domingo, 3 de abril de 2022

Boukensha ni Naritai to Miyako ni Deteitta Musume ga S Rank ni Natteta — Volume 02 — Capítulo 24

Capítulo 24: O Vento era como o Hálito de um Demônio


O vento era como o hálito de um demônio, úmido e enrolando-se desconfortavelmente sobre a pele. Eles correram atrás do aventureiro na liderança, que estava tagarelando excitado.

“As nuvens, veja, elas vieram do oeste sem vento, e então adivinhem? Se espalharam por toda a cidade antes que eu percebesse. Então um exército, um exército eu digo! Veio do cemitério! O que diabos está acontecendo?”

“Então essas nuvens... Devem ter sido feitas por alguém.”

Belgrieve inclinou a cabeça. Havia muitas pessoas fugindo pelas ruas, todas correndo na direção oposta do cemitério. Dado que aquele era o seu destino, era um aborrecimento atravessar a multidão.

“Isso não é bom. Todos estão em pânico.”

Quando se viram parados, uma voz clara e digna ressoou na multidão. “Não há necessidade de pressa, pessoal! Acalmem-se e ouçam os soldados!”

Sasha correu com uma companhia de soldados. Os civis explodiram em um clamor de alívio quando os soldados começaram a orientá-los.

“Desculpe por tê-los feito esperar! Agora vamos!”

“Muito bem, Sasha... Vamos.”

O cemitério de Bordeaux ficava na periferia da cidade. Era um local bastante grande, já que se tratava de uma cidade nos arredores do norte. Estava coberto de incontáveis ​​mortos-vivos.

Os mortos-vivos eram, para simplificar, cadáveres que se moviam. Não importava se já foram humanos ou animais; quando a mana penetrava em uma casca vazia, se transformava em um monstro. Cadáveres frescos mantinham sua forma humana, contudo os mais velhos estavam apodrecendo, impregnando o ar com um fedor terrível. Não chegavam a ser uma grande ameaça por conta própria, no entanto tinham força em número. Eles poderiam até ser classificados como uma calamidade uma vez que chegassem às centenas e, nesse ponto, aventureiros de alto escalão precisariam ser chamados. Além do mais, parecia que outras variantes — fantasmas sem substância e mortos-vivos maiores, uma variante mais poderosa — estavam aparecendo também. Esses eram os tipos de monstros que não podiam ser vencidos sem armas ou magia com infusão de mana.

Os aventureiros estavam travando uma dura luta contra os monstros que surgiram um após o outro. Havia muitos e o cheiro podre perfurou o nariz, interrompendo sua concentração.

“Criaturas vis! Por que há tantos deles?”

“Como vou saber? Pare de falar e continue golpeando!”

E assim que a situação parecia estar piorando, várias flechas foram lançadas voando e perfuraram os mortos-vivos próximos. As flechas de Anessa pareciam ter feitiços esculpidos nelas. As flechas explodiram com o impacto, apagando os inimigos perto de seus alvos também. Assim, o inimigo foi empurrado para longe e todos os aventureiros deram um suspiro de alívio.

Então, em pouco tempo, a magia de Miriam brilhou enquanto desdobrava camada sobre camada de símbolos geométricos, enviando rajadas de relâmpagos ao redor. Seus raios perfuraram com precisão seus corpos em decomposição, carbonizando-os.

Foi quando Angeline saltou. Avançando como se deslizasse pelo chão, cortando um inimigo após o outro. Bastou apenas um movimento para dividir até mesmo os fantasmas que não tinham substância corpórea. Esses mortos-vivos não seriam destruídos por nenhuma espada comum, porém eram presas fáceis para uma lâmina na qual estava despejando tanto de sua mana.

Aplausos se ergueram ao vê-la derrubando muitos mortos-vivos.

“Incrível! Como esperado de um grupo de Rank S!”

“Ahahaha, elas estão em outro nível...”

“Seu palhaço! Vai deixá-las nos ultrapassar? Mostrem-nas a espinha dorsal dos aventureiros de Bordeaux!” incitados a agir, os aventureiros lançaram um contra-ataque com impulso ainda maior.

Belgrieve os observou, um pouco mais atrás. Ele não pôde deixar de sorrir ao ver sua filha em ação. A garota que estava vendo agora não era a mimada Ange — esta era a Aventureira de Rank S Angeline, a Valquíria de Cabelos Negros. Isso é um peso fora da minha mente, ele pensou. Quantas vezes eu me vi lutando ao lado de toda a guilda assim? Belgrieve se viu ficando um pouco nostálgico. Ele nunca pensou que estaria aqui novamente.

“Não é hora de se emocionar...” Belgrieve desembainhou sua espada e deu um passo adiante, cortando um morto-vivo que estava prestes a pegar outro combatente de surpresa.

Os aventureiros ficaram todos agitados com a visão.

“Ah, você é o Ogro Vermelho...”

“Eu gostaria de ser tudo que dizem, mas vou ajudar.”

“Fico feliz em ouvir! Você vale por mil homens!”

“Que reforços confiáveis!”

Eles ergueram suas armas com ainda mais vigor do que antes. Não acho que sou tão confiável, Belgrieve meditou com um sorriso autodepreciativo.

Os mortos-vivos haviam perdido algum impulso com o ataque preventivo do grupo, mas sua força em números ainda se mantinha firme. Brotando um após o outro, e não demorou muito para que se recuperassem de suas perdas.

Angeline torceu o rosto com o cheiro, embora seus movimentos não ficassem entorpecidos enquanto cortava as hordas com Anessa e Miriam dando apoio. Sasha também correu, sua espada girando como um furacão.

Eu não posso correr assim, não com meu corpo assim. Belgrieve respirou fundo. O miasma ardia em suas narinas, entretanto não em um grau que não pudesse suportar. Ele formulou movimentos que se adequariam ao seu corpo, achando um pouco risível que estivesse fazendo isso em um combate real.

Para frente e para trás, Belgrieve balançava com sua perna de pau como um eixo. Não cortando com força bruta; seus inimigos estavam indo em sua direção sem pensar, então se esquivou com os movimentos mínimos necessários, movendo sua espada de acordo com suas estocadas. Belgrieve não tinha muita mana em seu corpo, mas fez questão de canalizar o que tinha em sua lâmina. Os mortos-vivos foram cortados, imobilizados com tanta facilidade que até o pegou de surpresa, dando-lhe uma pausa.

“Seria capaz de usar isso em inimigos que não são mortos-vivos?” murmurou, assim que o próximo morto-vivo se aproximou. O estado de decomposição de seu corpo o impediu de se mover de forma veloz, e Belgrieve mais uma vez evitou com facilidade e cortou.

Mover-se assim não era um grande fardo para seu corpo, porém levaria algum tempo para se acostumar. Belgrieve sentiu que ficaria com a guarda exposta se ficasse distraído.

“Não adianta pensar nisso...”

Aguce seus sentidos, disse a si mesmo. Ele corrigiu seu aperto em sua lâmina e fez seu caminho em direção ao próximo morto-vivo. Meu corpo de lado, é como se meu coração estivesse voltando ao que era antes. Riu ao pensar.

A entrada de um grupo Rank S aos poucos mudou a batalha para favorecer os aventureiros. O número de mortos-vivos estava caindo pouco a pouco. Infelizmente, a barreira que Elmore disse que solicitaria ainda não estava operacional; uma vez ativada, se livrariam dos monstros em um piscar de olhos.

Quando os aventureiros começaram a mostrar sinais de fadiga, Elmore correu. Aproximando-se de Belgrieve, que recuou por um momento para recuperar o fôlego, e disse. “A situação não parece boa. Essas nuvens estão impedindo que a barreira seja erguida. Não seremos capazes de prendê-los assim.”

“Estão afetando a barreira... O que diabos são essas nuvens?”

Belgrieve olhou para o céu. Talvez o sol tivesse se posto atrás deles, enquanto as nuvens estavam ficando ainda mais escuras, cobrindo o céu com sua mancha negra como tinta. Contudo, ainda havia algum gradiente para eles, provavelmente devido ao volume de nuvens.

De repente, Belgrieve olhou para a propriedade de Bordeaux. Parecia que aquele era o único lugar onde as nuvens eram estranhamente espessas.

“Vieram do oeste, se bem me lembro... De Hazel?” Belgrieve tinha um mau pressentimento a respeito. Hazel era uma cidade que havia manifestado objeções ferrenhas às políticas de Bordeaux. Belgrieve virou-se para Elmore. “Elmore, a maioria dos aventureiros está aqui?”

“Sim, excluindo aqueles que estão fora a trabalho, à maioria deve estar reunida aqui no cemitério. Os soldados também estão aqui ou ajudando os civis a evacuar. Embora não tanto, ainda há mortos-vivos na cidade também.”

“Isso pode ser o esquema de alguém... Se for, devem ter um objetivo separado...”

Elmore assentiu. “Certamente não é natural que algo assim aconteça sem aviso prévio.”

“Vou para a casa Bordeaux. As nuvens lá são mais espessas, e sei que nada de bom virá disso.”

“Huh... Você está certo.”

Elmore olhou para o cemitério. Os aventureiros estavam exaustos, porém o grupo de Angeline ainda estava correndo pelas linhas de frente.

“Deixe-me ir junto. Não tenho nada com que me preocupar com Angeline e Sasha segurando o forte aqui.”

“Obrigado. Verdade seja dita, não conheço as estradas...”

Belgrieve suspirou. Com alguns aventureiros próximos que ouviram e se ofereceram para se juntar às suas fileiras, Belgrieve e companhia se apressaram em direção à propriedade de Bordeaux.


Foi uma surpresa completa. A maioria dos soldados que guardavam a mansão havia partido para a cidade, e eles estavam com poucas mãos. Já havia mortos-vivos perambulando pelo primeiro andar, impedindo a fuga. Esta era a definição do livro didático de estar em desvantagem.

Ashcroft montou uma formação no corredor do segundo andar com um punhado de soldados. Eles tinham sido empurrados para longe da porta da frente.

A sala atrás dele abrigava Helvetica, Seren e alguns servos e guardas. O espaço à sua frente estava cheio de mortos-vivos. As feridas que recebeu de Angeline naquela manhã foram curadas, até certo ponto, pelo elixir que lhe deram. No entanto, levaria uma noite de sono para permear seu corpo, então não estava no auge de suas condições.

Para piorar as coisas, não eram apenas mortos-vivos. Havia alguns tipos poderosos de alto escalão misturados junto. O fedor perfurou seu nariz, o atrapalhando a se concentrar. Ashcroft estava confiante em lutar contra pessoas, mas como não era um aventureiro, era pouco experiente em combater monstros. Soldados caíram um por um, e agora apenas dez permaneceram.

Pensar que isso aconteceria agora de todos os momentos. Ele mordeu o lábio, irritado com a forma como seu próprio rancor egoísta o impediu de dar tudo de si durante uma emergência.

“Droga... Mordomo da Casa de Bordeaux... Que risada.”

Ashcroft era o quarto filho de um certo barão. Nunca herdaria o baronato, não importa o quanto lutasse — no máximo, poderia ganhar uma folha de pagamento como servo de alguma outra casa. No entanto, Helvetica viu seu talento e o nomeou, e assim se viu no centro da gestão do território durante o tempo do falecido Conde Bordeaux. Portanto, sua fé na Casa Bordeaux era inabalável. Ele havia desenvolvido a terra sem problemas e tinha a confiança que vinha com sua devoção. Reconhecidamente, tinha ficado um pouco vaidoso, embora fosse inevitável ficar com inveja de como Helvetica e suas irmãs adoravam Belgrieve.

Os resultados falavam por si, e talvez Ashcroft perdesse a vida da condessa — uma vida que valorizava muito mais do que a sua. Para agravar seus fracassos naquela manhã, parecia que o orgulho e a autoestima que havia construído ao longo dos anos haviam desmoronado.

Todavia não era hora de ficar deprimido. Encorajando seu corpo dolorido, gritou. “Vou proteger este ponto mesmo que me custe à vida! Vocês não vão chegar nem um passo mais perto da senhorita Helvetica e senhorita Seren!”

Ashcroft se manteve na vanguarda, balançando sua lâmina. Não era tão bom quanto Sasha, porém as habilidades que havia treinado eram mortais mesmo quando não estava em perfeita forma.

Ainda assim, os mortos-vivos permaneceram implacáveis, tanto em número quanto em impulso. Quando um na frente caía, o próximo subia sobre seus restos. Adicionado ao fedor, sua fadiga e falta de foco estavam começando a aumentar.

Um soldado ao seu lado gritou quando um morto-vivo mordeu sua traqueia. Ashcroft o cortou logo em seguida, mas o soldado já havia dado seu último suspiro. Eles foram pouco a pouco sendo empurrados para trás.

“É isso que ganho pela minha ignorância?” Ashcroft murmurou. No entanto, ele era o único que merecia ser punido. No mínimo, precisava ajudar a fuga de sua dama.

Endireitando os óculos, apertou a espada para abrir um caminho de fuga quando de repente ouviu algo atrás dos mortos-vivos. Não parecia ser reforços inimigos — ouviu os gemidos de morte de monstros, o som de carne rasgando e de algo estourando.

“O-O que...?”

O som gradualmente se aproximou. O morto-vivo se aproximando de Ashcroft foi cortado por trás.

Um balanço de cabelo ruivo o deixou estupefato. “Bel... Belgrieve...”

“Ashcroft! Você está vivo!”

Belgrieve ofereceu um sorriso aliviado e respirou fundo. Ele correu pela cidade, invadiu a mansão e, obstinadamente, abriu caminho até aqui. O que significava que tinha que pressionar enquanto ignorava ferimentos leves, o que era um pouco difícil para o corpo de um ferido de quarenta anos.

Houve uma explosão de magia atrás dele. Uma explosão de mana irrompeu da mão de Elmore, apagando um monstro. Ashcroft virou-se para ver o velho sorridente.

“Você está bem, Ashcroft. Então Helvetica...”

“Na sala atrás de mim... Mas por que vocês dois estão aqui?”

Belgrieve recuperou o fôlego e disse. “Senti um calafrio. Na maior parte foi intuição... Estou feliz por você estar inteiro.”

Havia lágrimas se formando nos olhos de Ashcroft, embora o mesmo não pudesse dizer se estava aliviado ou envergonhado de seu próprio estado patético. Fosse o que fosse, ficou tímido como resultado, abaixando a cabeça e soluçando. Belgrieve colocou uma mão gentil em seu ombro.

“Vamos, vamos, não é hora de chorar! Precisamos sair daqui, e rápido.”

Ashcroft ficou em silêncio por um momento, a determinação brotando por dentro. “Isso mesmo!” Ashcroft abriu a porta e chamou. “Senhorita Helvetica, senhorita Seren! Os números do inimigo estão baixos! Esta é a nossa chance de escapar!”

Helvetica — que tinha uma expressão calma mesmo nessa situação — assentiu. Seren parecia um pouco amedrontada, embora demonstrasse um pouco de alívio quando viu Belgrieve e Elmore.

Eles saíram, limpando qualquer morto-vivo que permanecesse em seu caminho. Embora tivesse se afastado das linhas de frente por um tempo, Elmore ainda era um ex-aventureiro de Rank AA, e aqueles que os acompanharam eram especialistas em extermínio de monstros, expulsando os mortos-vivos com mais experiência do que os soldados. Belgrieve também estava sobrecarregando seu corpo dolorido para balançar sua lâmina.

O sol já estava se pondo lá fora, e as nuvens espessas faziam uma escuridão mais profunda do que a noite. Elmore manifestou pequenas bolas de luz de sua mão para iluminar o caminho.

Eles procederam como uma festa, cercando as duas senhoritas. Belgrieve ficou na ponta dos pés enquanto fazia uma sugestão. “Por enquanto, provavelmente seria mais seguro se juntar aos outros aventureiros e soldados.”

“Sim, espero que a batalha no cemitério tenha terminado,” respondeu Elmore. “Por sinal, você parece estar com dor, Sr. Belgrieve. Tudo bem?”

Belgrieve estremeceu. “Tenho vergonha de dizer que me machuquei há pouco tempo... Forcei meu corpo um pouco longe demais.”

“Minhas desculpas...” Elmore franziu a testa se desculpando. “Eu não tinha ideia... E é provável que piorei sua situação.”

“Haha, não posso ser o único vagando em um momento como este. Não se preocupe.” Belgrieve riu calmamente.

Tímido, Ashcroft estendeu a mão para Belgrieve. “Também me machuquei e não consegui fazer meu trabalho direito... Sua capacidade é formidável, Belgrieve. Deixe-me mais uma vez me desculpar por minha insolência esta manhã.”

“O que está falando? Nós só chegamos a tempo porque conseguiu segurá-los por tanto tempo. Você fez um trabalho maravilhoso, Ashcroft. Tenha orgulho de si mesmo.”

“Eu... De fato não sou páreo.” o garoto coçou a bochecha estando um pouco tímido. Então, de repente, havia uma mão em cima de sua cabeça, bagunçando seu cabelo.

Helvética sorriu. “Sir Belgrieve está correto. Bem feito.”

“Suas palavras são desperdiçadas em mim.”

Percebendo que Ashcroft estava prestes a chorar de novo, Seren deu uma risadinha. “Você está meio que se tornando um bebê chorão, Ashe.”

Seu rosto ficou com um tom terrível de vermelho, e ele tentou disfarçar levantando os óculos.


Houve um grande inchaço de mana nas profundezas do cemitério. Havia muito menos mortos-vivos até então, e eles provavelmente tinham lidado com o peso desses. No entanto, Angeline podia sentir que as coisas não terminariam de forma tão simples.

Onde está o pai? Ela olhou ao redor. Angeline o tinha visto lutando na parte de trás um pouco antes. Tendo ficado terrivelmente tonta por lutar no mesmo campo de batalha, porém agora ele se foi. Ele recuou?

“Ah!” alguém gritou, apontando para cima. Todos olharam para o céu.

As nuvens negras cobrindo todo o céu acima estavam se reunindo em um único ponto, mais adiante no cemitério. Um vento úmido os atingiu, quase como se algo vil estivesse respirando em seus pescoços.

Angeline estreitou os olhos, ela conhecia essa sensação. Parecia que já havia enfrentado isso antes...

À medida que as nuvens se aglutinavam, revelavam o céu noturno. Ainda havia um leve tom de vermelho à distância, mudando em gradientes de roxo e ultramar à medida que subia. Várias estrelas estavam aparecendo, e sob o lindo céu havia algo sinistro. Era como se o próprio céu escuro tivesse sido raspado em algum ser bruto, como um boneco de sombra. No entanto, sua forma era indeterminada, e se contorcia e se movia como um demônio viscoso chamado lodo.

Mana encheu o ar, de um tipo que pinicava a pele. Angeline revirou os ombros e respirou fundo.

“Outro demônio...? Mas...”

Parecia um pouco diferente do que Angeline havia enfrentado antes. Tinha uma aparência e aura semelhantes, contudo parecia um pouco sintético.

Anessa e Miriam ficaram observando ao seu lado.

“Que presença estranha... É aquela coisa preta?”

“O que essa coisa deveria ser? Tenho um pressentimento terrível sobre isso.”

“Um demônio... Talvez?”

Essa afirmação fez com que as duas olhassem para a sombra sem expressão. Estava começando a mudar de forma de novo, movendo-se devagar. Vários apêndices semelhantes a antenas brotaram do que havia se condensado em um corpo redondo, deixando-o rastejar como uma aranha.

Por um momento, parecia que seu corpo se dividiu arbitrariamente em dois, apenas para dentes e uma língua saltarem da abertura. “Quero... I... Ir... Para casa...”

No instante seguinte, um grande número de monstros parecidos com sombras emergiu de sua boca. Caminhantes das Trevas, um tipo de fantasma. Seus tons escuros se fundiam com o crepúsculo, tornando-os difíceis de distinguir. Os aventureiros estavam em movimento.

“Luz mágica!” Angeline ordenou. “Coloque algumas luzes!”

Suas palavras os devolveram aos seus sentidos, e os magos começaram a cantar e lançar orbes brilhantes. O cemitério escuro estava cheio de luz, cambaleando os Caminhantes das Trevas.

Sasha ergueu a espada e gritou. “Esta é a nossa chance! Para o ataque!” com gritos de guerra e armas levantadas, os aventureiros avançaram.

“Vou deixar os fracos para você...” Angeline disse, avançando antes que recebesse qualquer resposta. Abrindo seu caminho entre os Caminhantes das Trevas em movimento lento, aproximando-se da marionete das sombras.

Sua lâmina foi balançada e cortou sem nenhuma dificuldade. Uma vez que caiu no chão, se desintegrou em fumaça preta e desapareceu.

Angeline observou isso duvidosamente. “Não senti nenhuma resistência... O que é isso?”

Mas não havia tempo para pensar — ​​um golpe veio do lado. Outros de seus braços vieram em sua direção como um chicote, atingindo-a no flanco.

Angeline foi jogada para trás, contudo se corrigiu no meio do voo e pousou. O impacto foi imenso, porém quase não causou dor. Esfregando o lado atingido, Angeline notou que não havia sofrido nenhum ferimento.

“É apenas para mostrar...?”

Mais braços vieram em sua direção de todos os ângulos. Parecia que poderia brotar quantos de seu corpo quisesse. Eles eram rápidos, contudo não tão rápidos que ela não pudesse reagir. Angeline se abaixou e cortou, cortando membros consecutivos, mas era como se estivesse balançando sua espada através do nevoeiro. Parecia que estava em uma missão tola.

“Você está me subestimando!”

Uma vez que ela limpou a maioria de seus tentáculos, Angeline levantou sua espada e baixou um forte golpe direto no corpo principal. Como esperado, o cortou com a mesma facilidade com que cortou seus membros, no entanto desta vez, a névoa negra se espalhou e a envolveu.

“Ack...”

No momento em que ela inalou um pouco pelo nariz e pela boca, seu ombro começou a doer mesmo quando deveria estar completamente curado. Veneno? Angeline se perguntou, e em seguida canalizou força em suas pernas para saltar para trás. Entretanto, era como se o nevoeiro tivesse subitamente ganhado substância, uma massa física que a impedia de se mover. Angeline caiu de joelhos como se algo a estivesse prendendo.

Uma voz estranha ecoou em sua cabeça. “O mesmo, o mesmo, o mesmo...”

“Ack... Gasp!”

Angeline lutou para respirar, ofegando e agarrando seu peito com força. Cada vez, absorvia um pouco mais da neblina. Havia um suor denso escorrendo por sua testa. Uma dor ardente veio de seu ferimento no ombro, e estava começando a sangrar também. “O que é isso...”

Reunindo seu poder para torcer o corpo, foi preciso tudo o que tinha para sair do nevoeiro. Ela tropeçou em si mesma, nem mesmo aterrissando direito; atingindo o ombro no chão primeiro.

“Ange!”

“O que? O que aconteceu?”

Anessa e Miriam correram. No entanto, o nevoeiro havia se reunido de novo em uma sombra, seus apêndices balançando como chicotes para obstruí-las. Outras partes envolveram os braços e pernas de Angeline.

“Pra casa, pra casa, pra casa, pra casa.”

“Cale-se!”

Angeline se forçou a balançar sua espada e se libertar. Porém, havia mais apêndices a cada momento, agora envolvendo todo o seu corpo. Cada um se contorcia como um ser vivo, e Angeline podia sentir arrepios subindo em sua pele. A voz estranha continuou ressoando em sua cabeça.

“O mesmo, o mesmo, vamos pra casa, pra casa...”

Era como se não fosse mais ela mesma. Um pavor tomou conta de seu corpo, deixando-a em pânico, e antes que percebesse, havia lágrimas nublando seus olhos. “Eu não... Quero isso!”

“Ange!”

Foi quando Sasha saltou com um golpe poderoso. Com um movimento de sua lâmina, decepou todas as partes que prendiam Angeline e a pegou antes que pudesse cair. A voz ficou em silêncio, mas seu corpo estava dormente. Angeline respirou fundo e gemeu.

“Desculpe, Sasha... Sou patética...”

“Ange... Que demônio...”

Sasha caiu para trás com Angeline por cima do ombro. Os aventureiros se agitaram assim que viram uma aventureira de Rank S recuar. Eles estavam visivelmente consternados, e isso estava afetando seus movimentos. Mais uma vez, a marionete das sombras se abriu, e mais e mais Caminhantes das Trevas rastejaram de sua boca. A situação foi piorando cada vez mais.

Os tentáculos da sombra se contorceram, puxando-a lentamente em direção às linhas de frente. Com mais Caminhantes das Trevas, os aventureiros foram de pouco em pouco forçados a recuar. E então, o ar pulsou. Os aventureiros olharam em volta, assustados. Uma menina solitária de dez anos atravessou suas fileiras — seu cabelo era branco e comprido, enquanto seus olhos eram de um vermelho escuro.

“Hey! É perigoso! Volte!”

A garota se virou para encarar os aventureiros, com um sorriso afável no rosto. “Não precisa se preocupar!”

Ao mesmo tempo, um Caminhante das Trevas estava se aproximando. Os aventureiros engoliram a respiração, alguns até pularam para salvá-la. No entanto, a garota ergueu a mão direita, imperturbável. O monstro avançado em sua direção foi atirado para trás como se fosse repelido por alguma força invisível.

“Testemunhem o milagre do Mestre Salomão!”

Em um instante, uma temível torrente de mana explodiu do corpo da garota voando em direção à sombra. Criando um redemoinho ao redor do temível inimigo, gradualmente ficando cada vez mais forte. Pedaços e pedaços do corpo da sombra se desprenderam, a névoa foi sugada pelo fluxo e se elevou no ar, até que por fim todo o último fragmento dela foi embora. Antes que alguém percebesse, os Caminhantes das Trevas — e até mesmo o restante dos mortos-vivos — também se foram.

Os aventureiros ficaram surpresos. O que poderia ser isso? Algum tipo de milagre? Todos se sentiam como se estivessem sonhando.

A garota se virou, estendendo as mãos com um sorriso alegre. “Bom trabalho a todos! A crise foi evitada!”

“Quem... Quem é você...?” alguém perguntou. A garota ficou feliz em responder.

“Meu nome é Charlotte! Viajei por toda a terra para trazer salvação a este mundo!”

Sua declaração foi seguida pelo bater de cascos. Eles olharam surpresos para o homem robusto montado em um cavalo.

“C-Conde Malta?”

“Por que ele está aqui...”

Conde Malta olhou para os aventureiros com olhos frios até que viu Sasha. Conduzindo seu cavalo em direção a ela, abaixando a cabeça com uma cortesia tão abjeta que soou como um insulto.

“Se não é a senhorita Sasha. Deve ter sido uma batalha difícil.”

“Conde Malta... O que o traz aqui?”

O conde riu. “Vi algumas nuvens peculiares indo para o oeste esta tarde. Charlotte aqui era uma hóspede na minha casa na época, e me informou que as nuvens continham mana e que eram perigosas. Senti um desconforto no peito, então corri para cá o mais rápido que pude com meu exército. Oh, estou tão feliz por ter chegado a tempo.”

Seu tom era educado, no entanto continuou a olhar para Sasha sem descer do cavalo. Ele sabe o que está fazendo. Sasha mordeu o lábio.

Malta continuou. “Parece que eram monstros da variedade de mortos-vivos. O que aconteceu com sua barreira?”

“Não foi ativada por algum motivo...”

“Entendo! Que azar! E vejo que você estava em desvantagem, mesmo com tantos aventureiros esplêndidos reunidos! Minha cara, o que teria acontecido se eu não tivesse chegado a tempo... A Casa Bordeaux deve estar abatida com toda a politicagem, para ficar para trás em um momento tão crítico.”

Sasha abaixou a cabeça, frustrada com o tom zombeteiro do homem. Queria repreendê-lo por sua insolência e expulsá-lo, contudo era inegável que seu convidado havia repelido o demônio sombrio. Tomar uma atitude arrogante em contra afetaria a dignidade da Casa Bordeaux.

Conde Malta zombou desinteressadamente quando percebeu que Sasha não ofereceria nenhuma refutação. “De qualquer forma, estou feliz em vê-la segura, Sasha. Só espero poder dizer o mesmo de Helvetica.”

“Minha irmã está na mansão. Deveria estar mais segura lá do que aqui.”

“Oh, é assim?”

O conde estava sorrindo de orelha a orelha, parecendo ter encontrando algo simplesmente emocionante. Ele não mostrou a menor hesitação, e havia alegria em seus olhos.

“Está agindo muito importante pra alguém que chegou atrasado... Quem é esse porco?” Angeline murmurou.

Isso foi percebido pelas orelhas afiadas do conde, e o sorriso desapareceu de seu rosto. “O que... O que acabou de dizer, garota?”

“Aventureiros que chegam tarde e pegam todas as partes boas são os piores dos piores... Em suma, você é o pior.”

A franqueza de Angeline provocou bastante reação do Conde Malta; seu rosto corou, fazendo-o cerrar os dentes e começou a tremer. No entanto, quando estava prestes a falar, Sasha gritou alegremente: “Irmã! Seren!”

Malta virou-se com um sobressalto. Seus olhos se arregalaram como se estivesse vendo um fantasma. Helvetica, Seren e Ashcroft voltaram junto com Belgrieve.

Com seu sorriso habitual, Helvetica cumprimentou o conde. “Sir Malta, você tem minha eterna gratidão por marchar tão longe com reforços. Ofereço meus agradecimentos como Condessa de Bordeaux.”

“Grr... N-Não precisa se preocupar com isto.”

Enquanto a boca de Helvetica estava sorrindo, seus olhos não estavam nem um pouco. Era como se seu olhar o atravessasse, e os olhos do conde estivessem nadando em seu estado nervoso.

Então, Ashcroft deu um passo à frente. “Conde, não tenho certeza do que pensar de um homem de sua estatura permanecendo montado diante daquele a quem serve.”

Voltando à realidade, o Conde desceu e balançou a cabeça. Ele estava imediatamente fora da consideração de Helvetica, e esta rapidamente se virou para olhar para os soldados ao seu redor.

“Não sabemos o que mais pode acontecer esta noite. Vamos fazer com que os moradores continuem sua evacuação. Sei o quão irracional estou sendo, mas, por favor, fique de olho na rotação. Aventureiros, obrigado por seu trabalho duro. Sei que posso precisar de sua ajuda uma vez mais em breve, contudo primeiro, por favor, descansem seus corpos.”

Os aventureiros ficaram aliviados ao ouvi-la, e em pouco tempo partiram na direção da guilda.

Helvetica voltou-se para o Conde Malta. “Conde, não posso oferecer muito nesta situação, no entanto você não veio aqui para se divertir, certo? Veio com suas tropas, então gostaria que eles ajudassem, se possível.”

Malta deu seu consentimento a contragosto, saltou em cima de seu cavalo e partiu com pressa. Charlotte correu frenética logo depois atrás do Conde para alcançá-lo.

“Minha sobrevivência parece ter sido um erro de cálculo da parte dele...” Helvetica disse com um suspiro.

“Nós não temos nenhuma evidência, irmã. Precisamos nos mover com cautela.”

“Estou ciente, Seren... Agora, então, vamos ter que arrumar a mansão.”

Todos começaram a se mover para cumprir seus respectivos papéis. Belgrieve franziu o rosto com a dor que o assaltou no momento em que relaxou, e afastou-se lentamente em busca de Angeline. Ele ficou horrorizado ao vê-la pendurada no ombro de Sasha e, esquecendo sua própria dor e exaustão, correu para sua filha como um relâmpago.

“Ange! O que há de errado?! Aconteceu alguma coisa? Você está bem? Está ferida?”

Angeline deu uma risadinha, vendo seu pai tão frenético. “Estou bem... Porém não consigo reunir minhas forças... Me carregue.”

“Entendo... Isso é bom... Tudo bem, com licença.”

Belgrieve substituiu Sasha e carregou Angeline nas costas. Ela o abraçou, contente, antes de franzir a testa ao recordar a estranha sensação da névoa negra envolvendo-a. “Errado. Sou eu mesma.” Angeline balançou a cabeça para se livrar dos pensamentos. Por enquanto, só tinha que deixar as costas grandes de seu pai tranquilizá-la. Agora que a batalha havia acabado, ela era incapaz de resistir à sonolência que suavemente se insinuou. Antes que percebesse, Angeline havia caído no sono.

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