sexta-feira, 1 de outubro de 2021

Monogatari Series — Volume 01 — Capítulo 07

Capítulo 07: Hitagi Crab 007


A linha do tempo.

Eu havia interpretado mal a linha do tempo.

Tinha certeza que Senjougahara ao encontrar o caranguejo e perder seu peso tinha acabado com sua mãe, que então foi enganada pela seita dos avarentos — mas me disseram que, na realidade, sua mãe tinha sido enganada muito antes de Senjougahara encontrar o caranguejo e perdeu seu peso.

Deveria ter sido capaz de perceber pensando um pouco.

Ao contrário das ferramentas de papelaria, como cortadores de caixa e grampeadores, chuteiras não são algo que você apenas estende a mão e encontra nas proximidades. Essa palavra que surgiu deveria ter me avisado naquele momento que Senjougahara estava na equipe de atletismo na época — que estava no ensino fundamental. De jeito nenhum poderia estar no colegial, quando até mesmo as aulas de ginástica eram proibidas e ela não pertencia a nenhum clube.

Ao que parece, o ponto exato em que sua mãe foi levada pela religião — começou a acreditar nela — foi quando Senjougahara estava na quinta série. De volta à escola primária, antes mesmo de Hanekawa conhecê-la.

E de acordo com Senjougahara.

Naquela época — era uma garota que sempre estava doente.

Não como seu posicionamento, se não como uma questão de fato.

Então, a certa altura, Senjougahara foi acometida por uma doença terrível da qual todos já ouviram falar. Sua condição era tal que tinha apenas uma chance em dez de sobreviver e os médicos realmente queriam jogar a toalha.

Foi quando—

A mãe de Senjougahara começou a procurar consolo.

Ou melhor, foi quando se aproveitaram de seu momento.

É provável que não tenha relação alguma com isso — embora “Ninguém possa saber com certeza se não tem ou não relação,” Oshino opinou — Senjougahara passou por uma grande cirurgia e conseguiu ser aquele um em dez. A tênue cicatriz da cirurgia que supostamente permanecia em suas costas era outra coisa que poderia ter notado, se tivesse observado seu corpo nu em detalhes em sua casa, porém exigi-lo de mim seria quase cruel.

Admito que acusá-la de apenas tentar exibir seu corpo quando começou a se vestir de cima para baixo, me encarando de frente, foi de fato cruel.

Alguma opinião, pelo menos, ela disse.

Em qualquer caso, graças à recuperação de Senjougahara, sua mãe — ficou mais absorta com os ensinamentos da religião.

Por causa de sua piedade — sua filha foi salva.

Sua mãe caiu em uma armadilha clássica.

É o que podemos chamar de um caso sintomático.

Ainda assim, a própria casa — persistiu de alguma forma. Não tenho como saber que tipo de credo de grupo era esse, contudo não sangrar seus crentes até o fim — tinha que ser sua política básica, pelo menos. A ampla renda do pai de Senjougahara e sua família sendo rica certamente ajudaram — no entanto com o passar dos anos, a piedade de sua mãe, sua absorção, só pioraram em grau.

A casa estava apenas persistindo.

O relacionamento de Senjougahara com sua mãe começou a azedar.

Foi uma coisa durante o tempo em que ela se formou na primária — mas depois que começou a secundária, elas mal se falavam. Olhando para trás, com isso em mente, o que aprendi com Hanekawa sobre a personalidade de Senjougahara na secundária, entendo o quão distorcido era.

De fato, era como — uma tentativa de vindicação.

Super humano.

Na secundária, Senjougahara era quase sobre-humana.

E — talvez fosse para garantir a sua mãe: posso fazer isso, não precisamos de nenhuma religião.

Por mais que seu relacionamento tenha azedado.

É provável que Senjougahara nunca foi uma garota ativa, no fundo.

Se sempre esteve doente na primária, reforçava a ideia ainda mais.

Ela deve ter forçado.

Contudo é provável que tenha sido contraproducente.

Um círculo vicioso.

Quanto melhor Senjougahara se saía, e quanto mais exemplar se tornava — mais sua mãe deve ter agradecido os ensinamentos da religião. O círculo vicioso contraproducente começou — Seu terceiro ano da secundária.

Aconteceu quando a formatura estava chegando.

Tendo se unido originalmente por causa de sua filha, em algum lugar ao longo do caminho a lógica da mãe de Senjougahara mudou ao ponto de que estava oferecendo sua filha a um dos membros executivos do culto. Não, talvez isso também fosse pelo bem de sua filha — o pensamento é demais para suportar.

Senjougahara resistiu.

Com suas chuteiras, feriu o líder ao ponto de sangrar pela testa.

Como resultado─

Sua família se desfez.

Estava em ruínas.

Roubado no atacado.

Perdendo tudo o que possuíam, sua casa, suas terras — e até mesmo assumindo dívidas.

Estavam quase secos por completo.

Embora o divórcio só tenha sido finalizado no ano passado de acordo com Senjougahara, e deve ter sido como uma estudante do ensino médio que ela começou a morar nos Apartamentos Tamikura, tudo já estava acabado quando estava no ensino médio.

Tudo acabou.

Foi por isso.

Foi por isso que Senjougahara — durante aquele meio período entre o ensino médio e o ensino fundamental — o encontrou.

Um caranguejo.

“Sabe, Araragi. O omoshi-kani é um omoishi-gami ,” disse Oshino. “Você entende? Omoishi como em ‘pensar’, e omoi e shigami como em ‘pensamentos’ e ‘apego’ — tem a ver com laços inextricáveis, shigarami. Interpretar dessa forma não explica porque ser privado de peso também priva as pessoas de suas presenças? Pessoas selando uma memória quando passaram por coisas demais é comum em dramas e filmes. Se quiser uma analogia, é essa. É um deus que carrega os pensamentos das pessoas em nosso lugar.”

Em outras palavras, quando encontrou o caranguejo...

Senjougahara ─ deixou de lado sua mãe.

Ela ofereceu Senjougahara ao líder como um sacrifício e nem mesmo tentou salvar sua filha, fazendo com que sua família desmoronasse, exceto talvez se tivesse acontecido de a filha não resistir no momento ─ Senjougahara se atormentou. Então desistiu.

Parou de pensar nisso.

Livrou-se desse peso.

Livremente, sozinha.

Ela tinha — trapaceado.

Havia buscado — consolo.

“É uma troca. Um comércio, troca equivalente. Os caranguejos usam armaduras e parecem duráveis, não é? Essa é provavelmente a ideia aqui. Colocar uma concha em volta do seu exterior. Preservar o que é querido, envolvendo-o com um exoesqueleto. O tempo todo borbulhando espuma que desaparece em seguida. Eu não os terei.”

Oshino não estava brincando sobre não gostar de caranguejo.

Embora parecesse irreverente, Oshino era na verdade — um pouco desastrado.

“O caractere de ‘caranguejo’ é composto por ‘resolver’ e ‘inseto’, não é? É uma criatura que quebra as coisas. Organismos que cruzam as bordas da água tendem a cair nessa rubrica. Além do mais, esses caras estão — equipados com tesouras, dois pares.”

Como resultado.

Senjougahara foi privada de seu peso — perdendo-o, perdendo seus pensamentos, sendo liberada de seu sofrimento. Livre de tormento — foi capaz de desistir de tudo.

E quando o fez?

Ela disse que as coisas ficaram — muito mais fáceis.

Esse era o seu sentimento sincero.

Por si só, ser privada de seu peso não era um grande problema para Senjougahara. No entanto — mesmo assim, como o rapaz que vendeu sua sombra por dez moedas de ouro, não houve um dia em que isso, as coisas sendo mais fáceis, não a roesse.

Porém não por causa de qualquer discórdia com os outros.

Não por causa de qualquer inconveniente em continuar com sua vida.

Não porque não podia fazer amigos.

Não porque perdeu tudo.

Simplesmente porque — seus pensamentos, seu fardo, se perderam.

As cinco fraudes.

Nenhum deles parece ter nada a ver com a religião de sua mãe — mas mesmo como Senjougahara que só confia as meias no grupo, Oshino incluído, ela lhes empresta quase a metade de sua confiança — e você pode dizer, que, aí, é sua expressão de arrependimento. Sem mencionar visitar o hospital por puro hábito—

Não há nada a fazer.

Eu entendi tudo errado, do início ao fim.

Todo esse tempo depois de ser privada de seu peso, Senjougahara─

Não se resignou.

Não desistiu de nada.

“Não é necessariamente ruim, sabe,” argumentou Oshino. “Enfrentar uma experiência dolorosa não é obrigatório. Não é que você seja incrível só porque o fez. Se não quiser, não há problema em fugir. Mesmo que seja abandonando sua filha ou se refugiando em uma religião, a escolha é sua. Especialmente neste caso, recuperar seu pensamento e fardo neste estágio final não adianta nada, certo? Mocinha, que parou de se sentir atormentada, se atormentará uma vez mais, mas isso não trará sua mãe de volta ou restaurará sua família destruída.”

Não fará nada.

Oshino não parecia pretender que fosse uma ridicularização nem sarcasmo.

“O omoshi-kani rouba seu peso, seu pensamento, sua presença. Porém não é como nossa pequena vampira Shinobu ou aquela gata luxuriosa. A mocinha o esperava, assim que de fato o dispensou. Uma troca — o deus sempre esteve lá. A mocinha na verdade não tinha perdido nada. Apesar disso...”

Apesar disso.

Independentemente.

Por causa disso.

Hitagi Senjougahara ─ queria que ele devolvesse.

Queria que fosse devolvido.

O pensamento sobre sua mãe, depois do fato.

A memória e o tormento.

Não sei o que significa, e duvido que algum dia saberei, e assim como Oshino apontou, não é nem aqui nem lá e não trará sua mãe ou sua família de volta, e só deixará Senjougahara em pensamentos atormentados, mas─

Não é como se alguma coisa fosse mudar, mas—

“Não é como se nada fosse mudar,” disse Senjougahara no final.

Para mim, seus olhos estavam vermelhos e inchados de tanto chorar.

“E isso definitivamente não foi inútil. Porque eu fiz um muito querido amigo, pelo menos.”

“Quem seria?”

“Estou falando de você.”

Por reflexo me fiz de bobo, porém a resposta de Senjougahara não foi tímida nem indireta, mas direta — e orgulhosa.

“Obrigado, Araragi. Estou muito grata pelo que fez. Peço desculpas por tudo até agora. Espero que você não ache ousadia da minha parte, contudo ficaria muito feliz se pudéssemos continuar a ser amigos.”

Quão descuidado da minha parte—

Este ataque surpresa de Senjougahara penetrou fundo no meu coração, profundamente.

Nossa promessa de comer caranguejos, entretanto?

Vai ter que esperar até o inverno.

Nenhum comentário:

Postar um comentário