sábado, 1 de março de 2025

Slayers — Volume 05 — Capítulo 24

Capítulo 24: A besta prateada renascida

“Za...” ficamos mudos de novo. E-Ele acabou de dizer a armadura anti-magia de Zanaffar? “Ei, Zel! Não foi isso que você nos disse!”

“Como se eu fosse um especialista!”

Bem, justo. Mas se, como Duclis estava alegando, ‘Zanaffar’ era de fato uma armadura que poderia repelir ataques mágicos, então era uma ótima notícia para nós. Havia muitos truques para contornar a armadura. De qualquer forma, por enquanto, tínhamos que fazer o nosso melhor com a luta em questão! Se não pudéssemos derrotar Duclis, poderíamos pelo menos derrotar os outros homens-besta e sair dali. Claro, seria muito mais fácil se Xellos fizesse sua parte...

O que não quer dizer que ele não estivesse servindo a um propósito. Desde que a batalha começou, esteve gritando coisas como “Ops!” e “Quase me pegou!” e “Oh, você é tão forte!” enquanto desviava agilmente de cada golpe que seus oponentes tentavam desferi-lo. Tudo enquanto mantinha aquele sorriso alegre no rosto, o que deve estar irritando alguns dos seus adversários.

“Cale a boca! Pare de brincar!” e “Fique parado e deixe-nos matá-lo!” eles resmungavam enquanto tentavam cortar Xellos para dar vazão ao seu aborrecimento. Parecia haver mais de dez caras o atacando, o que significava que mantinha mais da metade dos nossos atacantes ocupados sozinho. Não era algo para se desprezar, é claro, contudo eu queria que levasse um pouco mais a sério. Ainda assim, não era como se pudesse gritar e dizer ‘Acabe com isso de uma vez, ok?’, já que não havia como prever o que faria depois. Até onde sei, poderia explodir a cidade junto com os homens-besta.

Ok, cara, continue se esquivando por mais um tempo... A facilidade com que evitava todos os ataques era sem dúvida impressionante. No entanto, não tive tempo para sentar e assistir Xellos dançar. Minha situação era melhor que a sua, entretanto estava lutando contra três inimigos juntos. E um dos três que que enfrentava agora era Duclis em sua armadura anti-magia...

“Hah!” um homem-besta com um rosto de inseto gritou enquanto balançava sua espada em minha direção.

“O quê?” exclamei, bloqueando sua espada com a minha.

Esses caras eram sem dúvida inferiores a Vedul em termos de esgrima... Cada um deles era talvez tão bom quanto eu em uma luta um contra um, porém esse cara de inseto se inclinou para mim com força quando travamos as espadas. Pretendia me abaixar e pular para trás, todavia toda vez que tentava, o maldito continuava me pressionando. E então...

Whoosh! Outra mão de repente se projetou do torso do homem-besta, segurando uma pequena lâmina!

“Ack!”

Chutei um pé em seu plexo solar e usei o recuo para saltar para longe. Enquanto o fazia, a faca fez um leve corte na minha perna direita. Não foi um ferimento mortal nem nada, mas com certeza doeu! Enquanto desviava de um golpe do outro homem-besta que atacava, comecei a entoar um feitiço.

“Não tão rápido!” gritou outro, me cortando.

Esses caras são tão irritantes! Me dá um tempo!

Enquanto resmungava comigo mesma... Ker-wham! Meu agressor bateu no chão com um baque satisfatório. Amelia! Ela o acertou na cabeça com um chute. Fiz um amigável sinal de positivo, então consegui lançar o feitiço no qual estava trabalhando...

“Vu Vrima!”

Vrumm! O chão tremeu, inchou e formou uma figura humanoide, um golem. O feitiço que lancei invoca espíritos da terra para moldar argila em um autômato bípede que serviria ao meu comando. Sua altura era cerca de duas vezes a altura dos homens-besta.

“Wugh!” eles engoliram em seco quando viram.

“Vai, vai, golem!” gritei.

“Krrsh...”

Com um som como o raspar de uma pedra, ele desceu um punho no inimigo mais próximo. Slam! Nem mesmo um homem-besta poderia sair incólume de um golpe como aquele! O pobre sujeito estava apagado no chão.

Um a menos!

“Hah! É bastante poderoso!” Duclis gritou, atacando o golem a toda velocidade.

“Pegue ele, golem!”

“Krrsh...” respondendo à minha ordem(?), o golem levantou o punho para Duclis.

“Contudo...” Duclis continuou. “É muito lento!”

Crash! Um golpe de seu machado de batalha destruiu meu lutador improvisado.

Caramba, quão forte esse cara é?

Zelgadis agora partia direto para Duclis. Falando sobre imprudência! No entanto em vez de atacá-lo, saltou para o lado, passou por Duclis e foi para o meio-demônio que estava posicionado atrás. A investida em Duclis foi apenas uma finta?

“Te vi chegando a léguas de distância!” o meio-demônio gritou com uma gargalhada enquanto balançava sua espada em Zel. Mas...

“Ra Tilt!” Zel gritou, engolfando o meio-demônio em chamas azuis. Seguindo correndo, avançou até o meio-demônio em colapso e o golpeou na parte de trás.

“Wuh!”

Essa finta dupla o pegou desavisado. Até havia conseguido desviar do primeiro golpe de Zelgadis, mas seu segundo golpe pegou em cheio.

Três abatidos!

Já tinha começado a entoar meu próximo feitiço quando o homem-inseto veio voando em minha direção mais uma vez. Esse cara maldito! Tornei a bloquear seu ataque com minha espada, integrando uma manobra de tropeçar no meu jogo de pés e rapidamente recuando para trás enquanto o homem-inseto tentava recuperar o equilíbrio.

Porém, antes que pudesse, Amelia acertou um Ra Tilt. Vwoosh! Isso fez com que diminuíssemos seus números em quatro, todavia alguns dos inimigos com os quais Xellos estava brincando enfim perceberam o quão ruim a luta estava indo. Eles agora vinham em nossa direção.

Ok, sim, vai complicar ainda mais. Enquanto isso...

“Whew!” Amelia desviou de um chute giratório de Duclis. Logo depois...

Crack! Ela voou para o chão.

Uma cauda?

No mesmo momento em que se esquivou do chute, uma cauda... Não sei se era de Duclis ou de ‘Zanaffar’, a atingiu bem no peito. Ela tentou se levantar no segundo seguinte, entretanto o golpe parece ter feito um estrago. Duclis ergueu seu machado de batalha bem alto enquanto Zelgadis se aproximava silenciosamente por trás.

“Heh!” Duclis zombou enquanto seu machado cortava um arco suave no ar.

Zing! Um forte som metálico soou... E a espada larga de Zel se partiu ao meio.

Porcaria. A maré parecia estar se voltando contra nós.

Talvez... Eu deva usar isso em Duclis enquanto está distraído?

O poder dos talismãs significava que estava ao meu alcance agora, contudo ainda vinha com uma série de problemas. Além do mais, não nos faria qualquer bem se eu não conseguisse acertar o golpe...

“Tch!”

Enquanto hesitava, Zel soltou um grito curto e saiu correndo em direção ao meio-demônio que havia derrotado com Ra Tilt antes. Imaginei que sua intenção fosse tomar sua arma, no entanto...

“Sem chance!”

Um homem-besta lupino saltou em seu caminho com um lampejo de sua lâmina. Zelgadis mal conseguiu bloqueá-lo com o que restava de sua espada larga quebrada. Amelia e eu queríamos ajudá-lo, no entanto nós duas estávamos ocupadas com outros adversários.

Pra piorar mais, Duclis estava atacando Zel por trás!

“Zel!”

Ele pareceu perceber que o ataque estava chegando, embora não conseguia sair do caminho. Isso é péssimo! O machado de batalha cortou o ar e...

Zing!

“Hã?”

Pela primeira vez, Duclis foi forçado a recuar. Seu machado de batalha agora estava bissectado logo abaixo da cabeça, reduzindo o cabo em suas mãos a nada mais do que um cajado.

“O quê...?” ele gritou surpreso quando o lobisomem com quem Zel estava se enredando caiu sem vida no chão, cortado em dois por um raio de luz.

“Você realmente demorou para chegar aqui, hein?” Zelgadis disse com um sorriso estranho.

“Gosto de fazer uma entrada chamativa de vez em quando!” respondeu Gourry com perfeita confiança. “Vamos lá!”


Gourry pulou direto em Duclis com a Espada da Luz já desembainhada e brilhando.

“Geh!” com um grito de pânico, Duclis recuou ainda mais.

Gourry não o perseguiu. Em vez disso, mudou de curso e começou a abrir caminho em direção a alguns dos outros inimigos próximos.

A situação mudou em um piscar de olhos. A habilidade de Gourry não era nada desprezível, mas a maior vantagem de todas era a Espada da Luz. Qualquer espada que tentasse apará-la acabava em pedaços. Era como se estivesse extraindo toda a sua energia reprimida por estar fora da luta por tanto tempo enquanto ele ansiosamente cortava um após o outro.

“Você acha que está acabado, não é?” Duclis uivou, jogando para o lado seu machado de batalha transformado em cajado.

Em seguida ergueu sua mão direita e... Vrum! Um raio de luz explodiu de seu punho cerrado! N-Não pode ser! A Espada da Luz? Era certamente o que parecia quando se manifestou na mão de Duclis...

“Pois está muito enganado!” ele gritou, correndo atrás de Gourry.

A Espada da Luz do homem-besta rasgou o ar, e suas lâminas brilhantes se chocaram! Vwoosh!

“O quê?”

No final... A espada de Duclis se despedaçou e a de Gourry continuou cortando o braço e o tronco de seu oponente.

A luta estava decidida agora. Com Duclis fora do jogo, os outros homens-besta não tinham muito que os mantivesse unidos. Nós eliminamos mais alguns, então o punhado restante fugiu para as colinas. Os únicos que restaram estavam espalhados, e poucos seguiam respirando.

Um deles era Duclis. Tendo perdido o braço direito e com um corte no meio do estômago, por incrível que pareça ainda seguia com vida.

Ajoelhando-se, seu olhar se voltou para mim e perguntou.

“O que é... Essa arma?”

“A lendária Espada da Luz!” respondi.

O homem-besta deu um pequeno sorriso.

“Entendo... Se Zanaffar é real... Claro que a Espada da Luz também seria. Porém que arma é essa... Que pode até cortar a própria luz. Não é justo, é?” com isso, ele tossiu um bocado de sangue. “Vocês estão... Atrás do Mestre Klotz, não é?”

“Sim!” assenti.

“Então caíram na armadilha deles. A nova base fica ao sul de Mayin... Depois do lago. Há um atalho... Contudo fizemos vocês pegarem o caminho mais longo.”

“Por que está me contando?”

“Não sei... No entanto eu acho... Que talvez gostei de você.”

Nesse momento, Duclis tossiu outro bocado de sangue. A luz estava desaparecendo de seus olhos.

“Só... Tenha cuidado. O Zanaffar de Grouz... É ainda mais...”

Ele então caiu no chão com um baque forte, e Duclis, o homem-besta, deixou esse mundo.

“Então você conhecia esse cara?” Amelia perguntou.

“Bem...”

Não tinha muita certeza do que dizer. Entretanto as palavras finais de Duclis me incomodaram. ‘Zanaffar do Grouz’? Estava dizendo que havia outro Zanaffar por aí? E que era ainda mais o quê? Enquanto pensava sobre o que ouvi...

“Estou tão feliz que você esteja bem!” Gourry exclamou, colocando uma mão na minha cabeça.

Wham! Dei um uppercut direto no queixo dele.

“O qu... Tá me batendo por que?”

“Por que acha? Droga... Onde diabos se enfiou esse tempo todo?”

“Hã, onde mais? Procurando por você e Amelia.”

“Ohhhhh, séééério... Então deixe-me fazer uma pergunta.” me aproximei de Gourry. “Seria uma coisa aparecer onde nos separamos, ou mesmo em Mayin, onde ficava a base inimiga... Então o que diabos está fazendo aparecendo aqui nessa pista falsa de lugar?”

“Ah! É isso!” Gourry bateu palmas em compreensão repentina.

“O quê?”

“Mayin! Veja, depois que nos separamos, consegui escapar daqueles caras. Então procurei na área, mas não consegui encontrar ninguém. Pensei em voltar para a vila onde ficava a sua base... Porém, olha que coisa... Acabei esquecendo o nome e onde era! Então, depois de vagar um pouco, meio que acabei aqui...”

Whap! Dei um tapa na cabeça de Gourry com um chinelo.

“Como conseguiu se perder em uma estrada reta e simples? Percebe o que suas palhaçadas idiotas me fizeram passar?”

“E-Ei! Espere um minuto!”

“Nem tente dar desculpas!”

“Não, não é isso! Só quero saber onde conseguiu o chinelo!”

“Meu bolso!”

“Por que tem um chinelo no seu bolso?”

“Pensei que algo assim poderia acontecer, então roubei de uma pousada um tempo atrás!”

“Você considerou... O que poderia acontecer?”

Houve um momento de silêncio, e então Amelia entrou na conversa.

“Ei, Lina! Não temos tempo para terapia de casal agora!”

“Terapia de casal?”

“Aquele homem-besta não disse que sua base era fora de Mayin?”

“Sim... Acho que disse sul, depois do lago...”

“Entendo. Então era lá.” disse Xellos, entrando na conversa em seguida. Ele se virou e nos fez uma breve reverência. “Acho que é hora de seguirmos caminhos separados.”

“O quê? Por quê?” perguntei.

Com seu sorriso característico, ele respondeu.

“Peço para que não interprete errado. Você e o Mestre Zelgadis podem ser companheiros de armas, contudo a extensão do meu relacionamento com vocês dois não passa de ‘não inimigos’. Antes, Klotz tinha uma força considerável do seu lado e não sabia onde ficava sua nova base... No entanto temo que o Mestre Zelgadis e eu estejamos atrás da mesma coisa: o manuscrito. Não tenho intenção de deixá-lo ficar com ele, e acredito que o sentimento é mútuo, certo?”

“Depende do que tem dentro, na verdade.” Zelgadis respondeu mal-humorado.

Ao ouvi-lo, Xellos assentiu como se estivesse satisfeito.

“O que significa que agora estamos competindo pela mesma coisa, e seria bom para todos nós dar fim a essa farsa inútil de fingir ser o mais querido dos amigos.”

Talvez tomando nosso silêncio como um assentimento passivo, Xellos acrescentou.

“Agora, preciso ir.”

Com essa deixa, se virou e desapareceu em uma esquina, indiferente a todos os nossos olhares.

“E-Ei!” corri atrás dele e... Parei na esquina. O sacerdote vestido de preto já tinha ido embora.

“Sou só eu...” Zel sussurrou atrás de mim. “Ou mais alguém acha que ele vai ser a parte mais difícil em toda essa confusão?”

———

Passaram-se mais dois dias antes de voltarmos para Mayin, então seis dias no total desde que Klotz e sua gangue começaram essa caça ao tesouro. Todavia pelo menos tínhamos coletado Gourry, que possuía a Espada da Luz.

“A questão agora é como faremos isso...”

Estávamos tendo uma reunião de estratégia no mato em frente à nova base inimiga. A confissão de Duclis antes de morrer tinha se mostrado precisa, pois encontramos mais ruínas parcialmente enterradas ao lado de um grande lago ao sul de Mayin. Provavelmente também do auge de Letidius.

Não havia sinal de vigias do lado de fora. Era uma armadilha ou eles simplesmente estão sendo descuidados?

“As forças de Klotz devem ter diminuído muito, ainda assim...” Zelgadis disse em voz baixa.

“Mais uma razão para esperar uma armadilha.” concluí. “Não confio no fato de que não há ninguém de guarda.”

“Mas temos que fazê-lo, certo?” Gourry disse sem rodeios.

“Bem, é verdade, só que... Ah, já sei! Que tal isso? Mandamos Gourry atacar para vermos como reagem lá dentro e, se ele não voltar depois, vou acabar com o lugar com um Dragon Slave!”

“Ei, soa bom para mim.”

“Sem objeções.”

“Gente... Vou chorar aqui...”

Calma, cara. Estou brincando... Parcialmente.

“Mesmo assim, não podemos usar nenhuma das nossas grandes magias de ataque dentro de casa...” comentei, porém parei de repente. No instante seguinte...

Roarrr! Uma Bola de Fogo veio rasgando do nada! Nós quatro nos dispersamos antes da explosão, é claro.

Olhei na direção de onde o ataque havia vindo e vi cinco homens em vestes vermelhas parados ali. Quatro destes eram homens-besta, e o quinto...

“Desculpe, contudo já passou da hora de eu me livrar de vocês.”

“Enfim resolveu dar as caras! O vice líder maligno do culto!” Amelia trovejou.

“A humanidade está além do bem e do mal... Tudo o que importa é força e fraqueza. Embora simplórios como você não entenderiam isso!” Balgumon disse, saindo correndo.

Estava indo direto para... Gourry? Esse cara era louco ou o quê?

Whoosh! A prata das lâminas brilhou no ar... Três delas de uma vez. E por mais incrível que pareça...

“Hã?” Gourry foi quem gritou e pulou para longe.

Parecia inacreditável. No entanto Balgumon e suas duas espadas forçaram Gourry a recuar. Espera aí... Esse cara não era um feiticeiro? Agora que pensei nisso, fez muito sentido...

“Há pouco recebi a notícia da derrota de Duclis!” gritou, ainda cortando Gourry. “Me contaram tudo sobre como ele revelou nossa localização para vocês, e tudo sobre sua espada irritante também! Entretanto não vai te fazer bem algum se não for capaz de desembainhá-la!”

A habilidade de Balgumon era sem dúvida incrível. Para ser honesta, mal consigo acompanhar o vai e vem entre os dois lutadores... A esgrima de Gourry era quase sobre-humana, e esse cara mal estava lhe dando espaço para respirar.

Queria poder ajudá-lo, todavia o resto de nós já estava envolvido com os quatro homens-besta. E mesmo se não estivéssemos, teria sido bem estranho interromper o tipo de batalha fantástica que deixou até Gourry com dificuldades.

Não, espere! Já sei!

“Zel! Amelia!” chamei, repelindo um golpe de um homem-besta atacando com minha espada curta. “Me consigam algum tempo! Vou explodir a base deles com um Dragon Slave!”

“Espere, o quê?” Balgumon ficou abalado com essa declaração (como era esperado).

Gourry aproveitou a oportunidade para pular para trás enquanto seu inimigo se distraía e, quando o fez... Roarrr! O som inconfundível de uma explosão ressoou nas profundezas das ruínas.

“O-O que está acontecendo aqui?” Balgumon rapidamente se distanciou de Gourry. Então deu uma boa olhada em volta para todos nós, talvez pela primeira vez. “Onde ele está? Onde está aquele sacerdote? Droga... Eu sabia!”

Parecendo perceber a identidade do culpado, ele disparou de volta para a base.

“Lo-Lorde Balgumon?” os homens-besta clamaram em perseguição apressada.

Covardes. Embora, bem, viva os covardes neste caso...

“Vamos também!”

Ao chamado de Zel, nós perseguimos Balgumon e seus capangas.

———

“Deve ser Xellos.” Zelgadis cuspiu enquanto corríamos pela entrada para encontrar um único cadáver de homem-besta aos nossos pés. Talvez um dos vigias.

Sua cabeça havia sido arrancada do corpo. Seria preciso algo bem insano para derrubar um dos homens-besta de Klotz tão fácil assim. Se de fato foi obra de Xellos, nesse caso...

“Quão forte é esse cara?” Amelia perguntou.

“Não sei. Nunca o vi em ação.” respondeu Zel.

Tudo o que o vi usar foi uma Bomba Explosiva amplificada e aquele vento com o qual havia soprado os cultistas para longe.

“Bem... Não temos escolha a não ser continuar.” insisti para todos.

Estávamos no que parecia uma antecâmara com uma única porta que levava mais para dentro. Abrimos e encontramos um longo corredor à frente. Havia luzes mágicas aqui e ali, brilhantes o suficiente para ler. À primeira vista, parecia uma instalação subterrânea bem extensa.

Mantivemos nossos sentidos sobre nós enquanto continuávamos em frente. Parecia que Xellos... Ou quem quer que fosse o intruso, tinha se divertido bastante aqui. De vez em quando, ouvíamos passos distantes pontuados as vezes por uma explosão sem cerimônia. Calor irradiava de várias das salas pelas quais passamos, suas paredes e tetos chamuscados. Um claro resultado de algumas Bolas de Fogo.

“O que diabos ele está pensando?” Zel estalou a língua em aborrecimento.

Xellos pode ter tentado deixar Klotz e seus homens em pânico, mas se o manuscrito estivesse em qualquer uma dessas salas, não era mais do que uma pilha de cinzas agora.

Roarrr! Outra explosão veio do fim do corredor, porém essa foi perto!

“Por ali!”

Nós quatro saímos correndo. Alguém de repente passou por nós... Balgumon? Todos nós paramos na hora. Balgumon lançou um olhar em nossa direção, contudo...

“Tch!” foi tudo o que disse antes de sair correndo de novo.

Não há tempo a perder com a gente, hein?

“Peguem ele!” gritei, dando início à perseguição.

Nós perseguimos para ver Balgumon recuar por uma porta. Corremos até ela... No entanto esta não abriu.

“Não adianta. Está trancada.” disse Gourry, entretanto Amelia já estava entoado um feitiço.

“Abram caminho!” gritei, empurrando Gourry e Zel para longe da porta.

“Dam Blas!”

Crash! O feitiço de Amelia explodiu a fechadura.

Através dela havia uma pequena capela, provavelmente modificada de outra coisa. Havia um altar em miniatura no fundo com uma estátua de Shabranigdu (embora não possa dizer que há muita semelhança com a coisa real). E do outro lado... Havia outra porta, que Balgumon estava alcançando.

Aha!

“Foi aqui que você escondeu o manuscrito?” perguntei.

Balgumon se virou, com um pequeno sorriso nos lábios. Então girou a maçaneta e puxou... Para revelar uma figura parada do outro lado.

“Você...?”

Antes que pudesse reagir... Pop! Com um som quase cômico, a cabeça de Balgumon saiu voando de seu tronco. O jato de sangue respingou vermelho sobre a estátua do Lorde das Trevas. O resto do corpo de Balgumon caiu impotente no chão.

Quanto à pessoa que saiu pela porta... Preciso mesmo dizer? Sim, era o próprio Sr. Sacerdote Misterioso, Xellos. Não sei quando o tomou de Balgumon, mas em suas mãos estava um maço de papéis.

“Hmm.” seu atento olhar passou pelas páginas, então assentiu satisfeito. “Não há dúvida, é um manuscrito. Muito obrigado por me ajudar na minha distração.”

Claro. Ele estava jogando Bolas de Fogo para fazer os cultistas correrem para recuperar o manuscrito. Essa era uma aposta perigosa, se posso dizer... Um movimento errado e teria incinerado a coisa.

“Entregue-o para mim!” Zel disse sem se alterar.

Xellos, por sua vez, balançou a cabeça devagar.

“Ora, ora. Não posso dar essa coisinha incompleta para ninguém... Ah, Srta. Lina. Você estava muito preocupada sobre como eu pretendia usá-lo, certo?” Xellos direcionou sua atenção para mim, e assenti em resposta.

Ninguém tentou se aproximar de Xellos. Todos nós tínhamos visto com nossos próprios olhos, mas nenhum de nós tinha certeza de como havia matado Balgumon.

“Acho que posso mostrar a você agora. Pretendo fazer exatamente isso.”

Após essas poucas palavras, os papéis em sua mão foram amassados e... Poof! Em um instante, queimaram até virar cinzas. De repente, lembrei que o manuscrito no Reino de Dils também tinha sido queimado...

“Maldito seja!” Zelgadis gritou em confusão.

Entretanto Xellos não se abalou.

“Conhecimento além da capacidade de alguém só traz infortúnio.” ele falou, então se virou e desapareceu de volta pela porta.

“Aquele desgraçado!” Zel deu um passo em perseguição, todavia se conteve.

Novas figuras surgiram da porta pela qual Xellos tinha acabado de desaparecer. Desta vez, eram três, todos vestidos de vermelho... Klotz e dois guarda-costas homens-besta. Seus olhares estavam focados no corpo no chão.

“Ba...” Klotz caiu de joelhos. “Balgumon!”

Mesmo sem a cabeça, ele aparentemente conseguia identificar seu comparsa por sua constituição e roupas. Klotz olhou para nós... De repente, o ódio fervilhou em seus olhos.

“Vocês... Mataram Balgumon...”

“Não matamos!” respondi, balançando a cabeça rapidamente. “Não viu um cara sair por ali agora? Foi ele!”

“Não minta para mim...” o homem se levantou em pouco tempo e rosnou. “Não vi uma alma sair desta sala. E onde está o manuscrito?”

Aqui, eu dei de ombros. Poderia dizer que o mesmo cara que matou seu amigo o queimou, mas ele acreditaria em mim? Aposto que não!

“Muito bem...” Klotz sussurrou, um sorriso estranho surgindo em seu rosto.

Oh, esse cara estava louco. Realmente louco.

“Vaileus! Ludia!” chamou os homens-besta de cada lado seu.

“Senhor!” eles responderam em uníssono, ficando em posição de sentido.

Vão atacar?

“Acordem Grouz!”

Ouvindo suas ordens, os dois congelaram.

“N-Não devemos, Lorde Klotz!” um argumentou, desafiador.

“Aquilo não é mais Grouz! Se algo der errado...” o outro protestou da mesma forma.

O que...

Klotz lançou um olhar para seus subordinados, o desprezo óbvio em seu rosto, e disse.

“Então segurem-nos aqui! Eu mesmo irei acordar Grouz!”

Afastando-se de nós, o homem saiu pela porta. Os dois homens-besta pareciam incertos do que fazer.

“Lorde Klotz!” chamaram.

“Ei, vocês! O que diabos está acontecendo aqui?” perguntei.

“Cale a boca! Não precisamos contar a vocês...” um começou a gritar.

Porém o outro o interrompeu.

“Vocês são os que mataram Duclis, certo?”

“Sim!” Gourry fez um leve aceno.

“Venham conosco!” o segundo homem-besta ofereceu.

“E-Ei!” o primeiro objetou.

Ignorando-o, Gourry se virou para nós e perguntou.

“O que fazemos? Vamos juntos? Ou não?”

“Estou dentro. Vamos. Podem explicar no caminho.” falei, indo até os homens-besta.

“Ei! Lina!” Amelia gritou atrás de mim.

Contudo continuei andando.

———

“Vou direto ao ponto.” o homem-besta disse, de costas para nós enquanto andávamos. “Nós queremos que vocês abatam Grouz... Bem, Zanaffar, eu acho.”

“O que diabos está acontecendo afinal?” perguntei aos dois enquanto continuávamos pela passagem. Meus três companheiros estavam seguindo sem muita escolha no assunto. “Zanaffar não é apenas uma armadura anti-magia?”

“Não estou a par de todos os detalhes...” o mesmo respondeu, movendo-se em um bom ritmo. “No entanto Grouz tem agido muito estranho desde que colocou aquela coisa.”

Deve ter sido na noite em que nos infiltramos na sede.

“Lorde Klotz disse que a armadura se funde com quem a veste e se desenvolve junto. Ele disse que a mente deles se torna um pouco instável no processo.”

“Se desenvolve?” me peguei maravilhada. “Então... A armadura Zanaffar está viva?”

“Parece que sim.” o homem-besta assentiu indiferentemente. “Lorde Klotz disse que colocaria Grouz para dormir até que se estabilizasse, só para ficar seguro... Todavia não acho que seja mais Grouz lá dentro. Antes de tudo isso, ele às vezes dizia coisas sobre não ter mais certeza de quem era... E uma vez perdeu o controle e matou alguns caras.”

“Mas talvez, como Lorde Klotz disse, estivesse apenas um pouco instável...” o outro homem-besta se esquivou.

O homem-besta mais falante lançou um olhar para o companheiro e exigiu.

“Então deixe-me perguntar uma coisa. Ontem, Lorde Klotz disse que Zanaffar estava completo. Se é verdade, por que não acordou Grouz antes?”

“B-Bom...”

“E outra coisa. Se Zanaffar está vivo e crescendo, a pergunta que continuo me fazendo é... O que diabos ele come?”

“Hã?” eu parei abruptamente no lugar. “Está dizendo que... Zanaffar consome... Seu portador?”

“Ah!” Todos (exceto Gourry) exclamaram em compreensão.

“Desculpe ser o estranho... Porém não estou entendendo.” Gourry disse num tom baixinho.

É melhor você se desculpar. Sério, cara...

“Resumindo, o que chamamos de ‘Zanaffar’ é um tipo de parasita. Começa como uma armadura que protege seu portador, contudo o corrói aos poucos sem que este se de conta. E uma vez que a armadura tenha devorado seu hospedeiro, corpo e mente, ‘Zanaffar’ estará completo.”

“Sigo sem entender...”

Arrrgh! O que havia de errado com a cabeça desse cara?

“Como um grande idiota gigolô que diz a uma garota que sempre a protegerá, mas depois que consegue o que quer dela, a abandona depois de levá-la à ruína financeira!”

“Ooh, ok. Acho que entendi...”

Ótimo.

“No entanto tudo esse assunto à parte, nós só o derrotamos e acabou, certo?”

Caramba, se você vai apenas ignorar, nem se incomode em perguntar! Rapaz, se tivéssemos mais tempo disponível, eu teria dado um tapa nele com meu chinelo... (Eu ainda o levava, é claro).

“Tenho uma pergunta.” falei com líder dos homens-besta quando surgiu a dúvida na minha cabeça. “Duclis sabia sobre isso?”

“Sim!” um dos dois respondeu, balançando a cabeça com seriedade. “Acho que sim. Dizem que escolheu vestir o segundo Zanaffar por vontade própria... Embora não sei se é verdade.”

“Entendo...” sussurrei.

“Além do mais, embora queiramos que vocês acabem com Zanaffar, por favor, não machuquem Lorde Klotz.” disse o outro homem-besta.

“Ah, vamos lá!” Amelia choramingou.

“O quê?”

“É um pedido bem irracional. Duvido que Klotz vá ficar parado só assistindo todo esse plano de matar Zanaffar.” interrompi.

De repente...

Vrumm. O chão tremeu um pouco. Os homens-besta pararam logo depois.

“Chegamos tarde demais...” eles sussurraram em desespero.

———

Tudo estava quieto no começo. Nós escapamos de volta para fora como os homens-besta pediram, porém...

“Nada está acontecendo...” Amelia sussurrou depois de alguns minutos, quase parecendo entediada.

Se, como os dois disseram, Zanaffar realmente tivesse despertado, deveria haver algum sinal de algo acontecendo, mas...

“Talvez tenha dormido até a morte...” Gourry fez uma reflexão inútil. Claro, ninguém se dignou a responder.

“Ei, espere um minuto...” Zelgadis disse, apontando sua espada para os homens-besta. “Isso tudo foi uma encenação para dar tempo de Klotz escapar?”

Mas os homens-besta continuaram olhando diretamente para a entrada da base.

“Queria que fosse, porém...” um deles disse. “Escute, não fique convencido só porque derrotou Duclis.”

“Ele é forte?”

“Mais como... É invencível.”

Assim que essas palavras saíram da boca do homem-besta... Vwoosh! Um raio de luz cortou minha visão. Aquele sopro de laser! Era a mesma coisa que tinham lançado em mim, Zel e Amelia quando estávamos fugindo de sua sede original naquela noite... Uma versão mais forte, na verdade.

A luz irrompeu do subsolo, rasgando a superfície e entrando no lago. Grandes quantidades de água foram vaporizadas, o vapor agitando o ar.

Vrrrm... Um estrondo baixo sacudiu tudo ao nosso redor. A terra sobre a base se projetou para cima, e um buraco enorme se abriu. Logo, um uivo bestial sacudiu o próprio ar sobre o lago.

“Está vindo!” alguém sussurrou. Talvez tenha sido eu...

Primeiro vieram as garras: prateadas, como espadas polidas. Depois, em uma explosão, apareceu do buraco... A besta prateada, Zanaffar. Ela ficou ali, observando calmamente os arredores por um tempo.

Contudo... Ela tinha crescido mesmo, não tinha? Seu tamanho agora era comparável ao de um dragão. Tinha a forma geral de um quadrúpede, todavia havia todos os tipos de animais misturados. Se tivesse que compará-lo a um em particular...

Era um lobo feito de aço, com uma juba. Entretanto chicotes de prata brotavam de seu corpo aqui e ali também. Talvez seja melhor chamar de tentáculos.

“Lorde Klotz...” um dos homens-besta sussurrou. “Onde está Lorde Klotz? Ele está bem?”

Obviamente, ninguém tinha uma resposta para dar. Sequer tínhamos tempo para tentar descobrir, pois a besta mágica virou a cabeça em nossa direção... Vwoosh! E disparou mais um sopro de laser!

“Waaah!”

Quando nos afastamos, a luz rasgou uma faixa de solo. A fera então avançou direto para mim com outra explosão de sopro de laser. Mas...

Shink!

Zanaffar apenas ficou lá, atordoado, ao ver seu movimento assassino desviado. Percebendo que estava diante de algo perigoso, soltou um rosnado baixo de aviso enquanto fixava seus olhos em Gourry, que se colocou entre mim e a fera com a Espada da Luz içada.

Só então... Algo se moveu para a direita da fera. Não tenho certeza de quando ele tinha contornado, porém um dos capangas de Klotz se aproximou devagar de Zanaffar pelo seu flanco.

Não faça isso! Queria alertá-lo, contudo acabaria tornando mais provável que Zanaffar notasse o cara. Ele deu um golpe ousado de sua espada e... Clink! A lâmina ricocheteou com um estrondo, como se estivesse atingindo metal.

Pensei ter visto um sorriso fino aparecer no rosto do monstro. O homem-besta rapidamente recuou para trás com pesar. Contudo...

Splurt! Um dos tentáculos, aproximando-se de um ponto cego, o perfurou nas costas! Seu corpo se contraiu algumas vezes e então sua espada caiu de suas mãos.

Os olhos de Zanaffar estavam fixos em Gourry o tempo todo. Com um passo fechou a distância entre os dois enquanto sacudia o corpo do homem-besta empalado para fora de seu tentáculo. Como se em resposta, Gourry atacou a criatura!


“Afastem-se!” berrou o sobrevivente, no entanto Gourry o ignorou.

Ele usou a Espada da Luz para desviar uma rajada de sopro de laser enquanto corria, diminuindo a distância até Zanaffar em um piscar de olhos.

“Hahh!”

Gourry atacou uma pata dianteira, mas só pegou o ar. Zanaffar saltou para cima... E agora estava descendo sobre Gourry, disparando uma saraivada de sopros de laser enquanto caía.

Gourry ficou preso no local, suas mãos ocupadas apenas desviando dos raios. A fera iria esmagá-lo!

“Bola de Fogo!”

Bwoosh! A explosão do feitiço de Amelia mudou o curso da queda da besta mágica. Thwoom! Apesar do som pesado, ela pousou inalterada no chão. Como esperado, a Bola de Fogo não pareceu ter causado nenhum dano.

Zanaffar não se esqueceu de disparar outra rajada de sopro de laser em Gourry no momento em que pousou para mantê-lo afastado. Mas quando aconteceu...

“Bomba Explosiva!” lancei um feitiço meu.

Vwsssh!

Nenhum dos feiticeiros da antiga Cidade Mágica de Sairaag conseguiria utilizá-lo. O calor que produziu sozinho pode ser o suficiente para sobrepujar a pele defensiva de Zanaffar.

Porém, quando a fera emergiu da fumaça rodopiante da explosão, estava ilesa. Nem um único arranhão podia ser visto em seu pelo espelhado.

Droga, essa coisa é resistente... Se o fogo não funcionava, presumi que o frio também estava fora de questão. Essa pele resistente complicou as coisas. Queria tentar atirar uma Bola de Fogo direto em sua garganta, contudo seu sopro de laser tornou a ideia impossível...

O desdém da fera pelo meu ataque foi tão grande que nem me dignou uma olhada.

“Tch!” Gourry tentou ficar ao seu lado. Todavia Zanaffar se contorceu, mantendo-se travado de frente com Gourry.

Zel, parado ao meu lado, estalou a língua.

“Ele sequer olha para nós!” comentou.

“Sim!” Amelia sussurrou. “Está ciente que a espada é a única coisa que pode vencê-lo...”

“Não...” sussurrei, balançando a cabeça.

“O quê? O que é, Lina?” Zel perguntou, mas não respondi.

Um dos feitiços que agora estava ao meu alcance graças à ajuda dos talismãs poderia ser nossa carta na manga. Um feitiço para invocar a escuridão e canalizá-la em uma lâmina... Eu o testei alguns dias atrás, e seu poder destrutivo era assombroso de incrível. É claro, não os coloquei um contra o outro, porém parecia igualar à Espada da Luz em termos de poder.

Embora havia algumas complicações. A lâmina que produzia tinha apenas o comprimento de uma espada curta. Também parecia drenar ativamente a magia enquanto estava em uso, então, mesmo com uma capacidade como a minha, não duraria muito tempo.

Nem preciso dizer que só usá-lo me deixou muito mal. No dia em que experimentei, fiquei exausta antes de conseguir fazer cinquenta golpes de treino. Aliás, também era considerado um feitiço proibido. Sim... Usava a mesma fonte de poder do meu ás na manga, Giga Slave... O Senhor dos Pesadelos.

Quer dizer, esse amiguinho era muito mais fácil de controlar do que um Giga Slave, então não havia (provavelmente) chance de as coisas darem errado... Contudo a grande questão aqui era se faria o que eu precisava contra Zanaffar.

Nem mesmo Gourry conseguiu acertar um golpe limpo na besta mágica gigante. Não tenho ideia se me sairia melhor, ainda mais manejando algo do tamanho de uma espada curta. Talvez se o pegasse desprevenido... No entanto um único golpe resolveria? Talvez fosse tudo o que conseguiria, entretanto tinha minhas dúvidas se seria o suficiente contra a enorme fera.

Queria poder esperar até que Gourry cortasse uma perna e desacelerasse um pouco a coisa, mas...

“Urgh!” Gourry, parecendo anormalmente impaciente, atacou direto o monstro.

Zanaffar respondeu estalando seus tentáculos em sua direção.

“Saia do meu caminho!” Gourry gritou, porém quando varreu sua espada em direção aos tentáculos, luz surgiu de suas pontas... Mais sopros de laser!

“O quê?”

Não havia como desviar completamente das explosões. Ele conseguiu evitar algumas e repelir outras com a Espada da Luz, contudo uma delas queimou sua coxa!

“Geh!”

Gourry se apressou em saltar para longe, entretanto o dano deve ter sido grave, porque ao pousar acabou caindo de joelhos.

Espere, é isso mesmo! Nós vimos Duclis-Zanaffar produzir um feixe de luz de sua mão também! Se era uma aplicação do sopro de laser de Zanaffar, então não era de se admirar que este pudesse dispará-lo de seus tentáculos...

“Hehehe...” Zanaffar riu em um rosnado baixo. “Você pensou que eu era uma mera besta e me subestimou... Guerreiro da Luz...”

“O quê?” exclamei, pasma.

“Voc... Você fala nossa língua?” o homem-besta restante gritou.

“Devorei todo o conhecimento e experiência do meu hospedeiro, Grouz... Por que não seria capaz de falar? No entanto você acreditar que eu era uma mera besta tornou as coisas muito mais fáceis, então guardei silêncio.”

Os olhos de Zanaffar permaneceram fixos no ajoelhado Gourry.

“Agora... Largue sua espada e vá. Se o fizer, pouparei sua vida. Não vejo sentido em comer qualquer um de vocês... Em troca de minhas defesas contra magia, perdi a habilidade de usá-la.”

Claro... Se sua forma astral fosse segregada do resto do plano astral, então não havia como interagir com ela para lançar feitiços. Esse era o preço que pagava por suas defesas. Todavia... Como sabia disso? Grouz era algum grande conhecedor do assunto ou algo parecido? Não, espere...

“O que... O que está querendo?” Zelgadis perguntou. “Apenas destruição indiscriminada?”

A besta pareceu imperturbável com a pergunta, respondendo com calma.

“Não... Apenas desejo viver e criar mais da minha espécie. A espada que pode danificar minha forma física ameaça esse objetivo.”

“Quer criar outros de sua espécie? Como planeja fazer isso sozinho?” perguntei dessa vez.

“Quando demonstrar meu poder, os humanos inevitavelmente virão me servir. Afinal, já existem humanos que adoram o Lorde das Trevas. Vou ordenar que criem mais Zanaffars. Não será difícil, conheço o processo pelo qual são feitos agora.”

“O que... Está querendo dizer?” o homem-besta restante soltou um gemido. “Vo-Você... Matou Lorde Klotz?”

“Sim!” a fera disse com um sorriso. “Devorei-o também.”

Sim, imaginei...

“Maldito seja!” o homem-besta gritou, atacando com sua espada erguida.

“Não seja estúpido! Volte aqui!” gritei.

Mas era tarde demais. Vwoosh! Um dos tentáculos disparou luz... E o corpo do homem-besta caiu no chão em dois pedaços.

“Que sirva de aviso... Não hesito em matar aqueles que me desafiam.”

Seu grande idiota...

“Agora largue a espada e saia deste lugar vivo... Ou morra.”

Certo. Entendi. Realmente não queria fazer isso, porém você me forçou...

“Amelia. Zel. Escutem...”

“Oh? Escolhendo fugir, não é?” Zanaffar perguntou quando viu Amelia me levitando em sua visão periférica. “É bom saber. Agora, sobre a espada...”

“Gourry! Entregue!” Zel gritou, interrompendo a fera.

Gourry entendeu na hora e prontamente jogou a Espada da Luz para Zel!

“O quê?” Zanaffar exclamou em pânico repentino. Afinal era a Espada de Luz que temia. Não Gourry.

“Corra!”

A pedido de Zel, Gourry se arrastou para longe o mais rápido que pôde.

“Humanos patéticos!”

Com um uivo, Zanaffar disparou uma saraivada de sopros de laser em Zel. Ele conseguiu desviar e repelir cada raio que se aproximava, e então, Amelia e eu pairamos sobre a fera. Tinha acabado de recitar meu canto de amplificação...

Agora... Vamos começar!

Zel desviou de outra rajada de sopros de laser, então bateu sua mão direita no chão.

“Dug Haute!” gritou, fazendo a terra abaixo tremer.

“Seu tolo! O que pensa que está...” Zanaffar começou, porém o chão cedeu sob suas patas. “O quê?”

Bwssh! A poeira subiu ao redor da fera. O feitiço de Zel tinha cedido o chão sob seus pés... Bem em cima da base de Klotz. É claro, isso por si só não o feriu, contudo agora ele estava se debatendo em meio aos escombros no fundo do buraco, disparando mais sopros de laser em Zel, que se encontrava na borda.

Lâmina forjada do vazio negro congelante,

Seja libertada sob o selo do céu...

Torne-se minha, torne-se parte de mim...

Causemos destruição como um...

Esmague até mesmo as almas dos deuses...

“Lâmina Ragna!” gritei, e uma lâmina ébano de escuridão se manifestou em minhas mãos estendidas.

Uma sensação de exaustão tomou conta do meu corpo. Como esperado, não vou conseguir aguentar por muito tempo.

Assenti e Amelia me soltou. Sem sua Levitação me segurando, mergulhei de cabeça... Direto para as costas da fera, Zanaffar!


Fwsh! Minha lâmina escura perfurou facilmente sua pele, cavando fundo em seu corpo. Meus braços mergulharam na ferida até meus cotovelos.

“Graaaaaaaah!” o uivo da fera sacudiu o ar ao meu redor, mas isso não foi o seu fim. A criatura continuou a se contorcer, como se não entendesse o que tinha acontecido. Só então percebeu que eu estava em suas costas.

“O que... O que você fez?”

Porém a essa altura, já havia dispersado minha Lâmina Ragna e entoava meu próximo feitiço. Era uma corrida contra o tempo agora! Não tinha tempo para amplificá-la!

“Você... Uma mera feiticeira... Ousa...?”

Um tentáculo me atacou. Contudo já era tarde demais! É isso que ganha por me tachar como uma mera feiticeira, Zanaffar!

“Bola de Fogo!”

Fwooooom! Naquele instante, chamas explodiram dentro do corpo de Zanaffar.

———

“Hmmm...” estendi minhas mãos na minha frente, fechei-as e as abri novamente.

O feitiço Ressurreição de Amelia é um belo ás. Ela agora estava lançando Recuperação no ferimento na coxa de Gourry também.

“A propósito, Lina...” ele perguntou, pernas abertas no chão. “Como derrotou aquela coisa? Não consegui entender nada...”

“Ah, aquilo? É bem simples. Eu tinha um feitiço que podia abrir um buraco em sua pele, então o usei. Depois enfiei minhas mãos lá dentro e lancei uma Bola de Fogo. Queimei a fera de dentro para fora.”

“Hmm...” Gourry assentiu, não parecendo lá muito impressionado. “Espere um minuto. Não foi meio perigoso?”

“Oh, muito!” respondeu Amelia enquanto terminava seu feitiço de Recuperação. “Ambas as mãos de Lina estavam...”

“Ugh! Não diga! Não quero nem lembrar!” interrompi-a, me poupando da memória.

As entranhas dentro do abdômen de Zanaffar forneceram bastante amortecimento, no entanto também detonei uma Bola de Fogo entre minhas mãos. Você provavelmente pode imaginar como isso acabou. E, sim, foi por essa razão que fui avessa a usar esse plano em primeiro lugar...

A propósito, os talismãs em meus pulsos saíram ilesos. A besta mágica no fundo do poço, por sua vez, ficou com um grande buraco negro nas costas e morreu.

“Pena que não conseguimos pegar o manuscrito.” falei para Zel, que estava parado um pouco longe. Sabia que ele devia estar bem desapontado...

“Ah, está tudo bem.” ele disse alegremente, para minha surpresa.

“Você não está apenas... Tentando se conformar?”

“Não... Pense um pouco sobre, se os manuscritos de fato existem, significa que o original também está lá fora.”

Ah!

“Vou encontrá-lo. Não importa o que aconteça.”

“Pelo menos parece que encerramos esse caso.” disse Amelia, parecendo aliviada.

“Por enquanto, sim... Embora as coisas só tenham ficado mais complicadas.” acrescentei.

Ao ouvir meu comentário, o grupo ficou em silêncio.

Xellos e a Bíblia Claire... Nós tínhamos resolvido a situação mais imediata claro, mas eu tinha a sensação de que ainda não tínhamos entrado no cerne da questão.

Ainda assim, ficar estressado com isso não nos levaria a lugar nenhum. Podem vir! Sinceramente, Lina Inverse acolhe qualquer desafio! Fazendo essa promessa em meu coração, mostrei o dedo do meio para ninguém em particular.



Posfácio:

Cena: O Autor e L

Au: É o volume 5!

L: Um terço do caminho através dos romances!

Au: E um certo personagem popular aparece neste livro.

L: Quer dizer Xellos?

Au: Sim! Ele superou Lina, a protagonista, nas pesquisas de popularidade que fizemos enquanto a série estava no ar. A mulher que edita a versão dos quadrinhos até se refere a ele como ‘Xellos-sama’!

L: Ah, então ela é uma fã? Imagino que Xellos faça sucesso com as mulheres. Era essa sua intenção?

Au: Não. Suspeitei que pudesse se tornar bastante popular, mas não a esse ponto. Nesse aspecto, foi algo não planejado.

L: Se tudo corresse como planejou, eu ficaria com os dez primeiros lugares em todas as enquetes.

Au: Nunca planejaria tal coisa! Além do mais, como uma pessoa pode ficar com todos os dez lugares?

L: Bem, sob os nomes L-sama, L, Linda Garota Posfácio, L-rin e coisas assim... Viu?

Au: Alguém já te chamou de ‘L-rin’? E outros personagens ainda ganhariam votos, sabe.

L: Hmm... Então, em vez de uma enquete de popularidade padrão, faremos uma limitada! Uma em que poderei monopolizar os dez primeiros com certeza!

Au: Limitada como?

L: Por exemplo, ‘Os dez personagens que dominam o posfácio’!

Au: Quais seriam as escolhas? Como não se pode votar no autor, então seria entre você e S, que nem tem aparecido faz tempo!

L: Ah, preciso incluir algumas letras miúdas que proíbam as pessoas de votar em S! Aí eu ganho com certeza!

Au: Ok, tudo bem! Mas por que os leitores se incomodariam em votar, então? E tem certeza que ficaria feliz tendo nomes como ‘L-rin’ e ‘L-ran’ no top dez?

L: Hein? Agora que mencionou... Acho que não. Porém gostaria de ter algum tipo de enquete com os leitores! Como nos velhos tempos!

Au: Hahaha. Sim, certo. A última vez que fiz uma enquete de popularidade, um cômodo inteiro da casa que eu tinha acabado de comprar acabou cheio de cartões-postais. Foi um inferno.

L: Então vamos! Voltar! Para o inferno!

Au: Não pareça tão animado com isso! Não vou para o inferno só pelos velhos tempos! Se realmente queremos fazer uma enquete com os leitores, prefiro arrastar o editorial para não ter que fazer toda a contagem sozinho.

L: Tão sem tato como sempre...

Au: Ah, eu adoro ser sem tato! Em entrevistas antes desta, as pessoas me perguntavam: ‘Onde você encontra suas ideias?’ E só respondi: ‘Hahaha, se você pudesse encontrar ideias, não haveria escritores lutando com prazos ou autores em dificuldades ainda esperando para estrear’... Essa parte sempre é cortada!

L: Claro que esse absurdo sem tato e sombrio seria cortado...

Au: No entanto, às vezes confrontar a realidade é o que te ajuda a chegar ao próximo passo. Quando as pessoas dizem ‘cresça’, não significa ‘jogue fora seus sonhos’. Costuma significar ‘seja lá o que decidir fazer no final, encare os fatos e busque o que é melhor, ou pelo menos faça seu melhor’.

L: Bem, não importa o quão legal faça parecer, o fato é que não gosta de contar votos e quer impingir essa tarefa a outra pessoa.

Au: Erk! B-Bem, se tivermos que fazer uma enquete, pelo menos espero que o editorial ajude...

L: Já sei! Vamos fazer uma enquete para o melhor posfácio! Ah, contudo já prometi o posfácio do volume 6 para meu subordinado S, e não quero que ele receba votos tendenciosos lá...

Au: Olha, não há necessidade de forçar uma.

L: Mas vale a pena considerar! Certo, pessoal, seja na reimpressão do volume 7 ou no Smash, vamos nos encontrar novamente em breve!

Posfácio: Fim.

***

Para aqueles que puderem e quiserem apoiar a tradução do blog, temos agora uma conta do PIX.

Chave PIXmylittleworldofsecrets@outlook.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário