terça-feira, 5 de outubro de 2021

Monogatari Series — Volume 01 — Capítulo 09

Capítulo 09: Mayoi Snail 001




Encontrei Hachikuji Mayoi em 14 de maio, um domingo. Este dia foi o Dia das Mães em todo o Japão. Quer você ame sua mãe ou não, quer se dê bem com sua mãe ou não, o dia é o Dia das Mães para todos os japoneses. Quero dizer que o Dia das Mães se originou na América. Nesse sentido, pode ser melhor considerá-lo uma espécie de evento, como o Japão faz no Natal, Halloween, Dia dos Namorados e assim por diante. Contudo, em qualquer caso, de todos os trezentos e sessenta e cinco dias do ano, este dia, 14 de maio, foi aquele em que mais cravos foram vendidos do que qualquer outro, e quando os cupons que prometiam a entrega de massagens nas costas, tarefas domésticas, etc, estavam trocando de mãos em casas em todo o país. Bom, na verdade não sei se esse tipo de costume ainda está sendo observado, porém tenho certeza que 14 de maio é de fato o Dia das Mães este ano.

E foi naquele dia.

Naquele dia, às nove da manhã.

Estava sentado em um banco em um parque desconhecido. Estava olhando o céu como um idiota para um céu idiotamente azul, nada para fazer enquanto me sentava em um banco em um parque desconhecido. Não estava familiarizado com ele, nunca tinha ouvido falar. Mas era um parque.

Parque Namishiro, dizia uma placa na entrada.

Bem, talvez sim. Da forma como está escrito, mal tenho ideia de como deve ser lido, se esses caracteres dizem ‘Parque Namishiro’, ‘Parque Rohaku’ ou algo diferente. Talvez haja alguma razão por trás de seu nome, contudo é claro que não a conheço. Não é como se isso fosse qualquer tipo de problema, é claro. Não saber o nome do parque não me afeta em nada. Não vim ao parque com qualquer tipo de objetivo firme em mente, apenas estava andando de bicicleta em qualquer direção que meus sentimentos e pernas me levassem até que me encontrei chegando ao parque. Isso é tudo e nada mais.

Não fui visitar o parque, cheguei lá.

Embora, é claro, a diferença não fizesse sentido para ninguém além de mim.

Coloquei minha bicicleta no estacionamento perto da entrada.

Havia dois objetos no estacionamento que haviam sido tão abandonados e tão expostos ao ar livre que não dava para saber se eram bicicletas ou pedaços de ferrugem, e havia minha bicicleta. Fora isso, estava vazio por completo. Foi um daqueles momentos em que senti na verdade a futilidade de andar de bicicleta pelas ruas asfaltadas, porém também foi uma futilidade que sentia o tempo todo, estivesse fazendo algo assim ou não.

Era um parque bastante grande.

Embora diga isso, pode só parecer assim por causa de quão poucos objetos havia para brincar dentro. Parecia apenas aberto. Balanços em uma extremidade do parque e uma pequena caixa de areia, mas era tudo. Sem gangorra, sem trepa-trepa, nem mesmo um escorregador. Talvez os parques devessem ter inspirado no meu eu do último ano do ensino médio uma maior sensação de nostalgia, contudo não posso negar que estava sentindo o completo oposto desse sentimento.

Ou talvez seja assim que as coisas eram. Foi isso que você percebeu quando pensou em como as estruturas do parque eram perigosas e como manter as crianças seguras, e ficou assim depois que todos os brinquedos antigos foram removidos. Minha opinião sobre o lugar não teria mudado mesmo se fosse esse o caso, e pessoalmente acho que os balanços são os mais perigosos, contudo, deixando esse ponto de lado, parte de mim sentiu profundamente que milagre era eu estar ainda de corpo são.

Afinal, tinha feito muitas coisas imprudentes quando criança.

Não foi nostalgia que senti ao pensar essas coisas.

Então de novo.

Você poderia dizer que meu corpo não estava mais gozando de boa saúde desde cerca de um mês e meio antes de 14 de maio — no entanto acho que qualquer sentimento ferido em meu coração ainda não havia processado por completo o fato. Sendo honesto, não era o tipo de coisa que poderia resolver em alguns meses. Uma vida inteira pode não ser suficiente.

Porém pensei.

Mesmo sem as estruturas de brinquedos ausentes, o parque era um lugar muito solitário. Quero dizer, estava completamente sozinho ali. Apesar de ser um domingo, o melhor dos dias. A falta de coisas para brincar significava que o lugar parecia maior, então pegue uma bola e um taco e jogue beisebol, pensei. Ou talvez, me perguntei, os alunos do ensino fundamental de hoje em dia não optem mais pelo beisebol, se não pelo futebol, quando querem ir se divertir. É provável que joguem videogame o dia todo em casa — ou estavam ocupados indo para o cursinho? Ou isso, ou todas as crianças da região eram filhos e filhas fiéis que passavam o dia inteiro comemorando o Dia das Mães.

Contudo ainda assim, estar sozinho em um parque no domingo quase me fez sentir como se fosse a única pessoa que restou na Terra — bem, um tanto exagerado, porém senti que o parque me pertencia. Como se nunca tivesse que voltar para casa. Porque tudo era eu, estava sozinho... Ou não? Afinal, havia outra pessoa. Não estava sozinho. Um grande espaço aberto separava meu banco de alguém em uma placa de metal na beira do parque — uma aluna do ensino fundamental solitária que estava olhando para um mapa residencial da área. As costas da criança estavam voltadas para mim, então não tinha ideia de como ela era, mas a grande mochila que carregava era notável. Meu coração se aqueceu por um momento como se tivesse encontrado um novo amigo, entretanto a aluna do fundamental passou um tempo olhando para o mapa e depois saiu correndo, como se estivesse se lembrando de algo. E então fiquei sozinho.

Sozinho. De novo.

Pensei.

─Sabe, Koyomi.

Foi quando pensei aleatoriamente — nas palavras da minha irmãzinha para mim.

As palavras casuais que jogou nas minhas costas quando saí de casa na minha bicicleta.

─Sabe, Koyomi, é por isso─

Ah.

Maldita seja, pensei, quando mudei da minha posição anterior de olhar para o céu pela de olhar direto para o chão, com a cabeça nas mãos.

Senti uma onda de depressão passando por mim.

Estava bastante calmo enquanto olhava para o céu, mas agora, de todos os momentos, me encontrei odiando o quão mesquinho eu era. Suponho que o sentimento era o que chamaria de aversão a si mesmo — embora normalmente não fosse do tipo de ser incomodado por esse tipo de coisa, na verdade, era raro eu ter quaisquer pensamentos que descreveria como me incomodando. Em raras ocasiões, em dias de eventos como este, 14 de maio, cairia nesse requisito. Circunstâncias especiais, situações exclusivas. Eu era terrivelmente suscetível a estes. Eles me fizeram perder a compostura. Me deixaram inquieto.

Oh, não há nada melhor do que um dia de semana.

Já não pode ser amanhã?

E foi nesse estado estranho — que meu episódio envolvendo um caracol começou. Ou se olhar por outro lado, é provável que o episódio não tivesse nem começado se não estivesse em tal estado.

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