quinta-feira, 23 de dezembro de 2021

Boukensha ni Naritai to Miyako ni Deteitta Musume ga S Rank ni Natteta — Volume 02 — Capítulo 15

Capítulo 15: O Sol já Estava se Pondo


O sol já estava se pondo quando o fino véu de nuvens se dissipou. O crepúsculo desceu gradualmente e um vento frio varreu a terra. A montanha a oeste significava que o sol sempre se punha cedo em Turnera e as noites ainda eram frias. A neve quase derreteu, mas ainda era inverno, no que se refere ao calendário, e um pouco do frio do inverno seguia persistindo.

Belgrieve havia usado carne seca e feijão junto com seu estoque de batatas e verduras para preparar um rápido ensopado. Quando estava sozinho, seria mais econômico com o sal e os ingredientes, porém hoje era especial. Ele encheu a panela e acrescentou muitos condimentos, incluindo os temperos que Angeline trouxe.

Angeline se aproximou, insistindo que queria ajudar, contudo Belgrieve a disse para trazer seus souvenires antes que a neve os cobrisse. Assim, relutante, Angeline ajudou Anessa e Miriam na tarefa hercúlea. Enquanto olhava para a montanha de presentes, ela ficou irritada — quem em sã consciência achou que era uma boa ideia trazer tantos presentes? E então franziu a testa, lembrando que tinha sido ela mesma.

Assim que Belgrieve pôs o ensopado para ferver, amassou um pouco de massa de pão e colocou-a perto da lareira. Então, pegou uma panela grande do galpão e a usou para aquecer água.

“Não há banhos em Turnera. O mais próximo que pode ser feito é molhar um pano em água quente e se enxugar bem.” disse Belgrieve, acrescentando um pouco de água fria de um balde para regular a temperatura. Ele torceu uma toalha, acendeu uma vela e colocou os dois itens ao lado da panela. “Pode não aquecê-lo por completo, mas tome o tempo que precisar limpando a sujeira. Vou fazer minhas rondas lá fora.”

Enquanto Belgrieve colocava seu casaco sobre os ombros e pegava sua espada, Angeline o agarrou.

“Pai, vou lavar suas costas... Então lave minhas costas também.”

“Hey, uma garota da sua idade não deveria estar dizendo algo assim.”

“Somos pai e filha, então não é um problema... Você não é um pervertido que cobiça a própria filha, é?”

“Oh, você tem uma língua afiada agora. Essas provocações baratas não funcionam em mim.” Belgrieve sorriu ironicamente e cutucou sua teste com um gesto gentil. Então saiu e fechou a porta atrás de si.

Angeline estalou os lábios. “Costumávamos nos limpar o tempo todo.”

“Vamos, isso é forçar um pouco... Não incomode muito seu pai.” Anessa riu cansada enquanto tirava o casaco. A lareira estava vermelha e a casa estava mais quente do que esperava. Uma vez que estava apenas com suas roupas de baixo, Anessa perguntou hesitante. “Seria melhor se... Eu tirasse tudo?”

“Hum? Você disse alguma coisa?” Miriam já havia tirado o chapéu e o robe pesado e a calcinha, deixando a pele pálida nua. Os montes macios que adornavam seu peito balançavam livres enquanto usava a toalha de mão torcida para limpar seu corpo. Sua cauda balançava enquanto suas orelhas se moviam para frente e para trás.

“Ah, está no ponto certo. Veja como ficou sujo com a limpeza.” a toalha foi manchada com fuligem em algum momento.

Anessa suspirou. “Olha aqui, você é uma dama. Não mostre sua pele de uma forma tão leviana...”

“Não se preocupe com isso...”

“Eep!”

Antes que Anessa percebesse, Angeline havia se esgueirado e furtado suas roupas íntimas por trás. Quando soltou um grito instintivo, Angeline e Miriam riram.

“Ela disse ‘Eep’... Hehehe.”

“Tããão pura.”

“C-Calem a boca! Idiotas!” Anessa gritou, escondendo o peito enquanto ficava vermelha. As outras duas riram ainda mais.

Em qualquer caso, a questão de passar a esponja enquanto estando nuas foi resolvida, e as três meninas começaram a limpar-se e uma à outra. Elas gradualmente baixaram suas guardas e logo começaram a brincar e fazer cócegas umas nas outras.

“Hey, não empurre! O que faria se eu caísse aqui?”

“Hehe, sua pele é tão lisa, Anne.”

“Por sua vez... Merry é macia... Que suntuoso.”

“Ah, agora você disse isso! Eu estava preocupada respeito!”

