quinta-feira, 13 de julho de 2023

Boukensha ni Naritai to Miyako ni Deteitta Musume ga S Rank ni Natteta — Volume 07 — Capítulo 84

 Capítulo 84: Ele se parece com um leão



 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

Ele se parece com um leão — essa foi a impressão de todos que viram o homem. Seu porte era alto, com ombros largos, e seus olhos penetrantes e as rugas profundas esculpidas ao redor do nariz tornavam difícil para qualquer um se aproximar da sua figura. Seu cabelo cor de palha, salpicado de branco, estava indomado e crescido demais e — talvez devido à sua propensão a cachear — parecia se mover mesmo quando não havia vento para carregá-lo. Era quase como a juba de um leão.

O homem se abaixou à beira de um abismo. Era largo e profundo; a névoa dentro tornava impossível dizer até onde ia a olho nu. Os degraus esculpidos na face da rocha desciam ao longo da borda, estendendo-se cada vez mais para baixo. Um vento morno subiu de dentro, fazendo o cabelo do homem balançar. Era estranhamente úmido e rançoso — de certo não era o tipo de atmosfera para relaxar.

As sombras de outros visitantes pontilhavam a borda do fosso. Todos pareciam curiosos sobre o que estava acontecendo lá dentro. Alguns estavam sozinhos, como o homem, mas a maioria vinha em grupos de dois ou mais.

De repente, sentiu uma pontada no fundo do peito e ele quase teve um ataque de tosse. O homem fez uma careta e apertou o peito. Seus olhos foram fechados e sua respiração firmada.

“Cough...”

Agarrando o sachê perfumado pendurado em seu pescoço, pressionou-o contra o nariz. O aroma refrescante de várias ervas era transportado por vapores de óleo de éter, fluindo pelo nariz e descendo pela garganta. Agora que sua respiração difícil havia se acalmado, o homem respirou fundo.

O homem encarou o sachê em sua mão. Era um saco velho, pequeno e esfarrapado feito de pano desbotado com bordados puídos. As ervas e o óleo de éter não eram os mesmos de quando foram feitos pela primeira vez. Sempre que os cheiros desapareciam e perdiam o efeito, o homem trocava os ingredientes. Porém, a receita e o sachê permaneceram inalterados.

Ele o apertou em suas mãos, levantando o braço para lançá-lo no vazio, contudo foi como se alguém o tivesse agarrado pelo pulso. Seu braço erguido tremeu até que por fim se resignou e o abaixou.

“Droga...” murmurou com desgosto enquanto guardava o sachê. Quantas vezes já foram até agora? É como se o passado tivesse voltado para me assombrar, pensou o homem, estalando a língua. Apesar de suas muitas tentativas de se livrar do sachê, nunca conseguiu. Mesmo que o deixasse cair por acidente, alguém sempre o encontraria e o devolveria. Ele não conseguia se livrar disso; não podia fugir. Se não confiasse nisso, frequentemente sofreria apenas para poder respirar.

Alguém uma vez lhe disse.

“Cinquenta anos é muito tempo para refletir. Claro, você encontrará o bom e o ruim e muitas coisas nesse meio.”

Talvez essa pessoa estivesse certa. No entanto quando refletiu sobre sua própria vida, não conseguiu se livrar da sensação de que o mal superava em muito o bem. Aconteceu quando estava com dezessete anos e, desde aquele dia, era como se sua vida tivesse perdido a cor.

O homem não sabia o que deveria fazer. Tudo o que sabia era que seria para sempre atormentado pela culpa e pela raiva sem saída. Os sentimentos diminuíam quando brandia sua espada, então continuou a lutar. Sempre que era deixado sozinho com seus pensamentos, sua mente piorava, então tinha que continuar se movendo. Ou então...

Ele ouviu o som de passos leves vindo de suas costas.

“Como você tem estado?”

O homem não se virou, apenas balançou a cabeça quando os passos se aproximaram do seu lado.

A garota usava um gorro de pele com o que pareciam ser protetores de orelha pendurados nas laterais. Em uma inspeção mais detalhada, essas eram na verdade suas orelhas caídas de cachorro.

“É aquela época abafada do ano, baby...” ela murmurou com uma voz cantante.

O homem silenciosamente fechou os olhos enquanto os olhos azuis brilhantes da mulher estavam fixos na sua pessoa, piscando curiosa.

“Essa capa deve ser sufocante.” disse a mulher.

“Vejo que está tão barulhenta como sempre...” ele respondeu por fim.

O homem se levantou, sua capa velha e desgastada farfalhando contra a roupa por baixo.

A garota encarou-o.

“Onde está indo?”

Ele a ignorou e foi embora.

Embora a garota o tenha visto encolhendo por um tempo, ela finalmente desistiu e se virou para o buraco. Como sempre, estava envolto em um tênue véu de névoa rodopiante.

Logo, o lugar do homem foi ocupado; substituído por uma mulher de cabelos negros vestindo roupas do leste que se sobrepunham na frente. A mulher estava posicionada com uma lança, um olhar duvidoso em seu rosto enquanto olhava por cima do ombro para o homem.

“Ele estava com um humor pior do que o normal hoje.”

“Como as pessoas do passado costumavam dizer, ‘O coração de uma mulher é tão inconstante quanto o céu de outono’. Então, o que é o coração de um homem?”

“Como eu saberia. Então, como é? Já sente alguma coisa?”

As orelhas de cachorro da garota balançaram enquanto negava com a cabeça.

A mulher suspirou.

“Meu Deus... A expectativa está me matando.”

“Mas é melhor do que aquele último trabalho.”

“Não vou Negar... Imagino como o Sr. Bell e Ange estão indo...”

A mulher enfiou a ponta da lança no chão e se apoiou nela como uma bengala.


De Orphen através de Benares para o leste, então através do Ponto de Checagem Oriental de Yobem e por fim para Tyldes — esta era a rota comercial oriental do Ducado de Estogal. O Ponto de Checagem norte de Haril tinha a utilidade adicional de fornecer acesso ao território élfico, porém seria fechado pela neve no inverno. Yobem, entretanto, prosperou no comércio durante todo o ano. A par da rota do sul, que ligava à capital imperial, era uma das maiores rotas comerciais do ducado.

À medida que as mercadorias circulavam, também circulavam as pessoas. Poucas diligências podiam andar lado a lado pela larga estrada, e filas de mercadores cruzavam leste e oeste.

O Ponto de Checagem estava estacionado em uma cordilheira que dividia Tyldes e Estogal e foi baseado em torno de um forte robusto que já provou ser um grande trunfo em uma guerra antiga. Os edifícios volumosos que serviam como estações de triagem foram muito inspirados em seu design.

Com tantas pessoas reunidas em torno do Ponto de Checagem, era apenas uma questão de tempo até que uma cidade surgisse a sua volta. Ambos os lados do Ponto de Checagem eram flanqueados por pousadas para viajantes, e havia muitas lojas que negociavam mercadorias para uma longa viagem. Aventureiros também eram uma visão cotidiana.

Por estar na fronteira nacional, os militares tiveram uma presença marcante, e sendo um importante ponto de comércio, foi economicamente abençoado. Embora tecnicamente caísse sob o domínio de Estogal, o senhor local exercia grande autoridade. Tinha crescido a ponto de atuar como uma espécie de cidade-estado independente. Assim era a cidade de Yobem, um ponto chave entre as nações.

Angeline puxou a manga de Belgrieve.

“Pai, olha. Esses cavalos são enormes...”

Vários cavalos — todos bastante grandes e corpulentos — estavam amarrados perto da cerca. Seus cascos eram bem mantidos e pareciam tigelas viradas para cima — é claro, sem a menor rachadura. Em seguida, eles foram equipados com ferraduras pesadas e deslumbrantes, contribuindo ainda mais para seu físico arrogante.

Belgrieve coçou a barba, impressionado. Todos eram cavalos de valor inestimável que fariam um trabalho esplêndido se recebessem um arado.

“Acho que são cavalos Tyldean... Podemos acabar pegando-os emprestados ao longo do caminho.” disse ele maliciosamente, o que fez Angeline congelar no ato. Ela era péssima em montar, e o mero pensamento de montar um cavalo tão grande a fazia estremecer. Belgrieve gargalhou ao ver sua reação e deu um tapinha na cabeça de Angeline.


“Estou brincando. Talvez se fôssemos só você e eu, contudo temos gente demais. Se formos a algum lugar, será em uma carroça.”

Angeline deu um tapinha no peito de alívio. Então, de repente se virou para Belgrieve.

“Hmm... Se fôssemos só nós dois, estaríamos a cavalo, então?”

“Quem poderia dizer?” Belgrieve riu.

Angeline estufou as bochechas com um beicinho.

Seu grupo havia se separado da mascate de cabelo azul em Orphen e chegaram a Yobem em uma diligência rumo ao leste. Ali desembarcado, o grupo esperava na fila para preencher a papelada que os levaria ao Ponto de Checagem.

A fila enorme significava uma longa espera pela frente e, como não havia sentido em ter todo mundo esperando o dia todo, os outros partiram deixando Angeline e Belgrieve para explorar a cidade. Já era hora de voltarem com um pouco de comida.

Antes de entrarem na fila, Belgrieve ficou fascinado com os vários produtos expostos nas barracas de rua. Esses produtos pareciam ser páreo para os mercados da Orphen em termos de variedade. A ferragem feita com os minérios extraídos domesticamente do ducado era de altíssima qualidade e uma pedra angular de seu comércio. Outros bens que vieram de Tyldes incluíam seda, fios e tecidos de algodão, roupas finas e tapetes tecidos em Keatai, especiarias e cavalos, entre outras coisas. Havia também trigo, ervas secas, lã e gado trazidos de Orphen.

Os mercadores que vinham de Tyldes e Keatai exalavam um toque estrangeiro com seus trajes incomuns, e era emocionante apenas observá-los. Reconhecidamente, Belgrieve já havia visto esses mesmos mercadores em Orphen antes, no entanto eles ainda faziam maravilhas para despertar seu espírito de viajante. Ou talvez servissem como um poderoso lembrete de que estava prestes a entrar em uma cultura estrangeira.

Esta seria a primeira vez que Belgrieve cruzaria uma fronteira. Ele coçou a cabeça ao perceber de repente que estava muito animado com isso para alguém de sua idade. Ao que parecia, seria a primeira vez para Angeline também, então parecia que toda a família estava entusiasmada. Tudo ao redor dos dois estava se movendo sem parar, e Angeline relatava cada pequena coisa que notava para Belgrieve com alegria.

Os dois estavam um pouco mais perto do Ponto de Checagem quando Kasim voltou com os outros.

“Hey, desculpe fazer vocês esperarem. Está tão lotado em todos os lugares que mal consegui comprar alguma coisa.”

“E há muito para escolher. Tudo parecia divino.”

“Isso é porque você continuou caçando os doces, Merry.”

“O que importa, hein? Coisas doces são melhores quando se está cansado.”

“Como já está cansada?”

“Cala a boca, Maggie.”

Marguerite gargalhou quando Miriam a cutucou.

“Tem certeza de que quer vir conosco, Maggie?” Belgrieve perguntou, coçando a bochecha. “Não é tarde demais para voltar atrás.”

“Chega dessa conversa, Bell. Como pôde me deixar fora de uma aventura tão interessante?”

“Bem, então...” o que eu vou dizer a Graham? Belgrieve se perguntou enquanto inspecionava a garota elfa.

Quando eles pararam em Orphen, o grupo naturalmente passou pela guilda e pelo orfanato da igreja para conversar com seus amigos. Lionel e os outros membros da guilda ficaram encantados, embora um pouco desapontados porque um poderoso grupo de aventureiros ainda não voltaria. Ainda assim, os desejaram segurança em sua jornada.

Marguerite, que havia sido promovida a Rank D havia pouco tempo, insistiu que iria junto. Ela era uma garota que havia deixado sua casa para ver o mundo; sem dúvida não poderia ficar parada quando ouviu falar de uma viagem para as terras distantes do sul.

Belgrieve foi contra no início, todavia no final das contas não conseguiu detê-la. Uns meros quarenta anos de sabedoria não foram suficientes para abafar o entusiasmo ardente de uma jovem guerreira.

A refeição consistia em carne temperada e legumes ensanduichados entre fatias finas e redondas de pão, acompanhados de uma garrafa de vinho. Os doces que Miriam escolheu eram pequenas bolas de farinha de trigo, amassadas com gordura de leite e fervidas com especiarias, não muito diferentes de bolas de leite em um molho forte que lembrava mel. Eles eram tão gordurosos e doces que Belgrieve se satisfez depois de uma mordida, mas as meninas pareciam apreciá-los. Belgrieve levou a mão ao peito enquanto as observava.

“Isso é muito forte... Vou ficar com azia nesse ritmo.”

