domingo, 3 de outubro de 2021

Boukensha ni Naritai to Miyako ni Deteitta Musume ga S Rank ni Natteta — Volume 01 — Capítulo 03.2

Capítulo 03.2: O Grupo Caminhou em Fila Única


A carruagem coberta sacudiu e balançou.

Quatro dias depois que a cidade de Asterinos foi atacada por formigas gigantes, Angeline voltou à capital Orphen. Arrumou a bagagem e partiu para Turnera, desta vez com certeza. Ela havia tirado um mês inteiro de descanso — mais do que o suficiente para relaxar. Depois de pensar um pouco, decidiu que iria surpreender Belgrieve com seu retorno repentino e não enviou uma carta.

Os executivos da guilda fizeram caretas quando souberam de sua ausência de um mês, contudo, dadas todas as suas realizações, não podiam recusá-la categoricamente. Lamentando a falta de pessoal e rezando para que nada drástico acontecesse enquanto isso, a guilda por fim deu seu selo de aprovação. Afinal, o ar ao seu redor deixava claro que Angeline teria quebrado a guilda em um milhão de pedaços se dissessem algo em oposição.

A carruagem seguiu vagarosa pela estrada secundária. Agora, Angeline estava tão distante no campo que poderia muito bem ser chamado de meio do nada. Uma brisa forte farfalhava a grama das planícies mal cuidadas e, à distância, podia ver cabras mastigando plantas selvagens. Apesar do sol do verão caindo sobre ela, os ventos frios garantiam que Angeline não suasse muito, ainda mais quando se abrigava na sombra do dossel.

Uma semana se passou desde que Angeline deixou Orphen, tendo passado por várias cidades e vilas. Se houvesse uma carruagem indo na direção certa, subiria a bordo. Do contrário, negociaria com mascates, oferecendo seus serviços como guarda. A carruagem em que estava agora pertencia a uma mascate que conheceu em Bordeaux, a maior cidade da região. Estava agora a apenas uma parada da vila Turnera.

Como seus meios de transporte eram limitados a pé e a cavalo, e Turnera estava perto da fronteira norte com o território dos elfos, demorou um bom tempo para chegar lá. Pensando na viagem de volta, talvez pudesse ficar três, quatro dias no máximo. No entanto era o suficiente. Estava bem, contanto que pudesse respirar um pouco do ar da vila e ver Belgrieve.

A verdade é que se ela tivesse um cavalo de corrida a toda velocidade por um caminho reto, teria chegado um pouco mais rápido, mas cavalgar não era o forte de Angeline. Não que não pudesse cavalgar, mas ficavam com medo quanto mais se agarrava a um cavalo correndo a galope.

Turnera não tinha tradição de equitação, embora criassem ovelhas e cabras e até usassem burros para puxar suas carruagens. Talvez tivesse se acostumado a cavalgar se tivesse começado muito jovem. No entanto, quando a coisa mais rápida que já havia montado foi um burro, um cavalo de corrida dava a sensação de que seu corpo estava sendo carregado, deixando sua mente para trás — uma sensação perturbadora. Mesmo aventureiros Rank S que pareciam invencíveis tinham suas fraquezas.

Sua grande bagagem estava cheia de presentes para as pessoas na volta de casa — sementes de plantas, tecidos, livros, especiarias e vinho, junto com um carregamento de doces em conserva e doces de açúcar. Angeline sorriu de orelha a orelha ao se imaginar comendo doces com seu pai enquanto eles contavam histórias de seu tempo separados.

Vendo-a radiante, a mascate segurando as rédeas — uma mulher de cabelo azul curto — puxou conversa. “Você está de bom humor, mocinha.”

“Estou... Posso finalmente ir para casa.”

A mascate cantarolou em reconhecimento. “Retornando para sua cidade natal? Vocês, aventureiros, são muito ocupados, não são? Ainda mais hoje em dia.”

“Justo o que penso... Não faz ideia de quantas vezes tive que adiar essa viagem devido a pedidos urgentes, mas por fim posso ver meu pai... Já ouviu falar dele? Ele é Belgrieve, o Ogro Vermelho.” Uma vez mais, o afeto de Angeline invadiu a conversa.

A mascate desviou o cavalo com um sorriso. “Nah, eu não tenho muito conhecimento dessas coisas. Não o conheço, porém vou tentar me lembrar. Ele deve ser um aventureiro muito forte.”

“Sim, tenho orgulho de ser sua filha. Lembre-se bem, ok? É Belgrieve, o Ogro Vermelho.”

“Belgrieve, o Ogro Vermelho. Entendi.”

Nunca tinha ouvido esse nome antes, pensou a mascate. Contudo era uma comerciante e sabia esconder tais pensamentos atrás de um sorriso profissional. Ainda assim, sabia de Angeline, a Valquíria de Cabelos Negros, e se ele era um homem digno do elogio de Angeline, com certeza seria um lutador formidável que era simplesmente desconhecido para o mundo em geral.

Logo, elas estavam fora das planícies e nas montanhas. Esta ainda era uma estrada pública, porém ter tráfego era muito raro, então à carruagem sacudiu com força por todos os buracos e pedras na estrada. Assim, não podendo ganhar velocidade sob o risco de tombar para o lado.

Apesar do pano colocado, ainda doía sentar. Angeline estava acostumada a se mover por toda parte em suas missões, mas a este ritmo, talvez estivesse melhor em pé. Saltando para fora, começou a andar ao lado da carruagem — estava lenta o suficiente para acompanhar sem muito esforço.

A mascate deu um sorriso irônico. “Desculpe pela estrada.”

“Não, não é sua culpa...”

Contudo enquanto caminhava, Angeline de repente teve a sensação de que alguém a estava observando. Ela examinou rapidamente a área. Não parecia ser um demônio — podia sentir a presença humana nos penhascos da montanha e nas sombras das árvores.

“Ei...” Angeline se virou para a mascate. “Existe uma aldeia por aqui...?”

“Não, que eu saiba não.”

Então eram bandidos, sem dúvida. Angeline podia sentir a hostilidade em seus olhos fixos. Não tinha ouvido falar de nenhum bandido tendo um esconderijo por estas bandas; talvez tivessem vindo há pouco tempo ou fossem do tipo errante.

Angeline saltou de volta para a carruagem e sussurrou: “Há bandidos nos observando...”

“Eh?”

“Shh. Calma... Você vai ficar bem comigo por perto. Finja que não percebeu.” Angeline a tranquilizou enquanto colocava a mão em sua espada.

Enquanto a mascate parecia ansiosa, manteve a carruagem em curso. As péssimas condições da estrada ainda dificultavam o avanço e, enquanto lutava tomada pela ansiedade com o cavalo, ouviu o som de algo cortando o vento.

Angeline desembainhou sua espada e cortou a flecha que voava em sua direção.

“Eek!” a mascate gritou, desenhando uma pequena cruz com os dedos. “Oh, Deusa Viena. Por favor, nos ofereça proteção...”

“Se eles apenas tivessem ficado quietos e assistido...” Angeline franziu a testa com desgosto claro. Já havia assumido empregos para exterminar organizações criminosas e grupos de bandidos antes. Esta não seria sua primeira vez matando humanos, mas sempre se sentiria mal depois. Angeline ergueu a voz, esperando que sua intimidação acabasse com o assunto.

“Oi! Está atacando sabendo que sou a Valquíria de cabelos pretos Angeline, filha de Belgrieve, o Ogro Vermelho? Se não quer morrer, então fuja!” a resposta dos bandidos veio na forma de uma salva de flechas. Havia muitas, mas Angeline cortou todas e gritou: “Não pode ver como isso é inútil?”

Então, houve silêncio. Podia sentir os olhos saindo. Parecia que os bandidos haviam desistido. Angeline suspirou de alívio e devolveu a espada à bainha. Porém não demorou muito para que ouvisse um grito de partir o coração do acampamento de bandidos. “Me salve! Me salve!”

Angeline se virou, assustada. Não conseguia ver nada, porém parecia uma criança. Isso foi um sequestro?

Angeline hesitou por um momento. Turnera estava a apenas alguns dias de distância. Não queria se lançar em novos problemas agora. Contudo Belgrieve não ficaria orgulhoso dela se fingisse que não ouviu nada e seguisse seu caminho. Não a elogiaria por isso.

Angeline seria uma aventureira que mostraria preocupação com os fracos e oprimidos — havia prometido a Belgrieve.

Ela mordeu o lábio. Vou limpar e me apressar. Um ligeiro desvio não é nada. Uma curta parada na estrada para Turnera.

“Espere aqui.” disse Angeline após um momento de reflexão.

“Hm? Ah, claro.”

Deixando a mascate para trás, Angeline deu o pontapé inicial. Com sua velocidade estonteante, escalou até o esconderijo dos bandidos em um piscar de olhos. Os bandidos, em simultâneo, estavam perdendo a cabeça com sua aparição repentina e fazendo uma grande confusão.

No meio dos bandidos estava uma menina de óculos, com cerca de quinze anos de idade. Suas mãos estavam amarradas nas costas e tentavam amordaçar sua boca. A garota estava chutando e se debatendo como podia. A garota usava roupas bonitas e bem cortadas, com o azul como cor base — uma nobre, talvez.

Angeline apontou sua espada para os bandidos.

“Se não querem morrer, deixe-a e vão embora...” falou devagar.

Os bandidos ficaram surpresos; entretanto, no momento em que perceberam que Angeline estava atrás da garota, imediatamente pressionaram uma faca contra a refém.

“Ei, você! Não sei quem pensa que é, porém um movimento engraçado e vou—”

Sua cabeça deixou seu corpo antes que pudesse terminar. Ninguém sabia o que tinha acontecido — uma cabeça apenas sumiu de onde estava antes e uma fonte de sangue jorrou.

“Estou de muito mau humor agora...”

Antes que percebessem, Angeline estava ao lado do bandido que havia feito a garota como refém. A garota estava atordoada quando Angeline a ergueu sob um braço e balançou com os pés de um espírito vingativo.

“É o suficiente... Já avisei três vezes agora. Isso tentaria até mesmo a paciência da Deusa Viena... Vou fazer se arrependerem de ter me subestimado!”

O que se seguiu não pode ser chamado de batalha. Foi uma carnificina. Quase vinte bandidos foram esmagados, sem nenhum meio eficaz de se defender, e no espaço de apenas alguns minutos foram reduzidos a cascas silenciosas. Foi o seu erro; sua ganância levou o melhor deles. Depois de terminar um trabalho, voltaram seus olhos para uma mascate e sua guarda — aparentemente o alvo principal. Acontece que sua presa acabou por ser um monstro.

Depois de conseguir uma vitória fácil com seu poder opressor, Angeline soltou um suspiro de cansaço. “Ah... Nunca vou conseguir me acostumar com assassinato. Não é para mim mesmo...”

Balançando a espada para se livrar do sangue, devolveu-a a bainha. Então, desamarrou a mordaça e a corda da garota.

“Você está bem…?”

“Ack... O-Obrigada...” a garota disse, olhando irritada para as marcas que a corda havia deixado em seus pulsos. Ela era bonita; seu cabelo loiro platinado em um meio rabo de cavalo estava um pouco desgrenhado, mas mantinha o brilho e sua pele estava imaculada. A garota tinha que ser alguém de alto status.

“Por que aqueles bandidos te capturaram...?”

“Sim, sobre isso...”

A garota se apresentou como Seren. Ao que parecia, era a filha do senhor de Bordeaux. Enquanto estava no meio de sua inspeção de rotina do terreno, recebeu a notícia de que seu pai estava acamado em estado crítico. Ela montou no cavalo mais rápido que conseguiu encontrar, contudo foi capturada por bandidos ao longo do caminho. Tudo se devia ao fato de insistir que a carruagem não chegaria a tempo. A própria Seren montou em um cavalo e levou consigo apenas alguns guardas, todos estes mortos em uma emboscada nas estradas ruins. Sozinha e incapaz de resistir, os bandidos a levaram.

“Que feio da minha parte... Agora que chegou a esse ponto, não vou ser capaz de ver o pai de qualquer maneira.” disse Seren, cerrando o punho. Não tinha derramado nenhuma lágrima, entretanto estava claro a intensa raiva e tristeza que giravam dentro dela.

Angeline refletiu sobre isso.

“Quer ver seu pai?”

“Sim... Porém o que está feito está feito. Não tenho cavalo e, por mais rápido que possa viajar, levaria mais de quatro dias para chegar a Bordeaux a pé. Este é o destino.”

Seren brincou com um sorriso. Finalmente, Angeline estalou, agarrou Seren pelo braço e a colocou de pé. Os olhos azuis da garota estavam girando em choque.

“Hum, er, Angeline...?”

“E você está bem com isso? Ele não é seu precioso pai? Não ceda ao destino!”

Angeline a pegou e desceu até a carruagem lá embaixo. A mascate deu um pulo quando Angeline praticamente saltou para dentro da carruagem.

“Whoa, você me surpreendeu aí! O que há de errado, mocinha? E os bandidos?”

“Cuidei deles. Vou pagar por todo o seu estoque e também pelo trabalho. Farei tudo ao meu alcance para garantir que tenha lucro. Por favor, volte...”

“O-O que quer dizer?”

A mascate olhou entre Angeline e Seren, confusa. Seren estava abrindo e fechando a boca sem palavras, incapaz de seguir o que estava acontecendo.

Angeline abraçou Seren e disse: “Essa menina precisa ver o pai doente. Por favor...”

“Certo, estou indo,” respondeu a mascate depois de um momento. “Você está pagando por tudo, certo?”

“Sim.”

A mascate suspirou e deu meia-volta com a carruagem. Elas seguiram pelo caminho barulhento um pouco mais rápido do que quando tinham vindo.

Os ombros de Angeline caíram. Ir para Bordeaux a garantiu de não conseguir ir para Turnera — ela não tinha dias de férias suficientes. Mais uma vez, Angeline foi incapaz de ver Belgrieve. Mas, com certeza, seu pai não teria ficado satisfeito se soubesse que Angeline havia abandonado Seren para encontrá-lo.

Quando olhou para baixo, viu que Seren estava chorando. A garota corajosa que reprimiu suas emoções agora estava com os olhos lacrimejando. Angeline suspirou, no entanto não sentiu que essa fosse à escolha errada.

Sinto muito, pai. Terá que ser outra hora. Mas voltarei para casa algum dia. A carruagem desceu serpenteando o caminho da montanha.

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