quinta-feira, 2 de novembro de 2023

Boukensha ni Naritai to Miyako ni Deteitta Musume ga S Rank ni Natteta — Volume 09 — Capítulo 121

Capítulo 121: Era quase meia-noite

Era quase meia-noite e o profundo véu de escuridão pairava pesadamente no alto. Embora a chuva incessante tivesse perdido um pouco de sua força, todo o granizo misturado com as gotas de chuva criou um estrondo terrível ao atingir o solo.

Esta sala, no entanto, era muito iluminada graças ao lustre de pedra brilhante; a diferença na iluminação fazia com que as janelas refletissem apenas o que estava dentro, deixando o mundo lá fora um mistério sombrio.

François inclinou a cabeça.

“Peço desculpas por me intrometer tão tarde da noite, Seu Alteza.”

“Oh, não se preocupe com isso.” Benjamin sorriu ao olhar para os dois Templários que François trouxera consigo. “O que traz vocês dois aqui?”

“Há um assunto sério que desejo discutir.” Donovan explicou com reserva o caos que Falka causou. Benjamin não pareceu nem um pouco surpreso e só acenou com a cabeça até o final da história.

“Entendo — deve ter sido terrível... Talvez aquela espada amaldiçoada esteja invadindo o jovem Falka aqui.”

“Perdão?”

“A espada cresce. Ele contém uma espécie de vontade. E parece que tem tanta sede do sangue e de mana dos outros que não sabe o que fazer consigo mesmo. Com o tempo, essa espada poderá exercer sua vontade sobre a mente de Falka. Afinal, parece que você tornou essa espada consideravelmente mais forte.”

Donovan olhou para Falka em dúvida. O garoto, impassível como sempre, parecia tentar esconder sua presença.

“É porque não estamos cortando nada além de monstros vis?”

“Talvez. Afinal, ela absorve a mana daqueles que corta. Se permitir que absorva um tipo diferente de mana, poderá reprimir esses impulsos.”

Mais uma razão para eu obter aquela espada sagrada, pensou Donovan, esfregando o queixo. Se conseguisse atravessá-lo com a lâmina amaldiçoada, sua mana seria absorvida. Não apenas a espada amaldiçoada se tornaria mais forte, mas seu desejo de derrubar outras pessoas também seria contido. A única outra opção seria derrubar um clérigo poderoso ou, talvez, um elfo.

Benjamin parecia bastante entretido.

“Parece que tem algo em mente, querido Donovan.”

“Haha! Vejo que viu através de mim, Sua Alteza.”

Depois de ouvir sobre a grande espada do espadachim ruivo, Benjamin fez uma cara de surpresa — que logo depois se transformou em um sorriso.

“Isso é bastante conveniente.”

“Hehehe... François já me contou como aquele homem tem sido um empecilho para Sua Alteza. Se me permitir, gostaria de oferecer um pouco de ajuda.”

“Interessante... Sim, eu agradeço. Já capturamos um de seus membros mais fortes, porém ainda não podemos ser descuidados com eles.”

Benjamin estava prestes a entrar em detalhes quando uma nova presença se manifestou de repente na sala.

“Falka!” Donovan gritou.

Sem dizer uma palavra, Falka imediatamente desembainhou a espada em resposta, apenas para congelar ao ouvir o grito. Donovan lançou um olhar severo para o homem besta.

“Já esqueceu seu recente fracasso, seu simplório?”

Sem dizer uma palavra, Falka abaixou a cabeça desanimado, seus olhos olhando para quem quer que tivesse aparecido — um homem com uma túnica branca.

“Hey, Schwartz.” Benjamin deu uma risada provocadora. “Onde esteve?”

Por baixo do capuz puxado sobre o rosto, Schwartz olhou friamente.

“Por que há Templários aqui?”

“Haha! Acontece que encontramos um pouco de terreno comum. ‘O inimigo do meu inimigo é meu amigo’, como dizem. Não é verdade, Donovan?”

“De fato... De fato...” Donovan admitiu cautelosamente. Eles tinham um objetivo comum, por enquanto. Poderia adiar o acordo sobre Schwartz por enquanto. Sendo franco, não tinha certeza de suas chances; é provável que Schwartz fosse demais para lidar quando Falka não conseguia nem controlar sua espada. Donovan era um templário genuíno e não pretendia subestimar alguém que havia escapado sozinho de tantos ataques da Inquisição.

Depois de encarar os Templários por um longo momento, Schwartz zombou e voltou-se para Benjamin.

“Que assim seja. Não tem nada a ver comigo.”

Com isso, ele puxou dois corvos flácidos das dobras de seu manto e os jogou sem cuidado sobre a mesa. Embora os corvos estivessem imóveis, parecia que não estavam mortos.

“Oh!” Benjamin exclamou, levantando-se. “Eu sabia que você conseguiria. Então conseguiu atravessar a barreira daquele elfa, presumo.”

“Demorou algum tempo e esforço, contudo sua falta de mana deve ter enfraquecido seu contrato com o antigo deus.”

“E a elfa? Matou ela?”

“Ela ainda tem algum valor. Eu a joguei na prisão da ilha.”

“Hahaha! Entendo. A prisão do espaço-tempo está realmente agitada hoje.”

“O que?” Schwartz estreitou os olhos. “Explique-se.”

“Bem, também aconteceu de eu jogar a Valquíria de Cabelos Negros lá. A garota é o membro mais forte além do Lâmina Exaltada, certo? No entanto ainda é apenas uma garotinha por dentro — era bastante simples.”

“Seu completo palhaço!”

Era raro Schwartz levantava a voz e, agora que o fazia, até Benjamin ficou alarmado. Ele piscou os olhos arregalados algumas vezes, incrédulo.

“Por que está tão irritado? Está tudo bem; a coloquei em confinamento solitário. Não pode interagir com os outros.”

“Está subestimando as habilidades daquela garota. Por que não esperou até eu voltar?”

“Bom, achei que seria uma má ideia deixá-los reunir suas forças.”

Schwartz cruzou os braços frustrado e balançou a cabeça.

“Estava tomando o máximo cuidado... Para não ser engolido pelo fluxo que a rodeia... E você teve que estragar tudo. Seu idiota inútil!”

Benjamin se ofendeu com sua resposta e bateu com força na mesa.

“Agora olhe aqui. A culpa também é em parte sua — sempre segue seu próprio conselho e nunca explica nem uma palavra de seu raciocínio para o resto de nós. Então, o que aquela garotinha fofa pode fazer? Está me dizendo que há uma chance de conseguir escapar da solitária e chegar à ilha?”

Schwartz suspirou em evidente decepção e lançou a Benjamin um olhar de desdém.

“Então você foi engolido pelo fluxo.”

“O que é isso? Hey, Schwartz. Se vai ser assim, tenho uma pequena ideia minha...”

“Basta. Pelo menos vá limpar sua própria bagunça. Vá embora.”

Schwartz balançou o braço e então todo o cenário da sala pareceu dobrar-se e torcer-se como uma miragem. No instante seguinte, nem uma única pessoa permaneceu na sala.


“Não consegui tratar adequadamente as feridas. Esta é apenas uma medida de emergência...”

“Obrigado de qualquer forma. Você é muito habilidoso, sabe?” Satie sorriu enquanto vestia as vestes de volta. Angeline usou os suprimentos rudimentares de primeiros socorros que tinha pendurados em uma bolsa no quadril para tratar as feridas que ainda estavam abertas e sangrando. Além dos golpes de espada que sofreu na batalha do dia anterior, Satie teve hemorragia interna por espancamento. Foi tudo doloroso de se ver.

“Você me tratou ontem. E aqui estamos nós de novo.”

“Está se esforçando demais...”

