Capítulo 52: Intermissão: Isis Remnant (1) ~ O Rei vestido de Morte ~
Duas cores de raios de luz percorreram o canto do vasto Reino Demoníaco, enquanto um som estrondoso soava nos arredores.
Assim como milhares de raízes de árvores subiram como lanças perfurando os céus, um vento extremamente frio soprando dos céus as congelou.
“...!?”
“Kuhh...”
Tal qual uma onda de poder mágico soprando como tempestades, duas sombras se confrontavam no centro da atmosfera trêmula.
“Lillywood... Não interfira.”
“Eu não posso deixar você ir para o Reino Humano, Isis.”
As duas existências que se enfrentam são seres tão conhecidos no Reino Demoníaco que ninguém as desconhece.
A batalha entre aqueles que faziam parte dos Seis Reis, o Rei da Morte, Isis Remnant, e o Rei do Mundo, Lillywood Yggdrasil, é tão feroz que pode ser chamada com razão de um desastre natural, e todas as coisas nos arredores que eram como até onde a vista alcança, transformaram-se em um deserto.
O início deste evento começou há cerca de meia hora... Quando Lillywood tentou impedir Isis de ir até o portão que levava ao Reino Humano, e como resultado, isso se transformou em uma batalha.
“Isso não tem relação com você... Lillywood.”
“Estou relacionada sim! Neste momento, o Reino Demoníaco e o Reino Humano acabaram de assinar o tratado de amizade e ainda está muito instável. Não podemos nos dar ao luxo de prejudicar a confiança que enfim construímos.”
“Então... Por que... Está... Me impedindo?”
“Você realmente quer que eu responda? Não gostaria de dizer se pudesse. Porém, sua existência é perigosa nesta situação.”
“Por que...”
“O poder mágico da morte com o qual está vestida nada mais é do que um objeto de medo para os seres vivos...”
“Você está errada.”
“Pare de fingir ignorância! Já está bem ciente desse fato... Que sua existência é um ‘objeto de medo’ para os outros.”
“...!?!?!?”
A verdade é que ela não queria dizer palavras tão condenatórias. Lillywood tinha uma expressão em seu rosto como se tivesse mordido algo amargo, contudo precisava dizer a verdade implacável, e quando Isis ouviu essas palavras, seus olhos se arregalaram e seu corpo enrijeceu.
Um momento de silêncio apareceu... No entanto, foi rapidamente quebrado pelo crescente poder mágico de Isis.
“Está enganada... Está enganada... Está enganada!!!”
“...”
Com seus gritos e bramidos, em resposta à sua fúria, o poder mágico de Isis explodiu, formando um círculo mágico extremamente grande no céu que sacudiu o ar.
Vendo a Magia Extrema que está repleta de sua intenção de matar, claramente diferente da magia que usou antes, Lillywood manteve os olhos em Isis e formou um círculo mágico do mesmo tamanho no chão.
A Magia Extrema dos Seis Reis... Era o suficiente para transformar dezenas de quilômetros ao redor deles em cinzas e, em vez de interceptá-la, Lillywood pretendia compensá-la com magia da mesma escala para proteger as terras do Reino Demoníaco.
Entretanto, antes que a tempestade formada por Isis pudesse ser desencadeada e descer dos céus, um círculo mágico negro aparece sobreposto ao círculo mágico branco-azulado no céu e, com o som de vidro quebrando, o círculo mágico formado por Isis desapareceu.
“...!?”
“Aquilo é...”
Diante das duas surpresas, Kuromueina aparece entre ambas enquanto seu casaco, que se transformou em asas negras, balançava no ar.
“Cheguei a tempo?”
“Sim, obrigado pela sua ajuda, Kuromueina. Como esperado, havia um limite para a quantidade de controle de danos na área circundante que poderia ser feito apenas comigo...”
Lillywood solta um suspiro de alívio com a aparição de Kuromueina e agradeceu, enquanto em contraste, Isis cerrou os dentes.
“Kuromueina... Você também... Vai interferir?”
“Não, não é como se eu estivesse tentando interferir ou algo assim... E sei como se sente, Isis... Porém poderia pelo menos esperar até que o mundo esteja um pouco mais estável?”
“...”
Ao ouvir as palavras de Kuromueina, Isis mordeu o lábio como se dissesse que ainda não estava convencida, contudo não tentou forçar sua passagem como fez quando estava sendo confrontada por Lillywood.
Ela poderia conseguir se fosse apenas Lillywood, entretanto se Kuromueina se juntasse, a possibilidade de avançar seria igual à zero.
Depois de ficar em silêncio por um tempo, Isis cerrou os punhos e saiu do local sem fazer qualquer som, com o corpo tremendo levemente.
Olhando para sua figura partindo, que até parecia estar chorando, Kuromueina solta um grande suspiro.
“Parece que ela está tendo um dia difícil. Isis, quero dizer.”
“Suponho que não há nada que possamos fazer. O Reino Humano e o Reino dos Deuses assinaram um tratado de amizade, e ela mesma sabe disso, contudo mesmo assim... Não importa o que aconteceu... Segue pensando em alguém que a aceitaria, mesmo no Reino Humano ou no Reino dos Deuses.”
“Isis está muito sozinha, afinal. Especialmente porque temos estado tão ocupados ultimamente que não conseguimos conversar uns com os outros...”
Pensando em Isis que acabara de sair, tanto Kuromueina quanto Lillywood tinham uma expressão um tanto triste em seus rostos.