“Hehe, é melhor se acostumar logo, Bell. Pode ter outras opções aqui, porém teremos mais desses sabores quanto mais ao sul formos.”

Entendo. Portanto, este é o sabor do sul, refletiu Belgrieve. Talvez gostos exóticos como esses fizessem parte da alegria de viajar, contudo era um pouco demais para alguém com pouca experiência em viagens — não que reclamar fosse levá-lo a algum lugar.

Ele tomou um gole de vinho e deu um tapinha na barriga enquanto olhava em volta.

Embora houvesse alguns rostos que não se sentiriam deslocados no ducado, também havia muitos com vincos mais superficiais e traços mais suaves que eram mais comuns no leste. Alguns usavam roupas peculiares e, quando os observava com curiosidade, eles ocasionalmente o encaravam de volta. Quando o demônio apareceu perto de Orphen, a segurança do Ponto de Checagem havia se tornado bastante rígida, e o exército de Orphen estava emprestando algumas tropas aqui também.

Tyldes não era uma nação homogênea. Era um país multiétnico de muitos povos amontoados. Para ser mais preciso, quase não tinham consistência nacional. Cada tribo ou grupo enviava por vezes um representante para trocar opiniões em um conselho, no entanto não havia monarca que reinasse sobre a totalidade de suas terras. Em seu lugar, cada grupo e tribo teria seu próprio governante, e havia muitas casas poderosas que mantinham seu próprio domínio. Escaramuças e lutas internas eram uma ocorrência frequente. Tyldes era considerada uma federação. Não muito tempo atrás, uma das tribos deslocou sua cavalaria para o Ponto de Checagem, causando um impasse bastante tenso. A tensão parecia ter desaparecido agora.

Havia muitos povos diferentes em Tyldes, entretanto a maioria era nômade. Eles pastoreavam rebanhos de ovelhas e cabras enquanto vagavam sem parar pelas vastas planícies. Suas habilidades de equitação eram surpreendentes, e cada tribo tinha seus próprios guerreiros renomados. Durante as numerosas batalhas entre Rodésia e Tyldes, os cavaleiros Tyldes aparentemente conseguiram atormentar o exército rodesiano. Agora que tinha visto os valentes cavalos de Tyldes, Belgrieve podia entender por quê. Ele acenou com a cabeça para si mesmo quando a linha mudou, avançando-o ligeiramente mais perto da frente.

“Ainda assim...” Marguerite disse, cutucando a espada nas costas de Belgrieve. “Nunca pensei que meu tio-avô deixaria isso com você...”

“Eu mesmo não posso acreditar... Maggie, você é capaz de manejá-la?”

“Não. Sou melhor com lâminas finas e não nos damos muito bem.” Marguerite deu um leve soco na espada. A espada não respondeu.

A garota elfa riu.

“Em outra ocasião teria me atacado. Tentando parecer legal agora, hein?”

“A espada está agindo de forma diferente, certo? Ela só fica quieta quando Graham e o pai estão por aí...”

“Você entende? Ela é uma pequena espada desagradável. Ser chamada de lâmina sagrada fez isso subir-lhe à cabeça.”

Tanto Marguerite quanto Angeline aparentavam poder ouvir a voz da espada, embora o próprio Belgrieve nunca tivesse ouvido antes. Ele poderia entrar em sinergia com a espada, porém sempre foi silenciosa em suas mãos. O que há de tão diferente em nós? Perguntou-se, com a cabeça inclinada enquanto refletia a respeito. Contudo quebrar a cabeça não o levaria a lugar nenhum, então parou de pensar sobre e voltou seus pensamentos para o futuro.

Eles estavam indo para o sul, no entanto isso não significava que estariam viajando cegamente naquela direção geral. Havia estradas que se estendiam pela vasta extensão gramada de Tyldes, e sair dessas estradas quase sem dúvida os deixaria perdidos. Estavam em terras desconhecidas e tal fato exigia um nível adicional de cautela.

Na esperança de obter algumas informações, Belgrieve iniciou uma conversa com um mascate que também esperava na fila. Quando Belgrieve perguntou ao mascate se poderiam seguir para o sul ao longo da cordilheira assim que passassem pelo Ponto de Checagem, o mascate pareceu pasmo.

“Com certeza não, chefe. Essas montanhas estão repletas de bandidos e monstros, e as estradas não são bem conservadas. Claro, não vai ficar sem estrada, entretanto apenas os imprudentes seguem de bom grado esses caminhos perigosos. Eu diria que sua melhor aposta é ir para Khalifa e se juntar a uma caravana que vai para o sul de lá.”

Khalifa era uma cidade grande situada onde o caminho principal para o leste se cruzava com o caminho principal para o sul. Era um centro comercial e muitos comerciantes o consideravam um lar. Não era exagero chamá-la de a maior cidade de toda Tyldes.

Acho que o caminho seguro é o melhor, pensou Belgrieve, desgrenhando a barba. Ele fingiu não ver os rostos de seus companheiros aventureiros se iluminarem com as palavras ‘perigoso’ e ‘imprudente’. Pelo menos, tentou ignorá-los, até que Angeline puxou sua manga.

“Vamos em uma aventura... Pai.”

“Não, não podemos. Por que sair do nosso caminho para pegar a estrada perigosa?”

“Hmph...”

“Hmm, bem, não vejo nenhum perigo com esses membros do grupo.”

“Não há certezas absolutas. Não com aventureiros, Merry.”

“E você continua teimoso como sempre.” Kasim riu.

Anessa deu de ombros.

“Bom, estamos apenas acompanhando a jornada do Sr. Bell desta vez. Devemos seguir suas instruções.”

“Lá vai você, fingindo ser uma boa menina...”

“O que?”

“O que é um aventureiro sem um pouco de aventura, Sr. Bell?”

Belgrieve lançou a Miriam um olhar preocupado.

“Eu nem sou um aventureiro...”

“Hã...?”

Espera, sério? Os cinco membros além de Belgrieve trocaram olhares. Eles seguiram seu exemplo como se fosse natural e lutaram lado a lado como se fosse a coisa mais óbvia do mundo. Aparentemente, tiveram a impressão de que Belgrieve havia retornado como um aventureiro. No entanto, Belgrieve não tinha uma placa de aventureiro. Na verdade, não passava de um fazendeiro.

“Como pode ser um fazendeiro quando tem uma espada sagrada e está lutando de igual para igual com aventureiros de Rank S?”

“Isso é o que eu gostaria de saber...”

Belgrieve deu um sorriso irônico, colocando a mão na espada pendurada em suas costas. A espada estava silenciosa. Era grande, com um firme senso de substância, todavia tão leve que praticamente só podia sentir o peso de sua bainha. Entretanto, quando segurou o cabo, ele a balançou com um peso tremendo. Era todo um mistério.

Marguerite olhou descontente para a espada.

“Não há perigo quando se tem essa coisa...”

“Ainda não sei se a estou usando direito.” desde o momento em que pegou a espada emprestada até o momento de sua partida, Belgrieve treinou com Graham várias vezes, mas essa espada seguia sendo um obstáculo para ele. Embora pudesse girá-la com bastante facilidade, não poderia empunhá-la como faria com a lâmina que tinha sido sua parceira por muitos anos.

“Hmph, Bell, seu covarde!” Marguerite fez beicinho.

A fila avançou mais uma vez.

Angeline pulou nas costas de Belgrieve, mesmo com a espada separando-os. Ele se apressou em estender as mãos para apoiá-la.

“Eu quero ir em uma aventura com meu pai!”

“Esta jornada já é uma aventura, no que diz respeito ao pai...” Belgrieve respondeu.

“Errado! Tudo errado! Quero mergulhar em uma masmorra e abrir caminho juntos em uma situação precária!”

“Não acabamos de fazer isso em Turnera?”

“Não desse jeito! Quero dizer, tem que ser um pouco mais...”

“Você não entendeu, Sr. Bell?” Anessa perguntou cansadamente.

Belgrieve não sabia como reagir. Não que ignorasse por completo de onde o desejo de Angeline vinha. Porém, suas próprias aspirações de aventureiro — as que pensava ter carregado todo esse tempo — desapareceram a tal ponto que até ficou chocado ao perceber tal fato. A essa altura, não tinha absolutamente nenhuma intenção de voltar a ser um aventureiro.

E, contudo, se perguntava por que continuou a treinar seu corpo e espada mesmo depois de se retirar para Turnera. Não era porque queria ter sucesso em aventuras. Belgrieve foi seduzido por Angeline, que continuou a mostrar talento, no entanto em maior parte porque seguia sentido uma sensação de competição com seus antigos camaradas. Uma parte sua queria ficar lado a lado com eles um dia.

Agora, havia se reunido com Kasim e estava a caminho para encontrar Percival. Se era um aventureiro ou não, era irrelevante. Ele tinha uma vaga sensação — uma intuição — de que estava parado onde eles já estavam e descobriu que não estava tão obcecado em ser um aventureiro, afinal. O que ansiava em seu coração não era poder — era um vínculo com seus camaradas.

“Isso pode ser um pouco injusto.” murmurou. Estou apenas tentando me distanciar de uma posição de responsabilidade? Seus pensamentos e seu olhar vagavam. Como poderia ser assim, depois de ensinar a sua filha a verdadeira essência de um aventureiro? Se agisse de tal maneira, como poderia dá-la um sermão?

Ainda agarrada às suas costas, Angeline estendeu a mão para bagunçar o cabelo de Belgrieve.

“Não é justo, pai!”

“Urgh...” ela não poderia ter lido sua mente, mas por um momento parecia que o coração de Belgrieve havia parado.

Angeline estufou as bochechas e puxou os lóbulos das orelhas de Belgrieve.

“Sei que esta é a sua jornada para conhecer o Sr. Percy... Porém estamos juntos e quero partir em uma aventura!”

“Hey... Ange, a aventura não é o único prazer que existe em uma viagem, certo? Ver uma terra desconhecida e conhecer novas pessoas também é divertido por si só. Pode haver emoção se formos ao longo das montanhas, contudo podemos perder a chance de ver Khalifa.”

“Ugh...”

Angeline enterrou o rosto em seu ombro, insatisfeita. Anessa e Miriam trocaram um olhar resignado e suspiraram. Marguerite caiu em um silêncio mal-humorado. Somente Kasim tinha um sorriso significativo no rosto enquanto acariciava a barba.

“Está certo disso, Bell?”

“Agora olhe aqui, Kasim. Não é como se partíssemos com o desejo de partir para uma aventura.”

“Não é o que eu quis dizer. Claro, vamos ver Percy, no entanto ele está no Umbigo da Terra, certo? É um antro de monstros poderosos. Acha que seus sentidos vão voltar, assim mesmo, se percorrer todo o caminho sem perigo? E se não está acostumado com essa espada, não deveria experimentá-la em um combate real?”

“Hmm...”

Kasim gargalhou e baixou o chapéu.

“E tem mais, temos o pedido do velho Graham. Ficar sem lutar é uma tarefa impossível.”

“Acho que está certo.” se eles quisessem obter os materiais que Graham estava procurando, lutar contra monstros de alto escalão era simplesmente inevitável. Evitar a batalha até aquele ponto reduzia o risco, todavia precisava manter o sentido que havia encontrado em sua prática. Perdê-lo só o deixaria mais ansioso.

Kasim cruzou os braços atrás da cabeça e sorriu.

“Hey, pode apenas nos assistir lutando por trás, se quiser. É aí que você realmente brilha. Entretanto precisa se proteger, pelo menos...”

“Tudo bem, já entendi. Foi meu erro, então pare de me provocar.”

No momento que Belgrieve jogou a toalha, Angeline saltou alegremente de suas costas. Ela circulou e olhou para o rosto dele.

“E?”

“Vou considerar ir pelas montanhas. Porém não sem um plano. Podemos estar enfrentando o perigo, contudo não estamos indo para a morte. Devemos pensar em maneiras de nos mantermos o mais seguros possível. Essa é a minha condição.”

“Entendi! Hehe... Finalmente uma aventura com o pai!”

Angeline recuou de forma ágil e deu um tapinha no ombro de Anessa, Miriam e Marguerite. Todas elas riram cheias de alegria.

“Hehehe, você sabe o que está fazendo, Sr. Kasim.”

“Então até o Sr. Bell pode ser encurralado.”

“Hey, não foi nada de especial...”

Marguerite cutucou Belgrieve.

“É a oportunidade perfeita para treinar com essa espada! Apenas desista!”

“Tudo bem... Estou em acordo.” o sorriso de Belgrieve tinha um toque de resignação. A fila avançou outra vez. O Ponto de Checagem ainda estava muito longe.

Um comentário:

  1. Eu fico feliz e puto com o Bell, algumas coisas me irritam nas atitudes dele, mas quando paro para pensar, elas fazem sentido.

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