Capítulo Extra 12.6: Quando Papai Pegou um Resfriado
Sua cabeça estava uma névoa e ele suava terrivelmente, apesar de todos os calafrios que sentia. Algo estava obstruindo a parte de trás de suas narinas, tornando um pouco mais difícil respirar.
Seus olhos desfocados pousaram em Angeline. A garota agora tinha dez anos e parecia preocupada. A toalha de mão úmida em sua testa estava um pouco quente com o calor de seu corpo. Angeline o mergulhou na água da pia, torceu e usou para limpar o suor de sua testa.
“Você está bem, pai...?”
“Sim... Obrigado, Ange... Já é meio-dia...? Preciso cozinhar...”
Enquanto Belgrieve tentava se levantar, Angeline o empurrou em frenesi de volta para baixo.
“Não, você precisa dormir bem.”
“Hmm... Mas...”
“Tudo bem. Não vai conseguir melhorar se não dormir... E o dia já está quase acabando.”
“Já é tão tarde...?”
Com Angeline encarando-o, Belgrieve desistiu e voltou a ficar deitado em sua cama. Ele pegou um resfriado — não havia dúvida sobre isso. Eu não peguei um há anos.
Belgrieve se sentiu patético e fechou os olhos. Angeline se levantou e acrescentou lenha ao fogo. O fogo estalou enquanto queimava, no entanto, além disso, podia ouvir o som da panela se abrindo e de uma colher de pau mexendo a mistura.
Era o início do inverno e ficava mais frio a cada dia. O céu estava coberto por um véu sempre presente de nuvens cinzentas, enquanto os dias de neve eram mais numerosos do que os claros.
Não pensei que iria cair no rio, lamentou. Belgrieve havia confundido um pouco de neve empilhada sobre o rio congelado com solo sólido em sua patrulha de costume. Como estava perto da costa, não era fundo e não corria o risco de se afogar. Contudo, ele havia tombado, encharcando todo o seu corpo na água fria que pingou em suas roupas; os ventos frios o deixavam ainda mais cansado. Calafrios já estavam percorrendo seu corpo antes de correr para casa e, embora tivesse tomado um remédio e tomado uma sopa quente antes de dormir, estava com febre na manhã seguinte. Mesmo assim, Belgrieve se esforçou para preparar o café da manhã e, no momento em que teve algo no estômago e voltou para a cama, já era noite.
Belgrieve soltou um suspiro profundo, corrigindo a colocação da toalha na testa. Já não tinha energia para oferecer um sorriso irônico, estava no meio da fiação e mal havia feito qualquer progresso na seleção dos grãos.
Mesmo sabendo que não adiantava apressar-se, mas quando estava tonto de febre, sua mente vagava por todos os lugares. Estava começando a se preocupar se algum dos vegetais armazenados no quintal havia estragado.
Angeline recuperou a toalha e enxaguou-a. Ela enxugou o suor em sua testa e disse: “Pai... Esquentei a sopa...”
“Hmm...”
Belgrieve se ergueu bem devagar. Segurou sua cabeça giratória com uma das mãos.
“Vou querer um pouco... E... O remédio que fervi ontem...”
“Entendi... Fique onde está.”
Angeline serviu a sopa da panela. Enquanto a observava, Belgrieve se sentiu feliz e patético por se deixar ser cuidado. Coçando sua bochecha, este refletiu sobre suas emoções conflitantes. Uma porção de sopa quente de feijão e carne-seca e a mistura de ervas acalmaram-no um pouco, e logo estava dormindo em paz mais uma vez.
Aliviada, Angeline enxugou o rosto de novo e acrescentou mais lenha ao fogo. Então tomou um pouco de sopa para si mesma, olhou longa e fixamente para o rosto adormecido de Belgrieve.
“Pai, que fofo...”
Acho que todo mundo faz cara de criança quando dorme, pensou Angeline. Olhando mais de perto, havia um leve bigode crescendo entre a boca e o nariz. Enquanto mantinha a barba, geralmente raspava o bigode, porém talvez sua doença o tenha impedido hoje.
“O que vai acontecer se crescer ainda mais...?”
Ela fez uma careta ao imaginar seu pai com um bigode farto. Imaginando-o parecendo uma pessoa completamente diferente. Isso é o suficiente, pensou Angeline, acariciando sua barba por fazer. Belgrieve murmurou algo em seu sono e ela riu.
Era sempre o contrário. Angeline era sempre a primeira a adormecer. Seu pai também seria o primeiro a acordar. Contudo hoje, eu levantei mais cedo do que papai e fiquei acordada porque nunca se sabe o que pode acontecer. Um sorriso então floresceu de orelha a orelha.
“Não se preocupe papai... Estou aqui com você...” monologou Angeline com orgulho, torcendo a toalha de mão quente de novo. Ela pegou uma de suas colchas — uma vez que dormia sob duas camadas na maioria das vezes — e a colocou sobre Belgrieve.
E assim, depois que a noite passou e a manhã chegou, Belgrieve acordou sentindo-se agora revigorado. A névoa em sua cabeça havia se dissipado. Seu corpo estava um pouco rígido, porém isso se resolveria se se movesse seu corpo um pouco. Um dia de descanso foi o suficiente.
Belgrieve se espreguiçou, erguendo-se para encontrar Ange esparramada ao seu lado. Vendo-a com apenas um cobertor enrolado em torno de si e seu rosto um pouco vermelho, um pressentimento terrível o percorreu.
“Ange...?”
“Bom dia pai...”
Seus olhos estavam turvos, sua voz um pouco nasalada. Belgrieve colocou a mão em sua cabeça — estava quente.
Ele suspirou. “Você pegou... Me desculpe...”
“Urgh...”
Angeline estendeu a mão para agarrar a de seu pai, colocando-a contra sua bochecha e fechando os olhos.
Com um sorriso irônico no rosto, Belgrieve colocou seu próprio cobertor sobre Angeline, torceu uma toalha de mão e a colocou em sua testa.
“Obrigado por ontem... Agora é a vez do pai.”
“Hmm.” Apesar do resfriado, Angeline parecia estranhamente encantada ao enterrar o rosto nas cobertas.
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