sexta-feira, 10 de novembro de 2023

Boukensha ni Naritai to Miyako ni Deteitta Musume ga S Rank ni Natteta — Volume 09 — Capítulo 123

Capítulo 123: Sob a luz azul clara

Sob a luz azul clara das chamas e a luz branca da lua, o sangue que deveria ser vermelho parecia um preto horrível. Ela conseguiu saltar para fora do caminho com o aviso de Belgrieve, mas a espada de Falka ainda a feriu. De repente, foi dominada por uma dor ardente.

“Isso... Dói...” Marguerite ofegou. Falka caminhou em sua direção com a espada erguida. O punho inchado da espada parecia corroer seu braço, como se quisesse fundir o homem e a lâmina em um só ser. Belgrieve saltou assim que Falka descendeu, defendendo o golpe de misericórdia com sua grande espada. A lâmina sagrada colidiu com a amaldiçoada e ambas rugiram enquanto mana enchia o ar. Falka saltou com a testa franzida.

Belgrieve se inclinou para segurar Marguerite pelo ombro.

“Maggie, controle-se!”

“Bell... Eu... Vou morrer?”

“Você está bem, conseguiu se esquivar a tempo, então não foi um golpe fatal. Mantenha sua guarda.”

“Mas tem tanto sangue... E não consigo sentir nenhuma força no meu corpo...”

“Essa espada rouba a força de quem corta. É por isso que está se sentindo fraca. Fique firme — precisa permanecer firme!”

Marguerite mordeu o lábio e olhou para Falka. Por ser forte, não estava acostumada a ser ferida, e tal momento a deixou muito mais ansiosa do que deveria.

Que patético, pensou Marguerite enquanto finalmente conseguia se recompor o suficiente para ficar de pé uma vez mais. É verdade que ainda estava um pouco instável, porém estava de pé. Depois que Belgrieve apontou a natureza do ataque, pareceu ter uma epifania. Como diabos, vou morrer com esse corte miserável.

“O que deu nele?”

“Não sei. Contudo uma coisa é certa — essa espada é problema.” respondeu Belgrieve. Ele ficou na frente de Marguerite, a grande espada em punho. “Continue aplicando pressão na ferida. Siga nessa direção e encontrará Satie. Reagrupe-se com ela e seja tratada.”

“Eu... Voltarei assim que puder!” com as duas mãos cruzadas sobre o corte, Marguerite saiu o mais rápido que pôde.

Belgrieve respirou fundo antes de se virar para Falka de novo. O garoto — que tinha certeza de ter nocauteado com aquele golpe nos órgãos vitais — agora parecia um monstro que havia assumido a forma humana. A espada assimilada com o braço direito brilhava com luz negra.

Belgrieve não conseguia se livrar da sensação de já ter enfrentado algo parecido antes. Quando enfrentou Charlotte na propriedade de Bordeaux, o anel dela se encheu e cobriu seu braço. Talvez a espada de Falka fosse de natureza semelhante.

Mais cedo, depois de supostamente ter nocauteado Falka, Belgrieve foi direto para o príncipe impostor destruir a linha de comando do inimigo, no entanto em um escasso momento que fez uma pausa para recuar diante do choque da magia de Kasim e Schwartz, o falso Benjamin desapareceu. Depois disso, foi preciso lidar com a floresta em chamas, e a situação ficando caótica, para dizer o mínimo. No meio de tudo, o inconsciente Falka levantou-se, entretanto ainda parecia inconsciente. Era como se algo diferente estivesse movendo seu corpo. Os dois trocaram golpes então, mas o garoto parecia ter outras prioridades e de repente fugiu no meio do duelo. Belgrieve iniciou a perseguição apenas para observar Falka passar e absorver uma figura com uma capa preta. Foi então que a espada cresceu em seu braço.

“Se o tivesse detido naquele momento...”

Belgrieve cerrou os dentes. Julguei mal a situação... Sua reação lenta foi responsável pelo ferimento de Marguerite e pela morte de Donovan. Ao encarar Falka mais uma vez, o garoto ainda tinha o mesmo rosto inexpressivo de sempre, porém a luz em seus olhos estava muito mais fria e desprovida de vida — como uma espada.

“Uma espada, hein… Você é realmente Sir Falka?”

A espada de Graham rosnou. No momento seguinte, Falka saltou para cima. Belgrieve avançou para enfrentá-lo, lâmina por lâmina.

Falka, sempre em silêncio, tentou empurrá-lo para trás com força bruta. Ele tinha uma constituição muito menor que Belgrieve, todavia talvez devido à influência da espada amaldiçoada, seu poder físico era anormal. Belgrieve teve que apoiar a perna esquerda.

“Grr...”

Era perceptível que Falka havia ficado mais forte. Absorver aquela sombria e talvez também tendo tomado a mana de Donovan. Apenas cruzar as lâminas por um segundo com o garoto fez Belgrieve sentir a fadiga tomar conta de seu corpo.

Belgrieve empurrou com a perna esquerda e usou a estaca da perna direita como pivô para girar. Sua ação deixou Falka com mais impulso para frente do que conseguia lidar, e caiu no chão com Belgrieve perseguindo-o logo atrás. Belgrieve imediatamente atacou com todas as suas forças.

“O que?”

Contudo Falka conseguiu rolar de costas e interceptar o golpe com o braço direito nu. Belgrieve sabia que havia golpeado com toda a força, no entanto Falka o enfrentava com apenas um braço. Belgrieve cerrou os dentes enquanto suava frio e tentava reunir ainda mais poder.

De repente, sem qualquer aviso, Falka cedeu e rolou para o lado. A ponta da grande espada bateu no chão onde ele estava deitado, que explodiu com o poder sagrado da espada. Belgrieve ficou desequilibrado — a oportunidade perfeita para Falka golpeá-lo.

“Pai!”

Foi nesse momento que Angeline entrou na briga. Ela bloqueou o ataque e chutou Falka para longe. O homem-besta girou no ar antes de pousar com pés instáveis e oscilantes.

“Pai, você está bem?”

“Ange... Obrigado por me salvar.”

“Hehe... Eu ouvi de Maggie — o coelhinho enlouqueceu?”

“Sim. Tenha cuidado, Ange. Tenho um mau pressentimento sobre esse cara.”

Pai e filha estavam lado a lado, com as espadas em punho.


Falka balançou para frente e para trás enquanto olhava para eles antes de voar para eles como uma flecha sem qualquer aviso.

Belgrieve desviou a lâmina enquanto deslizava para o lado. Angeline se posicionou do lado oposto de Falka e correu para atacá-lo.

Falka estava tentando contra-atacar Belgrieve, e foi forçado a se virar freneticamente quando Angeline o atacou por trás. Aproveitando a oportunidade, Belgrieve deu um chute em suas costas fazendo-o desequilibrar.

“Yah!” Angeline o atacou com sua espada. Belgrieve e Angeline pensaram que o ataque iria acertar, mas com manobras muito além das limitações humanas, Falka de alguma forma conseguiu se esquivar por uma margem fina como papel e recuou para uma distância segura, onde caiu sobre um joelho.

Embora os dois não tivessem trocado uma única palavra o tempo todo, Angeline se moveu tal qual Belgrieve pensava que faria. Ele podia entender instantaneamente suas intenções. Não pensei que estaríamos lutando juntos assim... Belgrieve não conseguiu conter o sorriso, e Angeline também ficou encantada.

Falka voltou a ficar de pé. Seu braço esquerdo estava virado em uma direção horrível e seus tornozelos também pareciam torcidos. Para escapar do ataque conjunto, torceu seu corpo de maneiras que não deveriam ser possíveis. Belgrieve podia até ouvir o som de articulações deslocadas.

“O que fazemos, pai?” Angeline perguntou, erguendo a espada.

“Essa espada deve estar o controlando. Não seria capaz de se mover assim de outra forma.”

A maneira como Falka continuou a brandir sua espada sem expressão, apesar de estar tão espancado, era dolorosa de se olhar. A grande espada rosnou.

Angeline franziu a testa.

“Tem certeza?”

“O que foi?” Belgrieve perguntou.

“A grande espada acabou de falar comigo. Aquela massa imunda de mana... É provável que seja a espada que o garoto coelho está segurando. Ela quer que a gente a quebre.” explicou Angeline.

“Entendo... Tudo bem.” concordou Belgrieve. Certamente, se a espada amaldiçoada tivesse tomado conta da mente de Falka, então quebrar a espada parecia ser a solução óbvia. Belgrieve estava pronto, olhando para Falka. “Estamos mirando na espada dele, então, Ange.”

“Não vamos matá-lo?”

“De outra forma, não teríamos nenhum motivo para ter hostilidade com ele... Porém se sua vida estiver em jogo, então não hesite.”

“Hey, pai?”

“Hum?”

Angeline estava radiante de orelha a orelha enquanto olhava nos olhos de Belgrieve.

“Você está feliz em ver Satie outra vez?”

“O que está dizendo? Este não é o momento... Mas sim, estou feliz. Muito mesmo.”

“Hehehe... Quero ouvir todas essas histórias antigas, e logo.” com isso, Angeline partiu em direção a Falka. Belgrieve seguiu com um sorriso irônico.

Embora Falka estivesse cambaleando, interceptou o ataque de Angeline e, com movimentos desajeitados e desarticulados que não podiam mais ser chamados de esgrima, lançou um contra-ataque.

“Grr...” Angeline mal se esquivou do caminho. Enquanto Falka tentava persegui-la, Belgrieve o fez cambalear para trás e então atacou a base da espada do garoto. Contudo Falka pareceu perceber suas intenções e retraiu seu braço. Ele não estava disposto a deixar suas lâminas se chocarem de novo.

“Droga, está atrás de nós...” Belgrieve estalou a língua antes de continuar avançando. Assumindo uma postura defensiva, Falka não se intimidou com sua magistral combinação de golpes.

Sem aviso, a dor fantasma de Belgrieve começou a surgir do nada. Não foi muito brusco, no entanto o pegou de surpresa e o fez parar por um breve momento. Falka aproveitou a distração e partiu para a ofensiva sem perder tempo.

Enquanto Belgrieve mal conseguiu evitar os ataques de Falka, Angeline saltou sobre o pai e desceu do alto com a espada. Seu movimento forçou Falka a desistir de atacar e a se esquivar para o lado. Angeline tentou persegui-lo apenas para Belgrieve a parar.

“Não seja muito ansiosa, Ange! Há algo estranho...”

Recuando mais uma vez, Falka parecia tão instável quanto antes, entretanto parecia que a carne de seu braço direito — aquele que se tornara uma espada — havia começado a se contorcer. A lâmina em si continuou a emitir a mesma luz escura e nítida, todavia a fusão de carne e aço abaixo dela se retorcia como uma cobra ou um tentáculo.

Angeline não pôde evitar deixar sua repulsa transparecer em seu rosto.

“Repugnante...”

“A corrupção piorou...?” Belgrieve se perguntou.

Fosse o que fosse, eles precisavam resolver a disputa o quanto antes. Sua dor fantasma havia diminuído, mas não havia como saber quando iria explodir outra vez. Belgrieve apertou ainda mais a grande espada e, com Angeline ao seu lado, avançou sobre o oponente mais uma vez.

O braço de Falka começou a se esticar e balançou sobre eles como um chicote. Apenas desviar a lâmina deixou a mão de Belgrieve dormente devido ao poderoso impacto.

Belgrieve e Angeline trocaram um breve olhar e assentiram. Em seguida, os dois se separaram e se moveram para cercar Falka em ambos os lados para atacá-lo em conjunto. A lâmina de Belgrieve foi bloqueada pelo braço direito de Falka, enquanto o ataque de Angeline foi mal evitado.

Porém quando Belgrieve tentou desembainhar a espada, descobriu que não conseguia movê-la. Essa flexibilidade contorcida finalmente se estendeu à ponta da espada de Falka, e usou sua forma mutável para envolver a espada sagrada. Ambas as lâminas rosnaram e brilharam enquanto seus poderes competiam sem sucesso.

Por capricho, Belgrieve passou a segurar a grande espada com uma mão e levou a mão direita à cintura. A espada de Graham assumiu a liderança durante esta jornada, contudo, exatamente onde sabia que sempre estaria, estava sua própria espada, que tinha sido sua companheira constante por muitos e longos anos. Agarrando seu punho, balançou-a por baixo. Sua lâmina afiada cortou Falka no ombro direito, logo além da corrupção de sua carne. O garoto soltou um grito indescritível quando Angeline agarrou seu corpo e o puxou.

Belgrieve saltou para trás e deu um golpe poderoso na grande espada, fazendo com que a lâmina amaldiçoada que a havia emaranhado deslizasse para o chão, onde se contorceu e caiu como um peixe fora d’água.

A grande espada brilhou ofuscantemente e rugiu. Belgrieve poderia jurar que ouviu uma voz — DESTRUA-O!

Belgrieve reuniu toda a força e mana de seu corpo antes de atacar com uma espada em cada mão a massa metálica que se contorcia. Com um golpe poderoso o suficiente para fazer o chão tremer, a espada amaldiçoada foi pulverizada.

“Hah...” Belgrieve suspirou. Sua força o estava deixando rapidamente. Parecia que a energia fluía de todos os poros de seu corpo.

O que restou da espada amaldiçoada soltou um som borbulhante e fervilhante enquanto se derretia em um líquido preto e viscoso.

Assim que Belgrieve teve certeza de que não poderia mais se mover, guardou cada uma de suas espadas em suas respectivas bainhas. Angeline correu para o seu lado e passou os braços em volta do seu pescoço.

“Você conseguiu! Eu sabia que você era incrível, pai!”

“Eu não teria conseguido sem a sua ajuda, Ange... Obrigado.” Belgrieve riu baixinho enquanto acariciava sua cabeça. Seus olhos se voltaram para Falka, que estava caído a alguma distância.

“E ele...?” Angeline perguntou.

“Nenhuma ideia. Não sei se está inconsciente ou morto...” Belgrieve se aproximou de Falka e colocou a mão sobre a boca do garoto. Sua respiração estava fraca, no entanto sangrava copiosamente no braço decepado. Por enquanto, Belgrieve usou uma corda para amarrar o coto e estancar o sangramento. Tomando sua própria capa, cortou um pedaço para envolver o ferimento como um curativo.

“Vai salvá-lo?” Angeline perguntou, chocada.

“A espada já foi destruída. Não há necessidade de matá-lo... Ou você quer?”

“Não, na verdade não gosto de matar pessoas.”

“Está resolvido então.”

A espada de Graham havia parado de rugir — talvez não considerasse o próprio Falka perigoso em particular. Por precaução, Belgrieve amarrou as pernas do garoto para impedi-lo de se mover.

Quando terminou, Kasim correu até eles.

“Hey — vocês dois estão bem?”

“Ah, Sr. Kasim. É sua culpa termos esse enorme incêndio florestal em nossas mãos...”

“Hehehe... Desculpe, desculpe, mas foi Schwartz quem fez isso... O que aconteceu com o coelhinho?”

“Nós o incapacitamos. Ele era formidável... Porém graças a Ange, lidamos com o problema de uma forma ou de outra.”

“Como está Maggie?” Angeline perguntou.

“Ah, está bem. Com um pouco de pomada e alguns curativos, uma ferida como essa cicatrizará rapidamente. Meu Deus, aquela princesa não está mesmo acostumada a ver seu próprio sangue, hehehe... Ah, falando do diabo.”

Marguerite veio da mesma direção que Kasim. Ela foi seguida por Anessa e Miriam, depois Maitreya e, por fim, Satie e Benjamin.

Belgrieve permitiu que seus ombros relaxassem um pouco.

“Isso é bom... Parece que todo mundo está bem.”

“Bell! Onde está o coelho bastardo?”

“Nós lidamos com ele, de alguma forma. Seu ferimento está bem, Maggie?”

“Sim, não foi muito profundo. Satie me tratou.” disse Marguerite, colocando a mão no pano enrolado em sua barriga.

Belgrieve olhou para Satie, que carregava com cuidado dois corvos — ao que parecia, dormindo. Era óbvio que havia conseguido capturá-los. Ele conseguiu vê-la melhor agora. À luz da lua e das chamas, ela parecia a mesma garota enérgica de suas memórias.

Satie retribuiu o olhar com um sorriso encantado.

“Você ficou mais forte, Bell. Realmente me surpreendeu.”

“V-Você acha?”

“Ah, o Sr. Bell está envergonhado.”

“Com certeza está. Hehe! Que fofo.”

Anessa e Miriam riram enquanto Belgrieve coçava a cabeça sem jeito.

“Hey, eu também fiquei mais forte. Não vai apontar isso?” Kasim brincou enquanto torcia divertidamente a própria barba.

“Sempre que te elogiam, Kasim, isso sobe direto à sua cabeça.”

“Não quer tentar? Hehehe... Ah, como devo dizer? Você realmente não mudou...” Kasim riu enquanto esfregava a cabeça. Apesar de tudo, seus olhos estavam um pouco turvos.

“Se ao menos o Sr. Percy estivesse aqui também...” Angeline lamentou com um beicinho.

“Não é?” Marguerite concordou. “O que ele está fazendo?”

Embora houvesse um clima de paz entre eles, Belgrieve balançou a cabeça.

“Adoraria ficar por aqui e conversar, entretanto não é a hora. Precisamos dar mais um empurrão.”

“Certo, tem razão.” Kasim assentiu. “Conseguimos lidar com a maioria dos inimigos que vimos... Bem, exceto Schwartz.”

“O que fazemos, pai?”

“Não podemos só deixar o falso príncipe escapar. Agora que temos o verdadeiro, ele não pode fazer o que quiser. Não é verdade, Alteza?”

“S-Sim... Mas tem certeza? Se alguém como eu retornar neste momento... Ouvi dizer que o impostor é um líder incrível. Ainda que me torne o príncipe herdeiro de novo... Ninguém ficará feliz.” disse Benjamin, entre lágrimas.

Sorrindo, Belgrieve colocou a mão em seu ombro.

“Com essas palavras, estou convencido de que precisa retornar, Alteza. Se tiver compreensão de si mesmo, também deverá ser capaz de mudar a si mesmo. Apenas corrija seus erros. Contanto que consiga compreender sua própria imaturidade, poderá se esforçar. Não é tarde demais para começar sua jornada agora.”

Benjamin mordeu o lábio e, por fim, enxugou as lágrimas e assentiu.

“Sim... E fiz também uma promessa à sua filha de se tornar um príncipe esplêndido... Certo, Angeline?”

Angeline riu e deu um tapinha gentil em seu ombro.

“Muito bem. Hehehe... Agora, vamos acabar com o impostor!”

“Certo. Nada de bom resultará de dar-lhe tempo. De qualquer forma, já sabem, ainda que ele tenha uma boa aparência pública, nenhum cara decente faz isso enquanto se esconde nas sombras. Sério, vá consertar as coisas, ok?” Kasim deu um tapinha nas costas do príncipe.

Ruídos de estalos encheram o ar enquanto as chamas crepitantes consumiam a floresta de salsa. As chamas bruxuleantes lançavam sombras inconstantes sobre seus pés e o ar quente flutuava em sua direção. Por enquanto, Belgrieve achou melhor ficar bem longe da floresta em chamas. Ele ergueu Falka por cima do ombro e estava prestes a começar a andar quando foi parado por uma presença estranha. A grande espada soltou um uivo enfurecido como se quisesse afirmar sua intuição.

Várias figuras emergiram das chamas. Angeline desembainhou a espada, encarando-os com a testa franzida.

“Aquilo é...”

“Necromancia.” Maitreya explicou enquanto se escondia atrás de Belgrieve. “O forte do príncipe impostor.”

Os seres cambaleando em direção a eles de fato pareciam mortos-vivos.

“Tenho a sensação de que poderia haver mais amaldiçoados também. Precisamos ficar atentos.”

“Amaldiçoados...? Ah, como aquela coisa sombria.”

Os amaldiçoados não eram monstros — eram criaturas cridas a partir de maldições e enviados para matar. Era plausível que aquele que apareceu na pousada da capital também tivesse nascido da magia de Benjamin. Talvez os amaldiçoados tenham sido feitos para explorar as fraquezas dos seus inimigos, tal como a última tinha causado a dor fantasma de Belgrieve. Ele não queria lidar com eles se pudesse evitar.

