Capítulo 31: As árvores se retorciam de maneiras não naturais
As árvores se retorciam de maneiras não naturais, se fechando para formar um labirinto. O ar estava úmido e não parecia muito confortável na pele. Esses ventos atingiram profundamente a teia retorcida de galhos, soprando através de uma pequena clareira. Os galhos se estendiam sobre esse espaço aberto como uma cúpula. A espessa camada de folhas escondia o céu, e o chão parecia que não era tocado pelo sol há séculos.
Uma criança pequena estava sentada no centro inclinado. A criança não devia ter muito mais de cinco anos. Seu cabelo preto e caído fluía sobre seus ombros e suas costas, espalhando-se sobre o chão ao seu redor. Não havia como saber se era menino ou menina. Seus olhos vazios nadavam pelo espaço, nunca se fixando em nada em particular. Balançava para a esquerda e para a direita, lutando para encontrar o equilíbrio.
“Hmm... Mmm...”
A criança parecia estar murmurando alguma coisa, mas tudo o que escapava de sua boca eram sons sem sentido. Parecia que tinha esquecido como formar palavras.
De repente, a criança se levantou de maneira tímida, cambaleando pela clareira. O vento sacudiu os galhos, fazendo com que as folhas caíssem. Um deles caiu no ombro da criança e grudou em seus cabelos. Ele o arrancou e o enfiou na boca, mastigou e depois engoliu. Então, juntou todas as folhas caídas próximas e começou a devorá-las também.
“Hmm...”
No meio de sua refeição, o cabelo caído sobre o rosto entrou em sua boca. O cabelo não iria rasgar, não importa o quanto tentasse, e enquanto tentava mastigar por um tempo, eventualmente desistiu e cuspiu. Por algum tempo, a criança caminhou pela clareira, porém logo retornou ao centro. Ele se agachou, então deitou no chão.
“Hmm...” ele enfiou o polegar na boca e fechou os olhos. Os únicos sons que ouvia eram o assobio do vento e o farfalhar dos galhos.
○
“Então está me dizendo que ela luta contra demônios sozinha?”
“Correto, embora eu não saiba quanto tempo isso vai durar. Eles são muito mais poderosos do que monstros comuns.” Graham disse, tomando outro gole de chá.
Segundo Graham, a filha do rei da Floresta Ocidental andava por aí subjugando demônios. Foi uma surpresa saber que os demônios estavam revivendo em todas as terras, contudo ainda mais ouvir que a princesa élfica poderia derrotá-los sem assistência.
Duncan soltou um longo suspiro de admiração. “Que talento incrível ela deve ter... Ouvi dizer que foi preciso um monte de Ranks S aposentados e os aventureiros ativos de alto escalão apenas para derrubar um único demônio perto de Orphen.”
“É uma diferença de mana, Sir Duncan. Somente aqueles bem versados em mana podem enfrentá-los.”
“Então precisar ser um mago ou algo assim?”
“Para ser exato, não. Se eu fosse quebrar o mana em sua essência, seria apenas força interna dada direção. Nós elfos o chamávamos de ‘ki’ em nossa língua antiga. Já se perguntou por que aqueles que não são magos podem injetar mana em suas armas?”
Vindo a pensar a respeito, isso era verdade. Nem Belgrieve nem Duncan tinham a capacidade de manifestar mana como magia externamente. No máximo, poderiam usar ferramentas encantadas que reagissem à sua própria mana para fazer efeito.
No entanto, estavam conscientes do fluxo de mana quando fluía direto para suas armas. Para manusear a arma como uma extensão do corpo, era essencial usar mana como intermediário para conectar os sentidos à arma. Tanto Belgrieve quanto Duncan podiam fazê-lo de forma inconsciente, todavia era claramente uma coisa peculiar uma vez que foi apontado.
“Sua habilidade com a lâmina não é determinada por pura força física, é? Um mestre espadachim dificilmente usa força, apenas balançando sua arma com mana. Os elfos são muito mais versados em mana e seus usos. Ela é bastante talentosa, para nosso desgosto. E então, fugiu da floresta...”
"Entendo... Significa que se você puder colocar mana suficiente em sua arma, não é difícil caçar um demônio.”
“Depende. Alguns são mais fortes que outros. Seria difícil enfrentar um poderoso sozinho. Além do mais, eles são essencialmente imortais. Você pode esgotar o seus poderes por um tempo, contudo é impossível eliminá-los.”
Duncan fez uma cara de dúvida. “Sou muito cabeça dura... Mas se acha que a princesa elfa vai vir aqui, então deve significar que o surto de monstros em Turnera deve ser...”
Graham fechou os olhos. “Não posso dizer com certeza, no entanto a possibilidade é alta. Por isso vim aqui.”
“Bons deuses...” Belgrieve coçou a cabeça.
“Para ser claro, nada é certo, Sir Belgrieve. Os monstros que enfrentou eram todos de baixo escalão, não eram?”
“Sim... Entretanto há uma grande possibilidade, certo?”
“De fato. A mana que sinto aqui é semelhante, porém não a mesma. Isso é o que não entendo... Vou precisar investigar.”
Belgrieve assentiu. Eles precisavam encontrar a fonte do surto de monstros mais cedo ou mais tarde. Assim, levou os dois para fora da vila para dar uma olhada na floresta.
Enquanto caminhava entre as árvores, Graham apurou os ouvidos e estreitou os olhos.
“O que foi, Graham?”
“Estou sentindo algo estranho. No entanto...” Graham franziu a testa e inclinou a cabeça. “É muito estranho mesmo. Se a mana de um demônio estivesse influenciando a terra, haveria uma grande mudança na própria floresta.”
“Hã?”
Pelo que puderam ver, a floresta não havia passado por nenhuma transformação específica. Graham também não notou nada enquanto olhava para Turnera da montanha. Os três se aventuraram mais até que as árvores ficaram tão densas que não havia espaço para a luz se filtrar e um estranho ar frio permaneceu.
Eles podiam ouvir as ovelhas balindo à distância, e olhando para trás, as pastagens pacíficas além das árvores de onde elas vieram ainda eram visíveis. Uma onda de luz branca refletia na grama baixa cada vez que o vento a soprava.
“A influência está contida nas profundezas da floresta, ao que parece.” Graham murmurou. “Poucos monstros se aventuram nas planícies.”
“Sim... Isso significa que a floresta se tornou uma masmorra?”
“Ainda não, porém a mana permanece na floresta e os monstros são atraídos por ela. Se fosse uma dessas coisas, no entanto, as árvores seriam torcidas de forma não natural, sua força vital distorcida...”
“Então, em vez de um demônio, poderia ser a influência de outro monstro de alto escalão?”
“É possível... Mas a natureza dessa mana é muito familiar. O preocupante é o quão pouco sabemos sobre os demônios.”
De repente, houve um sentimento de hostilidade emanando de mais longe na floresta. Os três pegaram suas armas em conjunto enquanto quatro Caçadores Cinza saltavam por entre as árvores. O machado de batalha de Duncan atravessou a cabeça do primeiro logo em seguida, enquanto Belgrieve usou um movimento tão pequeno quanto pôde para decapitar o próximo. Ao que parecia uma fração de segundo depois de Graham ter sacado sua arma, os dois últimos foram divididos.
Tudo aconteceu em um instante. Os três guardaram suas armas e examinaram os cadáveres espalhados pelo chão.
“Trabalho esplêndido, vocês dois.” disse Graham, com uma mão no queixo.
“O que está dizendo? Somos meros bebês comparados a você.”
“Dei uma boa olhada na espada do Paladino — um golpe certeiro, apesar do tamanho da lâmina! Ouvi dizer que sua arma era chamada de espada sagrada, contudo se posso ser tão rude, Sir Graham, posso dar uma olhada nela?”
“Hmm...” Graham hesitou por um momento antes de sacar sua espada logo depois.
Era uma peça não refinada, sem qualquer ornamentação, todavia a borda era muito afiada e não tinha um único defeito. Deixou escapar um ar tão intimidador que era quase como se pudessem ouvir o rosnado de uma fera, e tanto Belgrieve quanto Duncan prenderam a respiração inadvertidamente.
“Esta arma está viva.” disse Graham, dando-lhe um golpe. Ele a manuseou com leveza, como se estivesse desconsiderando seu peso. O rugido da espada fez o ar tremer ao seu redor, e a lâmina cintilou como uma miragem. “Há uma árvore peculiar que cresce nas extremidades do leste — madeira de aço, é como é chamada. Ele extrai metais do solo abaixo, os processa dentro de seu tronco e depois pendura esses metais refinados em seus galhos como frutas. O aço que produz é de altíssima qualidade, porém é difícil de processar. Uma vez que consegue de fato fazer desta uma arma, o resultado é uma espada que está em grande sintonia com seu portador.”
“Um mineral vivo... Impressionante.”
“Entendo... Estou impressionado. Isso de fato não é uma espada comum.”
Belgrieve e Duncan observaram de perto. A espada brilhava de forma ameaçadora, deixando claro que qualquer um além de Graham que a tocasse seria dilacerado.
Eles desistiram de lá e voltaram para a vila. Agora que Graham estava junto, parecia possível se aventurar nas profundezas da floresta para localizar a fonte. No entanto, o objetivo de Graham era encontrar a princesa elfa, que, ao que tudo indicava, era bastante perceptiva à mana. Ela sem dúvida sentiria a mana da floresta e viria aqui eventualmente. Assim, queria deixar a floresta em seu estado anormal até então e, em troca, protegeria Turnera também.
Foi um alívio ter alguém de seu domínio junto, então Belgrieve e Duncan aceitaram a oferta. Era difícil negar que o desejo infantil de ver a lâmina de um herói de perto tinha desempenhado algum papel, embora fosse um fator trivial.
“Me desculpe por ser tão egoísta. Mas se não armar uma armadilha como essa, aquela moleca vai escapar de novo.”
“Hahaha! Bem, se tem tanto tempo livre em suas mãos, que tal me ensinar uma coisa ou duas? Adoraria treinar junto um dia desses, Sir Graham!”
“Não me importo. Só espero que haja alguma coisa que possa aprender com esses ossos velhos s.”
“O que está dizendo? Não senti nenhum indício de idade em seu movimento! Nossa, poder trocar golpes tanto com o Paladino quanto com o Ogro Vermelho! Sou um homem de sorte!”
Belgrieve deu um sorriso cansado. “Duncan, não pode me colocar junto com Sir Graham. Já deve ter percebido depois de lutar comigo, certo? Não sou um espadachim tão bom quanto me faz parecer.”
“Não diria que é assim, Bell. Talvez seja meu igual por enquanto, porém sua espada ainda está se desenvolvendo. Sou apenas um intruso descarado ao longo do caminho. Não sabe o quanto você me motivou.”
“Urgh...”
Você está fazendo disso um grande negócio, Belgrieve pensou enquanto coçava a bochecha. Então, se lembrou de algo e se virou para Graham.
“Sir Graham.”
“Algo de errado?”
“Não está bem relacionado, no entanto você conhece uma mulher élfica chamada Satie?”
Graham franziu a testa em pensamento. “Satie... Não, me desculpe. Não me lembro de ninguém com esse nome.”
“Entendo... Obrigado.”
“Uma amiga sua?”
“Sim, nós nos conhecemos em Orphen. Ela era uma elfa e uma aventureira. Não foi por muito tempo, contudo estivemos no mesmo grupo.”
“Hmm... Ela retornou ao território dos elfos?”
“Não sei. Nós nos separamos há muito tempo...”
Graham cruzou os braços. “Há quanto tempo?”
“Cerca de vinte e cinco ou vinte e seis anos atrás.”
“Eu deixei o ducado trinta anos atrás... Não sei de nada que aconteceu lá depois que parti.” Graham disse se desculpando.
Belgrieve sorriu. “É mesmo... Não se preocupe.”
“Lamento não poder ajudar.”
“Nem um pouco... Ok, Duncan. É um pouco tarde, contudo que tal prepararmos o almoço?”
“Estive esperando por isso.”
“Espero que seja do seu gosto, Sir Graham...”
“Fico muito grato.” Graham calmamente fechou os olhos em pensamento.
○
A construção de madeira estava cheia de ferramentas estranhas e sucata. Estes incluíam vários frascos conectados com tubos de vidro, engenhocas de madeira, grandes esferas de ferro e grimórios encadernados em couro. Talvez fosse muito trabalhoso organizar todos, ou sua dona não se importasse, desde que se lembrasse de suas colocações. De qualquer forma, formaram uma bagunça caótica ao redor da casa.
Foi em uma pequena aldeia a uma curta distância de Orphen. Os aldeões cultivavam vegetais e criavam gado, tendo como principal meio de subsistência sua venda na cidade grande. No entanto, também se tornou o refúgio dos magos depois que a ex-aventureira Rank S, Maria a Cinzenta, passou a residir.
O sangue do dragão amaldiçoado a assediou com uma doença incurável, entretanto mesmo antes disso, Maria odiava lugares barulhentos e lotados. Contudo, os bens abundantes em Orphen eram convenientes para sua pesquisa mágica, então parecia muito doloroso se mudar para o campo.
Ao invés, Maria montou uma ermida nesta pequena aldeia, passando dia e noite imersa em suas pesquisas. Magos de todo o mundo correram com seus grimórios e artefatos depois de ouvir os rumores de sua residência, e antes que percebesse, um grande edifício branco foi erguido bem ao lado do eremitério. Mais e mais frequentemente, estudantes com seus corações voltados para as artes mágicas batiam em sua porta, abordando-a com propinas nominais.
Quando Angeline apareceu, Maria estava espaçada em sua cadeira. As janelas estavam trancadas, com pesadas cortinas fechadas, deixando o quarto escuro apesar de ser meio-dia. Uma estranha mistura de aromas — meio perfume, meio erva — encheu a sala.
“Vovó Maria.” Angeline chamou. Maria virou-se na sua direção com uma carranca.
“Oh, Ange...”
“O que foi? Está se sentindo doente...?”
“Sempre me sinto doente, sua idiota. Hack...”
Miriam fez uma careta e começou a abrir as janelas. Uma brisa suave soprou as cortinas, espalhando poeira no ar. “A culpa é sua por se esconder nesta casa imunda, bruxa estúpida!”
“Cala a boca, sua discípula idiota! Justo quando pensei que você não tinha passado por aqui há algum tempo, a primeira coisa que diz é uma reclamação! Cough!”
“O que há de errado em apontar a estupidez quando a vejo? Se não sair e tomar mais sol vai murchar como carne seca!” Miriam arregaçou as mangas e começou a arrumar a mesa mais próxima a ela. Maria ficou em pânico para detê-la.
“Pare! Se mover as coisas, não vou saber mais onde elas estão!”
“Cala a boca! Eu limpei a última vez que estive aqui! Como já está tão bagunçado? Os livros vão para a estante! Frascos vazios vão para o rack se não os estiver usando! Por que não consegue fazer algo tão simples?”
“Não! Essa não, sua imbecil! Eu ia ler isso depois! Ia usar esse frasco imediatamente também! Não pode ver que os coloquei onde preciso que estejam? Hack, cough!” disse Maria, caindo em um ataque de tosse.
“Ah, ia sim, bruxa. Acha que teria tanta poeira empilhada em cima se fosse usá-lo em breve? Ange! Anne! Tirem a bruxa, está me atrapalhando!”
Angeline e Anessa levaram Maria para fora com sorrisos irônicos em seus rostos. Parecia que Maria estava tentando reclamar de alguma coisa por causa de seu ataque de tosse, mas Miriam a ignorou enquanto tirava o chapéu, amarrava o cabelo e começava a limpar como se fosse uma segunda natureza para ela.
O tempo lá fora estava delicioso; o cheiro de grama verde fresca flutuava no vento. Às vezes, um estranho aroma medicinal se misturava, vindos dos experimentos que aconteciam no prédio ao lado. Cerrando os olhos para a brilhante raiar do sol, Maria estabilizou sua respiração e reclamou. “Aquela maldita gata, sabe mesmo como me irritar… É sempre tão intrometida comigo.”
Anessa deu uma risadinha. “Na verdade, Merry não é tão organizada em nossa casa. Suas roupas ficam espalhadas por toda parte.”
“É porque Merry se importa de verdade com você, Maria. E você a ama também, não é?”
“Silêncio. Hack... Por que estão aqui? Vieram para brincar?”
“Não, nós viemos por isso.”
Angeline tirou algo de seu saco, uma massa translúcida, cor de âmbar, dura como pedra. Maria pegou-o e observou-o com atenção.
“Entendo. Seu grupo aceitou o pedido.”
“Sim, a seiva da árvore ohma. Merry já deu uma olhada, então a pureza deve ser de primeira classe...”
“Hack... Muito bem, eu acho. Bom trabalho.” Maria sentou-se em um banco e suspirou. Anessa deu a volta para esfregar os seus ombros.
Angeline sentou-se no chão observando a velha maga. Maria usava várias camadas de roupões apesar de estar no meio do verão, com um lenço enrolado por cima. Ao que parecia, sua doença fez com que não pudesse manter o calor corporal. Enquanto Angeline e Anessa suavam profusamente, ela não derramou uma única gota.
Seu rosto era tão jovem que parecia estar na casa dos vinte anos, porém suas costas estavam curvadas, e vendo Anessa esfregar os ombros, sua face tomava o semblante de uma velha. A juventude não é uma questão de aparência, pensou Angeline. Contudo mesmo levando isso (e sua boca suja) em consideração, Maria era uma mulher atraente.
“Oi, vovó Maria. Por que está solteira?”
“Hmph. Isso foi repentino... Hack.”
“Quero dizer, você é linda e não envelhece... Achei que seria popular.”
“Claro que sou. Deveria ter me visto, tinha vários homens à minha disposição.”
“Então por que nunca se casou?”
“Acha que há um homem por aí que pode se igualar a mim?”
“O meu pai...?” Ange sugeriu depois de uma batida.
“Hã?”
“Vamos, Ange...” Anessa suspirou.
Maria estava franzindo a testa, sem entender muito bem o que elas estavam falando.
Fazendo uma pausa na limpeza, Miriam saiu e disse. “De jeito nenhum, sem chance. Esta velha bruxa não serve para o Sr. Bell. Deve haver uma razão pela qual está sozinha na sua idade, e não quero dizer isso no bom sentido. Pfff, hee hee...”
“Morda sua língua, gata estúpida. E você? Tem alguma história de amor própria? Ah, e ainda sendo jovem.”
“Grr... Bem... Não.”
Maria zombou, orgulhosamente dominando Miriam.
“Hah, não pode nem prender um homem com esses seus seios desnecessariamente grandes? Vá cuidar de seus próprios assuntos antes de começar a bisbilhotar os outros. É por isso que é tão impopular, estúpida.”
“C-Cala a boca!” Miriam gritou, seu rosto tingido de um vermelho brilhante.
Anessa deu uma risadinha. “Não pode vencer contra a sabedoria das eras, Merry.”
“Grrrr... Agora que chegou a esse ponto, vou pegar o melhor cara do mundo! Apenas observe, bruxa!”
“Ah, pois tente, se puder. Cough, cough...”
“Droga!”
Miriam bateu o pé em frustração. Mesmo enquanto tossia seus pulmões, Maria sorriu.
Elas realmente se dão bem. Se Maria se tornar minha mãe, é provável que Miriam venha junta, raciocinou Angeline. No entanto, algo parecia estranho em chamar Maria de ‘mãe’ quando já estava acostumada a chamá-la de ‘vovó’.
De qualquer forma, qual era o tipo de Belgrieve? Mais velha ou mais nova? Energética ou moderada? Quando pensou um pouco, Angeline percebeu que os dois nunca tinham conversado a respeito antes. Pai e filha não costumavam falar sobre essas coisas.
“De que tipo de mulher o pai gosta...?” Angeline murmurou.
Maria estreitou os olhos em suspeita. “Já faz um tempo que está falando sobre isso. O que é, está procurando por uma noiva ou algo assim?”
“Estou... E você é uma candidata, vovó. Uma mulher mais velha também seria adorável...”
“Pfff! Cough, hack, gag...” Maria explodiu em um ataque de tosse, e Anessa se apressou em massagear suas costas.
Miriam franziu os lábios. “Estou dizendo que não vai dar certo! Com esta bruxa, Bell estará apenas cuidando de idosos!”
“Porém você não disse que o ar de Turnera seria bom para a vovó, Merry...?”
“Whoa! Whoa!” Miriam acenou com as mãos para cortar Angeline.
Por fim, tendo se acalmado, Maria ergueu o rosto para encarar Angeline. Ela havia tossido tanto que seus olhos estavam marejados. “V-Você diz algumas coisas ultrajantes... Ange! Pare de brincar comigo!”
“Não importa quantos anos tenha vovó, sempre terá o direito de ser feliz...”
“Deixe de ser uma idiota! Droga, de onde tirou essa ideia, essa pirralha precoce... Pare de me chamar de vovó então!”
Angeline pensou por um momento. “Posso tomar isso como um ‘sim’ provisório?”
“O inferno que não! Ah, mas que saco! Hack! Cough! Hack!”
“Precisa parar de gritar, senhora Maria...” Anessa advertiu. “Ange, pare já, basta. Não deve provocar muito as pessoas.”
“Urk, mas estava falando sério...”
Maria, Yuri e Rosetta — nenhuma delas deu respostas muito promissoras. Com certeza é difícil encontrar uma esposa, pensou Angeline.
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