“Certo, é reconhecidamente bastante patético da minha parte.” Satie deu um sorriso amargo enquanto coçava a cabeça.

Angeline fez beicinho e, sem aviso, agarrou as bochechas de Satie.

“Hum...”

As bochechas de Satie eram suaves, moles e macias — tanto que Angeline relutou em soltá-la. Mas Satie estava coberta de feridas desde o primeiro momento em que se conheceram. Ela deveria ser muito mais bonita, pensou Angeline, estufando as próprias bochechas.

“Você é naturalmente linda. É um desperdício vê-la tão ferida.”

“Bem, olhe quem está falando. Olhe bem aqui — está vai deixar uma marca.” Satie estendeu a mão e beliscou as bochechas de Angeline. Elas eram, é claro, tão macias quanto.

“Hmm... Já posso me virar?” Benjamin gritou por trás enquanto as duas continuavam beliscando.

“Ah, desculpe. Vá em frente.” eu esqueci completamente dele, Angeline percebeu, coçando a cabeça. Foi preciso despir Satie para tratar seus ferimentos, então ordenou que Benjamin desviasse o olhar. Parecia que Benjamin havia seguido obediente à ordem. Corria o boato de que o príncipe pervertido já teve beldades esperando-o dia após dia. Este é um passo na direção certa... Angeline assentiu.

Satie deu uma risadinha.

“Desculpe por isso, Sua Alteza. Mesmo assim, estou surpresa em encontrá-lo vivo. Estou feliz que esteja bem.”

“S-Sim. Fico feliz em saber. Nunca pensei que encontraria uma elfa aqui. Satie, certo? Você parece conhecer Angeline...”

“Ela é filha de um grande amigo meu. Mas só a conheci ontem.” disse Satie rindo.

Isso mesmo. Pensando bem, já ouvi todo tipo de histórias, porém na verdade foi ontem que nos conhecemos. Satie deve se sentir muito nostálgica porque é uma das velhas amigas do pai.

Benjamin torceu a barba selvagem com um sorriso irônico.

“Meu Deus, adoraria poder tê-la encontrado em um lugar melhor do que este.”

“Exatamente meus pensamentos. Então, para começar, vamos pensar em como vamos sair daqui.” o rosto de Satie ficou sério enquanto examinava a área.

“Sra. Satie, não pode usar magia de teletransporte...?”

“Parece que não funciona aqui. Experimentei na cela, contudo senti uma repulsa. Bem, foi Schwartz quem me jogou aqui, então é o mínimo que ele faria.” Satie disse com um suspiro. “Angeline, tem alguma pista que possa ajudar?”

“Hmm, bem...”

“Sim?”

“Pode me chamar de Ange.”

“Hmm?”

“Me chamar de Angeline te faz parecer uma espécie estranha.”

Satie ficou atordoada por um momento antes de cair na gargalhada e bagunçar o cabelo de Angeline.

“Ahahaha! Você realmente marcha ao ritmo do seu próprio tambor, hein? Tudo bem — Ange. Então, notou alguma coisa?”

“Passei por três áreas distintas antes de chegar aqui. Cada uma delas tinha uma irregularidade que descobri. Neste espaço, aquela lua é suspeita.” disse Angeline, apontando para a crescente sorridente.

Satie assentiu.

“De fato, um espaço de confinamento precisa de alguma chave se quiser administrá-lo. Precisa resolver um quebra-cabeça ou derrotar um guardião... Teremos que descobrir isso.”

“Eu resolvi o quebra-cabeça... Mas um guardião?”

“Sim. Em outras palavras, um diretor de prisão. O lugar se abrirá se o vencer.”

Entendo... Talvez fosse a esfera vermelha na primeira sala, pensou Angeline.

“É bom quando é fácil de entender, no entanto na maioria das vezes não é tão simples. Eles podem estar no mesmo nível de monstros Rank S.”

“Parece fácil. Deixe para mim.”

Ao ver Angeline levantar o polegar, Satie riu novamente.

“Oh, que divertida você é, Ange! Bell deve ter criado muito bem.”

“Sim! Ele é o melhor pai do mundo!” Angeline disse, estufando o peito.

Sorrindo, Satie soltou um suspiro profundo.

“Tudo bem, vamos indo então. Sua Alteza, consegue andar?”

“Caminhar, sim. Contudo lutar está um pouco além de mim.”

“Nunca esperei que fosse útil, então não se preocupe.”

“Bem... É verdade. Porém isso dói um pouco, Angeline.” protestou Benjamin, coçando a cabeça sem jeito.

Assim, os três seguiram seu caminho. De costas para a parede, partiram em direção à floresta. Quanto mais se aproximavam, mais forte ficava o cheiro revigorante de salsa no ar.

Suas sombras se estendiam sob o luar. De vez em quando, Angeline levantava o rosto para olhar a lua, no entanto a lua subia cada vez mais. Mesmo que se aproximasse, duvidava que estivesse em algum lugar ao seu alcance.

“É bem alto.” murmurou Benjamin. “Vai conseguir quebrar aquilo?”

“Não sei... Temos que considerar a possibilidade.”

Se acabassem lutando naquela lua, seria um pouco mais do que um espadachim como Angeline poderia lidar. Quando ela lutou contra o Bahamut no Umbigo da Terra, conseguiu usar seus subordinados peixes voadores como pontos de apoio para subir ao céu, entretanto não parecia haver nada parecido por aí. Talvez se invocasse estrelas cadentes para lutar contra nós... Angeline pensou, cerrando os dentes.

“Satie, você é um especialista em magia?” Angeline perguntou, aventurando-se a adivinhar. De acordo com as antigas histórias de Belgrieve, Satie já foi uma espadachim no mesmo nível de Percival.

“Bem, acho que sim.” respondeu Satie, com os olhos vagando. “Uso magia com mais frequência hoje em dia, mas no geral uso uma espada.”

“Onde está sua espada? Está ocultando-a?” perguntou Benjamim.

Satie riu e encolheu os ombros.

“Essa é uma maneira de colocar as coisas. Pra resumir, eu uso magia para criar uma espada invisível — é o que tenho usado ultimamente. Já faz um bom tempo que não carrego uma de verdade comigo... Porém parece que você precisa de uma espada de verdade neste espaço. Já estou me arrependendo das minhas escolhas.”

“É por isso que não conseguiu sair da prisão...?”

“Sim. Pode parecer uma desculpa, no entanto usei bastante mana em outro lugar, então parece que acabou por diminuir a qualidade da minha lâmina de mana. Além do fato de que esses lugares já possuem uma alta resistência a todas as coisas mágicas... Estou feliz que tenha vindo aqui, Ange.”

A cabeça de Angeline recebeu um tapinha outra vez e suas bochechas ficaram um pouco vermelhas. Ela se sentiu um pouco feliz quando Satie a mimava. De qualquer forma, Satie conseguia reunir projéteis mágicos básicos, todavia ataques de longo alcance não eram sua especialidade. Não havia garantia de que a lua fosse a chave, entretanto ainda assim era bastante suspeito.

Quando criança, Angeline certa vez pediu a Belgrieve que conseguisse a lua para ela. Pensando bem, o que o pai fez naquela época?

Os raios de luar vazavam através dos grandes feixes de folhas acima, lançando um padrão manchado no chão. Parecia bastante diferente do tabuleiro de xadrez sistemático, e Angeline percebeu que seus olhos giravam à medida que olhava para ele. Estava começando a se sentir um pouco tonta também.

Enquanto as folhas farfalhavam, Satie parou e estreitou os olhos, desconfiada.

“O espaço está... Algo está vindo... Eu acho.”

Angeline sentiu um arrepio percorrer sua espinha e desembainhou sua espada.

“Fiquem pertos de mim!”

Satie levantou Benjamin e correu para o lado de Angeline.

De repente, uma massa negra corria entre as árvores emitindo ruídos de grasnidos — eram dois corvos. Suas asas bateram descontroladamente enquanto disparavam direto para o grupo. Suas garras e bicos afiados poderiam arrancar um olho sem qualquer dificuldade.

Benjamin não tinha ideia do que estava acontecendo. Ele deu um grito estridente e se enrolou impotente.

“Grr, você...”

Angeline tentou atacá-los apenas para que Satie a impedisse, com o rosto pálido.

“Espere!”

“Hã? Mas...”

“Esses são Hal e Mal! Por que...?”

“Hã?”

Os corvos são as gêmeas? Angeline olhou para eles confusa, porém estava muito escuro e os dois estavam se movendo por todo lado, então não sabia. Por enquanto, decidiu usar a parte plana de sua espada para derrubá-los sem causar muito dano.

Ambos voaram e pousaram nos galhos, onde começaram a fazer barulho. Contudo não houve tempo para Angeline recuperar o fôlego — agora, uma sombra diferente correu pela escuridão em direção a eles. Angeline virou-se para interceptar o ataque — de um espadachim, evidentemente.

“Grah!”

Seu inimigo saltou livre com agilidade assustadora, como se estivesse brincando com Angeline. No entanto Angeline conseguiu se defender dos ataques.

“Satie! Você está bem?” ela gritou.

“Não se preocupe comigo!”

Angeline olhou para ver que Satie havia se defendido dos mesmos ataques com sua espada invisível; ela parecia estar protegendo Benjamin também. Ela é outra coisa, pensou Angeline com um toque de alegria. Mas não se deixou distrair por muito tempo.

“Sua... Pequena...” Angeline interceptou o ataque que se aproximava quando ele veio de cima e usou força bruta para repelir seu inimigo. A figura misteriosa voou de volta com um grande salto para a segurança das árvores. A figura sombria — um garoto com orelhas de coelho balançando no topo da cabeça — parecia estar balançando alegremente a espada.

“Que diabos está acontecendo...”

“Você tirou as palavras da minha boca.” gritou outra voz. Angeline se virou e viu o príncipe Benjamim — ou melhor, seu impostor — vestindo roupas bem feitas e justas. Ao seu lado estava um homem musculoso usando traje semelhante ao do garoto com orelhas de coelho.

O verdadeiro Benjamin engoliu em seco assim que o viu.

“Você é... E por que os Templários estão aqui...?”

“Haha! Deixe-me apresentá-los. Este aqui é o Templário Sir Donovan, e esse é seu associado, Falka.”

Benjamin baixou a cabeça enquanto o impostor encolheu os ombros.

“Porém saiba que realmente me superou. Não posso culpar Schwartz por estar com raiva... Angeline, você é de fato incrível. É uma pena que tenha que ser minha inimiga.”

“Por que não desiste logo? Nunca vão me vencer.”

“Tem certeza sobre isso? Talvez se saísse bem sozinha, contudo esses dois pesos mortos te deixam em desvantagem, não acha?” alguém disse. As palavras chamaram a atenção de Angeline para outra presença vinda de trás. Seus olhos se voltaram para ver e, ali parado com os braços cruzados na frente, estava o homem de túnica branca, Schwartz. Uma empregada com olhos vazios estava ao seu lado.

Benjamin sequer poderia ser considerado um combatente, enquanto Satie estava longe de sua melhor condição. Este de fato não era o grupo mais confiável para enfrentar tais adversidades.

Naquele momento, Benjamin ficou de pé.

“Espere, senhor Donovan! Esse homem não é o príncipe herdeiro...”

“O que?” Donovan já estava com a mão no punho enquanto inspecionava Benjamin com desconfiança. Embora Benjamin parecesse ter dificuldade para falar, prosseguiu.

“Eu sou... O verdadeiro Benjamin. Aquele homem me confinou e me substituiu... Não tem uma gota de sangue imperial em suas veias. Não deixe que te engane.”

Donovan olhou de soslaio para o impostor, que estava parado com um leve sorriso no rosto, nem um pouco perturbado com a acusação. Seus olhos voltaram para Benjamin.

“Tem provas?”

“Não... No entanto é verdade. Este homem é diferente do homem que fui, deveria estar ciente deste fato.”

“E? Eu, o impostor, confinei o incompetente príncipe herdeiro para garantir a governança benevolente de nossa nação — é o que está tentando dizer?” o impostor argumentou.

Benjamin mordeu o lábio enquanto o impostor gargalhava.

“Se vai preparar uma farsa, deveria ter escolhido um homem melhor, Angeline. Agora, senhor Donovan. Quem acha que é o impostor?”

Donovan encolheu os ombros antes de olhar para o verdadeiro Benjamin.

“É ultrajante que você assuma um nome que é tão indigno de carregar. Em lugar da Grande Viena, devo julgar esta fraude e todos aqueles que a sustentam.”

“Ugh...” Benjamin caiu de joelhos, derrotado.

“Não importa o que alguém diga.” disse Satie enquanto colocava a mão consoladora em seu ombro. “Você é o verdadeiro príncipe.” mas Benjamin não respondeu, e apenas baixou a cabeça.

Cautelosamente, Angeline avaliou a situação, apertando ainda mais o punho da espada. Schwartz era um inimigo formidável, enquanto Falka também era bastante habilidoso. Donovan não parecia uma tarefa simples, para dizer o mínimo, e ela também não podia ignorar a empregada. Embora o falso Benjamin não parecesse particularmente forte, era uma variável desconhecida. Enquanto isso, os corvos — Hal e Mal — continuavam a grasnar de maneira ameaçadora de seus poleiros acima. Pior de tudo, não sabia que outras cartas o inimigo tinha para jogar. Angeline estalou a língua.

Se estivesse sozinha, estava confiante de que poderia ter aberto caminho e saído viva. Porém, o fato de ter que manter Benjamin e Satie seguros complicou as coisas. No momento em que Angeline se afastasse muito, os dois se tornariam presas fáceis para qualquer inimigo desocupado. Mesmo que conseguisse eliminar o falso Benjamin ou Schwartz, seria inútil se o verdadeiro Benjamin ou Satie caísse no processo.

O falso Benjamin riu enquanto estendia os braços.

“Agora então, vamos lá — eu não gosto de intimidar os fracos, contudo... Vocês estão prontos?”

“Hmph... Com todas as suas divagações, deve estar convencido de que ganhou.”

“Hmm, então ainda acha que pode vencer?”

“É claro. Está nos subestimando demais... O que aconteceu com aquele de casaco preto?”

“Hector? Não poderia te contar. Eu o tenho ocupado em outro trabalho.”

“Hmph...”

Angeline virou-se devagar para Satie e assentiu levemente. Satie sorriu. Então, Angeline olhou para frente e apontou a ponta da lâmina para o falso Benjamin.


“É tarde demais para pedir desculpas agora.”

“Haha! Estou tremendo em minhas botas.”

Com um som alto de telhas quebrando sob seus pés, Falka voou como uma flecha e atacou Angeline.

A princípio, parecia que Angeline iria bloquear o golpe, todavia no último segundo, se esquivou agilmente, agarrou o braço de Falka e usou seu impulso para frente para jogá-lo para trás dela.

Satie também estava pronta para evitá-lo, saltando com força para o lado com Benjamin em suas mãos. Assim que Angeline confirmou sua ação, avançou com uma velocidade tremenda. Os olhos do falso Benjamin se arregalaram em choque. Simples assim, sua lâmina o teria atravessado — se Donovan não tivesse interceptado o ataque com sua espada.

“Agh! Tamanho poder...” para sua surpresa, Donovan cambaleou e fez uma careta diante do peso da lâmina de Angeline.

“Sua Alteza, afaste-se!” François desembainhou a espada e juntou-se à briga enquanto o falso Benjamin recuava alguns passos.

Naquele instante, Angeline teve a oportunidade de pegar a cabeça de François, no entanto quando o rosto de Liselotte passou por sua mente, conteve sua mão. Ela pulou para trás, voltando para Satie e Benjamin. Nem todos os seus inimigos poderiam ser eliminados tão facilmente. Por que tem que ser tão difícil? Angeline lamentou, estalando a língua.

Falka, que havia sido jogado através do campo de batalha, retornou com sua espada erguida.

“Ange!” Satie gritou. “Enfrente o coelho!”

“Entendi!”

Angeline cruzou lâminas com Falka e o empurrou para trás. Ao mesmo tempo, Satie interceptou um golpe da empregada de olhos vazios que veio correndo em direção a eles.

Havia êxtase exalando de todos os poros do corpo de Falka enquanto brandia a espada. Cada vez que suas lâminas se chocavam, ela era assaltada por uma sensação de fadiga. Angeline franziu a testa — na próxima vez que suas lâminas se travaram, deslocou a espada dele com força para o lado e deu um chute em seu abdômen. Parecia que Falka iria bater no chão primeiro, mas plantando as duas mãos no chão, rolou para trás e caiu, esfregando a barriga com uma expressão perplexa no rosto.

“Repugnante...” Angeline voltou à posição, com uma expressão desagradável no rosto.

Enquanto isso, Satie empurrou a empregada para trás, porém sua respiração ficou pesada.

“Droga, como já estou cansada...?”

“Satie, não se esforce!”

“Não podemos vencer a menos que eu o faça, Ange. Ainda mais contra Schwartz...”

Angeline olhou para o homem de túnica branca parado atrás. Embora não tenha feito nenhum movimento óbvio, ficou claro que não estava deixando nada passar despercebido.

De repente, houve um bater de asas vindas de cima. A cabeça de Angeline se levantou e se defendeu com a espada. Quando dois pares de garras afiadas se chocaram contra a espada, pôde perceber que sua mão tremia.

“Ugh...”

“Hal! Mal! Sou eu! Vocês não me conhecem?” Satie gritou de dor. Contudo os dois corvos apenas gritaram enquanto continuavam o ataque. Falka e a empregada aproveitaram a oportunidade para se posicionar em lados opostos para um ataque de pinça.

“Satie! Atrás de você!”

Angeline defendeu a espada de Falka enquanto Satie interceptava a empregada.

Seu ataque preventivo de antes parecia ter sido eficaz, já que Donovan e François estavam muito cautelosos e totalmente focados em proteger o falso Benjamin. Contudo, nesse ritmo não seria capaz de lançar mais ataques, e a situação só piorava cada vez mais.

“Ange!”

Mal dando um aviso, Satie se virou, empurrou Angeline para o lado e usou sua lâmina invisível para mandar Falka voando de volta. Os corvos que vinham de cima pareciam voltar sua atenção para Satie agora.

Angeline trocou de lugar para enfrentar o ataque da empregada desta vez e tentou acabar com as coisas rapidamente cortando a empregada em duas com um contra-ataque feroz, no entanto a empregada recuou em seguida para fora de seu alcance.

Mais uma vez, Angeline e Satie estavam lado a lado, embora com Benjamin entre elas.

Isso é ruim... Angeline estalou a língua. O inimigo estava esperando que se desgastassem. É por isso que eles não foram muito proativos em seu ataque. Embora Angeline adorasse partir para a ofensiva, se afastasse demais, colocaria Satie em perigo.

Os calcanhares de Falka bateram no chão quando se aproximou uma vez mais. Com um passo firme, Angeline o enfrentou, espada por espada. No meio de várias trocas, lentamente abaixou sua postura.

“Ali!” Angeline abriu caminho através de um dos golpes maiores de Falka, mudando sua espada para um punho reverso para rasgar seu flanco de perto. Seu sangue voou pelo ar e manchou de vermelho seu uniforme branco dos Templários.

Muito superficial! A resistência que sentiu lhe disse que não conseguiu desferir o golpe decisivo. Falka não perdeu um segundo para se mover com a mesma graça ágil de sempre e, erguendo a espada, martelou o punho no ombro dela com toda a força. Foi um golpe imenso que Angeline sentiu através de sua armadura, e foi forçada a se ajoelhar.

Por sorte, Falka recuou e roçou o corte na lateral do corpo. Talvez a excitação da batalha estivesse subindo à sua cabeça, já que não parecia estar suportando nenhuma dor. O garoto se saiu muito melhor do que Satie — embora mal conseguisse evitar os punhos da empregada, todo o cansaço e ferimentos que acumulou a estavam atormentando-a.

Contra o melhor julgamento de Angeline, não conseguia parar de se preocupar com o que estava acontecendo em suas costas, fazendo com que perdesse o foco. Neste ritmo estamos acabados... E no momento em que pensou isso, sentiu uma enorme torrente de mana.

“Que os ventos afiados da doença carreguem os solos encharcados de vermelho e espalhem os sonhos dos tolos com a brisa.”

Vinha de Schwartz — uma mana pesada e fria que fluía como o vento norte.

Whoa, ele está usando uma grande magia agora? Angeline percebeu amargamente. Havia dado tempo demais ao inimigo para se preparar, e agora a mana formigava em sua pele como se estivesse sendo esfaqueada com inúmeras agulhas finas. Se fosse assim, precisava pelo menos proteger Satie. E então, Angeline se virou e agarrou o ombro de Satie. Ela a empurrou para o chão e caiu sobre a mesma no processo. A mana formou uma grande massa, enchendo o ar com uma sensação terrível enquanto pairava sobre suas cabeças.

Naquele exato momento...

“Que os fios do poder se juntem em uma corda na ponta de meus dedos e estilhacem as mandíbulas da opressão distante.”

De repente, ela sentiu outra massa espiralada de mana voando em direção a eles como uma flecha relâmpago. Colidiu diretamente com a mana que pairava sobre suas cabeças e explodiu com um barulho imenso. Esse era um tipo de grande magia com a qual poderia jurar que estava familiarizada.

“Lança de Hart Langer...?”

“Hey, saia da frente, seu maldito coelho!”

Essa também era uma voz que conhecia. E ouviu os sons de espadas colidindo com espadas. Angeline ouviu flechas rasgando o ar e trovões retumbando.

Angeline ergueu o rosto. Satie, que estava deitada de costas, ficou completamente surpresa e sem ideia do que estava acontecendo. Benjamin estava encolhido com as duas mãos sobre a cabeça, mas não parecia ferido.

“Ange! Você está bem?” uma nova voz gritou.

Porém quando Angeline a ouviu, se encheu de alegria e alívio do fundo de sua alma. Ela pulou sem um pingo de hesitação.

“Pai! Pessoal!”

Houve uma batalha travada em torno delas. Marguerite trocava ataques com Falka, enquanto Anessa e Miriam afastavam a empregada de olhos vazios. Kasim ficou diante de Schwartz, e interposto entre ela e o falso príncipe, viu as costas que tanto amava. Angeline ajudou Satie a se levantar, e Satie olhou fixamente para as costas do homem ruivo que estava a sua frente. O homem olhou para trás.

“Desculpe, demoramos muito... Estou feliz que você esteja bem.”

“Hum, uh...” a boca de Satie trabalhou silenciosamente em vão. Foi só depois que as lágrimas escorreram de seus olhos que por fim encontrou as palavras.

“Ah... Ahaha... Vejo que cresceu mesmo, Bell...”

“E você não mudou nem um pouco, Satie.” Belgrieve deu uma risada um tanto tímida enquanto ajustava a grande espada em suas mãos.

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