“Não acha que está comendo doces demais? Não estava assim antes.”

“Calada! Olha quem fala, Anne! Veja como suas pernas ficaram gordas! Olha só esses quadris férteis!”

“Gah... E-Esse é o resultado do meu treinamento! É importante ter uma parte inferior do corpo resistente!”

“No meu caso, não estou crescendo... Em lugar nenhum. Que mistério...”

“Hmm... No seu caso, Ange, seria por que está sempre se movendo muito?”

“Certo. Você é quem mais está correndo, então faz sentido que esteja emagrecida, ou talvez ‘firmado’ seja a maneira certa de colocar?”

“Está certo! Estou com ciúmes de quão magro seu corpo é!”

“Disse os peitos monstros... Está querendo uma briga?”

Uma súbita corrente de ar soprou sobre as garotas. A temperatura externa estava aos poucos filtrando, e a sala que estivera tão quente não estava tão aconchegante agora. As meninas estremeceram e tiraram o quanto antes roupas limpas de suas bolsas. Agora estava escuro, o sol já havia se posto lá fora.

Anessa vestiu um casaco, enquanto Miriam puxou a touca de dormir sobre os olhos. As duas nasceram e foram criados em Orphen, então não estavam acostumados com o frio cortante.

“Phew... Fica muito frio quando o sol se põe.”

“Sim, as noites de Turnera são duras... Vai pegar um resfriado no dia seguinte se não tomar cuidado.” disse Angeline, acendendo uma lâmpada. A lâmpada foi colocada em uma corda pendurada no teto. O quarto, que mal era discernível pelo brilho da vela, agora estava envolto em uma luz suave de lamparina. Ela fez uma careta para a lareira que agora era pouco mais do que brasas.

“Vou precisar adicionar madeira...” comentou, pegando alguns pedaços da pilha ao lado e colocando-as sobre as brasas brilhantes. Assim que soprou, as chamas subiram como se as tivesse soprado vida de volta.

“Deve resolver...”

“Ahh, agradável e quentinho agora.”

As três se amontoaram perto do fogo. Angeline estendeu a mão e agarrou um cobertor para envolvê-las. As meninas riram — por algum motivo, parecia que eram crianças de novo.

“Lembra como costumávamos entrar nos esconderijos assim para contar histórias assustadoras?”

“Como aquela sobre o fantasma no cemitério. A irmã ficou furiosa quando descobriu.”

“Ah, sim, porque fizemos as crianças chorarem! A irmã entrou correndo quando estávamos tentando fazer com que eles se acalmassem...”

“Isso me traz lembranças... Hehehe.” Miriam se aproximou de Angeline, que estava imprensada no centro. “Você costumava fazer isso com seu pai, Ange?”

“Eu costumava sentar no seu colo... Ele colocava um cobertor sobre os ombros e me enfiava embaixo...”

Enquanto os três mergulhavam em várias memórias, houve uma batida suave na porta. “Já terminaram?”

Angeline disparou em direção à entrada antes que alguém pudesse responder. Abrindo a porta, saltou e se agarrou a Belgrieve, envolvendo os braços em volta do seu pescoço e se pendurando.

“Bem-vindo de volta pai! Vai se lavar também?”

“Talvez mais tarde. Por enquanto, vamos jantar.”

Belgrieve entrou enquanto exalava respirações brancas, com Angeline ainda pendurada no seu pescoço. Junto, levava consigo um pássaro elaenia sem cabeça, que deve ter acabado de matar, pois ainda não tinha ficado rígido.

Colocando o pássaro no bloco do açougueiro, ele abaixou Angeline e disse: “Ange, se lembra de como fazer o pão?”

“Sim! Na frigideira, certo?”

“Certo.”

Feliz como poderia estar ao receber um pedido de Belgrieve, Angeline arrancou pedaços da massa crescida, enrolou-os em bolas e os alinhou na assadeira. Anessa e Miriam se aproximaram e observaram, com curiosidade.

“Hmm, eu não sabia que você podia fazer algo assim...”

“Interessante. Acho que nem todo pão precisa de forno.”

“Não é nada fofo, mas é muito bom à sua maneira... Quer tentar?”

“B-Bem, acho que sim, por que não.”

“Tudo bem, a Grande Merry vai mostrar o que ela tem.”

Com muita conversa, as três meninas enrolaram o pão até a frigideira estar cheia. Belgrieve observou, satisfeito, enquanto embebia o pássaro em água quente, arrancava suas penas, estripava-o e usava o fogo para remover o que restava da penugem.

“Estou feliz por ter conseguido um bem a tempo.”

Ele conseguiu acertá-lo com uma pedra de arremesso enquanto caminhava pelos campos. O pôr do sol fora seu aliado, pois retardava as reações do pássaro, que de outra forma teria se movido com mais astúcia. Não era especialmente carnudo, dada à estação, porém tinha um pouco de gordura — mais do que o suficiente para adicionar alguma variedade à mesa de jantar.

Belgrieve espetou tudo, permitindo que a gordura gotejasse enquanto o assava no espeto. O fígado, o coração e outros órgãos comestíveis foram espetados da mesma forma. Cada vez que uma gota de gordura caia, as brasas estouram e soltam vapores, como se a estivesse fumando. O aroma era divino.

Logo o pão foi cozido, a elaenia foi assada e os pratos servidos com xícaras fumegantes do vinho quente que Angeline trouxera da capital.

“Duvido que corresponda ao que encontrarão em Orphen, mas divirtam-se.”

“Um jantar cinco anos atrasado! Isso é uma festa!” Angeline se alegrou com uma alegria infantil ao sentir o cheiro da panela. Em vez da culinária sofisticada e extravagante de Orphen, ela preferia o sabor de sua cidade natal.

“Hehehe, o cheiro de amoras... Papai gosta e eu também!”

“Acho que você não vai encontrar muitos delas em Orphen. Espero que seja do seu agrado...”

Belgrieve derramou uma concha de ensopado em cada tigela. Um cheiro peculiar, embora não desagradável, aumentou com o vapor.

“Tudo bem... Vamos comer!” disse Ange, juntando rapidamente as mãos para agradecer.

Belgrieve não era irreligioso per se, porém também não era piedoso em particular. Ele não costumava orar à Todo-Poderosa Viena por suas refeições, contudo conhecia os problemas que surgiam com a caça e a cozinha todos os dias. Em seu lugar, ofereceu sua gratidão à vasta expansão da natureza que o abençoou com essa generosidade. Angeline cresceu assistindo e imitando-o. Ao mesmo tempo, Anessa e Miriam ofereceram orações breves, mas mais sagradas, antes de pegar seus talheres de madeira. Seus hábitos religiosos foram formados a partir de sua educação no orfanato da igreja.

Depois de aquecer por tanto tempo junto à lareira, as raízes do guisado estavam quase derretidas, suavizando o sabor do guisado. O caldo feito de carnes secas e especiarias combinou de uma maneira incrível. Angeline encheu a boca com um sorriso espalhado em seu rosto, enquanto Anessa e Miriam pareciam estar desfrutando uma agradável surpresa.

“É muito bom. Nunca provei algo assim antes. Esse formigamento na parte de trás do meu nariz é a amora?” Miriam perguntou.

“Sim, você acertou.” respondeu Belgrieve. “Talvez seja um gosto adquirido.”

“Sim, no entanto eu gostei... É ótimo, Sr. Belgrieve.”

“Gostei também.”

“Entendo, que bom...” Belgrieve sorriu de alívio e tomou um gole de vinho quente. Tinha um sabor nostálgico, trazendo lembranças de seu tempo como aventureiro. Enquanto refletia sobre o fato de que Angeline agora estava bebendo ela mesma, não pôde evitar sentir o fluxo do tempo.

“Você já foi buscar grama brilhante, pai?”

“Não, ainda não. Vamos juntos?”

“Sim! Vamos lá!”

Anessa inclinou a cabeça. “Grama brilhante?” papagueou.

“É uma flor redonda, parecida com uma lâmpada. Emite um brilho em vermelho se derramar álcool em cima... Nós as enviamos boiando rio abaixo.” explicou Ange.

“Era um costume Turnera. O papel agora é barato, então todos usam lanternas, porém costumava ser grama brilhante.” acrescentou Belgrieve.

“Hmm... Parece interessante.”

“São especialmente lindas à noite... Hey, pai. Podemos levar Anne e Merry também?”

“Claro.”

Belgrieve sorriu e deu um gole em seu vinho.

Depois de comerem uma grande quantidade de carne, havia bastante gordura acumulada em seus pratos. O que fazia um complemento perfeito para o pão.

“Rasgue um pouco de pão... Segure por cima para que a gordura não escorra na sua mão, coloque a boca perto do prato...”

Angeline mostrou as duas como mergulhar o pão.

“Hmm, então só tem que...” Quando Miriam aproximou o rosto da mesa, seu chapéu roçou no assado de elaenia, ensopando a borda de gordura.

Belgrieve acariciou sua barba. “Merry, não é difícil comer de chapéu? Por que não...”

“Ah! Hum... Err...”

Merry estava tão animada apenas um momento atrás, contudo, de repente, estava se encolhendo timidamente. Anessa olhou para Belgrieve e Miriam com conhecimento da causa.

“Merry.” disse Angeline. Sua expressão facial séria. “Meu pai não é esse tipo de pessoa.”

“Eu sei, mas...” Miriam baixou a cabeça.

Embora Belgrieve estivesse um pouco confuso, entendeu que havia dito o que não deveria. “Desculpe. Não quis insinuar nada. Não precisa tirá-lo se não quiser.”

Miriam manteve a cabeça baixa por um tempo, então, de repente, em um movimento amplo, ergueu o rosto e tirou o chapéu. Suas orelhas felinas balançaram suavemente. Belgrieve assistiu a isso com a boca entreaberta.

Miriam era uma mulher besta. Sua espécie nunca foi muito numerosa, e já foram vistos abaixo dos humanos de sangue puro. Muitos homens bestas podiam traçar suas raízes até os escravos. Embora a escravidão já tivesse sido abolida no Império Rodesiano e a discriminação flagrante fosse proibida, era da natureza humana intimidar sempre que encontrava alguém em um degrau inferior da escala social. Esse desejo ficava mais forte quanto maior a diferença de posição.

Miriam passara a infância como órfã nas favelas e enfrentara muita discriminação até o momento em que o orfanato a acolheu. Mesmo agora que era uma aventureira de Rank AAA, ela passara a temer todos aqueles olhares curiosos em suas orelhas. Embora temesse o desprezo e a alienação, também não gostava de suportar simpatia não solicitada. Isso a fez sentir como se estivesse sendo desprezada, como se sua própria existência fosse algo inferior de alguma forma. ‘Não me lembro de ter feito nada para ganhar sua simpatia’, era o que queria dizer a eles.

Miriam confiava em Angeline, e Anessa era essencialmente como sua irmã, então não sentiu nada quando olharam para suas orelhas. Ela podia até aceitar de brincadeiras quando elas a provocavam por causa de suas orelhas. No entanto, expô-las a alguém que acabara de conhecer era assustador, mesmo que essa pessoa fosse o pai de Angeline.

Belgrieve ficou em silêncio por um momento, até que por fim coçou a cabeça de maneira desajeitada.

“Entendo... Então é sobre isso que se trata.”

Miriam baixou os olhos com tristeza. Era tal como ela temia — aqueles que vissem seus ouvidos pela primeira vez teriam pena dela. Até o pai de Angeline.

No entanto, as palavras seguintes de Belgrieve a deixaram confusa. “Suas orelhas estavam frias... Turnera é um pouco mais frio do que Orphen, afinal...”

Enquanto observava atordoada, Belgrieve se levantou e olhou em volta inquieto, em seguida, jogou várias toras no fogo e soprou-as. As chamas se acenderam com ferocidade.

“Tudo bem... Me dê um minuto. Lembro de ter um gorro de lã por aqui... A aba não deve atrapalhar e suas orelhas ficarão quentes... Certo, devo ter colocado...” ele murmurou, procurando o chapéu em cada canto.

Angeline sorriu. “Viu? Meu pai não é assim.”

“Suas orelhas estão frias... Ele disse... Pfft!” Anessa estremeceu, segurando o riso.

Assaltada por esse estranho tom de ridículo, Miriam inadvertidamente caiu na gargalhada, segurando seu estômago. Muitas foram às vezes em que havia lamentado por ser uma mulher besta, porém ninguém nunca parou para considerar se suas orelhas estavam frias. E, claro, não estavam, nem um pouco — suas orelhas estavam cobertas por uma camada de pelo agradavelmente quente.

“Ahahahahaha! Ah... Deveria ter adivinhado. Afinal, o pai da Ange é o pai da Ange! Hehehe... Bwahahahahaha! Ah, o que há de errado comigo!”

Assim que encontrou seu gorro de lã e voltou, Belgrieve ficou surpreso ao ver Miriam segurando a barriga e rindo. “O que houve?”

“Ah ha... Não é nada! Hehe, obrigado Sr. Bell!”

“Hum? Oh, aqui, tome...”

“Está tudo bem, não se preocupe. Agora sente-se, pai... Hehe.”

“Mas, hmm... Merry, suas orelhas...”

“Senhor. Bell, senhor Bell — que tal algumas histórias de quando Ange era criança?”

“Ah com certeza...” Enquanto Belgrieve ainda parecia confuso, as meninas alegremente encheram seus rostos com ensopado. Ele inclinou a cabeça em confusão, contudo pegou a colher de pau mesmo assim.

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