Capítulo 11: Mayoi Snail 003
A menina parecia estar no final do ensino fundamental e estava indo em direção a uma placa de metal na beira do parque — um mapa residencial da área. Ela estava de costas para mim, então não tinha ideia de como era sua aparência, mas a grande mochila que levava era muito notável — o que significava que a reconheci de imediato. Isso mesmo, a menina estava encarando aquele mapa residencial da mesma forma apenas alguns momentos atrás, antes de Senjougahara aparecer. Não demorou muito para sair correndo daquela vez — mas parecia ter voltado. Pelo que parecia, estava comparando uma nota que carregava com o que estava impresso na placa.
Hmm.
Em outras palavras, uma criança perdida. A nota deve ter um mapa escrito ou um endereço.
Concentrei minha visão na menina.
E quando o fiz, notei uma etiqueta costurada em sua mochila — ‘5ª Série, Classe 3.’ e seu nome inscrito com um marcador permanente grosso.
Não tinha cem por cento de certeza de como se lia os caracteres do primeiro nome, contudo... É provável que fosse ‘Mayoi’.
Porém o sobrenome... Como é lido? Nunca tinha visto antes.
‘Yakudera’... Talvez?
A arte da linguagem não era meu forte.
Nesse caso, pensei, tentaria perguntar a alguém quem era.
“... Ei, Senjougahara. Ve aquela aluna do fundamental na frente daquela placa? Como le esse sobrenome escrito na mochila dela?”
“Eh?” Senjougahara parecia confusa. “Está brincando comigo? Eu nem consigo vê-la.”
“Oh...”
Certo.
Tinha me esquecido.
Meu corpo não era mais normal — e eu havia alimentado Shinobu com meu sangue no dia anterior, no sábado. Naquele momento, minhas habilidades físicas eram muito maiores do que o normal, embora não no grau em que estavam durante as férias de primavera. É claro que o mesmo também afetou minha visão. Se não tomasse cuidado ─ veria coisas à distância como se estivessem bem na minha frente. Não é como se vê-las fosse um problema, porém ver coisas que outras pessoas não podem — não é uma sensação tão boa.
Acaba gerando discórdia com os outros.
Senjougahara também tinha esse problema.
“Hmm...” disse a ela. “está escrito com os caracteres para os números oito e nove, seguidos por o de ‘templo’...”
“...? Bem, o leria como ‘Hachikuji’.”
“‘Hachikuji’?”
“Sim. Você é tão analfabeto, Araragi? No seu nível acadêmico, estou surpresa que conseguiu se formar no jardim de infância.”
“Poderia me formar no jardim de infância de olhos fechados!”
“Isso é uma superestimação grosseira de suas próprias habilidades.”
“Agora está criticando até minhas respostas?”
“Não vai impressionar ninguém com esses tipos de comentários presunçosos.”
“Você está me impressionando, pelo que vale a pena...”
“Porém, falando sério, qualquer pessoa com um mínimo de interesse pela história ou pelos clássicos japoneses, ou seja, qualquer pessoa com alguma curiosidade intelectual, saberia como lê-lo. Existem coisas como perguntas idiotas, Araragi, e no seu caso é tão idiota quer as faça ou não.”
“Sim, ok, tanto faz. Sou um mau aluno.”
“Está redondamente enganado se acha que reconhecer esse fato torna tudo melhor.”
“...”
Fiz alguma coisa para ela?
Juraria que estávamos apenas conversando sobre como iria me expressar seus agradecimentos...
“Sheesh... Bem, de qualquer maneira.” comentei. “Acho que isso significa que o nome dela se le ‘Mayoi Hachikuji’.”
Que nome estranho.
Por outro lado, pode ser mais normal do que ‘Hitagi Senjougahara’ ou ‘Koyomi Araragi’. Seja qual for o caso, não era de bom gosto falar sobre os nomes das pessoas.
“Hm...” comecei, olhando para Senjougahara.
Hmph.