“Senhor Bell!” Anessa gritou.

Belgrieve olhou para trás e viu que havia mortos-vivos emergindo do mar em suas costas também. Estavam cercados.

“Meu Deus, veja como fizeram uma bagunça.” disse uma voz.

Depois de examinar a área, Belgrieve encontrou o falso Benjamin com François ao seu lado, parado a uma curta distância. O impostor estava flanqueado por soldados mortos-vivos em armaduras pesadas e era servido por uma empregada sem cabeça.

Os olhos de Angeline se arregalaram.

“Aquela empregada...”

“Você é uma ameaça, Angeline.” respondeu o falso príncipe com um encolher de ombros teatral.

“Ela tinha um rosto tão fofo e agora se foi.”

“Quem é a verdadeira ameaça aqui?”

“Hehehe... Não sou eu quem está decapitando minhas criadas.”

O impostor ergueu a mão e gesticulou com os dedos. Atrás dele, uma figura escura se manifestou, duas vezes mais alta que ele. A inexistente perna direita de Belgrieve latejava com uma leve dor, porém então a espada em suas costas começou a uivar descontroladamente e a dor diminuiu. Belgrieve baixou Falka no chão e desembainhou a grande espada. Seu rugido e brilho fizeram com que todos os mortos-vivos invasores vacilassem antes de parar.

“A espada sagrada do Paladino.” disse o falso Benjamin com uma carranca. “Isso é preocupante.”

“O que está planejando...? O que espera conseguir ao assumir o controle do império?” Belgrieve perguntou.

Seu questionamento foi respondido com risadas zombeteiras.

“Ora, vou trazer felicidade para as pessoas, é claro. Não sabe o que eu fiz? Pergunte a qualquer um e lhe dirão como as coisas se tornaram boas sob meu governo, em comparação com como eram antes.”

“No entanto ouvi dizer que a divisão de classes piorou.” interrompeu Anessa com raiva.

“Você não está apenas fingindo bondade com suas ações?”

O falso Benjamin sorriu.

“Claro, encontrará detratores. Estes veem uma pequena coisa e a exageram toda. Contudo essas pessoas, veja bem — são do tipo que não farão nada além de reclamar, independente da situação real. Faça tudo ao seu alcance e farão barulho sobre como isso não é suficiente. Não faça nada e se gabarão de sua total incompetência. É uma perda de tempo levá-los em consideração.”

“Mas o povo do império não está vendo nenhuma mudança. Aqueles que escolhem apenas alguns selecionados para salvar serão brandos com aqueles que os apoiam e cruéis com aqueles que os criticam.” argumentou Belgrieve. “Vão agradar seus apoiadores mais próximos, apenas aumentando a divisão. Não o considero um governante sábio. Você descarta os fracos e usa monstros e demônios. O que há no final de tudo isso?”

“Paz. Paz é o que encontraremos. É necessário um forte poder para silenciar aqueles que desejam o contrário. Sejam demônios ou monstros, são apenas armas para mim — não são diferentes da sua espada. É tudo uma questão de como os usa, correto?”

“Essas palavras são apenas para aqueles que endureceram seus corações. Uma mão fraca não consegue escapar das suas inseguranças, não importa quanto poder detenha. No final das contas, só continuará buscando um poder cada vez maior até se destruir. Não é a coragem de estender a mão o que realmente precisamos para a paz?”

“Um idealismo infantil. Essas noções ingênuas não são realistas.”

“Porém a ‘realidade’ não é algo que pode apenas impor aos outros contra a suas vontades. É algo construído por pessoas com ideais. A ‘realidade’ falada por aqueles que jogaram fora seus ideais é uma ilusão, no que me diz respeito.” disse Belgrieve antes de morder o lábio.

Houve um tempo em que havia jogado fora seus sonhos, um tempo em que continuou a dar desculpas, dizendo de maneira cínica a si mesmo que sua situação era simplesmente realidade e que tinha que aceitá-la. Contudo agora realizou o sonho de encontrar seus antigos camaradas. Essa temida realidade — a realidade de morrer sozinho de velhice em Turnera — tinha sido a verdadeira ilusão.

Seus olhos se voltaram para sua filha que estava ao lado. Foi ela quem o brindou com esta oportunidade. Angeline nunca desistiria. Ela sempre perseguiu obstinadamente seus próprios sonhos e ideais. Neste momento, ele agora sabia que ao criar Angeline, também havia crescido.

O falso Benjamin encolheu os ombros.

“Haha... Parece que não vamos chegar a um entendimento... E agora? Não acredito que seus ideais sejam suficientes para se opor a mim. Que tal desistir?”

“Bem, deixando de lado o estado do império e outras coisas, estou muito zangado com você por sequestrar minha menina. Eu gostaria pelo menos de ter a satisfação de dar um soco na sua cara, então o que me diz?”

O homem caiu na gargalhada.

“Meu Deus, a maçã não cai longe da árvore! Bom... Que assim seja. Vocês não serão capazes de me matar, de qualquer forma.”

E com um breve canto do impostor, os mortos-vivos estavam em movimento mais uma vez. Uma aparição vestida de preto apareceu ao lado deles, rastejando pelo chão em direção ao grupo. Batendo os pés com raiva, Marguerite correu e cortou vários dos mortos-vivos mais próximos em um piscar de olhos antes de retornar.

“Bell não é o único aqui, seu idiota sorridente! Eu vou te destruir!”

“Você está ferida, Maggie... Não se esforce demais!” Anessa disse antes de disparar uma flecha, que explodiu e se desintegrou no momento em que perfurou seu alvo.

Da mesma forma, Miriam convocou um raio que caiu sobre o campo de batalha. O chão logo ficou cheio de cadáveres chamuscados. Isso resolveu os mais próximos, todavia mais e mais mortos-vivos apareceram, escalando seus camaradas caídos.

“Esses são alguns números desagradáveis...” Anessa estalou a língua. “Talvez eu não tenha flechas suficientes para tantos.”

“Não desperdice seus disparos! Apenas deixe os fracotes comigo!” Miriam lançou feitiços um após o outro, imolando hordas de mortos-vivos. Entretanto o inimigo era tão numeroso que eles estavam se substituindo mais rápido do que ela poderia destruí-los. Isto ocorreu num nível completamente diferente da batalha que travaram em Bordeaux.

“Merry, saia do caminho!” Kasim gritou.

“Hã? Oh — whoa!” Miriam se apressou para esquivar de uma adaga que roçou suas vestes. A empregada sem cabeça apareceu, serpenteando entre as fileiras dos mortos-vivos. Além dela, mortos-vivos blindados se juntaram à legião, manobrando tão habilmente quanto qualquer guerreiro vivo.

“Eles têm alguns rápidos!”

“Marguerite!” Satie desviou a espada de um morto-vivo, que apontava para as costas de Marguerite. Seu braço balançou como se estivesse empunhando uma lâmina — primeiro, um golpe no ombro e no peito; então, um corte imediato no pescoço.

“E-Erro meu.”

“Não se preocupe! Ange — a empregada é toda sua!”

Angeline enfrentou a empregada sem cabeça, dando aos lutadores da retaguarda de seu grupo o máximo de tempo possível para recuar. Satie se movia com tanta habilidade que era difícil acreditar que estava ferida, despachando um inimigo morto-vivo após o outro com suas lâminas invisíveis. Até mesmo os amaldiçoados foram repelidos com um golpe sem grande dificuldade. Anessa e Miriam observaram suas façanhas com admiração.

“In-Incrível...”

“A Sra. Satie é forte mesmo...”

Depois de limpar o ambiente imediato, Satie voltou-se com uma expressão um pouco cansada.

“Kasim, está pronto?”

“Hehehe... Usei um pouco de mana demais contra Schwartz, mas ainda tenho um pouco de energia sobrando.” declarou Kasim antes de lançar um raio de magia.

Porém a situação só estava ficando mais terrível. Ainda havia muitos mortos-vivos para derrubar, e seu fedor nauseante de decomposição estava começando a se tornar insuportável. Abrir caminho até o falso Benjamin e derrubá-lo parecia ser a melhor opção.

À medida que Belgrieve segurava a grande espada no alto, seu brilho ficou mais forte e seu rugido mais assustador. Ele reuniu suas forças e desceu, enviando uma rajada de mana da lâmina e apagando os mortos-vivos em linha reta à frente da lâmina.

Os olhos de Benjamin se arregalaram.

“Ele é um oponente terrível para mim. Meu Deus, o que Hector está fazendo...? François.”

François, que estava ao seu lado com uma expressão duvidosa no rosto, fez uma saudação brusca.

“Sim senhor.”

“Poderia ir até lá para mim?”

“Mas, senhor...” François olhou para o falso Benjamin com ceticismo. “Vossa Alteza... Perdoe-me, contudo você é o verdadeiro príncipe?”

“Vai confiar nas palavras de um traidor em vez de em mim?”

François não respondeu e, vendo seus olhos vagarem hesitantes, o falso Benjamin suspirou.

“É um pouco tarde para começar a questionar sua lealdade, não acha? Para onde mais poderá voltar, senão para mim?”

Com isso, ele pressionou um dedo no peito de François. De repente, o corpo de François pareceu encher-se de um poder peculiar. Sua visão ficou mais clara e estranhas emoções ferozes pareciam surgir da boca do estômago. François se viu com falta de ar e os olhos arregalados. François olhou para o impostor.

“O que está...?”

“Você morreu há muito tempo. Agora, vá lá e lute.”

Ele não poderia desafiar as palavras deste homem. François correu com a espada na mão e atacou Belgrieve, que o olhou surpreso.

“Senhor François! Não tenho motivos para enfrentá-lo!”

“Grr... Agh...”

A grande espada de Belgrieve rosnou com raiva, o que pareceu causar dor a François.

“Eu... Eu sou...”

“Guarde sua lâmina! Se eu te ferir, Liselotte ficará triste!”

“Grrrrrr... Gaaaaaah!” com os olhos vermelhos, François chutou Belgrieve para longe. Belgrieve recuou para retomar sua posição de combate.

Com a miséria gravada em seu rosto, François soltou uma gargalhada.

“Então! No final, sou tão patético como sempre fui! Que bobagem! Absurdo! Sabia que estava apenas sendo usado, no entanto isso... Que idiota!”

Desde que Angeline o impediu de encenar um golpe na propriedade do arquiduque, François sentiu que alguma parte sua havia saído do lugar — como se suas engrenagens tivessem parado de funcionar. Entretanto até agora, nunca o tinha visto como uma coisa ruim. Na verdade, em algum lugar de seu coração, agora percebia que o fato de ela tê-lo impedido poderia tê-lo colocado em um caminho melhor na vida.

Mesmo assim, sua teimosia e fixações fizeram com que mantivesse seu ódio por Angeline, até que pensou que essa era a sua razão de ser. Caso contrário, seria como se estivesse negando quem foi durante toda a vida. Talvez eu estivesse com medo de me tornar uma pessoa completamente nova depois de tudo que fiz.

Porém, no fim das contas, ele havia morrido há muito tempo. Certo, naquela noite — minhas memórias desde que fui jogado no rio... Elas são vagas... O que aconteceu com todos os meus subordinados que deveriam estar comigo? Em primeiro lugar, por que Sua Alteza me nomeou para liderar sua guarda?

Depois que pensou a respeito, seu caminho recente na vida estava repleto de acontecimentos suspeitos. Ele até viu o príncipe trabalhando em sua necromancia bem diante de seus olhos — talvez tenha sido a magia do príncipe que o impediu de suspeitar de alguma coisa. De repente, foi como se todas as peças do quebra-cabeça estivessem se encaixando.

Seu corpo não era mais seu. Sua própria vontade agora era irrelevante, pois sua lâmina era brandida como se fosse por um completo estranho. Esse golpe estava fadado a ser bloqueado sem esforço pela lâmina sagrada de Belgrieve.

“Grr... Haaah!”

Vendo uma abertura, Belgrieve respondeu com todas as suas forças, fazendo François cambalear para trás. Seus ombros balançavam a cada respiração difícil enquanto olhava para François.

“François... Por favor.”

“Haha... Hahaha... Eu não passava de um palhaço...” mais uma vez, seu corpo agiu contra sua vontade e atacou. François tentou desesperadamente se conter e — ao fazê-lo, conseguiu tornar seus movimentos um pouco desarticulados.

“Por favor... Apenas... Me mate... Quero fazer algo certo no final... Pelo menos...”

“Grr...” Belgrieve puxou a espada e recuou, desistindo de matar o falso Benjamin por um momento. O cansaço de lutar contra Falka ainda pesava sobre seu corpo. Contudo o número de mortos-vivos havia diminuído — evidentemente, eles não vinham em quantidade ilimitada. Quando olhou para trás, viu também o cansaço nos rostos de seus camaradas, no entanto parecia que haviam resistido à tempestade.

Depois de derrubar a empregada sem cabeça mais uma vez, Angeline soltou um suspiro profundo.

“Pai... Você está bem?”

“Sim — só falta um pouco mais.” Belgrieve olhou para o falso Benjamin. Queria salvar François se pudesse, mas enquanto pensava, sentiu uma presença estranha aparecer ao redor deles. Ao olhar para seus arredores, pôde ver massas de escuridão emergirem dos mortos-vivos ao redor, que voaram em direção a Benjamin e se reuniram em uma aglomeração de poder. Acumulou-se numa forma cada vez maior, até que, por fim, o que quer que fosse, assumiu a forma humana.

Maitreya gritou.

“O que é esse amaldiçoado? É muito grande! Isto é mau...”

“Tenho que perguntar, Kasim... Pode fazer alguma grande magia?”

“Com minha mana atual... Vai demorar um pouco.”

“Faça... Não desista até o fim.” Belgrieve apertou ainda mais a grande espada, que agora emitia uma luz poderosa.

“Acabou!” o falso Benjamin vangloriou-se, rindo. “Bem, admito que se saíram bem até agora.”

O enorme amaldiçoado se esticou, seus braços erguidos cobrindo o céu acima por completo. Aí vem... Todos pensaram, se preparando.

De repente, os movimentos da criatura pararam. Sua forma pareceu tremer e, no instante seguinte, dividiu-se em dois bem no centro. Com um som estrondoso, dissipou-se em névoa negra e se dispersou. Todos — Belgrieve, seu grupo e até o próprio príncipe impostor — ficaram pasmos.

“Hã? Uh... O que aconteceu?”

De onde estivera o amaldiçoado desaparecido, uma figura podia ser vislumbrada na escuridão que se desvanecia, e eles podiam ouvir os sons característicos de alguém tossindo e ofegando.

“Senhor Percy!” Angeline gritou alegremente.

“Estou aqui.” respondeu Percival, acenando para ela enquanto guardava o sachê. Touya e Maureen estavam atrás dele.

“Sério...” Satie disse com um sorriso cansado. “Outro velho em cena. Você parece bem, Percy!”

“Hmm? oh... Satie! Vocês tiveram sua pequena reunião sem mim, caramba!”

“Está atrasado, idiota!” Kasim gritou com uma risada.

Percival sorriu.

“Bem, desculpe. Mas me dê uma folga, eu estava cuidando do Carrasco.”

“O que...? Hector? Isso é um absurdo... Porém... Só assim poderia ter chegado até aqui...” o falso Benjamin olhou para Percival consternado.

Percival franziu a testa e apontou para o impostor com a espada.

“Hmm, presumo que seja o líder aqui. Hey, Hin... Touya.” disse ele, corrigindo-se. “Não há necessidade de se conter contra ele, certo?”

“Certo.”

“Muito bem, então vamos encerrar isso e ir tomar uma bebida.”

O rosto do impostor endureceu.

“Não seja convencido... Mais alguns guerreiros não podem fazer diferença neste momento!” com um canto apressado, a lua crescente no céu começou a girar rapidamente enquanto descia, e então voou direto para Percival como uma lâmina plana e afiada. Contudo sem sequer tentar evitá-lo, Percival deu um passo à frente e despedaçou a lua ao cruzar seu caminho.

“Hã...?” o impostor ofegou.

“Hey, o que há de errado? Isso é tudo que tem?”

“Isto está ficando ridículo! Schwartz! Hey! Onde você está? Tire-me daqui!”

No entanto o impostor não recebeu resposta. Percival, parecendo totalmente sereno, avançou em sua direção um passo de cada vez, afastando sem esforço qualquer morto-vivo que tentasse bloquear seu caminho.

“Só pode estar brincando... Não vou deixar acabar aqui...” o falso Benjamin sorriu enquanto colocava a mão no peito.

Percival, percebendo seu movimento, saiu correndo.

“Não vai escapar!” gritou.

“Eu deveria ter feito isso desde o início. Até a próxima! Que vocês fiquem presos aqui por toda a eternidade!”

Sua forma começou a oscilar como uma miragem, desaparecendo — entretanto antes de desaparecer, uma espada perfurou seu peito.

“Gah?”

A espada não pertencia a Belgrieve, nem a Angeline, nem mesmo a Percival — era de François. Estupefato, o falso Benjamin virou a cabeça enquanto o sangue escorria de sua boca.

“Você...”

Com seus olhos vermelhos, ergueu o braço, mas François cerrou os dentes e torceu a lâmina. Sem chance de balançar o braço e invocar seu feitiço, o impostor soltou um último suspiro de dor e caiu para frente. No mesmo momento, François caiu ao lado, completamente impotente.

Percival aproximou-se devagar, com uma suspeita palpável.

“Hey, o que aconteceu aqui?”

“François!” Belgrieve correu e levantou seu corpo.

Uma leve risada saiu dos lábios pálidos de François.

“Haha... Bem feito para ele. Estava tão desesperado que se esqueceu de me controlar por um segundo.”

“Fique firme! Você não tem nenhum ferimento!”

“Não é nenhuma lesão. Sou um morto-vivo... Haha! E ninguém percebeu. Esse cara deve ter sido um necromante incrível.”

“Não. Você não é um morto-vivo.” disse Satie enquanto caminhava com pressa para o lado de François. Ela se abaixou e gentilmente colocou a mão na cabeça dele.

“Vá dormir. Quando você acordar, tenho certeza de que esse terrível pesadelo acabará.”

A boca de François trabalhou silenciosamente nas palavras que não tinha forças para dizer, no entanto seus olhos se fecharam aos poucos até que a consciência o abandonasse. Belgrieve o deitou com cuidado.

“Está acabado?” Belgrieve perguntou.

“Sim.” disse Satie antes de passar os braços em volta da cabeça de Belgrieve. Ele podia sentir o peso dela encostado enquanto a força drenava de seu corpo. “Ahaha... Parece que exagerei...” Ela começou a fungar. “Obrigado por ter vindo me salvar. Não sabe o quanto estou feliz por vê-lo ainda vivo, Bell.”

“Sim...” Belgrieve respondeu com um sorriso suave, então estendeu a mão para colocá-la sobre a cabeça de Satie.

“Estou feliz por vê-la de novo, Satie. Deve ter sido doloroso. Obrigado.”

Satie cerrou os olhos lacrimejantes. Angeline, tomada pela emoção, abraçou os dois. Anessa, Miriam e Marguerite observaram com olhos chorosos, enquanto Touya e Maureen observavam a calorosa cena, e o verdadeiro Benjamin fixou o olhar no chão, bastante comovido. Kasim cobriu o rosto com o chapéu — evidentemente chorando — enquanto Percival, de olhos turvos, exibia um amplo sorriso.

“Agora estamos todos juntos! Vamos sair deste lugar desagradável já! Baixinha, use sua magia de teletransporte.”

“Sim, sim. Que mandão... Você receberá uma conta pesada por isso mais tarde.” Maitreya fez beicinho enquanto entoava, e então todos começaram a afundar em suas próprias sombras. Depois de um breve momento, foram envolvidos de repente pelo ar gelado do lado de fora.

Miriam estremeceu.

“Nossa, está frio...”

“Sim, mas pelo menos o céu está limpo.”

“Hehe... Nós vencemos! Vamos brindar a isso!” Angeline felizmente deslizou entre Belgrieve e Satie, agarrando os dois pelo braço. Enfim a chuva parou depois de cair por tanto tempo, e as estrelas agora brilhavam no céu noturno claro.

Nenhum comentário:

Postar um comentário