quinta-feira, 8 de setembro de 2022

Boukensha ni Naritai to Miyako ni Deteitta Musume ga S Rank ni Natteta — Volume 03 — Capítulo 29

Capítulo 29: De manhã cedo, na beira do quintal

De manhã cedo, na beira do quintal, Belgrieve enfrentou Duncan com uma espada na mão. Ele apoiou seu peso na perna artificial, balançando irregularmente para frente e para trás. Duncan olhou para Belgrieve, seu machado de batalha erguido em uma posição alta.

Turnera estava com um clima fresco no início da manhã. A névoa ainda permanecia aqui e ali, captando a fraca luz do sol que ainda não havia nascido em sua totalidade. Uma vez que isso acontecesse, seu calor diminuiria de uma só vez, e então o treinamento seria a menor de suas preocupações.

Enquanto Belgrieve balançava, não fez um movimento, e Duncan estava tão tenso que também congelou. Por vezes, as pontas dos dedos dos pés se contraíam um pouco, medindo a distância à frente.

Depois de um tempo, foi Duncan quem tomou a iniciativa. Aproximou-se de uma só vez e desceu com um golpe poderoso. Os olhos de Belgrieve se abriram, mas manteve seus movimentos ao mínimo, esquivando-se e balançando sua espada em conjunto.

Mesmo assim, Duncan era um guerreiro veterano. Seu corpo girou para escapar da lâmina, em seguida, pulou para trás para criar alguma distância.

Belgrieve suspirou e afrouxou sua postura. “Tenho um longo caminho a percorrer... Obrigado, Duncan.”

“Não, essa deve ser a minha fala. Estava bem aberto depois que você me evitou. Hahaha!” Duncan sorriu, enxugando o suor da testa.

Até que Belgrieve voltasse, Duncan estava hospedado na casa de Kerry. Começou a operar com Belgrieve no momento em que voltou, acompanhando-o durante o treinamento e em suas patrulhas matinais.

Desde que lutou contra os mortos-vivos com seu corpo dolorido, Belgrieve tentou desenvolver um estilo de luta que usasse o mínimo de força necessário. O elixir élfico havia tirado sua dor, contudo sabia que não poderia vencer o Pai Tempo — não havia como dizer quando seu estilo de espada feroz machucaria seu corpo de novo. Quando esse momento chegasse, não haveria recuperação; Belgrieve nem sabia se veria outro elixir élfico enquanto vivesse.

Com isso dito, ele treinou com Duncan — o único outro combatente experiente em Turnera — todas as manhãs. Belgrieve sempre se concentrou em reagir aos ataques de seu oponente, então conseguiu se esquivar com bastante facilidade, porém seus contra-ataques dificilmente cairiam em um oponente do calibre de Duncan. Enquanto costumava canalizar toda a sua força em seus ataques, agora queria aprimorar suas técnicas — torná-las mais inteligentes para que pudesse derrubar um inimigo em um golpe sem usar tanto poder. Belgrieve estava tentando encontrar tal método, no entanto não estava chegando a lugar nenhum. Na verdade, mal conseguiria se usasse sua mana para aumentar sua afinidade com sua espada, mas...

“Isso é problemático... Meu corpo não está me ouvindo esses dias.”

“Hahaha, não há muito que possa fazer! Este treinamento é para fazê-lo ouvir!”

“Certo... No entanto só está me deixando ansioso... Não sei quando vou me machucar de novo.”

“Entendo... Tenho certeza que sua força é mais do que suficiente para proteger Turnera.”

“Não tenho tanta certeza. Preciso obter meu próprio selo de aprovação primeiro.” disse Belgrieve com um encolher de ombros.

Ele decidiu que era hora de entender por que os monstros estavam aparecendo.

Não muito tempo atrás, a influência de um demônio causou surtos em massa em torno de Orphen, e havia muitos monstros de alto escalão durante esse tempo. Foi o que impediu Angeline de voltar para casa.

Entretanto, havia apenas os de baixo escalão em torno de Turnera até agora. Talvez algo poderoso tivesse chegado, embora talvez não no nível de um demônio. Caso contrário, deve haver algo causando o acúmulo de mana — essa seria a possibilidade mais problemática. Com um monstro forte, poderia apenas caçá-lo, todavia se fosse um acúmulo de mana, precisaria de um mago habilidoso para lidar com a situação. Belgrieve tinha o conhecimento em sua cabeça, porém era um espadachim.