Não conseguia imaginá-la sendo o tipo que gosta de crianças pequenas... Senjougahara parecia mais o tipo que joga a bola na direção oposta se uma delas vier rolando em sua direção. Podia vê-la punindo uma criança chorando por ser muito barulhenta.
O que significa que seria mais seguro ir sozinho.
Se fosse qualquer outra pessoa que não a Senjougahara, gostaria de trazer uma garota comigo para que a criança pudesse baixar a guarda.
No entanto estava fora de questão.
“Ei, poderia esperar aqui um minuto?”
“Por mim tudo bem, mas para onde vai?”
“Vou falar com aquela garota do fundamental.”
“Não faria se fosse você. Só vai acabar se sentindo magoado.”
“...”
Nem sequer pensou duas vezes antes de dizer algumas coisas horríveis, não é?
Seja como for, podemos discutir depois.
Por enquanto, aquela criança.
Mayoi Hachikuji.
Levantei do banco e atravessei o parque trotando — até onde a placa de metal estava, onde a garota com a mochila estava. A menina parecia absorta em comparar o mapa com sua nota e não percebeu que me aproximei por trás.
Chamei-a quando apenas um passo restou entre nós.
Tentei parecer o mais amigável e sociável que pude.
“Ei. Qual é o problema, está perdida?” a menina se virou.
Ela usava o cabelo em tranças, com franja tão curta que suas sobrancelhas estavam à mostra.
Seu rosto me deu a impressão de que era brilhante.
A garota — Mayoi Hachikuji — me escrutinou antes de abrir a boca.
“Por favor, não fale comigo. Eu não gosto de você.”
“...”
...
Voltei para o banco em um passo de zumbi.
Senjougahara olhou para mim com curiosidade.
“Qual é o problema? Aconteceu alguma coisa?”
“Estou me sentindo magoado... Só acabei me sentindo magoado...” o dano foi ainda pior do que esperava.
Levei uma dúzia ou mais de segundos para me recuperar.
“... Estou indo de novo.”
“E para onde está indo e por quê?”
“Não pode dizê-lo só de olhar?” com isso, tentei de novo.
A garota, Hachikuji, voltou a olhar para a placa como se seu encontro comigo nunca tivesse acontecido. Estava comparando com sua nota. Dei uma olhada por cima do ombro — e notei que havia um endereço, não um mapa. Não tinha certeza, não conhecia a área, contudo tinha que ser próxima.
“Ei.”
“...”
“Você está perdida, certo? Aonde quer ir?”
“...”
“Aqui, deixe-me ver essa nota.”
“...”
“...”
...
Voltei para o banco em um passo de zumbi.
“Qual é o problema? Aconteceu alguma coisa?”
“Fui ignorado... Recebi tratamento de silêncio de uma garota do ensino fundamental...”
O dano foi ainda pior do que esperava.
Levei uma dúzia ou mais de segundos para me recuperar.
“Desta vez será diferente... Estou indo.”
“Sabe, Araragi, realmente não entendo o que está tentando fazer, ou por que está fazendo isso...”
“Apenas me deixe em paz...”
Assim, tentei pela terceira vez.
A garota, Hachikuji, estava de frente para a placa.
Pensando que o primeiro a agir tinha a vantagem, bati na nuca dela. Com a guarda baixa, a testa exposta de Hachikuji bateu na placa.
“O-O que você está fazendo?” ela se virou.
Obrigado Senhor.
“Qualquer um se viraria depois de levar um tapa por trás!” ela acusou.
“Er... Sinto muito por te bater.” todos aqueles choques repetidos no meu sistema me fizeram perder a calma. “A vida é cheia de dor, sabe?”
“Não estou entendendo seu ponto de vista!”
“Ele brilha mais forte quando... Você sabe?”
“Eu estava vendo estrelas agora mesmo!”
“Sim...”
Não estava a enganando.
Que pena.
“Bem, parece que está tendo alguns problemas. Achei que poderia ajudar.”
“Não há nenhuma ajuda neste mundo que alguém que espreita alunos do ensino fundamental e lhes dá um tapa na cabeça poderia dar! Absolutamente, com toda certeza, nenhuma!”
Sua guarda estava levantada. Muito alta.
Claro que estaria.
“Como disse, sinto muito. Sério, peço desculpas. Hum, meu nome é Koyomi Araragi.”
“Koyomi? Esse é um nome de garota.”
“...”
Ela não se conteve, não é?
Raras vezes ouvia isso de pessoas que conheci pela primeira vez.
“Você cheira a feminilidade!” exclamou a garota. “Por favor, não chegue perto de mim!”
“Não vou tolerar uma mulher dizendo isso para mim, mesmo que esteja no ensino fundamental...”
Whoa, vamos.
Acalme-se, acalme-se.
É preciso começar — com confiança.
Não chegaríamos a lugar nenhum a menos que tentasse melhorar a situação.
“Então, qual o seu nome?” perguntei.
“Eu sou Mayoi Hachikuji. Me chamo Mayoi Hachikuji. Meu nome é um presente precioso de meu pai e minha mãe.”
“Hah...”
Parecia que estávamos certos sobre como o nome era lido.
“De qualquer forma, por favor, não fale comigo! Não gosto de você!”
“Por que não?”
“Porque me bateu por trás de repente.”
“Porém já tinha me dito que não gostava de mim antes mesmo de te bater.”
“Então é carma de uma vida anterior!”
“É minha primeira vez sendo desagradado dessa forma.”
“Fomos inimigos mortais em nossas vidas passadas! Eu era uma linda princesa e você o rei demônio maligno!”
“Só está se fazendo de vítima aqui, vamos ser claros.”
Não siga estranhos.
Se um estranho falar contigo, ignore-o.
Os alunos do fundamental nos dias de hoje provavelmente têm essa lição ensinada a eles... Ou será apenas que minha aparência não é atraente para as crianças?
Seja qual for o caso, não ser apreciado por uma criança é bem deprimente.
“Acalme-se por um segundo.” disse. “Não vou te machucar nem nada. Sou conhecido como um ‘amigo do homem e igualmente dos animais’ nesta cidade, ok?”
Foi sem dúvida um exagero, mas parecia o grau certo de exagero, considerando com quem estava lidando. Criança ou não, é inteligente fazer-se parecer o mais inócuo possível para casos como este.
Independente de estar ou não convencida, a garota assentiu solene e disse: “Entendo. Vou baixar minha guarda.”
“Eu agradeço.”
“Ok, então, Senhor Besta por Igual.”
“Senhor Besta por Igual? Está falando de mim?”
Ack...
Era uma frase comum, porém poderia transformá-la em um insulto supremamente condescendente apenas adicionando a última parte. Que expressão para usar sem pensar. Na verdade, não apenas a usei, mas me apresentei como tal...
...
“Você está gritando comigo! Está me assustando!” ela disse.
“Ok, desculpe ter gritado, porém não deveria sair por aí chamando as pessoas de ‘Senhor Besta’! Faria qualquer um começar a gritar!”
“Sério... No entanto não é como você é conhecido como na cidade. Tudo que fiz foi responder de maneira sincera.”
“Não pode assumir que pode dizer qualquer coisa, desde que seja sincera. Não é assim que o mundo funciona...”
É verdade que, neste caso, as próprias palavras vieram de mim, e talvez ela nem mesmo estivesse sendo crítica. Contudo ainda assim.
“Em suma, ‘amigo do homem e igualmente dos animais’ não é uma frase que queira reformular assim.” comentei.
“Oh. É mesmo? Entendo. Em outras palavras, é como ‘Pule Josafá¹!’, as pessoas podem achar que é aceitável um personagem que grita ‘Pule Josafá!’ sempre que fica animado, no entanto nunca comprariam um personagem ‘com tendência a apelar para um personagem rei bíblico saltitante quando agitado.’ assim?” ela perguntou.²
“Não tenho tanta certeza... Não me vejo aprovando um personagem que grita ‘Pule Josafá’ sempre que fica animado...”
“Então, como devo me referir a você?”
“Apenas de forma normal.”
“Ok. Senhor Araragi, então.”
“Gosto disso. Normal. Não se pode superar o normal.”
“Eu não gosto de você, senhor Araragi.”
“...”
Minha situação não melhorou nem um pouco.
“Seu odor é ruim! Por favor, não chegue perto de mim!”
“Isso não é pior do que cheirar a feminilidade?”
“Hrmph... É verdade, ‘odor ruim’ por si só pode ter sido uma maneira muito cruel de descrevê-lo. Permita-me me corrigir.”
“Se realmente vai, então com certeza.”
“Você fede! Por favor, não chegue perto de mim!”
“A primeira parte quase fazia sentido, mas agora estragou tudo!”
“Não me importo! Por favor, vá para outro lugar com a devida pressa!”
“Não, espere... Você está perdida, certo?”
“Sou totalmente capaz de lidar com esse tipo de situação! Estou acostumada a problemas como este! É uma coisa muito normal para mim! Estou acostumada a viajar!”
“Está trabalhando na indústria de vez em quando? Nessa idade?” se fosse esse o caso, não se perderia, certo?
“Apenas... Pare de ser teimosa.” insisti.
“Não estou sendo teimosa!”
“Sim, está.”
“Hiya! Tome isso!”
Enquanto Hachikuji pronunciava essas palavras, desferiu um chute alto em minha direção com todo o peso de seu corpo. Impróprio para uma garota do ensino fundamental, seu chute tinha uma bela forma, como se uma vara corresse por sua espinha mantendo-a perfeitamente reta. Mas para infelicidade, há uma diferença de altura entre os alunos do ensino fundamental e médio, e isso se provou intransponível. Poderia ter sido diferente se tivesse me acertado bem no rosto, porém seu chute alto só chegou até minha axila. O que não quer dizer que a ponta do sapato batendo em mim não causou nenhum dano, contudo a dor era suportável. Logo depois que seu pé me atingiu, usei meus braços para agarrá-la ao redor de seu tornozelo e panturrilha.
“Querida eu!” Hachikuji gritou, no entanto era tarde demais.
... Decidi perguntar a Senjougahara mais tarde sobre a gramaticalidade de “Querida eu” por agora, enquanto Hachikuji cambaleava em uma perna, puxei-a para cima, como um fazendeiro arrancaria um rabanete grande de seu campo. Se isso fosse judô, chamaria de arremesso de quadril. É contra as regras agarrar a perna do seu oponente assim no judô, contudo para sua falta de sorte, este era um combate real, não uma partida. Assim que seu corpo deixou o chão, tive um vislumbre do conteúdo de sua saia, em um ângulo bastante atrevido, mas como não sou um pedófilo, não me distraí nem um pouco. Apenas a joguei por cima do ombro.
Aqui, no entanto, a lacuna em nossas alturas funcionou contra mim. Graças ao seu corpo pequeno, Hachikuji passou um pouco mais de tempo no ar antes de ser cair no chão do que uma pessoa do meu tamanho — apenas um pouco, entretanto foi o suficiente para Hachikuji mudar sua abordagem e agarrar meu cabelo com suas mãos livres. Eu estava o deixando crescer por um motivo — o que significava que mesmo os dedos curtos de Hachikuji não tinham problemas em agarrá-lo. A dor atingiu meu couro cabeludo e fez minha mão soltar a panturrilha de Hachikuji.
Hachikuji não era uma garota tão doce a ponto de desperdiçar esta oportunidade. Em vez de esperar para pousar, ela ficou nas minhas costas, girou em torno de mim usando minhas omoplatas e começou a chover golpes na minha cabeça, me dando uma cotovelada. Seus golpes encontraram seu alvo — todavia foram superficiais. Seus golpes não eram capazes de transmitir sua quantidade de força costumeira porque seus pés estavam fora do chão. Nossa diferença de idade e experiência se mostrou. Se tivesse dado um único golpe certeiro em vez de precipitar o resultado, teria sido isso, teria acabado. Agora era minha vez de contra-atacar. Tive um caminho garantido para a vitória.
Agarrei o braço que estava me golpeando na cabeça – parecia o esquerdo — não, estava invertido, então o braço direito — agarrei o braço direito, e dessa posição refiz meu arremesso!
Desta vez — funcionou.
As costas de Hachikuji bateram no chão.
Coloquei alguma distância entre nós dois, com medo de um possível contra-ataque—
Entretanto ela não deu sinais de se levantar.
Eu venci.
“Sua tola — pensou que uma aluna do fundamental poderia vencer alguém do ensino médio! Fwahahahahaha!”
Lá estava ele, um homem do último ano do ensino médio, gabando-se de coração por ter batido em uma garota do ensino fundamental, tendo lutado com ela seriamente e a despachado com um sério lançamento de quadril.
Esse colegial seria eu.
Eu, Koyomi Araragi, era o tipo de personagem que intimidava uma garota do ensino fundamental e caía na gargalhada... Estava conseguindo me assustar.
“... Araragi.” uma voz fria veio.
Olhei em volta para encontrar Senjougahara.
Ao que parece, tinha vindo até mim porque não suportava assistir.
Sua expressão era muito duvidosa.
“Sei que disse que iria te seguir até o inferno, mas estávamos falando sobre ser pequeno. Essa encenação vergonhosa é algo totalmente diferente, espero que se de conta.”
“... Permita-me me defender.”
“Vá em frente.”
“...”
Minhas ações foram indefensáveis.
Propus em vão.
Então me reagrupei.
“Bom, esqueça o que passou agora, essa garota aqui─” apontei para Hachikuji, ainda incapaz de sair do chão. Presumi que estava bem, no entanto. Suas costas atingiram o chão primeiro, o que significava que sua mochila teria amortecido o golpe. “Parece estar perdida. E pelo que posso dizer, não parece estar com um dos pais, um amigo ou qualquer outra pessoa. Hmm, estive aqui neste parque por um tempo desde esta manhã, e ela estava realmente aqui olhando para esta placa antes de você chegar. Não fiz nada então, porém como acabou voltando aqui, então deve estar de fato perdida, certo? Não gostaria que ninguém se preocupasse, então me perguntei se poderia ser de alguma ajuda.”
“... Hunh.”
Embora Senjougahara acenasse com a cabeça, sua expressão permaneceu duvidosa. Claro, posso ver como ela pode querer perguntar como a situação evoluiu para uma briga, no entanto o que poderia responder? Foi só o caso da alma de um guerreiro respondendo a outra.
“Entendo.”
“Hã?”
“Não, faz sentido... Agora entendo o que está acontecendo.”
Ela entendia mesmo?
Heh, talvez estivesse apenas fingindo que entendia.
“Oh, é verdade, Senjougahara. Você morava por aqui, não é? Então é provável que saiba onde fica um endereço na vizinhança, certo?”
“Hum, claro... Tão bem quanto uma pessoa média.”
Uma resposta morna.
Era possível que Senjougahara agora me considerasse um abusador de crianças? Parecia um rótulo ainda pior do que pedófilo, se é que fosse possível.
“Ei, Hachikuji.” chamei. “Sei que só está agindo como se tivesse desmaiado. Mostre a simpática senhorita aqui o seu bilhete.”
Me abaixei e olhei para o rosto de Hachikuji.
Seus olhos estavam revirados.
... O desmaio não era fingido.
Ver o branco dos olhos de uma garota era muito angustiante...
“O que há de errado, Araragi?”
“Oh nada...”
Casualmente me virei para esconder o rosto de Hachikuji nas minhas costas para que Senjougahara não percebesse e bati na bochecha da garota algumas vezes. É claro que isso não foi um ato adicional de violência, mas uma tentativa de acordá-la.
Ela voltou a si como resultado.
“Hm... Acho que acabei de ter um sonho.”
“Oh sério? Que tipo de sonho foi?” perguntei com minha melhor voz de programa infantil de TV pública. “Diga-me, Hachikuji! Que tipo de sonho teve?”
“Um sonho em que fui fisicamente abusada por um garoto selvagem do ensino médio.”
“... Parece um daqueles sonhos em que o oposto da realidade acontece.”
“Entendo. Então foi isso.”
Foi sem dúvida o que aconteceu antes de desmaiar.
O remorso estava rasgando meu peito.
Peguei a nota de Hachikuji e tentei entregá-lo a Senjougahara — porém ela não exibiu nenhuma reação de pegá-lo. Apenas olhando para minha mão estendida, seus olhos mais frios que o gelo.
“Qual é o problema? Pegue.”
“... De alguma forma, apenas não quero ter que tocá-lo.”
Urg.
Pensei que tinha me acostumado com sua língua ácida, mas isso doeu...
“Estou apenas entregando um bilhete.”
“Não quero tocar em nada que tenha te tocado.”
“...”
Ela me odiava agora...
Senjougahara de cara me odiava agora...
Porém é estranho... Parecia que estávamos nos dando muito bem até alguns momentos atrás.
“Tudo bem, entendi... Então vou ler para você, ok? Vamos ver...”
Li o endereço tal qual estava escrito na nota. Felizmente, consegui ler de forma fluente porque não havia caracteres opacos.
“Ah.” Senjougahara disse em resposta. “Sei onde fica.”
“Ótimo.”
“Acho que estaria um pouco além da minha antiga casa. Não conheço a área em detalhes, no entanto devemos ser capazes de localizar quando estivermos por perto. Ok, vamos lá.”
Senjougahara se virou e começou a caminhar em longas passadas em direção à entrada do parque assim que terminou de falar. Esperava que fosse reclamar mais, ou dizer que não queria ter que mostrar o lugar para uma criança, porém para minha surpresa, foi rápida em concordar — por outro lado, Senjougahara nem se apresentou a Hachikuji ou mesmo fez contato visual, então assumi minha previsão de que ela não gostava de crianças como sendo válida. Isso ou estava considerando que este era o meu ‘desejo de qualquer’.
Ah...
Se for o caso, vou sentir de verdade que desperdicei meu desejo...
“Bom, tanto faz... Vamos, Hachikuji.”
“O que? Ir aonde?” Hachikuji perguntou, parecendo confusa de verdade.
Não conseguiu seguir as conversas ou algo assim?
“Para o endereço nesta nota, é claro. A senhorita ali sabe onde é, então concordou em nos levar lá. Não é ótimo?”
“... Oh. Ela quer?”
“Hm? Espere, você não está perdida?”
“Não, estou perdida.” afirmou Hachikuji. “Sou um caracol perdido.”
“Eh? Um caracol perdido?”
“Não, eu─” ela balançou a cabeça. “Não sou nada.”
“... Está bem então. Hum, nesse caso, acho que devemos seguir essa senhorita. O seu nome é Senjougahara. E se acha que o seu nome parece agressivo, espere até conhecê-la. Contudo, depois de se acostumar com sua brusquidade, pode acabar adquirindo um gosto por isso porque, por dentro, ela é uma pessoa bastante honesta e boa. Talvez um pouco honesta demais.”
“...”
“Vamos. Apenas se apresse e me siga.”
Hachikuji ainda não estava se movendo, então agarrei sua mão e puxei, quase a arrastei comigo para perseguir Senjougahara. “Ah, urr, err, orkork.” Hachikuji vocalizou o tipo de som bizarro que esperaria de uma toninha ou leão-marinho, mas apesar de alguns apuros, acabou por me seguir todo o caminho sem tropeçar uma única vez.
Eu voltaria mais tarde por minha bicicleta de montanha.
Por enquanto, deixamos o parque, qualquer que seja o nome. Nunca tive a chance de averiguá-lo.
Notas:
1. Josafá, de acordo com o primeiro livro de Reis, era filho de Asa, e o quarto rei do reino de Judá, na sucessão de seu pai.
2. Não estou totalmente certo se entendi, mas essa ‘praga’ apareceu pela primeira vez em um romance em 1866 quando um caubói o usou para expressar sua surpresa e admiração ao ver quão longe o cavalo havia saltado. Esse ditado originou-se nos EUA durante a mania do século 19 por substituir palavras profanas ou blasfemas por termos inofensivos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário