domingo, 24 de outubro de 2021

Boukensha ni Naritai to Miyako ni Deteitta Musume ga S Rank ni Natteta — Volume 01 — Capítulo 07

Capítulo 07: Turnera Estava Ocupada se Preparando para o Inverno


Turnera estava ocupada se preparando para o inverno. Estava quase na hora de colher as castanhas, nozes, caquis, maçãs e peras plantadas na cidade, e essa safra fresca seria tomada com moderação. A maioria seria seca ou cozida em conservas, e as maçãs seriam transformadas em cidra dura¹. Também era hora de colher o trigo plantado na primavera. As amoras e uvas colhidas sob a supervisão de Belgrieve foram secas e armazenadas.

Um punhado de ovelhas e cabras idosas foi abatido e processado em carnes salgadas e secas. Os peixes do rio foram secos e defumados da mesma forma. Batatas foram desenterradas e armazenadas. Os feijões foram colhidos e secos. Os campos foram arados para as sementes de trigo que seriam semeadas no outono. A lenha foi recolhida e distribuída em cada casa. A grama foi seca e transformou-se em feno para as ovelhas passarem o inverno.

Quando a maior parte do trabalho pesado estava fora do caminho, a vila realizava um festival de outono em frente à igreja. Aqui, eles iriam oferecer sua alegria, gratidão e desejos de sobreviver ao inverno em paz para a Toda Poderosa Viena lá em cima. Também se acreditava que o inverno era quando os espíritos ancestrais voltariam para casa e precisavam de uma recepção calorosa.

“Ah! Um pouco mais abaixo, você acertará a porta! Não, assim não! Faça um ângulo assim e vai acertar os lados em seguida! Argh! Tome cuidado!” Maurice, o padre, gritou.

A estátua de Viena foi carregada do altar para a praça da cidade. A estátua de pedra da deusa era grande e pesada e foram necessários vários homens para movê-la. Porém as portas da igreja eram estreitas e era um teste anual tirá-la sem bater em nada. Era difícil danificar a estátua de pedra, mas a moldura da porta de madeira ocasionalmente entortava e quebrava.

A igreja acabara de ser reformada e Maurice estava ainda mais tenso do que o normal. Seu grito histérico surgia cada vez que a estátua era levantada ou abaixada, e os moradores que assistiam caíam na gargalhada. Belgrieve também estava lá, observando com um sorriso. Apenas alguns anos antes — quando estava na casa dos trinta — ele ajudaria a carregar a estátua, contudo agora isso era um trabalho para a geração mais jovem.

Belgrieve era visto como um dos antigos pilares da comunidade. Apesar do trabalho árduo que fez por sua própria vontade, ninguém iria pedir-lhe mais para fazer trabalho físico. Os jovens de sangue quente precisavam de um lugar para mostrar sua força e, se a geração mais velha não desse um passo para trás, os jovens nunca seriam capazes de herdar seus papéis. No final das contas, o sistema de aldeia teria suas dificuldades.

Mesmo assim, Belgrieve ainda se via frequentemente trabalhando com os jovens.

Apesar de bater na porta várias vezes, a estátua por fim foi espremida. Seu acabamento branco leitoso refletia o sol de outono — Maurice o polia todos os dias sem falta.

“É aquela época do ano de novo, Kerry.”

“Sim, vem mais rápido a cada ano! Estamos bem abastecidos desta vez. Um grande problema a menos fora da minha mente — podemos aproveitar o inverno em vez de temer e nos preocupar com ele, hahaha!” o intestino amplamente protuberante de Kerry tremeu enquanto ria.

O inverno era uma época perigosa para os nortistas. Durante a metade da temporada, uma espessa camada de nuvens cobriria os céus. Os ventos estavam frios e, se nevasse, seria difícil apenas se aventurar lá fora. No entanto, pode ser uma temporada divertida com preparação suficiente.

Era uma época para ficar à vontade com os familiares que, de outra forma, estariam muito ocupados com o trabalho e, em dias claros, as estrelas eram mais bonitas do que no verão. Quando a neve caia, as crianças brincavam, embora vestidas com roupas leves demais. Mas para que tudo isso fosse possível, o outono teria que ser dedicado ao inverno. Não apenas o outono — não era exagero dizer que todo o ano foi gasto nos preparando para o inverno.

Um grande homem com aparência de urso se aproximou. Sua face tinha rugas profundas no rosto e seu cabelo estava salpicado de uma boa quantidade de branco. Assistindo aos acontecimentos na praça, o homem caiu na gargalhada. “Está tudo indo bem?” perguntou.

“Oh, chefe. Posso ajudar em alguma coisa?”

A sugestão de Belgrieve fez Hoffman, o chefe da vila, rir ainda mais.

“Gahahaha! Acalme-se, Bell! Você está na idade de relaxar e assistir os jovens fazerem suas coisas! Como vão crescer se pegar o trabalho deles?”

“Entendo o que está dizendo, mas... Não tenho nada melhor para fazer.”

“Pare de correr na sua idade! Se tem tempo livre, que tal se divertir!” Hoffman riu e deu um tapinha nas costas de Belgrieve.

Belgrieve despenteava a barba com um sorriso irônico. De fato era infantil ficar inquieto só porque não tinha nada para fazer.

Hoffman era filho do chefe anterior, que falecera dois anos antes, e era oito anos mais velho que Belgrieve. Já tinha quase cinquenta anos, porém não demonstrava; com seu corpo abençoado e natureza franca e aberta, Hoffman era muito querido pelos aldeões. Quando Belgrieve voltou pela primeira vez, os únicos que o trataram normalmente e sem desprezo foram Kerry e Hoffman, então Belgrieve era grato a ele também.

“Oi, Kerry. Uma caravana está aqui. Para onde devo mandá-los?”

“Vieram cedo este ano. A praça ainda está uma bagunça — poderia dizê-los para esperar para que possamos abrir algum espaço?”

Comerciantes, mascates e ciganos viajantes se reuniam no dia do festival de outono de Turnera. Eles gostavam do ar festivo, por exemplo, e Turnera tinha a fama de ter excelentes produtos, então trariam vários produtos para trocar por alimentos em conserva. Todos os aldeões ansiavam quando os mascates contassem suas viagens e os ciganos dançassem e cantassem lendas.

Hoffman dirigiu-se à entrada da vila enquanto Kerry começou a orientar os jovens na praça para abrirem espaço para uma barraca.

A estátua de Viena saiu com segurança, de uma forma ou de outra, e foi colocada em uma plataforma robusta onde as crianças a decoraram com flores e oferendas de frutas e carneiro. Os preparativos para o festival estavam aos poucos terminando.

Sem nada para fazer, Belgrieve decidiu patrulhar a vila — embora fosse apenas uma desculpa para esticar as pernas. Só porque estava acontecendo um festival, não queria dizer que não haveria monstros ou feras à espreita. No entanto, depois de derrotar o caçador gélido, a área estava tão pacífica quanto poderia estar. Portanto, sua patrulha não exigia mais do que a vigilância usual.

Todavia, Belgrieve permaneceu vigilante enquanto completava suas rondas. Quando voltou à praça, a caravana de mercadores já estava lá descarregando seus carroções e montando suas baias. Os apressados ​​já estavam divulgando seus produtos aos vilarejos. Os ciganos e menestréis dedilhavam os instrumentos para matar o tempo, enquanto as crianças olhavam para as armadilhas raras e estrangeiras com olhos brilhantes.

Eles ainda estavam na fase preparatória, contudo a aldeia já estava repleta de um clima festivo. Não importa quantos anos eu envelheço, não posso deixar de adorar esse tipo de coisa, Belgrieve pensou consigo mesmo com um sorriso.

Ele conversou com os comerciantes mais próximos, oferecendo-lhes amoras e uvas. Os mascates viajavam muito e seus ouvidos eram sensíveis às façanhas dos aventureiros — talvez um deles soubesse algo sobre Angeline.

“Oh sim, a Valquíria de Cabelos Negros!” disse um mascate idoso com uma bufada de seu cachimbo de tabaco. “Ela é como uma divindade guardiã na região de Orphen. Graças ao seu trabalho, sinto uma sensação de alívio sempre que estou na área.”

“É muito raro ver uma equipe de três meninas. Ouvi dizer que elas não são apenas renomadas em Orphen — são fortes o suficiente para competir pelo primeiro lugar no ducado.”

“Não apenas o ducado também. Ouvi rumores sobre as garotas tão distantes quanto a capital imperial.”

Turnera, Orphen e Bordeaux eram quase todos pequenas partes do Ducado de Estogal. O território do ducado era vasto e, portanto, dividido em vários territórios, cada um governado por um senhor territorial como o conde de Bordeaux. Seu principal território era Estogal, que ficava mais ao sul do que Orphen. O Ducado de Estogal também era apenas uma parte do Império Rodesiano que ocupava as regiões noroeste do continente.

Belgrieve ficou satisfeito ao saber da boa reputação de sua filha. Os aventureiros costumavam ser do tipo errante e rude. Eles passaram cada dia enfrentando a morte e tendiam a priorizar seus próprios interesses. Pequenas coisas se somavam, e não havia escassez de aventureiros que eram vistos como pouco mais do que bandidos. Talvez isso não fosse um problema para uma Rank S, entretanto não podia deixar de se preocupar com a reputação de sua filha.

Ele nunca mencionou o fato de que Angeline era sua filha, no entanto. O caos que Sasha levantou ainda permanecia em sua mente, e não queria que esses vendedores o vissem de uma maneira diferente. Belgrieve pousou os olhos na praça e bebia seu vinho quando uma mascate de cabelos azuis veio em sua direção apressada.

“Hmm, olá.” ela disse.

“Hmm? Ah, olá. Precisa de algo?”

“Peço desculpas por escutar, mas você é talvez o Ogro Vermelho Belgrieve?”

A boca de Belgrieve se abriu inexpressivamente. Essa coisa do Ogro Vermelho de novo...

“Sim, bem, eu sou o Belgrieve...”

O rosto da mascate se iluminou. “Sabia! O vi falando sobre a Srta. Angeline, e com aquele cabelo ruivo esplêndido, apenas adivinhei! Verdade seja dita, estava prestes a ser atacada por bandidos, e sua filha lutou contra eles!”

Oh sério? Não esperava que o nome dela aparecesse assim, Belgrieve pensou. Quando estava prestes a pedir detalhes à área ao redor da entrada da vila de repente ficou turbulenta. Ele podia ouvir o barulho da armadura de metal, e aquele som foi direto para a praça.

Belgrieve olhou para ver homens em pares de armaduras leves se aproximando enquanto guardavam uma carruagem de dois cavalos. Os reunidos na praça trocaram olhares confusos.

“Oi, esse é o brasão da família Bordeaux, não é?”

“O que o senhor quer aqui?”

Belgrieve sentiu que algo terrível estava se formando enquanto observava a carruagem parar. De dentro saiu uma mulher que não devia ter muito mais que vinte anos. Ela usava um vestido leve verde-menta sem ornamentos, provavelmente feito para viagens. Seu cabelo loiro platinado tinha sido trançado e amarrado atrás de sua cabeça, e suas feições eram refinadas. Sua impressão era um pouco inflexível, contudo os olhos eram gentis e calmos. Belgrieve teve a sensação de que já a tinha visto em algum lugar antes.

“Se ela for da Casa Bordeaux...” a má premonição de Belgrieve se transformou em uma dor de cabeça latejante enquanto a mulher olhava em volta inquieta.

Sua postura parecia um pouco estranha e tímida enquanto a mulher proclamava em uma voz clara: “Sinto muito por assustá-los. Estou procurando por alguém.”

Os olhares foram trocados entre a assembleia como se estivessem perguntando: Quem poderia ser? Hoffman se apressou e baixou a cabeça.

“Eu sou Hoffman, o chefe desta aldeia... Presumo que você veio da Casa Bordeaux.”

“Oh, perdoe minha apresentação tardia. Meu nome é Helvetica Bordeaux. Meu pai faleceu recentemente, então no atual momento sou a condessa de Bordeaux.”

Hoffman rapidamente caiu de joelhos. “Eu não sabia que você era a nova senhoria...”

Helvetica freneticamente o puxou de pé. “Oh não, não precisa ser tão formal. Não gosto de exibir minha autoridade.” disse a mulher com um sorriso suave e amigável. No entanto, por mais amigável que fosse, seu comportamento era refinado e tinha um ar que deixava claro que ninguém teria permissão para se aproximar com tanta facilidade. Entendo, ela tem as qualidades de um lorde, pensou Belgrieve.

Hoffman olhou-a com humildade e então abriu a boca um pouco nervoso. “É uma honra ter a condessa visitando nosso humilde vilarejo... Não estamos abrigando nenhum criminoso.”

A mulher pareceu atordoada por um momento, embora logo em seguida se transformasse em uma risadinha.

“Oh não, não há necessidade de se preocupar com isso. Não vim aqui para perseguir um criminoso. Estou aqui para encontrar o Ogro Vermelho Belgrieve.”

“Hã? Bell?” os olhos dos moradores se concentraram em Belgrieve.

O Ogro Vermelho de novo, pensou ele, tentando fazer-se parecer menor de forma desajeitada. A mascate de cabelos azuis estava fazendo uma cara de espanto.

Com seus olhares como um guia, Helvetica galantemente fez seu caminho para Belgrieve, pegando sua mão com olhos brilhantes.

“Você deve ser Belgrieve.”

“Sou eu.” respondeu após uma pausa.

“Sua filha salvou minha irmã mais nova. Estendo a ti minha gratidão.”

“Sim, bem, obrigado por isso...” Belgrieve se resignou, dando uma risada perturbada. Ele não sabia se era por causa de seu nervosismo, mas podia sentir sua dor fantasma voltando.

Helvetica apenas sorriu.

As três irmãs Bordeaux eram famosas por aqui. Seren, a caçula, já começara a mostrar talento nos assuntos domésticos aos quinze anos. A valorosa segunda filha, Sasha, era excelente em artes marciais e não havia dúvida de que chegaria ao Rank S um dia.

Então, havia Helvetica. Perfeita tanto com a pena quanto com a espada, era uma mulher carismática que, segundo os rumores, um dia receberia o território, em vez de ter de se casar e transferir o poder para o marido. Esta previsão, ao que parece, se tornou realidade, enquanto ela reinava como a atual condessa.

Aquela mesma Helvetica estava segurando sua mão, apenas sorrindo, e havia pouco que pudesse fazer exceto sorrir amargamente com esse fato. No entanto, por trás do sorriso amigável de Helvetica, Belgrieve sentiu uma nitidez, como uma besta olhando sua presa. Helvetica não tinha vindo apenas para agradecer.

Olhando para Belgrieve da cabeça aos pés, a jovem mulher riu. “Você está muito bem treinado. Ouvi falar de sua habilidade com a espada.”

“Não... Está me tendo em alta consideração...”

Belgrieve se sentia como se estivesse sendo dominado por uma mulher mais baixa do que ele. Foi um tanto impressionante, e o mesmo se perguntou se aqueles de grande talento poderiam consumir alguém totalmente só ficando cara a cara.

Os olhos de Helvetica se estreitaram. “Vim hoje com um pedido.”

“Entendo.”

“Deixe-me ir direto ao ponto. Belgrieve, por favor, sirva na Casa Bordeaux.”

Então chegou a este ponto. Belgrieve se sentiu exausto. É provável que Sasha espalhou a notícia de sua derrota com todos os tipos de exagero. Belgrieve nunca pensou que a senhoria viria a ele em pessoa, no entanto. Em qualquer caso, Belgrieve não tinha interesse em aceitar — estava muito além da sua pessoa. Ele balançou sua cabeça.

“Minhas desculpas, contudo não tenho intenção de deixar Turnera. Já estou com quarenta e dois anos e meu corpo fica mais fraco a cada dia. Não acho que posso ser de utilidade agora.”

“O que está dizendo? Apesar de sua aparência, a espada de Sasha é incomparável na região de Bordeaux. É claro que gostaria de conseguir a força que a subjugou com tanta facilidade.”

Não foi bem fácil, mas esse não era o problema.

“Talvez por já ter sido um aventureiro, não suporto a ideia de servir sob o comando de alguém. Estou honrado de verdade por ter tirado um tempo do seu dia para me ver, porém devo recusar.”

“Por favor?”

“Não...?”

“Pode definir seus próprios termos.”

“Mesmo que o diga...”

“Estou te implorando, torne-se meu.”

“Peço desculpas...”

No final das idas e vindas, Helvetica franziu a testa carrancuda. “Vejo que é tão teimoso quanto forte.”

“Nasci assim, lamento admitir.”

Helvetica sorriu. Parecia que por fim havia desistido, e Belgrieve deu um suspiro de alívio.

“Então terei que trazê-lo de volta à força.”

“Hã?” Belgrieve proferiu após uma batida.

“Rapazes! Vão em frente!”

Por ordem da Helvetica, o grupo de homens com armaduras leves cercou Belgrieve. Os homens eram seus guarda-costas, evidentemente. Parecia que apenas pretendiam capturá-lo, então não sacaram suas armas.

Os que assistiam à cena mantiveram distância, assustados.

Belgrieve se afastou por um momento, mas quanto mais os guardas se aproximavam, mais sentia uma estranha sensação de diversão até que no fim caiu na gargalhada. Os guardas ficaram surpresos, naturalmente, assim como os que assistiam, e até mesmo a própria senhorita Helvetica.

Ela é uma criança. Não importa o quão celebrizada esta nova senhoria seja, ainda é uma garota de vinte anos. Nesse caso, Belgrieve apenas tinha que ser o adulto, e o mesmo adorava brincar com as brincadeiras das crianças.

Esquivando habilmente de um guarda que saltou sobre ele — o guarda resmungou ao colidir com seus camaradas.

Belgrieve recuperou rápido seu equilíbrio e assumiu sua postura. “Ainda na minha idade” meditou. Belgrieve se esquivou, defendeu e jogou em volta os guardas que vinham em sua direção, um após o outro, seus movimentos tão inimaginavelmente suaves para alguém com uma perna protética. Nenhum dos guardas estava tentando matar, tornando-os fáceis de lidar.

Quando uma hora se passou, os guardas estavam todos imóveis, exaustos por completo. Helvetica ficou parada parecendo maravilhada com a boca entreaberta, como se não pudesse acreditar no que acabara de testemunhar.

Belgrieve encarou-a, acalmando sua respiração um tanto irregular. “Em qualquer caso, recusarei sua oferta.”

“Parece que essa foi minha completa derrota...” Helvetica balançou a cabeça.

Parecia que iria desistir desta vez. Belgrieve sentiu a força se esvaindo, apenas para sentir algo macio contra seu braço no instante seguinte. Ele pareceu surpreso ao ver Helvetica agarrando-o.

“Assim não me resta outra opção... Se não vai ser meu, só tenho que ser sua!”

“Hã?”

“Espero que você me aceite, inexperiente como sou...”

As bochechas de Helvetica estavam vermelhas. Ela tinha força em seu aperto, e a sensação de seu peito volumoso através de seu vestido era terrivelmente suave. A mente de Belgrieve parou com esse desenvolvimento inesperado. Seus olhos dispararam ao redor enquanto a multidão explodia.

“Eh? Eh? O Sr. Bell está se casando na Casa de Bordeaux?”

“Seu cachorro astuto! Casar com dinheiro, hein?”

“Errado, a senhoria está se casando na casa de Bell!”

“Hey, este festival está se transformando em um casamento!”

“Isso me surpreendeu!”

“Vamos deixar a cerveja fluir!”

“Onde está Maurice? Precisamos de um padre!”

Logo depois, o som de cascos anunciou a intrusão de vários outros cavaleiros. Os espectadores se espalharam para abrir caminho. Um dos cavaleiros, uma garota de óculos, saltou impetuosamente bem na frente de Belgrieve. Era ninguém menos que Seren Bordeaux, terceira filha da Casa Bordeaux.

“Irmã! O que está fazendo aqui?”


Seren se aproximou de Helvetica, raiva em seus olhos. Helvetica piscou e deu um sorriso preocupado.

“Bem, você sabe, Seren... Vim para recrutar Belgrieve.”

“Você ia arrastá-lo de volta à força, não ia?”

Acertou em cheio. Helvetica riu sem jeito, abraçando Belgrieve com mais força para jogar. Ao ver isso, Seren fez beicinho com raiva, agarrou Helvetica pela nuca e puxou-a para longe de Belgrieve.

“Tranquem-na na carruagem!”

“Sim, senhora!”

Os guardas de Seren prontamente empurraram Helvetica para dentro de sua carruagem. Era difícil dizer quem era de fato a irmã mais velha aqui. Seren se voltou para Belgrieve e abaixou a cabeça. “Me desculpe por todos os problemas... Você seria Belgrieve, não é?”

“Sou.” voltando por fim aos seus sentidos, Belgrieve notou sua cabeça baixa e retornou o gesto apressado.

“Sou Seren Bordeaux. Sua filha, Angeline, salvou minha vida e permitiu que eu visse meu pai antes que este falecesse. Palavras não são suficientes para expressar minha gratidão. E ainda... Minha irmã tem sido tão rude.” Seren disse se desculpando com uma sobrancelha franzida.

“Oh, não me importo...”

“Muito obrigado... Minha irmã no geral é uma pessoa respeitável, mas tem um pouco de obsessão por pessoas capazes. Sempre que fica sabendo de um grande talento que ainda não foi contratado, ela foge sem pensar...”

É como uma criança querendo um brinquedo. Belgrieve deu um sorriso amargo.

“E, graças a isso, o território está se desenvolvendo esplendidamente, porém acabou arrastando as pessoas de volta a força mais do que um punhado de vezes.” Seren continuou. “Helvética! Está refletindo sobre suas ações?”

“Estou refletindo, Seren! Me deixe sair!”

“Não na minha vida! Desta vez, não vou te perdoar até que tenha te arrastado para casa! Por Viena, o pai da minha salvadora... Minha nossa!”

Depois de dar ordens rapidamente, Seren logo estaria a caminho. Belgrieve hesitou por um momento antes de conferenciar com Hoffman. Então chamou Seren, que havia montado em seu cavalo.

“Se voltarem agora, terão que acampar ao longo do caminho.”

“Sim, porém não há muito que possamos fazer a respeito. Nós é que invadimos.”

“Haverá um festival de outono esta noite. Gostariam de se juntar a nós?”

Seren tocou os óculos surpresa. “Sério? No entanto...”

“Ganharíamos um pouco de prestígio se a condessa participasse. Certo, chefe?”

Com a conversa voltada para ele, Hoffman respondeu um tanto estridente: “Isso mesmo, isso mesmo! Pode achar que é um pouco ruim, mas vá em frente e junte-se a nós!”

“Você é o pior aqui, chefe.” alguém gritou da galeria de amendoim, provocando risos.

“Cale-se!” Hoffman gritou de volta. “Agh! Minhas desculpas...” o homem se encolheu e se escondeu atrás de Belgrieve. Seren deu uma risadinha e desceu do cavalo.

“Então, talvez aceite essa oferta.”

“Eu tenho uma condição. Por favor, deixe Helvetica descer da carruagem.”

Os olhos de Seren se arregalaram, contudo logo balançou a cabeça, deu de ombros e gesticulou para a carruagem. A porta se abriu e Helvetica saiu correndo, extasiada com sua grande fuga.

“Belgrieve, oh senhor Belgrieve! Obrigado por me salvar!”

“Haha, está dando tanta importância demais a isso...”

“Que benevolente... A Casa Bordeaux poderia usar alguém de sua...”

“Irmã!”

“E-Estou... Estou apenas brincando...”

“Pelo amor... Da próxima vez, vou trancá-la de verdade na carruagem!” Seren levou o cavalo para longe, com as bochechas inchadas de raiva.

Helvetica sussurrou no ouvido de Belgrieve: “Ela geralmente é uma garota muito gentil, sabe.”

Belgrieve riu. Sob um céu estrelado, as adoráveis irmãs da Casa Bordeaux juntaram-se às festividades, e não havia como o festival de outono não ficar turbulento depois disso.

O inverno se aproximava rapidamente.


Notas:
1. Cidra dura é uma bebida alcoólica feita normalmente de maça, mas também pode ser feita de peras e marmelos. É bastante popular no Reino Unido e Irlanda. Às vezes é apenas referida como cidra, porém não deve ser confundida com os sucos não alcoólicos feitos na América e vendidos como cidra de maça e pera.

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