De qualquer forma, Duncan não era bom em buscas, então Belgrieve teria que ir em pessoa. Ele queria completar seu estilo de luta antes do trabalho; hesitou em se aventurar com habilidades incompletas. Desnecessário dizer que não estava indo tão bem.

“Ainda assim, Bell, você é incrível, polindo movimentos completamente novos na sua idade.” disse Duncan enquanto se espreguiçava.

Belgrieve sorriu. “Você vai entender eventualmente. Quando passa dos quarenta, veja, os anos de repente o alcançam. Como devo dizer... Há uma estranha impaciência — como se as coisas não pudessem mais ficar do mesmo jeito.”

“Hmm... Pensei que já estava ficando velho quando cheguei aos trinta.”

“É um pouco diferente — envelhecer e sentir sua idade de fato. Por exemplo, seu corpo de repente não está se movendo como costumava e tem mais cabelos brancos do que antes. São apenas pequenas coisas, mas o fazem se sentir bastante solitário. Há um anseio por como as coisas costumavam ser, e então parece que até seu coração ficou muito mais velho. Talvez não esteja explicando tão bem, porém é tão peculiarmente sufocante quando eu mesma sinto.”

“Entendo... Acho que entendo de onde está tentando chegar. Tenho trinta e sete anos, contudo às vezes sou atingido por essa súbita solidão. Me pergunto se esqueci alguma coisa atrás de mim.”

“Esqueci algo... Talvez seja isso. Pensei que estava vivendo o melhor que podia, contudo olhando para trás, o que exatamente consegui...?”

“O que está dizendo? Bell, você criou a Valquíria de Cabelos Negros. Não a enfrentei antes, mas ouvi muitos rumores.”

“Entendo... Certo. Talvez essa garota seja a melhor coisa que me aconteceu.” Belgrieve se levantou com uma risada tímida. “Tudo bem, chega dessa coisa triste. Vamos jantar.”

“Hahaha, não precisa ter vergonha! Não sou vulgar o suficiente para zombar de um pai que adora sua filha!”

Duncan deu um tapinha no ombro de Belgrieve antes de entrar na casa. Belgrieve o seguiu, coçando um pouco desajeitado a bochecha.


A chuva começou no início da manhã. Quando entrou sem pressa no salão da guilda, Angeline fez uma careta; o saguão estava muito lotado.

“Parece que os negócios ainda estão crescendo...”

Um grupo de jovens novatos estava fazendo barulho na frente do balcão. No canto, os aventureiros de meia-idade estavam sentados ao redor das mesas. Os funcionários entravam e saíam atarefados, e o sorriso perturbado da recepcionista estava sempre presente.

Elas se dirigiram ao balcão reservado para membros de alto escalão para ver que trabalho estava disponível. As rachaduras de quando Angeline bateu no mármore ainda permaneciam, e pensou que já era hora de remendá-las.

A mulher de meia-idade sentada atrás do balcão sorriu alegremente de volta.

“Bom dia, Ange.”

“Bom dia, Yuri... Tem alguma coisa para mim?”

“Hmm, certo. Me dê um minuto.”

Yuri folheou o arquivo em sua mesa. Seu cabelo, de um azul profundo como o oceano, caía sobre os papéis. Um pouco irritada, Yuri o afastou, recolhendo-o atrás de si.

Ela já foi membro do grupo de Lionel. Após a aposentadoria, se mudou para a capital imperial, contudo durante o surto de monstros, Lionel a contatou e Yuri veio o mais rápido que pôde. Infelizmente, o assunto já estava resolvido quando chegou.

Ainda assim, sua jornada não foi desperdiçada, pois se esforçou para reconstruir e reformar a guilda. Na maioria das vezes, trabalhava no balcão para altos escalões, no entanto como a própria já havia sido de alto escalão, não se sentia intimidada, não importa com quem estivesse lidando, e cumpria seu dever com um sorriso. Além do mais, ter alguém dos velhos tempos por perto com quem pudesse conversar dava a Lionel uma sensação de alívio.

Angeline observou Yuri de perto. Pelo disse que estava completando trinta e sete anos — não exatamente jovem, porém não passava de forma alguma uma impressão de velhice. Suas rugas eram imperceptíveis, sua pele era brilhante e se portava com um comportamento elegante. Além disso, era bastante composta e profissional, o que não significava que era inflexível — Yuri tinha um lado brincalhão e senso de humor. A verruga ao lado de seu olho tinha uma estranha sensualidade. Fazia apenas alguns meses que havia chegado a Orphen, mas muitos aventureiros já haviam se apaixonado por ela. Claro, Yuri não os levou a sério.

Por que ela não é casada? Angeline se perguntou. No entanto, também pensou que não se importaria de tê-la como mãe. Sem dúvida estava transbordando de maternidade.

Se Belgrieve se casasse, Angeline temia a possibilidade de ficar comendo poeira. Refletindo a respeito, ponderou um pouco mais e continuou ruminando sobre o que faria. Às vezes, se convencia de que não precisava encontrar uma noiva para seu pai.

Mas, Angeline sempre foi atraída pelo conceito de ter uma mãe, e sabia que Belgrieve não era o tipo de homem que a ignoraria no momento em que se casasse. E assim, tomou sua decisão final.

Talvez Yuri pudesse ser sua mãe. A mulher parecia que iria mimá-la, e talvez pudesse tirar um irmão ou irmã do negócio. O pensamento disso fez Angeline explodir em uma risada estranha.

Yuri inclinou um pouco a cabeça. “O que foi, Ange?”

“Yuri...”

“O que?”

“Gostaria de conhecer meu pai para discutir a perspectiva de casamento...?”

“Hã?” o olhar de Yuri se ergueu do arquivo, seus olhos correndo para a esquerda e para a direita.

“O-O que é isso, de repente?”

“Meu pai está sempre sozinho e me sinto mal por sua situação... Garanto que é um homem muito bom.”

“Hmm... Seu pai é o Ogro Vermelho, certo? N-Não tenho tanta certeza se sou um bom par para ele...”

“Isso não é verdade... De fato, meu pai é incrivelmente forte, mas Yuri, você não era Rank AAA...?”

“Quando estava ativa... Sou apenas uma garçonete em uma pequena taverna depois que fui para a capital imperial.”

Entendo, então é por esse motivo que ela sempre tem uma postura tão boa, pensou Angeline.

Yuri se contorceu, afobada. Estava acostumada a ser atacada por homens, então lidava com eles com bastante facilidade, entretanto, como era de se esperar, nunca uma garota veio e a perguntou se queria se casar com seu pai.

“De qualquer forma, por favor, considere... Você é linda, e meu pai é uma pessoa muito boa...”

“O-Oh... Não sei como responder na verdade...”

Quando Yuri ficou vermelha, Lionel saiu cambaleando pela porta atrás dela. Estava visivelmente exausto, barba por fazer espalhada de maneira desigual ao redor de seu queixo, boca e bochechas.

“Yuri, posso ver o livro de missões... Ah, senhorita Ange. Bom Dia...”

“Bom dia, Mestre da Guilda... Privado do sono de novo?” Angelina perguntou arrancando risadas fracas de Lionel.

“Bastante. Nossos investidores estão empurrando todos os tipos de trabalho para mim... Virar a noite toda é muito difícil na minha idade. Minha boca está cheia do sabor dos tônicos nutritivos... Há quanto tempo não faço uma refeição adequada? Tenho a sensação de que não estou melhor do que quando tivemos o surto demoníaco em nossas mãos...”

Observando Lionel resmungar para si mesmo, Yuri lhe deu um sorriso cansado. “Sempre são reclamações com você, Leo.”

“Não seja irracional, por favor. Se, além de tudo, tirar minha capacidade de reclamar a respeito, esse velho realmente vai coaxar...”

“Tudo bem. Dizem que ainda tem muito a oferecer quando se pode brincar sobre a morte.”

“Nem sei mais... Ah, vou levar esses.” Lionel pegou algumas folhas de papel do arquivo e olhou em volta.

“E Ed e Gil? Eles já estão por aí?”

“Sim, bem, só voltaram ontem. Acho que ainda estão dormindo.”

“Parece bom. Queria dormir também...”

“Vamos, vamos, só um pouco mais. Esforce-se só mais um pouco.”

“Agh...” Lionel soltou um suspiro de inveja.

Angeline estreitou os olhos. Os dois eram ex-membros de grupo, mas mesmo assim, Lionel e Yuri se davam muito bem. Angeline podia sentir uma profunda sensação de confiança entre a dupla.

“Hey...”

“Hm? O que é, senhorita Ange?”

“Vocês dois estão juntos...?”

“Hã... Por que pergunta?”

“Quero dizer, vocês se dão bem... Confiam um no outro, certo?”

“Quero dizer, nós apenas cuidamos um do outro... Porém não acho que isso equivale a ser um casal.” Lionel franziu a testa duvidosamente.

Yuri calmamente tocou um dedo em sua bochecha. “Hmm...” sua cabeça estava um pouco inclinada para o lado. “Em vez de confiar, é como se não pudesse deixá-lo sozinho... Lionel era o mais forte do nosso grupo, contudo sempre foi um pouco não confiável, velho Leo.”

“Estou bem ciente de que não tenho qualquer talento... Nem sei por que estou nessa posição agora. Ser um mestre de guilda deveria ser um trabalho de doação...”

“Ah, por Viena. Até quando vai reclamar? Todo mundo está ajudando, então controle-se, ok?”

“Sei, sei... É só que, nos últimos tempos, meu trabalho tem me assombrado até em meus sonhos...” Lionel tristemente baixou os olhos de vergonha. Yuri deu uma risadinha enquanto acariciava sua cabeça.

Mesmo que não fossem amantes, havia um vínculo estável de confiança entre ambos. Em vez de ficarem de cabeça para baixo, era como se tomassem a presença um do outro como um simples fato da vida. Isso era poderoso.

“Um rival inesperado... Mas ainda há a opção de roubar seu amor...” as bochechas de Angeline ficaram vermelhas enquanto imaginava.

Lionel olhou-a com curiosidade. “O que...? Você gosta de mim, senhorita Ange?”

“Hã...? Claro que não. O que lhe deu essa ideia, Mestre da Guilda...?”

“Quero dizer, você estava resmungando sobre roubar amor e rivais, ou algo assim...”

“Não estou falando de mim. Nunca me apaixonaria por você. É impossível...”

“Eu sabia disso, mas é um pouco doloroso quando diz bem na minha cara...” Lionel gemeu.

Yuri riu um pouco. “Com sua idade, já pode ser pai dela, Leo. Parece criminoso só de pensar.”

“Nem brinque, por favor. Não quero ser tratado como um criminoso além de tudo... Brincadeirinha, só brincadeira...”

Angeline se inclinou, as mãos plantadas no balcão. “Yuri... Por favor, considere seriamente o assunto com meu pai. Ele não é tão pouco confiável como o mestre da guilda...”

“Que garotinha intrometida!” Yuri cutucou Angeline na testa.

“O pai de Ange, hein...” Lionel disse, também encostado na mesa.

“Senhor Elmore não parava de elogiá-lo da última vez que fui a Bordeaux... Ahh, se ele ao menos voltasse a se aventurar e viesse trabalhar para nós... Certo — hey, Yuri, que tal se casar com o pai da senhorita Angeline para trazê-lo para Orphen? Não parece uma boa ideia?”

“Leo, seu estúpido! O que acha que o romance é?” o punho de Yuri atingiu a bochecha de Lionel, embora quase não houvesse força por trás dele.

Ao mesmo tempo, Dortos emergiu da porta dos fundos com raiva no rosto.

“Lionel! Quanto tempo leva para pegar alguns papéis?”

“Espere, Sr. Dortos, você entendeu tudo errado! Estou apenas respirando um pouco!”

“Silêncio! Venha já para cá!”

Agarrando Lionel pela nuca, Dortos arrastou-o para a parte de trás.

Yuri respirou aliviada e voltou a folhear o arquivo. “Agora Ange, sobre esse pedido...” “Sim.” disse Angeline.

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