sábado, 21 de outubro de 2023

Boukensha ni Naritai to Miyako ni Deteitta Musume ga S Rank ni Natteta — Volume 09 — Capítulo 118

Capítulo 118: O buraco estava na parede externa

O buraco estava na parede externa, então deveria levar para fora. E ainda assim a escuridão parecia continuar para sempre. A bola de luz de Maureen refletia-se no chão de pedra preta abaixo, que era estranhamente liso.

Percival liderou o caminho, com Maureen atrás dele e Touya atrás. Ele não sentiu nenhum inimigo, mas algo não estava certo e seu coração estava perturbado. Aos poucos o terreno começou a descer; mesmo assim, não havia inimigos a serem encontrados. Embora o ar estivesse parado, estava imerso num terrível frio que parecia apunhalar seu rosto exposto.

Maureen estremeceu.

“Está ainda mais gelado agora.”

“E acho que estar encharcado não ajuda. Você está bem?”

“Só preciso me acostumar. Tenho certeza de que ficaria bem depois de algum tempo, porém... Quero comer algo picante.”

“Vou levá-la para comer o que quiser quando tudo acabar.”

“Sério? Ótimo!”

Era como se Maureen não tivesse noção de perigo. Percival riu com cansaço — a elfa fez com que sentisse que não havia problema em relaxar. Enquanto isso, o rosto de Touya permaneceu com uma determinação sombria enquanto caminhava sem fazer qualquer som, aparentando pensar em alguma coisa. Por um tempo, Percival não disse nada, contudo por fim se virou e falou.

“Hey, Touya.”

“Ah! Hmm, sim?”

“Não fique muito perdido em pensamentos. Você vai tropeçar em alguma coisa.”

“Sinto muito.” Touya se desculpou, coçando a cabeça envergonhado.

Percival gargalhou.

“Bem, entendo como se sente. No entanto você está enfrentando alguém que pode vencer se seus pensamentos entorpecerem seus movimentos?”

“Não, não acho que posso vencer. Preciso me controlar.” disse Touya, batendo no rosto com as duas mãos.

A julgar pelos mortos-vivos que encontraram do lado de fora e pela mana que os controlava, a pessoa que esperava no final desta passagem devia ser Hector, o Carrasco. Parecia que o homem empregou os corpos dos bandidos e recompensas que caçou como soldados mortos-vivos. Ao que tudo indicava, Hector trabalhou com Schwartz para lutar contra Satie quando ela tentou lançar um ataque surpresa contra Benjamin. Ele era um aventureiro Rank S e um inimigo formidável.

De qualquer forma, foi uma dádiva de Deus — era a chance deles de se apoderarem de um fio que os conectaria a Benjamin. Acho que meus instintos ainda não envelheceram, pensou Percival.

Os três procederam com cuidado, certificando-se de cada passo à frente enquanto se moviam o mais rápido que podiam. O som de batidas ecoava ao seu redor cada vez que uma de suas solas pesadas batia no chão duro. Havia paredes em ambos os lados; a passagem era larga o suficiente para duas pessoas caminharem lado a lado, todavia seria bastante apertada se tivessem que lutar aqui. Percival aguçou seus sentidos.

De repente, o orbe que era sua fonte de luz pareceu tremer de forma instável.

“O que está errado?”

“Parece que a mana está turbulenta aqui. Há uma chance de todo este espaço ter sido construído com magia.”

Quando Maureen iniciou um canto fraco para estabilizar seu orbe de luz, eles começaram a ouvir passos que não eram seus. Touya se virou, desembainhando sua espada.

“Senhor Percival.”

“Lá vem ele... Não entre em pânico. Este espaço estreito também o coloca em desvantagem.”

Algo balançou na escuridão distante e, no momento seguinte, várias figuras envoltas em mantos negros avançaram em sua direção. As criaturas não apenas corriam pelo chão, também corriam pelas paredes. As espadas em suas mãos esqueléticas brilhavam com uma luz fraca.

“Você cuida daqueles que estão atrás de nós! Estamos avançando!” a capa de Percival brilhava em suas costas enquanto atacava os esqueletos que os avançavam pela frente. No tempo que as criaturas levaram para preparar um ataque com suas armas, Percival já havia brandido a lâmina duas ou três vezes cada. Os esqueletos foram feitos em pedaços, com mantos e tudo, suas partes esmagadas sob os pés enquanto o grupo de Percival avançava.

“Venham!”

Mais esqueletos emergiram das profundezas. Mas Percival não recuou nem um pouco, correndo com a espada na mão. Maureen seguiu-o atrás, enquanto Touya lidava com os esqueletos que os perseguiam. Ele conseguiu derrubar cada um deles no momento em que ficavam perto o suficiente.

Eles estavam descendo uma encosta suave, então aceleraram gradualmente. Os esqueletos os superavam em número, contudo seu maior número tornava mais difícil para qualquer uma das criaturas manobrarem pelos corredores estreitos. Percival os derrotou um após o outro antes que pudessem oferecer qualquer resistência significativa.

Depois de correr um pouco, o chão começou a nivelar outra vez sob seus pés. Uma luz agora era visível à distância. Percival reuniu forças e acelerou o passo, cortando três esqueletos enquanto saltava em direção à luz.

A passagem alargou-se de repente, embora marginalmente. Os três estavam agora em um espaço retangular do tamanho de uma pequena cabana. Uma lanterna brilhava com uma luz fraca vinda da parede, lançando sua luz sobre uma pequena mesa com as pernas quebradas e algumas cadeiras espalhadas de qualquer jeito.

Depois de cortar o último esqueleto, Percival observou o ambiente com um olhar incerto.

“Algo parece estranho... Consegue sentir alguma coisa, Maureen?”

“Hmm...” Maureen apagou a luz. Ela fechou os olhos e se concentrou. Não teve que procurar por muito tempo. “Esta é a presença de monstros — sem dúvida. E os da Classe Calamidade também... Um monte.”

“Oh sério?” Percival embainhou a lâmina, com uma expressão entretida no rosto. “Estão cultivando ou algo assim?”

A cabana tinha uma porta que estava aberta. O caminho parecia continuar a partir daí, então Percival se apressou para seguiu em frente. Logo estavam em outro espaço semelhante a um corredor, embora mais largo que o anterior. As paredes de ambos os lados eram revestidas com celas barricadas por barras de ferro. A maioria das celas estava vazia ou cheia de tecidos e ossos, no entanto algumas estavam ocupadas pelo que pareciam ser monstros. Nessas salas, os tetos, paredes e pisos estavam cobertos com símbolos mágicos, prendendo os monstros às suas prisões.

Percival olhou-os com curiosidade e bateu nas barras para intimidá-los.

“Isto é interessante. O que acha que estão tentando realizar ao capturar essas coisas?”

“Você é muito ousado, Sr. Percy. Eles são todos monstros de alto nível.”

“Não vou perder para essas coisas. Bem, não parece que eles possam se mover de qualquer maneira... Você acha que este é o centro de pesquisa de Schwartz?”

“Não posso dizer nada com certeza... Mas se Hector está aqui, é bem provável.” argumentou Touya, seus olhos cautelosos olhando para as profundezas do corredor.

Percival cruzou os braços.

“Este espaço também foi criado com magia?”

“Sim, é o mais provável. Uma espécie de magia do tempo-espaço, aposto... Porém é incrível. Não consigo nem imaginar a sequência de feitiços que teriam que montar para construir e manter este lugar...”

“Deve ser algo revolucionário, então. Bem, se foi um vilão quem o desenvolveu, acho que não vão compartilhar o conhecimento com o resto do mundo.”

A magia de teletransporte era bastante difícil em comparação com a maioria dos outros feitiços. Além do mais, nem qualquer um poderia usá-la — era necessária uma aptidão natural. E não importa a aptidão, Percival nem era mago. Todavia, de alguma forma, até ele poderia passar por este espaço inexistente. A magia que ligava um espaço a outro, permitindo uma passagem livre como essa, ainda não havia sido desenvolvida — pelo menos não deveria ter sido. Dobrar o continuum espaço-tempo para criar um local inteiramente novo era, sem dúvida, ainda mais difícil do que isso. Entretanto, o seu inimigo obteve esta arte e aplicou-a na medida em que estavam testemunhando agora.

“Magia do espaço-tempo, hein...” Percival refletiu sobre a revelação com uma sobrancelha franzida, no entanto desistiu como uma causa perdida.

De vez em quando, eles encontravam uma porta entre as celas que dava para uma pequena sala. Cada um desses quartos estava desabitado, mobiliado com camas, mesas e cadeiras sem sinais de uso recente. Cada vez que eles olhavam para dentro para espiar qualquer pista, apenas para inevitavelmente encolherem os ombros e continuarem seu caminho.

“Hmm... Não parece que este lugar seja usado com muita frequência. Esta instalação está operacional?”

“Sim, eu não estou tão certo.”

“Mas se fosse abandonada, é estranho que os monstros ficassem em suas celas... E não haveria sequer razão para manter este espaço.”

“Não foi abandonada.” a interjeição veio de uma voz desconhecida. Percival se virou e viu um homem de casaco preto, cabelo castanho-escuro preso em um coque apertado e o olho direito marcado por um antigo ferimento de lâmina.

A irritação de Touya se arrepiou ao vê-lo.

“Hector!”

Percival avançou com um sorriso.

“Haha! Até que enfim, decidiu se mostrar? Não deixe seus convidados esperando.”

“Poucas pessoas chegaram tão longe... Estou surpreso que aquela falha tenha conseguido...”

“Hector...”

“Já faz um tempo, Maureen. Porém não tenho nada a tratar com você.” Hector olhou diretamente para Percival. “Você não é um espadachim comum. Diga seu nome.”

“Percival. Lâmina Exaltada, se isso ajudar.”

Os olhos de Hector se arregalaram, entretanto sua surpresa foi substituída logo em seguida por uma risada alegre.

“Entendo... Então este é o Lâmina Exaltada. E pensar que um troféu tão bom viria direto para mim!”

“Vejo que tem coragem de me chamar de troféu. O Carrasco, presumo?”

“Fico honrado que me reconheça. Presumo que a falha tenha falado todo tipo de bobagem a meu respeito.” Hector falou, inclinando a cabeça na direção de Touya, que estava mordendo o lábio e pegando sua espada. Ele sentiu uma vontade irresistível de atacar a qualquer momento. Contudo Percival ergueu a mão em sua direção.

“Te disse para se acalmar. Respire fundo.”

“Ah... Desculpe.”

Touya respirou profundamente e exalou com força. Percival sorriu e deu um tapinha nas costas de Touya, empurrando-o para frente.

“Agora, vá em frente e resolva isso.”

“Ok!”

“Hã...?” Maureen olhou para Touya com preocupação antes de se virar para Percival.

“Hum, Sr. Percy? Vai mandar Touya sozinho?”

Percival cruzou os braços e apoiou o peso em um pé.

“Vou ajudá-lo se começar a parecer perigoso, ok? No entanto, sabe, Maureen, há momentos em que os homens apenas precisam tomar uma posição, mesmo sabendo que é difícil.”

“‘Homens’...? Uh, acho que você... Hmm...” Maureen parecia ter algo a dizer, mas depois de refletir sobre suas palavras, ela caiu em um silêncio resignado.

“O que está fazendo, Lâmina Exaltada?” Hector fez uma careta carrancuda. “Não tenho nada para fazer com fracotes incompetentes.”

“Engraçado você dizer isso, eu também não.” Percival bocejou.

A ruga na testa de Hector só ficou mais profunda.

“Não seja arrogante.”

Em um instante, Hector desembainhou a espada. Tinha o formato de um alfanje, porém a lâmina era mais longa e não tinha ponta. Hector segurou-o com força reversa, apunhalando-o no chão. Apesar da pedra dura sobre a qual estavam, sua lâmina pareceu penetrar com bastante facilidade. Ao mesmo tempo, a sombra de Hector parecia ondular como a superfície de um lago.

Touya desembainhou sua espada.

“Aí vêm eles, Sr. Percival!” gritou.

Vários esqueletos surgiram da sombra de Hector, cada um empunhando uma espada, lança ou machado de batalha.

“Deve ser bom poder usar magia.” Percival refletiu, com a mão no queixo.

“Eep! Esses parecem ainda mais fortes que os esqueletos de antes! Sua mana está em outro nível.”

“Entendo, entendo...” alguns dos esqueletos passaram por Touya e atacaram Percival, brandindo suas armas. Contudo Percival, assumindo uma posição baixa, desembainhou a espada e derrubou todos de uma vez. “Bem, todos parecem iguais para mim. Controle-se, Touya! Vai vingar seu irmão, não vai?” Percival chamou Touya, que parecia preocupado com os esqueletos que o cercavam.

Touya, com os dentes cerrados, derrubou o enxame e correu em direção a Hector com passos ágeis. Ele usou todo o seu impulso para estocar sua espada — contudo Hector só precisou mover seu corpo ligeiramente para evitar o golpe, e o impulso de Touya o fez passar por seu inimigo. Hector arrancou sua espada do chão enquanto Touya instantaneamente se virava para atacar o Carrasco de seu ponto cego.

“Tedioso.” sem sequer se virar, Hector se defendeu sem dificuldade do ataque de Touya com seu alfanje, fazendo o garoto cambalear para trás. “Quem acha que lhe ensinou como fazer isso?”

“Maldito!” Touya recuou um pouco e puxou a espada para trás, sua mão esquerda estendeu e reuniu sua mana em um raio rápido.

Hector virou-se com preguiça para encará-lo, golpeando o projétil com sua lâmina. Ele apontou a ponta de sua espada para Touya e disparou um raio de volta, do qual Touya mal conseguiu escapar. Hector continuou a disparar seu raio implacavelmente, diminuindo a distância entre os dois um passo de cada vez.

“Que irritante... Talvez eu devesse cuidar de você primeiro. Então poderei aproveitar meu tempo com o Lâmina Exaltada.”

“Grr...” Touya não poderia ser considerado fraco, no entanto foi forçado a ficar na defensiva.

Ainda assim, algo estava estranho no duelo deles. Ele está muito afobado... Achei que os movimentos de Touya eram um pouco mais refinados do que isso, Percival pensou enquanto observava a batalha.

Maureen bateu os pés, impaciente.

“Senhor Percy... Vamos salvar Touya já.”

“Não quero interferir em uma luta de vingança.”

“Seja como for... Touya vai morrer nesse ritmo.”

“Touya não está sendo tão ágil quanto deveria. O Carrasco pode usar esse tipo de magia?”

“Ugh... E-Eu não tenho certeza se deveria ser eu quem deveria te contar... Ah!”

Touya foi encurralado. Um raio de magia bem colocado o surpreendeu, e a espada de Hector estava pronta para ser aproveitar uma abertura. Embora Touya tenha feito o possível para bloquear o ataque, Hector estendeu a mão e agarrou-o pelo colarinho na tentativa de derrubá-lo. Touya conseguiu apoiar os pés para resistir. Houve um som de tecido rasgado quando ambos os lados perderam o equilíbrio e recuaram.

Maureen não aguentou mais. Ela concentrou mana em seus pés e saltou, quase deslizando pelo chão passando por Hector. Ela pegou Touya sem parar e o puxou para um lugar seguro.

Hector tinha uma expressão intrigada no rosto enquanto batia a espada no ombro.

“Certo, você também está aqui. Não me importo se for dois contra um, Maureen. Tornaria as coisas mais interessantes.”

“Para já... No fundo, Touya ainda te idolatra!”

“Isso não é verdade! Maureen, recue...”

“Oh, pelo amor de Deus! Pare de ser teimoso! Por que pais e filhos devem lutar até a morte?” Maureen gritou. Embora na maior parte do tempo fosse gentil, a elfa estava furiosa agora.

Percival franziu a testa.

“O que? Qual é o significado disto?”

“Oh, hum...” Maureen fechou a boca.

“O que? Quer dizer que eles não lhe contaram nada?” disse Hector.

Touya mordeu o lábio. Por baixo do tecido esfarrapado de suas vestes, Percival podia ver firmes rolos de tecido enrolados em volta de seu peito, mas mesmo na escuridão, quase parecia haver uma gordura notável na pele clara de Touya.

Percival colocou a mão na testa e suspirou.

“Hey, vamos conversar um pouco, Carrasco. Qual é a sua relação com Touya?”

“Pai e filha, mestre e aprendiz.”

“Filha, hein... Touya, que ótimo ator você é.”

Parecia que ele — ou melhor, ela — não era homem.

“Desculpe.” Touya baixou a cabeça.

Pensando bem, nunca a vi trocar de roupa no caminho para a capital e, quando passamos naquela fonte termal, ela se recusou a entrar no banho, lembrou Percival. Estou surpreso que tenha feito um trabalho tão bom em esconder esse fato.

“Bom, tanto faz. Entretanto ouvi dizer que matou o irmão dela. Matou mesmo seu próprio filho?”

“Um fraco que morre tão facilmente não é meu filho.”

“Que estoico da sua parte. Eu vou chorar. Então foi assim que conquistou o ressentimento de sua filha.”

“Semear uma semente tão incompetente foi meu erro... Hinano, você deveria ter morrido naquela época. Não estaria tão infeliz agora se tivesse feito isso.” disse Hector, olhando para Touya.

Percival teve que inclinar a cabeça para sua fala.

“Hinano? Quem é essa?”

“Vejo que de fato não lhe contaram nada. Touya era o nome do irmão mais velho. Essa garota aqui é Hinano.”

“Oh, sério... Entendo.” certo, era uma menina. Mudou seu nome e aparência para combinar com seu irmão, viajando como homem para resgatar seu nome. Percival não tinha como ter ciência do seu estado mental, porém tudo parecia um pouco triste aos seus olhos. Ele coçou a cabeça. “Suponho que o matou com seu treinamento severo. Imagino quão péssimo é em ensinar as pessoas.”

“Foi culpa dele não ter conseguido acompanhar. Você nunca entenderia, lâmina Exaltada. O verdadeiro poder só pode surgir do abismo da morte... Poder é o que se ganha para sobreviver. Se não consegue aprender algo tão simples, sua vida não tem valor.”

“Certo. Eu também pensava da mesma forma... Até pouco tempo.”

“O que...?”

Percival riu e passou por Hector, que estava de guarda, até parar diante de Touya — ou melhor, Hinano — e Maureen.

“Contudo, sabe... Fui e conheci uma garota que ficou ridiculamente forte com a bondade e o amor. Ela aprendeu a usar sua espada com seu velho. Sim, seu pai teve que ser rigoroso, no entanto era um rigor que vinha do amor paterno. Eu me senti tão pequeno e insignificante, tendo ganhado poder apenas através do ódio... Por quem fez seus filhos sofrerem? Para mim, parece apenas um ego super inflado.”

Percival tirou a capa e colocou-a sobre os ombros de Hinano.

“Use. Não posso só deixar uma garota sentada ali com as vestes rasgadas. Cuide dela, Maureen.”

“S-Sim.”

“Hum...”

“Vou dar uma bronca dura no seu velho. Tudo bem, certo?” Hinano fechou os olhos e baixou a cabeça.

Percival sorriu e se virou para encarar Hector. Ao girar seus ombros, desembainhou a espada — e então, o ar ao seu redor mudou no mesmo instante. O ar frio parecia tremer sob a pressão do espírito de luta que emanava de todos os poros de seu corpo.


“Desculpe por essa introdução prolongada. Vamos ao nos matar agora, ok?”

“Enfim está ficando interessante.” Hector não parecia nem um pouco intimidado por sua aura. Ele se posicionou, seus olhos penetrantes perfurando Percival.

Por um tempo, ambos apenas se encararam daquele jeito, até que Percival deu o primeiro passo. Com uma pisada tão poderosa que Hinano e Maureen temeram que pudesse quebrar o chão abaixo, Percival fechou a distância como uma flecha disparada de um arco que havia sido puxado até o limite. A pressão que emanava o fazia parecer muito maior do que de fato era.

Porém Hector não era um mercenário comum. Permaneceu confiante diante da aura monstruosa de Percival e defendeu seu ataque de frente. O ar ressoou com o som agudo de aço revestido de mana colidindo. As mãos de ambos os homens tremeram com o impacto.

O rosto de Hector se encheu de alegria.

“Maravilhoso... É por isso que nunca consigo parar de lutar!”

Apesar de sua estatura gigantesca, Hector saltava com a agilidade de um mestre acrobata. Ele pousou atrás de Percival e soltou um golpe horizontal. Percival rapidamente saltou para se desviar do caminho, contudo chegou um momento tarde demais, pois a espada mal roçou seu braço, deixando um rastro de sangue.

“Oh, certo... Não estou com minha capa.” na verdade, a capa que emprestou a Hinano servia como sua armadura. Parece que deixei meu estilo de luta ficar desleixado com algo tão conveniente quanto aquela capa para confiar, pensou Percival com um sorriso irônico enquanto assumia sua postura mais uma vez.

“Seu nome não é apenas para chamar atenção, Carrasco. No entanto tem o que é preciso para me executar?”

“Haha! Não me decepcione, Lâmina Exaltada!” Hector enfiou a espada na pedra abaixo. De repente, sua sombra se estendeu pelo chão e se enroscou nos pés de Percival. Foi como se alguém o tivesse agarrado pelos tornozelos.

“Então esta é a magia das trevas sobre a qual ouvi falar.”

Hector se aproximou, com a espada em punho. Todavia Percival o interceptou com calma.

Embora o braço de Hector se agitasse com a força de um chicote para desencadear uma poderosa onda de ataques, Percival conseguiu se esquivar, desviar e empurrá-lo para trás enquanto apenas deslocava a parte superior do corpo.

A troca foi tão intensa que Hinano e Maureen não tinham ideia de como poderiam intervir. Elas só podiam sentar e assistir com a respiração suspensa.

“Ouvi dizer que estava conspirando com Schwartz e o falso príncipe.”

“E daí?”

Hector soltou outro golpe poderoso, e Percival o defendeu sem suar a camisa. Mas parecia que o próprio alfanje estava imbuído de algum tipo de magia. Percival não havia sido atingido outra vez, porém às vezes uma leve dor percorria sua bochecha e braço após um ataque.

“O que vocês estão tramando?”

“Você ainda tem tempo livre para falar enquanto luta comigo? Incrível.” Hector recuou para escapar de um golpe de Percival. Ele abriu e fechou a mão dormente antes de apontar a ponta da lâmina para o inimigo. “O que quer que Schwartz e Benjamin estejam tramando, não tem nada a ver comigo. Realizo fielmente o trabalho que meu cliente me dá. Isso é tudo.”

“Haha! E esse trabalho envolve proteger esta pequena instalação sombria? Oh, como os poderosos caíram.”

“Esse trabalho foi o que o trouxe até mim, Lâmina Exaltada.” Hector canalizou mana em seu alfanje e disparou um raio mágico. Percival cortou a magia, entretanto Hector se escondeu atrás do projétil para se aproximar e lançou outro ataque feroz.

“Esta instalação está conectada à principal?”

“E se estiver? Chega de conversinha.”

Os ataques de Hector aumentaram em velocidade. As pernas de Percival ainda estavam presas e foi forçado a ficar na defensiva, contudo, eventualmente, conseguiu desviar a espada de Hector e desequilibrá-lo. Ao mesmo tempo, a sombra no chão pareceu abandonar seu domínio. Sem nada para contê-lo, Percival deu um salto poderoso.

“Não pense que pode me vencer com truques baratos.”

Com a força adicional de sua descida, seu ataque foi devastadoramente poderoso. Hector já estava instável e, embora tenha erguido a espada para bloquear em seguida, o imenso impacto o deixou de joelhos. Percival continuou a empurrá-lo. A pressão de seu imenso poder físico fez os braços de Hector tremerem e sua testa exalava suor frio.

“O que está errado? É isso?”

“Eu não esperava menos... Contudo não pense que ganhou ainda.” Hector cantou algo baixinho.

Pouco depois, Percival sentiu arrepios subindo por sua pele e bateu em retirada apressada com um grande salto. Várias espadas e lanças surgiram da sombra de Hector como uma armadilha. Se tivesse continuado a pressionar Hector, teria sido empalado.

Percival recuperou a postura.

“Hmm... Você é um pau para toda obra, então...”

“Essa sensação de tensão... Essa é a emoção da caça!”

Depois das armas vieram os esqueletos. Suas mandíbulas batiam juntas enquanto mais e mais deles emergiam para cercar Percival e dominá-lo. Percival apoiou a espada no ombro, agradavelmente entretido.

“Estes são os esqueletos de todas as pessoas que matou, certo? Você com certeza teve sua cota na matança.”

“Poupe-me dos elogios.”

Um monstro gritou de uma das celas. Percival continuou a bater com a parte de trás da lâmina no ombro.

“Criar monstros é um passatempo muito interessante. O mestre está fora no momento? Adoraria conversar com ele.”

“Ele mudou sua base de operações. Não virá aqui mais.”

“Oh, entendo. Já sabia que Benjamin era uma farsa?”

“Isso faz pouca diferença para mim. Você morrerá aqui de qualquer maneira.” Hector brandiu sua espada, sua mana girando. “Uma lua minguante, grãos de sol engolidos, de pesadelos, fantasias, sombra e luz.”

Esta era uma grande magia. Percival franziu a testa e se preparou para o ataque.

Atrás de Hector, uma sombra enorme parecia estar crescendo, pairando sobre sua cabeça como se fosse desabar. De repente, Percival sentiu um peso pressionando seu corpo. A espada que tratava como uma extensão de seu próprio corpo estava desagradavelmente pesada agora.

Todos os soldados esqueléticos marcharam em sua direção em uníssono e atacaram com suas armas com uma cacofonia de metal barulhento enquanto todos corriam para desferir o golpe mortal.

Deveria ter sido o fim, no entanto Hector não parecia convencido.

“Que estranho. Não senti resistência.” e então ouviu Percival gritar.

“Touya!”

Hector olhou distraído para trás. Hinano, com a capa esvoaçando atrás dela, atacou com a espada. Sem perceber, Hector se viu cercado, com Percival na frente enquanto Hinano e Maureen manobravam atrás.

“Grah!” a lâmina perfurou seu braço esquerdo. Hector se apressou para levantar sua espada para atacar Hinano em resposta, mas seu alfanje erguido foi interceptado por uma rajada de magia de Maureen, a força do impacto ressoando em sua mão.

“Maldita seja!” os olhos de Hector brilharam de raiva. Ele chutou Hinano antes que ela pudesse lançar outro ataque. Porém Hinano agarrou-se ao seu pé com teimosia — ela não iria soltá-lo, não importa o que acontecesse. Mais uma vez, Hector tentou atacar, contudo de repente não sentiu força no braço desta vez. Virando o olhar, pôde ver que seu braço direito havia sido decepado na altura do ombro. Foi um corte esplêndido, tão limpo que a dor só foi registrada alguns momentos depois.

“Seu pequeno...”

“Eu te disse. Truques baratos não funcionam comigo.” tendo conseguido escapar do cerco esquelético, Percival estava pronto para dar outro golpe diagonal nas costas do Carrasco. Hector saltou para frente e ficou deitado no chão. Apenas seu rosto se virou para Percival. Seu inimigo não saiu ileso — o sangue escorria dos ferimentos na bochecha e na testa de Percival, enquanto suas roupas e armadura estavam crivadas de danos. Olhando além dos pés de Percival, Hector pôde ver os soldados esqueléticos que caíram no chão depois que suas pernas foram fendidas.

“Haha! Você ainda conseguiu manejar sua espada sob os efeitos da minha magia... Como seu corpo estava pesado, você simplesmente caiu.”

“Sim, e cortei seus pés nessa posição para abrir caminho. Soa covarde em sua opinião?”

“Não seja idiota. Este não é um duelo entre cavaleiros. Superestimei minha grande magia e não percebi os ratos atrás de mim... Mate-me.”

“Não sou eu quem decide isso.” Percival embainhou a espada e virou as costas.

Hinano estabilizou sua respiração irregular enquanto olhava para Hector. O homem conseguiu reunir o que restava de suas forças para virar-se de cara para cima. Seu sangue estava acumulado no chão e já havia se infiltrado em suas roupas e cabelos.

“Que farsa... Pensar que chegaria o dia... Em que uma falha me desprezaria.”

“Meu irmão e eu — não éramos falhas.” Hinano parecia que iria chorar a qualquer momento. Suas bochechas estavam vermelhas enquanto olhava para Hector. “Te odeio do fundo da minha alma. Quero enfiar minha lâmina em seu coração neste instante. E ainda assim... E ainda...”

Hinano caiu de joelhos quando as lágrimas começaram a escorrer de seus olhos.

Hector deu uma risada fria.

“É por esse motivo que é uma falha.”

“Está enganado! Éramos humanos, só isso... Você... Também deveria ser... Então, por que...?”

“Pare de se comportar como uma criança mimada... Foi por essa razão que seu irmão morreu. Eu o matei. Se ao menos ele tivesse decidido me matar... Não teria que morrer. É tudo que existe para fazer.”

Hinano mordeu o lábio. Ela sacou uma adaga e a ergueu, no entanto quando chegou a hora de desferir o golpe de misericórdia, seus braços caíram impotentes. A adaga escorregou de seus dedos com um barulho alto e estridente ao atingir o chão.

“Haha... Reze para que essa ingenuidade... Não volte para te matar... Algum dia...”

Com todo o sangue fluindo sem fim de seu ombro direito, Hector acabou imóvel, com um sorriso sinistro no rosto. A luz havia abandonado seus olhos e o ar estava cheio do fedor penetrante de sangue e da presença fria da morte.

Maureen correu até Hinano, que chorou sem parar enquanto se ajoelhava ali.

“Você está bem...?”

“Me desculpe... No final, não consegui...” Hinano enterrou o rosto nas mãos. “Eu... Passei a desejar algo parecido com o que o Sr. Belgrieve e Angeline tinham. Por que aconteceu assim...? Por que não poderíamos ser como eles...? Jurei que iria matá-lo, mas quando ele estava lá diante de mim, meu corpo não quis me ouvir...”

Percival soltou um suspiro profundo ao se abaixar ao lado de Hector. Sua mão se estendeu e fechou seus olhos.

“Você não é ingênua. É apenas gentil. Não há nada para se envergonhar.”

Hinano não respondeu. Suas mãos cobriram os olhos como se quisesse conter as lágrimas transbordantes.

“Bom, não será fácil aceitar. Entendo como se sente, mas não podemos ficar aqui por muito mais tempo. Sei que é cruel, porém temos que ir.”

“Sim... Me desculpe...” ela esfregou os olhos e se levantou. Então, tirou a capa.

“Obrigado pela capa.”

“Sim, apenas use. Suas roupas ainda estão rasgadas.” disse Percival enquanto bagunçava o cabelo dela com delicadeza.

Hinano colocou a roupa sobre os ombros mais uma vez, enterrando seu rosto no tecido.

Percival olhou em volta.

“Maureen, consegue sentir o fluxo de mana em algum lugar?”

“Certo, acho que há algo assim.”

“Vamos.”

Os passos de Hinano foram apressados enquanto tentava se distrair. Contudo continuava fungando.

“Senhor Percy...” Maureen fez um sussurro suave. “Desculpe, por tudo, de verdade.”

“Lamento não poder fazer muito para ajudar. Simplesmente não é da minha natureza.”

“Não... Me desculpe por ficar quieta esse tempo todo. Essa garota tem muita coisa acontecendo em sua vida.”

“Não estou preocupado com nada disso. Você está passando por uma situação difícil, Maureen. Esteve a protegendo todo esse tempo?”

“Sim, embora não tenha sido algo natural para mim... Oh, veja o quão longe ela chegou. Hey, Tou... Quero dizer, Hina, espere por nós!”

Maureen perseguiu Hinano, tentando agir da forma mais alegre possível. “Se ao menos eu pudesse dizer algo com tato... Meu Deus, estou realmente sentindo minha idade.” Percival zombou de si mesmo mais uma vez enquanto caminhava atrás das duas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário