspiu com força, fazendo o possível para evitar inspirar muito. Seria terrível se fosse venenoso. Embora esta fosse uma situação que deixaria a maioria em pânico, Angeline era uma aventureira Rank S e sabia como manter a compostura.

Sua noção de tempo estava se tornando cada vez mais vaga, no entanto, eventualmente, o ambiente ao seu redor pareceu se iluminar um pouco. Parecia que estava ressurgindo.

“Whoa!” mesmo que estivesse afundando com os pés, de repente sentiu como se estivesse caindo de cabeça para baixo, pegando-a de surpresa. Reagindo no mesmo instante, estendeu as mãos e conseguiu rolar com segurança.

Angeline passou alguns momentos avaliando sua situação. Ao que parecia, de alguma forma emergiu do chão, que agora estava sólido sob seus pés. Assim que foi totalmente expulsa, a gravidade começou a funcionar mais uma vez da forma correta, o que foi a causa de seu tropeço. Sua cabeça balançou para limpar a névoa que ainda pairava sobre sua mente.

Era um espaço bastante estranho onde se encontrava. Parecia ser uma sala quadrada, e suas paredes, piso e teto eram todos cobertos por um padrão xadrez preto e branco. O material não era madeira nem pedra e, embora fizesse um som abafado quando batia o pé nele, não havia qualquer reverberação do som, apesar da considerável vastidão da sala.

Perto do teto, no centro da sala, uma esfera vermelha perfeitamente redonda flutuava sem a menor distorção ondulando sobre sua superfície. Sua cor vermelha era bastante vívida em contraste com o preto e branco inorgânico ao seu redor.

Seu olhar percorreu em volta com cautela. Embora não sentisse nenhuma hostilidade, sentiu como se estivesse sendo observada. Talvez os lacaios de Benjamin estivessem observando-a.

Devagar, sua mão agarrou o punho da espada em sua cintura.

Angeline foi até a parede para inspecioná-la. Cada quadrado do padrão xadrez tinha por volta do mesmo tamanho de sua cabeça. Ao colocar a mão sobre ele descobriu que não estava nem quente nem frio. Quando o empurrou, sentiu que a substância cedeu um pouco, então chutou. Não mudou.

Sua espada foi desembainhada e estocou a parede com a ponta, entretanto não a causou nem com o menor arranhão. Era uma parede bastante resistente, de fato.

Os olhos vigilantes que havia sentido antes agora pareciam cheios de desprezo. Onde quer que estivessem, zombavam de suas tentativas. Ela podia até ouvir o que parecia ser uma risada abafada, embora não soubesse de onde.

“Tudo bem...”

Angeline ficou lá em silêncio por algum tempo antes de agir de repente. Canalizando mana para a lâmina, lançou um golpe diagonal para baixo na parede. A espada atravessou-a sem qualquer dificuldade.

Um grito dilacerante ecoou pela sala. Quando Angeline se virou, viu que a esfera vermelha tinha começado a deformar-se e a torcer-se, quase como se estivesse se contorcendo de dor.

“Saia já ou vou acertá-lo de novo.” disse Angeline, zombando enquanto brandia sua espada mais uma vez. No mesmo instante, uma porta de ferro enferrujada apareceu á sua frente. Angeline embainhou a espada e olhou para a esfera vermelha.

“Isso aconteceu porque você pensou que poderia me prender... Não serei tão tolerante da próxima vez.” a esfera recuou com medo. A porta de ferro logo se abriu com um som áspero e Angeline disparou através dela.

“Hmph...”

O chão sob seus pés tinha uma sensação diferente e uma névoa branca e leitosa pairava no ar. Ela não sabia se havia chão embaixo; cada um de seus passos tinha uma sensação estranha e flutuante.

Angeline levantou a cabeça e olhou ao redor. A névoa era mais fina em alguns lugares do que em outros, onde podia ver estranhos padrões geométricos tremeluzindo e flutuando no espaço. Os símbolos giravam e torciam como se estivessem vivos, nunca assumindo a mesma disposição duas vezes. Eles a lembraram um pouco dos círculos mágicos tridimensionais usados por Byaku.

Por enquanto, começou a andar. Seus passos pareciam instáveis e não conseguia ver o chão sob seus pés, mas com certeza estava avançando ainda assim — embora muito mais devagar do que achava que deveria.

De repente, pôde ver uma figura à distância. A figura estava flutuando de cabeça para baixo, porém andava tão normalmente que era como se Angeline fosse quem tivesse sido invertida. Seu passo acelerou, correndo em direção a figura, apenas para descobrir que não passava de uma aglomeração de neblina reunida em forma humana. Todavia, continuou andando com um passo humano.

“Hey!” Angeline levantou a voz.

A neblina humana não mostrou nenhuma reação ao passar por cima de sua cabeça. Isso é apenas uma boneca, Angeline percebeu enquanto a observava seguir seu caminho.

Sentindo-se bastante irritada, Angeline continuou vagando por um tempo. Eventualmente, percebeu que nem precisava andar fisicamente — desde que pretendesse se mover, poderia subir, descer, esquerda e direita sem mover os pés.

“Não estou chegando a lugar nenhum...”

Ela se lembrou de algo que Belgrieve lhe dissera uma vez.

“Você sabe como não deveria vagar sem rumo no escuro? O mesmo vale para masmorras. Há algumas coisas que só saberá se concentrar seus sentidos no menos óbvio.”

Angeline fechou os olhos e respirou fundo para acalmar o coração.

Aguçando seus sentidos, se transformou em uma antena detectora de mana. E quando o fez, descobriu que a mana estava surgindo ao seu redor como um fluxo turbulento. Estava chovendo tão forte que se perguntou como não tinha notado antes. Contudo a mana não fluía de nenhum lugar específico. Num momento, pareceria vir da direita, depois da esquerda e depois de cima. Desenharia espirais sem sentido por todo o lugar, apenas para colidir de frente com outro fluxo de mana que viera de algum outro lugar.

Angeline refletiu sobre o que sabia e concluiu que aquele lugar estranho era uma zona especial criada por Benjamin. Se fosse feito com magia, era normal que houvesse mana à deriva. É claro, o plano era teletransportá-la à força para uma dimensão diferente, onde seria selada, no entanto Angeline não estava disposta a deixar assim. Ela bufou e abriu os olhos.

“Um belo truque de festa... Mas está me subestimando.”

Sua espada foi uma vez mais desembainhada. Entre os fluxos confusos de mana, percebeu um único fio com direcionalidade definida. Angeline o seguiu, desta vez movendo-se com certeza antes de parar. Ela estava em um lugar que não parecia diferente de nenhum outro, porém o leve fluxo de mana sem dúvida parou ali.

Angeline preparou sua lâmina e varreu o vazio.

A névoa leitosa pareceu explodir e de repente se condensou em um vórtice em espiral — um buraco no espaço que se espalhava bem diante de seus olhos. Sem hesitar um momento, Angeline mergulhou com pressa no buraco negro.

Depois de passar por algo macio, as solas dos pés pousaram em solo sólido. Os restos da névoa agarrados ao seu corpo se dissiparam. Angeline estreitou os olhos e observou o ambiente, estava em um longo corredor agora. Olhando a esquerda e para a direita e viu que ambas as direções pareciam continuar infinitamente.

As paredes e o teto eram de pedra nua, enquanto o chão era coberto por um tapete roxo. Tudo estava mal iluminado pelas lanternas que pontilhavam as paredes em intervalos regulares.

“É apenas um espaço misterioso após o outro...”

Este de fato seria um lugar deprimente para se ficar preso indefesamente — contudo isso só aconteceria se estivesse mesmo presa. Acha que vou sentar e desistir de algo assim?

Irritada, seu calcanhares bateram no carpete algumas vezes antes de escolher uma direção aleatória para começar a andar.

O ar estava frio e estancado e parecia concentrado no chão. A mana era a mesma, no entanto ao contrário daquele lugar nebuloso de antes, não conseguia sentir nenhum fluxo significativo. As paredes e o chão de pedra eram inorgânicos e frios de maneira uniforme, e não sentia que seria capaz de movê-los.

Seus passos eram silenciosos graças ao tapete, passos largos e exagerados antes de parar de repente. Ela olhou para baixo com uma careta — o tapete à sua frente tinha uma pegada visível. Sem dúvida, era o mesmo lugar que acabara de pisar com o calcanhar.

“Então é o que está acontecendo...” uma extremidade do corredor se conecta à outra, ela percebeu. Isso tornou tudo muito mais fácil — um espaço circular era mais simples de superar do que um espaço que se expande sem fim.

Colocando a mão na parede, Angeline começou a caminhar devagar, acariciando a parede, verificando se não havia nenhum ponto estranho no caminho. O tamanho e o formato das pedras variavam, todavia os espaços entre elas eram finos demais para passar uma única folha de papel. As lanternas de vidro estavam embutidas na parede, cada uma contendo um orbe de luz.

Angeline investigou sem qualquer pressa até retornar ao ponto de partida, onde mudou para a parede oposta. Era um trabalho tedioso, entretanto seguia paciente, nunca diminuindo o ritmo.

“Não é a parede, então...”

Nenhuma das paredes parecia ter qualquer anormalidade, então verificou o chão e o teto. Angeline olhou para cima, mantendo os olhos abertos enquanto caminhava.

“Não é isso...”

Depois retirou o carpete, apenas para encontrar um piso de pedra frio por baixo, sem nada de estranho. Se houvesse a menor lacuna, ou uma corrente de ar, ou qualquer coisa do tipo, teria notado no ato. A percepção que possuía como aventureira Rank S era real, mas sem nada para direcioná-la, estava fazendo pouco uso desta.

Como teste, Angeline cortou a parede tal qual havia feito na primeira sala. Conseguiu deixar uma marca, porém nada mais aconteceu. Ela cruzou os braços e começou a pensar. Lembrou-se de algo que ouviu de Miriam sobre magia — feitiços que criavam dimensões alternativas como essa, se transformados em espaços perfeitamente fechados, não poderiam mais receber qualquer interferência externa. O que significava que o praticante não seria capaz de controlá-lo. Por esta razão, sempre deveria haver algum tipo de dispositivo conectando-o ao mundo exterior. Isto era simples o bastante para descobrir, por exemplo, se o espaço tivesse sido criado para uso próprio do praticante. Porém, se o objetivo fosse selar outra pessoa, então a chave seria tão difícil de encontrar quanto fosse possível — ou então seria configurada de tal forma que, mesmo que o truque fosse encontrado, seria difícil usá-la para sair.

Resumindo, é provável que a chave não estivesse em nenhum lugar que Angeline pudesse encontrar com facilidade. Ou então, havia um truque para usá-la que significava que teria dificuldades mesmo que a encontrasse.

O que o pai faria nessa situação? Angeline se perguntou.

“São as lanternas...?” ela olhou para o vidro fino que cobria a lanterna mais próxima. Dentro havia um orbe de luz, talvez criado com magia. Eram as únicas coisas que iluminavam o corredor e, se fossem apagadas, seria lançada na escuridão total.

“Você normalmente ficaria com muito medo de fazê-lo. Então é por esse mesmo motivo...” Angeline brandiu sua espada e quebrou a lanterna. O orbe de luz voou de dentro, vagando sem rumo pelo espaço antes de ser reduzido ao nada.

Angeline correu pelo corredor, quebrando as lanternas dos dois lados ao longo do caminho. Cada vez que um orbe explodia, perdia um pouco mais de luz. Era como se a escuridão a estivesse perseguindo por trás. Depois que quebrou o último, o orbe permaneceu no ar por um último momento antes de tudo ao seu redor ficar escuro como breu, não importa o quão forte focasse seu olhar. Erguendo a espada, ela se perguntou se teria feito o movimento errado, mas uma parte sua estava convencida de que esse era o curso de ação correto.

A absoluta escuridão mexeu com sua noção de tempo. Assim que começou a parecer interminável, de repente sentiu algo balançando a seus pés. Uma luz azul-clara inundava as rachaduras que cresciam lentamente entre as pedras que formavam as paredes. Parecia que as pedras estavam desmoronando. O teto foi o próximo e, por fim, o chão abaixo desabou. Angeline caiu ao lado de pedras de todos os tamanhos.

Saltando de uma pedra para outra, chegou ao topo da pilha de lixo que caía, onde não teria que se preocupar em levar um golpe na cabeça. Seus arredores estavam cheios de luz azul. Mana permeou tudo, assumindo a forma de uma leve névoa.

Não estava certa de há quanto tempo estava caindo, mas logo as pedras que caíram juntas desapareceram. A velocidade de sua descida também estava se tornando mais lenta e, antes de fazer qualquer preparação para pousar, sentiu de repente como se tivesse pousado em uma superfície macia, o que a lançou para frente e a quase fez não conseguir se segurar.

“Essa passou perto.”

O chão era excepcionalmente macio e era difícil para manter o equilíbrio. Angeline conseguiu se levantar, embora seus pés afundassem na superfície do chão até os tornozelos. Isto me lembra minha cama na casa do Arquiduque Estogal, lembrou Angeline. Uma carranca inquieta tomou seu rosto enquanto avaliava o que estava ao seu redor. De fato estava de pé sobre uma cama, porém esta devia ter sido feita para um gigante. Vários travesseiros enormes estavam empilhados sem cuidado de um lado.

“O mar...?”

No horizonte distante, podia ver a superfície de um mar calmo que brilhava ao refletir a luz de um sol com rosto sorridente. A cama havia sido colocada descuidadamente na praia arenosa. Quando se virou para a terra, viu o abundante cinturão verde, composto de fileiras e mais fileiras de árvores exuberantes. Contudo, olhando mais de perto, não eram árvores — eram talos de salsa.

Uma pequena península se projetava para o mar. No entanto, uma vez mais, olhando mais de perto, não era uma península. Era um prato que consistia em arroz cozido com molho de tomate, sobre o qual repousava uma omelete fofa — uma porção de omurice¹ projetando-se para o mar. Elevando-se como um farol, uma colher enorme havia sido cravada na ponta dele.

Ela estava olhando, estupefata, quando, sem aviso, bolhas romperam a superfície da água e um grande peixe colocou a cabeça para fora. O peixe tinha braços humanos que usava para agarrar a colher de omurice. Ele cavou e começou a devorar a refeição deliciosa. O tempo todo, o sol observava com um sorriso radiante.

Não havia como existir tal cenário irracional em qualquer lugar do mundo. Foi como um pesadelo de criança. Em um sentido bem diferente de antes, Angeline estava bastante confusa, entretanto sabia que não poderia perder a calma. Tomando um respiro profundo, o cheiro de sal enchendo seu peito. Ela pulou da cama e pousou em um travesseiro, chegando enfim à praia, onde seus sapatos afundaram na areia. Não ando à beira-mar desde que estive em Elvgren...

A temperatura quente deixou-a com um estranho humor relaxado. No entanto sabia que não poderia se submeter a isso; atravessou a praia e entrou na floresta de salsa maciça, onde o ar estava repleto de um aroma refrescante.

O que devo fazer para escapar desta vez? Considerou. Angeline continuou andando e, assim que chegou à floresta, o terreno mudou outra vez. Era um padrão xadrez vermelho e branco sobre um perfeito terreno plano. Além desse terreno, viu uma parede de tijolos brancos.

Inclinando a cabeça, Angeline foi em direção a parede, notando que partes suas estavam cobertas por barras de ferro. Na verdade, era como uma ala de prisão. Havia pequenas câmaras dispostas em intervalos regulares, cada uma com fileiras de barras de ferro separando-as do mundo exterior. Mas não havia ninguém lá dentro. Havia correntes, uma cama e um vaso sanitário em cada um, porém nenhum deles apresentava sinais de uso. Era um lugar frio, imóvel e silencioso.

Talvez a chave para sair esteja em uma delas...

Angeline estava caminhando ao longo da parede quando de repente ouviu uma voz.

“Hey! Tem alguém aí?”

Angeline olhou em volta, assustada.

“Quem...?”

“U-Uma mulher? Bem, não importa quem. Por favor me salve!”

Ela se dirigiu em direção à voz. Mais adiante, encontrou um homem trancado em uma das celas da prisão. Seu cabelo loiro, de um tom quase dourado, havia crescido descontroladamente, e seu rosto estava coberto por uma barba desgrenhada. O que antes eram roupas de alta qualidade estavam desbotadas e rasgadas, e seus pés estavam algemados.

O homem sacudiu as correntes enquanto se agarrava às barras, com lágrimas escorrendo dos olhos.

“Ah! Desculpe, é só... Já faz muito tempo que não ouço uma voz que não pertença a eles... Por favor, me tire daqui!”


Angeline olhou desconfiada para o homem.

“Isso depende... Quem é você?”

O homem prendeu a respiração, mas ainda estava ofegante quando disse. “Eu sou... Eu sou Benjamin. O filho mais velho do imperador... Benjamin Rodésia.”

“Hã?” Angeline inadvertidamente gritou.


Foi uma chuva torrencial. Belgrieve queria ir para a villa do arquiduque o mais rápido possível, porém a chuva os atrasou. Quando a chuva estava tão forte, os cocheiros da cidade não circulavam, e por isso foram obrigados a abandonar a carruagem que se dirigia para o palácio antes mesmo de chegar a meio caminho. Por enquanto, eles se abrigaram sob o beiral de uma loja fechada.

Percival bateu frustrado com a ponta do sapato no chão.

“Droga, isso tinha que acontecer agora...”

Belgrieve semicerrou os olhos enquanto tentava ver além da chuva. Contudo grandes gotas caíam sem fim à vista, então não conseguia enxergar muito longe. Já era difícil o suficiente navegar pela capital quando não estava familiarizado com ela. Com uma visibilidade tão fraca, apenas se perderia se tentasse partir sozinho.

“Onde estamos, exatamente?”

“Ainda nas áreas mais baixas.”

O vento também havia aumentado e agora estavam sendo encharcados por uma névoa fina, mesmo sob abrigo. Maitreya estava andando de um lado para o outro há algum tempo, no entanto agora optou por se esconder atrás de Percival, usando-o como escudo contra a chuva.

“Urgh, que feio... Pensar que eu, Maitreya, a Tapeçaria Negra, seria reduzido a tal estado...”

“Se te desagrada tanto, use magia de teletransporte ou algo do tipo.” Percival repreendeu.

Mas Maitreya balançou a cabeça — isso estava fora de questão.

“O que você fará se acabar alertando Schwartz? Não posso fazer algo tão perigoso.”

“Ele já nos notou há muito tempo, tenho certeza. Sua covarde...”

Por mais que quisessem seguir seu caminho, a chuva simplesmente não permitiu. Teremos que nos acalmar um pouco, pensou Belgrieve. Porém de repente, a chuva enfraqueceu.

Belgrieve puxou o capuz sobre a cabeça.

“Vamos. Precisamos cobrir algum terreno enquanto podemos.”

“Certo.”

Ele e Percival seguiram em frente, com Maitreya logo atrás. Contudo pouco depois de terem retomado a viagem, a chuva voltou a ficar mais forte. Não que Belgrieve se importasse em se molhar, no entanto não conseguir ver as ruas tornava a navegação impossível. A cidade estava repleta de paisagens semelhantes, e seu desconhecimento tornava ainda mais difícil distingui-las, e não era possível abrir um mapa na chuva.

Mais uma vez, procuraram abrigo da chuva, desta vez sob o beiral de um café com luzes vermelhas brilhando através de uma janela de vidro grosso. O local estava lotado de clientes. A eles juntaram-se outros que escapavam da chuva e passaram o tempo naquela companhia olhando para o chão até que o aguaceiro tornou a diminuir. As nuvens eram uma mistura de luz e escuridão, e a chuva mudaria dependendo do tipo de chuva que passasse diretamente acima naquele momento.

“Está enfraquecendo. Vamos.”

“Certo. Essa era a direção certa...?”

Os três estavam prestes a partir de novo quando a porta do café se abriu e alguém saiu.

“Hã? Sr. Bell? Oh, e Percy está com você.”

Belgrieve virou-se assustado para a voz que de repente os chamou por trás. Era Anessa, e ela logo foi seguida por Touya e Maureen.

“Anne?” Percival piscou. “Touya e Maureen também. O que vocês estão fazendo aqui?”

“Estávamos coletando informações na guilda...”

“Oh, entendo. Estão operando separados de Ange?” Belgrieve perguntou.

Anessa assentiu.

“Sim, elas estão esperando por você na casa do arquiduque; nunca pensei que seríamos os primeiros a encontrá-los... Ah, esta é a vice-mestra da guilda, Aileen.”

Anessa se afastou para apresentar uma mulher com cabelo despenteado. Belgrieve e seu grupo inclinaram a cabeça para se apresentarem.

Aileen engasgou de excitação, arregalando os olhos.

“É um prazer conhecê-los. Eu sou Aileen. Vocês todos parecem bastante habilidosos... Corrijam-me se estiver errada, mas imagino que você deve ser um aventureiro renomado.” ela disse emocionada, olhando para Percival.

“Isso é um eufemismo, certo, Maureen?” disse Touya.

“Sim. Talvez você conheça melhor Percy aqui como o Lâmina Exaltada.” disse Maureen.

Percival coçou a bochecha. “Você realmente não precisa espalhar isso por aí...”

“Hã? O que? O-O Lâmina Exaltada...? Hum, o verdadeiro? Não é apenas alguém que compartilha o mesmo nome?”

“Bem, se serve de alguma coisa...” Percival mostrou sua placa de aventureiro Rank S.

As bochechas de Aileen coraram de excitação.

“Oh meu Deus, o verdadeiro? E-É... É uma honra conhecê-lo! Sou uma grande fã!” Aileen agarrou a mão de Percival e girou-a descontroladamente.

“Nunca a vi assim.” exclamou Touya, com os olhos arregalados.

“Ela é uma grande fã.” comentou Maureen, rindo.

O grupo estava tomando seu tempo em frente à porta e não demorou muito para que alguém aparecesse para repreendê-los por isso. De qualquer forma, a chuva caía forte uma vez mais. Belgrieve ficou perturbado com isso, porém Maureen entoava algo, balançando o dedo para frente e para trás.

“Agora, vamos. Ange está te esperando, não está?” ela disse enquanto saía para a chuva. Belgrieve olhou para cima e viu que a chuva parecia ser desviada por uma membrana invisível logo acima. Maureen aparentemente criou um abrigo mágico. Assim, o grupo saiu.

“Nada mal.” comentou Percival, observando as gotas de chuva caindo no ar. “Parece que precisaria de um bom controle de mana para fazer isso.”

“Sim, bem, não é nada demais.”

“Ouviu ela, baixinha. Pode fazer aquilo?”

Percival cutucou Maitreya, que fez beicinho.

“Por que deveria me preocupar com feitiços tão vulgares?”

“Quem é a criança?” Anessa perguntou, dando uma olhada curiosa em Maitreya.

“Hã?” Aileen disse, abaixando-se e olhando para o rosto de Maitreya. “Ora, é a pequena Mai. Achei que não te a via já fazia um tempo. O que tem feito?”

Maitreya estremeceu. Sua mão puxou o capuz mais para baixo sobre o rosto e colocou um dedo sobre a boca.

“É um segredo.”

“Oh? Bom, tudo bem.” respondeu Aileen, colocando as mãos sobre a boca.

Belgrieve riu.

“Ela é Maitreya. Nós a conhecemos em Findale e conseguimos sua cooperação.”

“Maitreya...” Touya engasgou. “A suposta Tapeçaria Negra?”

“Hã? Vocês a recrutaram em tão pouco tempo? Como esperado do Sr. Bell, eu acho...” Anessa refletiu enquanto olhava para a diabrete.

Maitreya se encolheu e desviou os olhos. Percival, por sua vez, parecia muito entretido.

Touya e Maureen conheciam bem a capital, então não precisavam mais se preocupar em se perderem. A chuva também não era problema agora. Belgrieve colocou a mão no peito, aliviado. Ele ficava muito irritado quando um tempo precioso era desperdiçado em vão. O chão ainda estava escorregadio, contudo era administrável. Mesmo as partes mais pobres da capital tinham ruas bem pavimentadas, por esse motivo estariam bem desde que não pisassem em sujeira.

“Ouvi sobre o que está acontecendo. Parece que estão em uma situação difícil.” observou Aileen.

“Sim, o que é bastante preocupante... Como vão as coisas do seu lado, Anne?”

“Ela estava me perguntando sobre quaisquer movimentos suspeitos em torno do império, e especificamente do príncipe herdeiro. Certo, Anne?”

“Isso mesmo.”

“Então, como foi? Alguma pista?”

Aileen encolheu os ombros.

“Nada flagrantemente suspeito. Ainda que o príncipe seja uma farsa, a maioria das pessoas ve como uma mudança para melhor, então ninguém está investigando a fundo o assunto. Uma coisa que ouvi, no entanto, é que não deixa muitas pessoas se aproximarem em comparação com quando era um encrenqueiro.”

“Ele apareceu quando estávamos na villa do arquiduque. Naquele momento, o príncipe herdeiro não tinha um único guarda o acompanhando. Embora talvez eles apenas tenham se mantido fora de vista.” acrescentou Anessa.

Belgrieve franziu a testa.

“Entendo... Bom, qual é a melhor jogada a ser feita...?”

“Senhor Belgrieve, o que está tentando conseguir coletando informações sobre o império?” Touya perguntou.

Belgrieve cruzou os braços.

“Sabemos com certeza que o príncipe é uma farsa. Se quisermos derrubar a sua posição, precisaremos de alguém numa posição onde possa proclamá-lo sem repreensão. Queria falar com Liselotte na esperança de que ela pudesse apresentar alguém que se encaixasse no perfil.”

“Hmm, então vai incitar outra pessoa com direitos de sucessão e causar uma luta pelo poder? Isso é muito desagradável, Bell.”

“Pode ser o que acabará por acontecer... Em qualquer caso, o príncipe está sem dúvida tramando coisas desumanas por trás da sua máscara de governação sábia. Talvez possamos expô-lo... Se tivéssemos alguma munição para usar em seu contra, poderíamos conseguir alguém em uma posição elevada para nos ajudar. Por enquanto, não podemos fazer nada sem informação...”

“Mas vai acabar tudo bem? Ele tem algumas pessoas cautelosas ao seu lado.” disse Maureen.

Aileen assentiu.

“Ele é bom em manobrar nos bastidores. E é muito popular entre as pessoas.”

“Certo. Pelo menos não ouço nada de ruim a seu respeito. Na pior das hipóteses, algumas pessoas o insultam por ser perfeito demais.” acrescentou Touya.

“Eu sei, certo? Quero dizer, claro, não é o anjinho que costumava ser, porém é ainda tão atraente como antes. Com certeza tem o apoio das mulheres. Na verdade, diria que crescer apenas aumentou seu apelo sexual.”

“Meu Deus, é só nisso que você pensa, Aileen?”

“Bem, um rosto bonito é importante. É uma coisa que ser falso não muda.”

Aileen e Maureen logo entraram em seu próprio mundo de fofocas, contudo a testa de Belgrieve estava franzida.

“Hmm...? Mais velho? Ainda não é muito jovem?”

“Sim, bom, é jovem, no entanto os anos passam. De fato desenvolveu muito bem em suas características.”

“Deve ter passado alguns anos desde que a... Sua personalidade mudou, não é?”

“Sim. Já se passaram quatro ou cinco, eu diria. Ele era um menino bonito naquela época e é um homem bonito agora.”

“Nunca o considerei antes.”

“O que há de tão estranho?” Anessa perguntou, perplexa.

Belgrieve acenou com a cabeça à sua pergunta e virou-se para Maureen.

“O príncipe herdeiro envelheceu na aparência. Não acha... Antinatural para a magia de imitação, Maureen?”

“Hmm... Ah, sim, é com certeza estranho. Por que não percebi?” Maureen perguntou, mordendo uma maçã seca que parecia ter surgido do nada.

“Como assim?” Anessa inclinou a cabeça.

“Só tenho algum conhecimento de segunda mão, então não me consideraria um especialista. Entretanto parece que a magia de mimetismo não é adequada para uso a longo prazo. É por essa razão que nunca ouvimos histórias de alguém sendo completamente substituído por uma farsa. Bem, talvez haja algum feitiço novo e melhorado que possa até reproduzir os efeitos do envelhecimento...” Belgrieve explicou enquanto olhava para Maureen.

Maureen riu.

“Estou surpreso que saiba sobre. Quase me esqueci.”

“Oh, entendi!” Touya assentiu.

Maitreya piscou e o rosto de Percival ficou sombrio.

“Os magos parecem entender, mas o que está acontecendo?”

“Bem, veja bem, existem várias formas de magia de mimetismo.” explicou Maureen. “Um deles envolve entrar no corpo do cadáver do alvo. Porém, o corpo se decomporá se passar muito tempo, por isso poucas pessoas o utilizam. Na verdade, a maioria dos usuários preferiria manipular remotamente o corpo com necromancia.”

Maureen levantou um dedo e continuou sua palestra.

“Há também uma onde você entra no corpo de uma pessoa viva, contudo tem que lutar constantemente com a consciência do seu alvo, então não é confiável. Seus movimentos serão afetados, então as pessoas quase nunca o usam. Pode usar um medicamento para mudar seu corpo, no entanto estará de volta quando o efeito do medicamento passar — e precisará dos reagentes certos, sem mencionar o fardo que esse método representa para o corpo. O mimetismo mais popular envolve rastrear as propriedades físicas do alvo e reproduzi-las. Entretanto, só pode usar a forma a partir do momento em que o rastreamento foi realizado.”

“Qual é o problema aí?” Percival perguntou.

“Resumindo, não pode mudá-la. Seu cabelo, barba e unhas não crescerão e não poderá envelhecer. Não está mesmo entendendo?” Maitreya explicou condescendentemente.

“Você disse alguma coisa?” Percival perguntou, olhando furioso.

“Eep!” Maitreya se encolheu atrás de Belgrieve.

Aileen riu.

“Por que está tensa, Mai...? Então está dizendo que o verdadeiro príncipe pode estar vivo?”

Belgrieve assentiu. Todavia, Percival parecia entender ainda menos agora.

“O que está dizendo? Por que o verdadeiro tem que estar vivo?”

“A magia muitas vezes pode ser mais eficaz se estiver disposto a correr um pouco de risco. Digamos que você manteve o alvo vivo — então, poderá rastrear sempre suas informações. A qualidade do mimetismo aumenta aos trancos e barrancos.” explicou Maureen.

Percival franziu a testa.

“Entendo... Então, se eles mantivessem o verdadeiro em algum lugar onde não pudesse ver a luz do dia, poderiam invocar uma espécie de contrato para aumentar a eficácia do feitiço. Ter um fornecimento constante de informações faria com que a transformação parecesse mais orgânica.”

“Sim. O que significa que não pode matar o verdadeiro príncipe... Percy, talvez ainda possamos encontrar uma maneira de resolver isso.” disse Belgrieve, despenteando a barba.

“Quem poderia ter adivinhado que algo assim aconteceria?” Percival disse, dando um tapinha no ombro de Belgrieve. “Onde aprendeu essas informações?”

“Estava em um livro que li há algum tempo. Deixou uma impressão forte, então nunca as esqueci.”

“Mesmo assim, fez bem em se lembrar...” Anessa disse com um fraco sorriso que Belgrieve retribuiu.

“De qualquer forma... Seguimos na fase de hipóteses. Mas, bem, estou tendo uma ideia da direção que estamos tomando. Talvez não tenhamos que provocar uma luta pelo poder neste ritmo.”

“E conseguiu esse feito só por saber que ele ficou mais velho...?” Aileen ficou maravilhada. “Nada mal, Sr. Belgrieve.”

“Não teria notado se o assunto nunca tivesse surgido. É graças a sua ajuda...”

“As coisas estão começando a ficar interessantes. Vou cavar um pouco do meu lado.”

“Não, não posso pedi-la para que faça isso.”

“Oh, está tudo bem, sério. Estou fazendo porque é o que gosto de fazer. E estou feliz por ajudar o Lâmina Exaltada...” Aileen se emocionou, piscando para Percival, que apenas encolheu os ombros.

Belgrieve gargalhou.

“Ora veja que conquistador.”

“O que está falando? De qualquer forma, será de grande ajuda, Aileen. Obrigado.”

“Oh meu Deus!” Aileen bateu palmas sobre as bochechas coradas e balançou a cabeça.

Aileen se separou dos demais para retornar à guilda. Enquanto isso, Belgrieve e o resto do grupo dirigiram-se para a villa do arquiduque. Graças ao mau tempo que impediu seu progresso, já era noite quando chegaram. O sol ainda não tinha se posto, porém já estava escuro lá fora devido às nuvens de tempestade que ainda pairavam acima.

Eles ficaram esperando na porta da frente da propriedade por algum tempo antes de Sooty correr para cumprimentá-los.

“Desculpe por mantê-los esperando.”

“Oh, Sooty. Desculpe, estamos todos encharcados.”

“Está tudo bem, entrem já.” ela os incentivou, com uma expressão sombria no rosto. Seu comportamento os surpreendeu enquanto a seguiam para dentro da mansão. Quando entraram no salão para onde os levou, encontraram Miriam sentada no sofá, torcendo as mãos inquieta. Kasim sentou-se em frente a ela, com o rosto enterrado nas palmas das mãos, enquanto Marguerite andava de um lado para o outro.

Kasim ergueu os olhos.

“Ah, Bell...”

Anessa olhou ao redor do salão, perplexa.

“Onde está Ange? Parece que Lize também não está aqui...”

“Sim, sobre isso...”

Miriam explicou a situação desanimada, com Marguerite e Kasim intervindo às vezes, e relatou como François apareceu para entregar Angeline ao príncipe herdeiro. Isto, junto com o que Kasim aprendeu com Salazar, deixou claro que Angeline havia sido capturada pelo inimigo.

A sobrancelha de Percival ergueu-se enquanto ele cutucava Kasim.

“Eu te disse para ficar de olho nela! Como foi acontecer enquanto estava as vigiando de perto?”

“Sinto muito, fui descuidado...” Kasim recuou, baixando a cabeça.

Marguerite estalou a língua.

“Meu Deus, que patético da parte dela. Eu deveria ter ido junto.”

“Não chore pelo leite derramado. Agora, Kasim, quanto tempo vai ficar deprimido?” Belgrieve perguntou com naturalidade enquanto enrolava cuidadosamente sua capa úmida. Ele tirou uma toalha da bolsa para secar a cabeça antes de entregá-la a Percival.

“Percy, seque. Ou vai pegar um resfriado.”

“Você está muito calmo com toda essa confusão. Não está preocupado com Ange?”

“Claro que estou. Contudo Ange não se deixaria levar assim sem um plano. Ela é forte.”

Percival caiu na gargalhada e sentou-se em um dos sofás.

“Com certeza! Então precisamos nos controlar. Bom, tudo parece resolvido: nosso confronto com Benjamin é inevitável.”

“Tornou as coisas agradáveis e simples, não é?” Marguerite disse. “Hehehe, meus braços estão coçando por uma boa batalha...” completou enquanto batia com o punho na palma da mão.

Belgrieve cruzou os braços.

“No entanto não podemos enfrentá-lo de frente. Seremos apenas rotulados de criminosos.”

“Depende de qual será seu primeiro movimento. Ele esperará a hora certa ou atacará sem demora?” Touya se perguntou.

Belgrieve assentiu.

“Agora que tem como alvo Angeline, seu lado deve estar vindo em nossa direção... Você descobriu alguma coisa na guilda? Não precisa ser sobre o príncipe. Há algo suspeito acontecendo no império?”

Anessa pensou a respeito, cruzando os braços.

“Não sei se tem alguma coisa a ver, mas... Há algum tempo, parece que monstros foram vistos pela capital.”

“Na capital? Quer dizer, na própria cidade?” perguntou Percival.

Touya assentiu.

“Não é tão comum e nunca tivemos que lidar com isso. Os que apareceram eram todos de baixo nível e quase não causaram nenhum dano.”

Como a maioria dos outros assentamentos, a capital era cercada por uma barreira para afastar os monstros e, por ser o coração do vasto império, era certamente mais forte que a maioria. E mesmo assim, havia monstros de baixo escalão surgindo dentro das muralhas da cidade. Isto foi sem dúvida estranho.

“É suspeito.” Kasim falou. “Benjamin e Schwartz têm pesquisado demônios, certo? Bem, demônios podem dar origem a monstros.”

“Sim, o que pode significar que tem um laboratório na capital?” os olhos de Miriam se arregalaram.

“O melhor lugar para esconder uma árvore é na floresta.” disse Percival. “Hmm... Tudo bem, Vou dar uma olhada nisso.”

“Está indo para a guilda?”

“Sim. Tenho certeza de que Aileen irá ajudar. Touya, Maureen, me ajudem um pouco. Só vai ficar complicado se eu for sozinho.” disse Percival, levantando-se.

Touya e Maureen se entreolharam.

“Tem certeza? Não podemos conversar sobre isso juntos?”

“Não enquanto Ange estiver capturada. Podemos deixar os detalhes mais sutis para Bell. Não é do meu feitio esperar passivamente que algo aconteça. Eu mesmo tenho que agir. Tudo bem para você, Bell?”

“Bem, claro. Já que eles deram o primeiro passo, não podemos mais ficar sentados. Conto com você, Percy.”

Kasim também se levantou.

“Vou me encontrar com Salazar de novo. Salazar foi quem percebeu o fato de que Ange ter sido capturada — tenho certeza que sabe de alguma coisa.”

“Porém acha que vai conseguir algo dele? Não obtivemos nada de útil desde que chegamos aqui.” disse Marguerite rindo.

Kasim parecia taciturno.

“Oh, cale a boca. Estou bem ciente disso. Mas o que mais posso fazer?”

“Kasim... Leve-a com você.” Belgrieve insistiu, empurrando Maitreya em sua direção.

“Hmm? Quem é essa baixinha?” Kasim perguntou, parecendo confuso.

“Oh, eu a notei quando tivemos aquela coisa de comunicação acontecendo. Quem é ela?” Marguerite perguntou, examinando-a com curiosidade. Maitreya mexeu-se sem jeito.

“O seu nome é Maitreya. Eu a conheci em Findale e consegui que cooperasse conosco. Maitreya é uma maga muito talentosa.”

Maitreya olhou para Belgrieve surpresa e sorriu em regojizo.

“E sua especialidade é a magia de teletransporte.” explicou Belgrieve. “Com a ajuda de Salazar, poderemos encontrar uma forma de sair desta situação.”

“Quem é esse cara?” Maitreya puxou a manga de Belgrieve enquanto olhava ansiosamente para Kasim.

“Este é Kasim, um amigo nosso... Bom, também é conhecido como o Destruidor de Éter, caso conheça.”

“Destruidor de Éter... O verdadeiro? Está brincando.”

“Oh, não é mentira. Sou o verdadeiro — quer me testar?” Kasim, brincando, acenou com as mãos ao lado do rosto.

“Um mago de primeira classe reconhece um mago de primeira classe quando ve um...” Maitreya respondeu um pouco nervosa. “Sou Maitreya, a Tapeçaria Negra. É um prazer.”

“Oh... A Tapeçaria Negra? Hmm, ouvi os rumores. Nunca esperei que você fosse tão baixinha, no entanto.”

“Ela é excelente com magia. Não se preocupe.”

Maitreya, deleitando-se com os elogios de Belgrieve e sabendo que seu nome havia se espalhado por toda parte, orgulhosamente estufou o peito.

Percival cutucou-a na cabeça, rindo.

“Aqui está sua chance de se redimir. Faça algo útil.”

Maitreya fez beicinho e correu para o lado de Kasim.

“Esse selvagem pode ser ignorado. Agora vamos nos apressar.”

“Ah, bem dito!” Kasim começou a rir. “‘Ignore o selvagem’, ela diz! Hehehe! Bem, então vamos embora.”

Kasim parecia ter recuperado um pouco de seu bom ânimo quando partiu com Maitreya a reboque.

Miriam murmurou.

“O Destruidor de Éter, Olhos de Serpente... E agora, a Tapeçaria Negra também... É um time de estrelas.”

“Devíamos sair também. Temos que atingir Benjamin onde dói.”

A capa de Percival tremulou em suas costas enquanto saía do salão. Touya e Maureen correram atrás.

“Phew.” Belgrieve, que havia sido deixado para trás, sentou-se cautelosamente no sofá. Por sua vez, Anessa e Miriam pareciam inquietas — era nítido que estavam preocupadas com o desaparecimento de seu membro do grupo.

Sooty, que assistiu tudo em silêncio, soltou um suspiro.

“As coisas estão ficando fora de controle mesmo...”

“Desculpe por isso, Sooty.”

“Oh, não se importe comigo. Também sou uma espécie de aventureira. Estou preocupada com o que a senhorita pode fazer, porém... Bom, vou preparar um chá por enquanto.” e com isso, Sooty saiu do salão.

Marguerite deixou-se cair numa cadeira e cruzou as pernas.

“E você, Bell?”

“Quero conversar um pouco com Liselotte. Se tudo correr bem... Talvez tenhamos a chance de falar direto com o príncipe.”

As três garotas encararam-no surpresas.

“D-Direto? Parece perigoso.”

“É verdade. Quero dizer, Ange foi capturada... Tenho certeza que até o Sr. Bell...”

“Escute-as! Você não consegue nem igualar Ange ou eu com sua esgrima. Vai ser suicídio!”

“Estou bem ciente. Contudo ainda sou o pai de Ange... Não sou gentil o suficiente para sorrir e esperar enquanto minha filha é sequestrada.” Belgrieve cerrou os punhos e seu rosto parecia um pouco mais feroz do que o normal. Embora tivesse falado com tanta calma e racionalidade apenas alguns momentos antes, talvez sua ira estivesse fervendo por dentro o tempo todo. A maneira como mantinha tudo contido lhe dava o ar de uma lâmina bem afiada na bainha.

Elas nunca tinham visto seu comportamento gentil desmoronar, no entanto Belgrieve estava claramente irritado agora, e as meninas engoliram em seco com a visão.


Notas:
1. Omurice é um exemplo de Yoshoku, consistindo de um omelete feito com arroz frito e, na maioria das vezes, coberto com ketchup.

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