Capítulo 51: Nos tornamos amigos
Não preciso pensar na causa, pois a causa disso é a entidade que apareceu diante de mim. Esse frio que sinto é muito penetrante, como se minha alma estivesse sendo congelada.
No caminho para casa depois do meu encontro com Kuro, encontrei uma mulher com uma atmosfera estranha, me perguntando se eu sou um herói.
Tenho que responder, contudo meu corpo treme e não se move direito, embora meus instintos me digam que preciso responder e que ela não é alguém que deveria desafiar.
“Eu repito... Você é... O herói?”
Como se meu silêncio contínuo fosse desanimador, a mulher mudou seu tom para algo um pouco mais forte e me fez a mesma pergunta outra vez.
Me sentia como se estivesse sendo estrangulado por uma mão invisível, me empurrando para baixo com uma sensação opressiva e sufocante.
“Sou uma... Das pessoas do outro mundo, mas... Não sou... O Herói.”
“Entendo.”
A mulher acenou com a cabeça para as palavras que mal consegui pronunciar, sem demonstrar nenhuma reação particular.
O silêncio é pesado. Sinto como se o próprio ar tivesse peso.
O tremor em meu corpo fica ainda mais forte, querendo me livrar dessa sensação infernal o mais rápido possível.
Depois de alguns momentos de silêncio, a mulher estende a mão em minha direção para um aperto de mão.
“Eu sou... Isis... Isis Remnant... Prazer em conhecê-lo.”
“!?!?”
No momento em que olhei para a mão estendida, o que surgiu em minha mão foi uma intensa sensação de desconforto.
Uma sensação de medo... Muito maior do que minha mente podia tolerar, e sinto como se a náusea estivesse subindo do fundo do meu estômago.
Tenho que escapar, afastar, fugir, correr... Meus instintos gritavam intensamente comigo.
A mão, que deveria parecer branca e bonita, parece a foice do Ceifador.
Eu não devo segurar essa mão. Se segurasse a mão dela, eu morreria. Não a desafie, não vá em seu contra, não tire seus olhos dela... Um após o outro, esses pensamentos ressoaram na minha cabeça como um despertador me acordando do sono.
“...”
Ao me ver assim, a mulher baixou um pouco os olhos, e no momento em que vi isso, uma única emoção apareceu em meu coração.
Profunda tristeza e uma intensa solidão... Um sentimento de solidão tão opressivo...
Essas foram as emoções que foram lidas pela minha Magia de Simpatia. Assim que entendi isso, surgiu em minha mente um pensamento diferente daqueles que tive antes.
Não conheço a lógica deste pensamento, nem tenho uma razão ou base clara para explicá-lo. No entanto, por alguma razão — se fugisse agora, sinto que me arrependeria pelo resto da minha vida.
“...?”
Meu corpo se moveu naturalmente... E me peguei batendo nas bochechas com as duas mãos.
O medo bizarro que ainda assalta meu corpo não desapareceu. Todavia, os pensamentos que vinham à minha mente estão prestes a se tornar algo completamente diferente.
Pare de olhar pro próprio umbigo! Pense na situação mais seriamente desta vez!
O que essa pessoa fez comigo? Ela me fez algum mal ou alguma vez dirigiu sua hostilidade para mim? Não, não o fez... Apenas me perguntou se sou o Herói, e então se apresentou e pediu um aperto de mão. Ela não fez nada de estranho.
Olho para os olhos vermelhos da mulher, que parece um tanto assustada, e quando estendo a mão para aceitar o aperto... Uma intensa sensação de desconforto me assaltou uma vez mais.
Cerrando os dentes dentro desse medo e desconforto estonteantes, ainda tento mover minha mão desesperadamente.
Não tenho qualquer base para as minhas ações, nem tenho qualquer razão para fazê-lo. Nem sei por que estou tão desesperado... Entretanto, sinto que tenho que segurar a mão dessa pessoa... Aqui e agora.
Se estivesse na mesma situação antes de vir a este mundo, com certeza teria fugido.
Porém, quando vim a este mundo e conheci Kuro... Entendi que mesmo uma única boa vontade poderia salvar o coração de uma pessoa. Aprendi como estou feliz por ela me procurar, mesmo que eu esteja escondido nas profundezas do meu coração.
Por esta razão, se sou o único que pode alcançar as profundezas do coração desta pessoa neste momento, então... Não posso fugir daqui.
Kuro havia mencionado antes, como meu corpo tentará naturalmente se adaptar ao poder mágico não hostil... Se esse medo indescritível que estou sentindo é atribuído ao poder mágico que a mulher diante de mim estava vestida... Então pare de tremer como um idiota, e continue se ajustando com seu poder mágico!
Não sei se foi respondida por causa do meu grito dentro do meu coração... Cerrando os dentes com tanta força que meus lábios estavam sangrando, tentei quase em desespero estender a mão... Pouco a pouco, a cada centímetro estou mais perto dela. Por outro lado, sinto que o desconforto que estou sentindo ameniza.
O tremor da minha mão diminui pouco a pouco e, devagar, como se o mundo estivesse em câmera lenta, estendi a mão para a mulher.
Quanto tempo passou? De qualquer forma, minha mão alcança a mão da mulher que passou um longo tempo esperando que a segurasse o tempo todo.
Agarrando sua mão fria, fechei os olhos uma vez e... Com um sorriso no rosto, falei.
“Meu nome é Miyama Kaito. Prazer em conhecê-la. Isis-san.”
“...!?!?!?”
Ao segurar sua mão, o medo e o desconforto que sinto enfim desapareceram e pude falar naturalmente com ela.
Isis-san parecia atordoada enquanto olhava para mim e depois de assentir uma vez, respondeu. Sua voz soa sem coração, mas parece que está tremendo, e também pude sentir uma pitada de alívio em sua voz.
“Miyama Kaito... Posso apenas... Te chamar de Kaito?”
“Sim.”
“Kaito... ‘Vamos nos casar’.”
“Por favor, espere um segundo, não sei do que você está falando.”
Algo está estranho... Justo quando pensei que por fim tinha conseguido me apresentar, ela de repente me pediu em casamento por algum motivo. Não faz nenhum sentido... É como se apenas tivesse saltado todo processo e explodido direto até o fim.
Em resposta à minha resposta, Isis-san tinha um sorriso sinceramente feliz no rosto enquanto continuava falando.
“Minha mão... Você agarrou... Eu me senti feliz... Feliz! É por isso que... Devemos nos casar.”
“...”
Arehh? Isso não é estranho? Eu senti um arrepio diferente do que senti antes percorrer minhas costas... Foi apenas minha imaginação, certo?
Senti como se estivesse recebendo uma impressão fria dela antes, mas agora que está me encarando com um olhar caloroso, sinto que acabaria me queimando.
Ummm, o que devo fazer nesta situação? Preciso responder algo... Errr...
“Q-Que tal... Começarmos como amigos por enquanto?”
“...”
Quando sugeri isso com medo, enquanto escolhia com cuidado as palavras... As bochechas de Isis-san ficaram vermelhas e ela sorriu alegremente.
“Amiga... Amiga de Kaito... Estou feliz.”
Parece que gostou, já que Isis-san disse repetidamente a palavra amiga várias vezes como se estivesse delirando.
Unnn. É que... Como devo dizer... Acho que ela é uma daquelas pessoas intensas...
Conversando um pouco com Isis-san, tivemos uma conversa particularmente casual. Já estava escurecendo, então quando a disse que precisava sair logo, Isis-san tinha uma expressão solitária no rosto enquanto murmurava.
“Kaito... Onde você... Mora?”
“Ummm, estou morando na mansão da Duquesa Albert nesta rua.”
“Posso... Ir visitá-lo... Às vezes?”
“Ah sim. Claro, pode vir a qualquer hora. Eu mesmo irei contar a proprietária.”
“Eu não seria... Um incômodo?”
“Está tudo bem. Não precisa agir de forma tão reservada. Isis-san e eu somos amigos, então pode vir a qualquer hora.”
“Ahh... Unnn.”
Quando Isis-san, com timidez, me perguntou, respondi que poderia vir me visitar sempre que quisesse, e um sorriso muito feliz apareceu em seu rosto.
Olhando-a assim, ela parece uma mulher bonita normal. Sério, estou me perguntando por que estava com tanto medo antes.
Depois de concordar cheia de alegria com minhas palavras, Isis-san tira uma flor azul de algum lugar e a estende para mim.
“Ummm... Isso é... Para você.”
“Muito obrigado. Vou cuidar bem dela.”
“Unnn.”
Uma flor com pétalas azuis claras como gelo. Recebendo de Isis-san a flor que nunca vi antes e depois de agradecê-la, guardo-a na minha caixa mágica.
“Bem, então é melhor eu ir. Vamos conversar de novo na próxima vez.”
“Unnn... Obrigado... Kaito... Eu te amo.”
“M-Muito obrigado... Bem, então, até mais.”
“Até mais.”
Por alguma razão, um estranho arrepio surgiu nas minhas costas de novo. Depois de deixar de lado aquele frio estranho e inclinar a cabeça para Isis-san, que estava me dando um pequeno aceno com a mão, saí do local.
Querida mãe, pai — muitas coisas aconteceram hoje. De certa forma, esta pode ser a primeira vez na minha vida que me esforcei tanto. Mas por causa disso, Isis-san e eu nos tornamos amigos.
Foi em um canto do vasto Reino Demoníaco. Uma região coberta por gelo que não derrete há milhares de anos, um lugar conhecido como Terra da Morte.
Em uma sala dentro de um enorme castelo coberto de gelo espesso, uma garota chamada de encarnação da morte tinha uma expressão feliz no rosto.
“Kaito...”
Repetindo o nome do jovem que conheceu hoje, com as bochechas coradas como se estivesse apaixonada por ele, o Rei da Morte, Isis Remnant, murmurou para si mesma enquanto olhava para os livros empilhados como uma montanha.
“Eu o encontrei... Finalmente o encontrei... Não estou enganada... Kaito... Kaito é... Meu ‘predestinado’...”
Murmurando isso, Isis segura um livro... Seu livro favorito — dentro de seus braços.
O livro conta a história de uma jovem que se apaixona por um homem que conheceu por acaso e, ao se ver nos olhos da garota, suas bochechas ficam vermelhas e ela murmura o nome do homem em seus pensamentos repetidas vezes.
O nome do jovem de outro mundo que pegou sua mão depois de milhares de anos de medo, a mão de alguém que sempre caminhou na solidão...
O Rei da Morte, temido pela maioria dos seres deste mundo como o símbolo da morte... Sua mente agora estava cheia apenas de pensamentos sobre aquele jovem.
Notas do Autor:
A Duquesa... Vai receber outra visita de novo... Ahhhh...
O Rei da Morte... Aquele temido pela maioria dos seres, já que está sempre vestida com poder mágico imbuído de morte, e porque ela se sentia muito solitária, no momento em que Kaito pegou sua mão, Kaito literalmente rompeu o limite de seu medidor de afeto.
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