Dois anos após a assinatura do tratado de amizade, em prol da paz entre os três mundos que começaram a trabalhar de mãos dadas, tanto Kuromueina quanto Lillywood têm alternado entre o Reino Humano e o Reino Demoníaco, no entanto Isis não visitava o Reino Humano ou o Reino dos Deuses desde o tratado de amizade.
Não, deveria ser melhor dizer que queria visitá-los, todavia foi impedida... Isis, que sempre esteve vestida com o poder mágico da morte, é um objeto de medo tanto no Reino Humano quanto no Reino dos Deuses, na medida em que aqueles que tinham o coração fraco desmaiariam só de vê-la.
Portanto, nesta situação em que o mundo ainda não estava estável, não podiam deixá-la se movimentar como quisesse.
“Kuromueina. Por que Isis está tão obcecada com o Reino Humano e com o Reino dos Deuses? Não somos suficientes para apaziguar sua solidão?”
“É apenas um palpite, mas acho que é porque não podemos ‘verdadeiramente’ ajudar Isis a sair de sua solidão. A razão para isso é muito simples. Temos um grande poder.”
“É porque temos um grande poder?”
“Unn. Acho que talvez seja o que Isis está pensando. A razão pela qual tratamos Isis normalmente é que somos poderosos o suficiente para nos opormos a ela... Ou, dito de outra forma, se não tivéssemos o nosso poder, não a teríamos aceitado. O que está procurando é alguém que a aceite incondicionalmente... Mesmo que não seja forte o suficiente para ir em seu contra, alguém que ainda segure sua mão sem medo. Acho que é por esse motivo que está tentando se aproximar dos humanos menos poderosos, porque quer encontrar alguém assim.”
“Entendo. Porém, é impossível, não é? Mal posso acreditar que exista um humano que possa resistir ao seu poder mágico da morte.”
“Com certeza seria difícil. Mesmo Hikari-chan não conseguiu fazê-lo.”
O ser que Isis procura. Um ser que a aceitaria mesmo sem poder para se opor a ela... As chances de tal ser aparecer são quase inexistentes.
Mesmo o Humano com o coração mais forte que conheceram, o Herói Hikari, também foi incapaz de enfrentar Isis adequadamente. Seu corpo tremia em sua presença, tendo que se esforçar para pronunciar as palavras.
Só isso já seria suficiente para dizer que ela tinha um coração forte, contudo faltava bastante comparado ao ser que Isis queria encontrar.
Lembrando-se do rosto de Isis, que estava prestes a começar a chorar agora mesmo, Kuromueina e Lillywood olharam para baixo com tristeza.
A terra da morte, no castelo de gelo.
Dentro dele vive o Rei da Morte, Isis Remnant, que chorava.
“Uwaaahhh... Por que... Por que...”
Ela é um ser nascido do poder mágico deixado por uma multidão de seres mortos. Em outras palavras, pode-se dizer que sua própria existência tem como cerne o conceito de morte.
Portanto, desde o momento em que nasceu, o poder mágico da morte foi mantido em seu corpo, e esse seu poder mágico intimida as pessoas ao seu redor, independente de suas intenções.
Não importa se Isis é hostil ou não com a outra pessoa, ou se a pessoa que está enfrentando tem medo ou não, essas coisas não importam em nada... Pois os instintos de cada ser vivo estavam rejeitando sua existência.
Portanto, ela estava sozinha.
Isis é percebida como um objeto de medo pela maioria dos seres do Reino Demoníaco. Um fantasma, e ainda que se suponha que sua raça devia ser próxima dos Ghouls e Liches... Mesmo aqueles que podiam ser ditos uma espécie de Mortos-Vivos a temiam.
Ela é um ser que foi nomeado um dos Seis Reis, por causa da ameaça que representa em seu corpo, e é considerada a mais perigosa dos Seis Reis.
No entanto, não tem intenção de espalhar a morte indiscriminadamente. Até tentaria ser o mais amigável possível com aqueles que não estavam se voltando contra ela, mas o poder mágico da morte que seu corpo estava revestido não permitiria isso.
As únicas pessoas que podem enfrentar Isis sem medo são aquelas que têm um poder comparável ao seu, porém, inversamente, aqueles que não têm esse poder a temem e se afastam, sem exceção.
Esse fato lhe dá uma forte sensação de solidão e Isis passou milhares de anos mantendo esse sentimento latente.
Teria sido melhor se as coisas tivessem permanecido como estão. Se tivesse permanecido derrotada por esse sentimento, poderia ter sido feliz de alguma forma.
Desespero... Nasceria quando se espera algo.
No momento em que os três reinos, o Reino Demoníaco, o Reino Humano e o Reino dos Deuses, uniram as mãos e seu mundo se expandiu... Uma leve esperança apareceu nos pensamentos de Isis.
Se o Reino Demoníaco não é bom... Talvez se for o Reino Humano ou o Reino dos Deuses... Se um ser que a aceita existir, mesmo que tal ser não tenha poder para se opor ao seu poder mágico de morte...
A esperança que abraçou voltou para ela com grande desespero.
Ninguém jamais a aceitaria verdadeiramente como era. Ninguém tomaria sua mão, do fundo do coração.
Essas emoções transbordantes transformaram-se em lágrimas, e o rei vestido de morte rugiu sozinho.
Aquele que ela procura há milhares de anos... Só quase mil anos depois é que ele apareceu...
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