Capítulo 40: Mova-se rápido! Quem cedo madruga pega a Espada Mágica!
“O quêêê...” Sherra gritou surpresa quando o esquadrão de capangas demoníacos apareceu do nada. É, acho que qualquer um ficaria surpreso com aqueles brutos surgindo na cena... Não posso dizer que não fiquei meio chocada.
Mas talvez o grito dela os tenha irritado ou algo assim, porque todos a encararam. Ouvi Sherra ofegar, mesmo enquanto eu começava a recitar um feitiço em voz baixa. Mas antes que pudesse executá-lo...
“Hraaah!” os demônios soltaram um uivo coletivo. Incontáveis projéteis flamejantes apareceram no ar à frente do grupo, e então... Brabababooshooshoosh! Eles choveram sobre todos nós de uma vez!
Luke aproveitou a oportunidade para deslizar para frente, sua lâmina agora emitindo um fraco brilho. Aquele brinquedinho era mágico? Luke o ergueu e...
“Golpe Mágico do Vento!”
Vwhoosh! Enquanto sua espada cortava o ar, o vento noturno uivava em uma ventania com a força do feitiço Vento de Diem! Ele facilmente repeliu a saraivada mortal de fogo.
“Heh!” Luke zombou, virando-se para nós com sua aura presunçosa no máximo. “Viu só, Mileena? Eu só...”
“Pode guardar a ostentação para depois?” Mileena foi rápida em dispensá-lo, desanimando-o por completo.
Enquanto faziam sua rotina de casal, não pude deixar de me sentir um pouco impressionada. Não havia detectado nenhum sinal de Luke entoando um feitiço naquele momento. Com nada mais do que um golpe de espada e força de vontade, ele obteve um efeito comparável a um feitiço Vento de Diem...
Nada mal para uma espada mágica! Podia ser um cachorro de um truque só, claro, porém qualquer encantamento permitiria que uma arma ferisse mazokus e outras criaturas resistentes a ataques físicos. Aposto que poderia comprá-la barato desse trouxa!
Contudo as negociações teriam que esperar até que tirássemos o lixo!
Mileena fez o próximo movimento.
“Rompimento Astral!” ela conjurou, e o demônio inferior próximo que atingiu com o feitiço se transformou em névoa.
Por sua vez, Luke e Gourry prepararam suas espadas e investiram contra os inimigos de ambos os lados do beco. E foi justo nesse momento que terminei meu feitiço!
“Zellas Bullid!” o raio de luz que produziu atravessou dois demônios ao mesmo tempo. Então, obedecendo à minha vontade, mudou de curso no ar e matou mais um antes de se despedaçar em voo.
Gourry e Luke também conseguiram acabar com seus demônios alvo nesse tempo, deixando apenas...
“Acima de nós!” Mileena gritou de repente.
Um segundo depois, senti a presença acima de mim e pulei para trás. Krnch! Senti um estrondo no chão quando algo grande pousou por perto... Outro demônio inferior! Não tinha me dado conta que havia mais inimigos nos telhados!
No entanto o mais importante é, este havia pulado bem na frente da... Sherra! Nada bom! Nem Mileena, nem eu tínhamos um feitiço pronto para usar! O grande demônio golpeou Sherra com a mão direita e...
A garota entrou em ação instantaneamente, mas não para recuar! Em vez disso, invadiu o espaço pessoal do demônio inferior e bateu a palma direita em seu peito. Thwack! Não pareceu um golpe lá muito poderoso, todavia um tremor percorreu o corpo do demônio inferior e... Whump! Seu corpo caiu para trás, sem vida.
Uh, caramba.
“Diga, Sherra, você não é nada má...” sussurrei.
“E te dei algum motivo para presumir que era?” sua resposta soou indignada, jogando a trança pendurada para trás, por cima do ombro.
Quando parei para pensar, Sherra tinha conseguido se esquivar dos ataques dos homens de preto com bastante agilidade... Entretanto, ei, saber que conseguia se virar em uma luta significava que eu podia manter meu foco na batalha em questão!
Vamos ver, quantos ainda restam?
Lancei um olhar para Gourry e gritei.
“Ei, quantos mais você tem aí?”
Eu esperava que dissesse algo como ‘dois ou três’, mas...
“Não sei! Tem dois ou três aqui, só que...”
Não tinha previsto essa última parte.
‘Aqui’? Quer dizer que...
“Idem!” gritou Luke, ouvindo nossa conversa. “Não somos os únicos com esse problema... Acho que a cidade inteira está lotada desses desgraçados!”
A... A cidade inteira? Não tinha certeza de como podia afirmar saber disso, contudo significava que era imperativo controlar a situação.
Comecei a recitar um feitiço baixinho.
“Lei Asa!” entoei, elevando-me direto no ar. Assim que cheguei alto o suficiente, olhei ao redor e... “O quê?” me vi gritando. Por um momento perdi a concentração, fazendo com que minha barreira de vento se inclinasse para o lado.
Havia manchas de chamas por toda a cidade. Não consegui entender a história toda daqui, no entanto se tudo isto fosse obra de demônios... Então devia haver perto de cem deles nos limites da cidade. Dada a aparição repentina em nossa proximidade, presumi que os homens de preto os tivessem invocado, entretanto agora parecia que não era o caso.
Variava de acordo com a capacidade do conjurador, entende? Todavia dois costumavam ser o limite máximo de quantos demônios um único feiticeiro podia invocar e controlar ao mesmo tempo. Em outras palavras, coordenar uma horda de demônios desse tamanho exigiria de quarenta a cinquenta conjuradores, no mínimo. Embora, se houvesse tantos homens de preto por aí, por que se dariam ao trabalho invocar demônios? Poderiam apenas nos suprimir usando seus números a seu favor.
Da mesma forma, o aparecimento dos demônios foi abrupto demais para que fosse algum bando selvagem correndo solto. Se fosse uma invasão vinda de fora, alguém teria notado a horda chegando e o pânico teria varrido a cidade como uma onda, com um ponto de origem claro. Mas, da minha visão aérea, as chamas pareciam estar uniformemente dispersas pela cidade.
O que diabos está acontecendo...? Enquanto refletia sobre a situação, vislumbrei um pequeno brilho pelo canto do olho. Virei-me para olhar, meio por reflexo, e avistei uma figura escura recortada pela luz. Droga, outro dos caras de preto? Quer dizer que essa luz é...
Sim, o cara jogou uma Bola de Fogo bem em mim. Não demorou muito para que eu usasse meu feitiço para descer rapidamente. E ainda assim...
Bwoosh!
Não tenho certeza se tinha sido cortada minha barreira ou se algo a havia acionado, porém a Bola de Fogo explodiu sobre minha cabeça e espalhou chamas vermelhas por toda parte. A força explosiva me jogou contra a parede mais próxima e depois contra o chão! Provavelmente teria me matado se não fosse pela proteção da minha barreira. A coisa toda, como esperado, me deixou um pouco tonta, porém dissipei o ar que me envolvia e consegui me recompor.
“Tenham cuidado, pessoal! Ainda não terminamos com os homens de preto! Eles estão tentando se aproveitar do caos para acabar com a gente!” gritei em alerta aos meus companheiros. O plano do inimigo era inteligente. Nessas circunstâncias, os aspirantes a assassinos poderiam causar todo o caos que quisessem e culpar os demônios por qualquer dano colateral.
“Eles também estão nos telhados?” perguntou Mileena.
“É. Acabei de ver um.” respondi.
“Então eles têm prioridade. E se eu voar enquanto você atira?” ela propôs.
“Vamos nessa!” concordei, e nós duas começamos nossos respectivos cânticos.
Mileena terminou seu feitiço primeiro, colocou a mão no meu ombro e então proferiu as palavras de poder.
“Levitação!” ela deve ter adicionado alguns toques pessoais ao seu encantamento, porque subimos no ar muito mais rápido do que um feitiço Levitação normal nos levaria, quase a velocidade de um feitiço Lei Asa.
Chegamos acima dos telhados em um piscar de olhos. Olhei ao redor e... Lá! Entre os raios prateados da lua e a luz carmesim dos incêndios, uma figura escura em um telhado se destacou da escuridão da noite. Fomos direto em sua direção e lancei meu feitiço!
“Dam Blas!”
Kerkrash! O homem de preto saltou para o lado pouco antes de eu explodir um pedaço do telhado debaixo dos seus pés. Só que... Pwop! O local onde pousou cedeu sob seu peso!
Usei o poder dos meus talismãs para aprimorar aquele Dam Blas, o que aumentou seu poder destrutivo. Se tentasse se esquivar de um ataque desses como faria com um Dam Blas normal, teria uma cruel surpresinha.
“Ngh!” o homem cambaleou para a frente na tentativa de recuperar o equilíbrio, no entanto não adiantou. Ele caiu do telhado e, embora tenha conseguido cair de pé...
Krabobobobum! Um demônio inferior parado nas proximidades o cobriu de flechas flamejantes!
“Urgh!”
Ninguém conseguiria se esquivar de uma saraivada daquelas de tão perto logo após o pouso, e então o homem foi engolido pelas chamas. Mas esse não foi o fim... Fwoom! Ele devia estar carregando explosivos escondidos ou algo parecido, porque explodiu em pedacinhos, atingindo o demônio próximo na explosão.
Ainda assim, se os demônios também estavam atacando os homens de preto, confirmava que eles não estavam sob o controle invocado. Só podia imaginar que havia mais homens de preto por aí, porém não conseguia sentir nenhum nas imediações naquele momento. Assim, Mileena e eu pousamos de volta em velocidade lenta.
“Acabamos com a maioria deles aqui!” Luke gritou, como se estivesse nos esperando.
“O mesmo aqui!” Gourry parecia ter feito a sua parte também.
Contudo este não era o único beco cheio de demônios.
“Certo!” eu me recompus. “Vamos logo mostrar ao resto desses otários quem é que manda!”
“Sim!” todos concordaram calorosamente com o meu plano. Todos, exceto um, quero dizer...
“Hã?” exclamou Sherra.
———
“Hahh... Bom dia, pessoal!” bocejei, esfregando os olhos sonolentos enquanto descia.
“Já passa do meio-dia.” respondeu Mileena com sua voz monótona de sempre. Ela, Gourry, Sherra e Luke já estavam todos sentados à mesa.
“Dá um tempo. Só consegui dormir ao amanhecer. Com licença, senhor... Vou querer um conjunto de filé de frango e uma combinação de peixe cozido. E uma sopa de macarrão também, por favorzinho!” com os nervos à flor da pele, pedi um café da manhã leve ao dono da taverna e me sentei ao lado de Gourry.
Tínhamos passado a noite anterior... Ou mais precisamente, o início da manhã, eliminando demônios até o amanhecer no céu oriental. É claro, não tínhamos cuidado de todos nós mesmos. Após o incidente em Bezeld e a onda de ataques subsequentes às vilas próximas, cidades grandes como esta começaram a convocar soldados e conjuradores do conselho de feiticeiros para proteção.
Juntos, eles e nós, conseguimos pôr fim à fúria demoníaca. Houve danos substanciais na cidade, no entanto, por sorte, a pousada onde estávamos hospedados permaneceu intacta. Porém infelizmente...
“Aqueles idiotas de preto conseguiram escapar!” murmurou Luke com amargura enquanto cutucava seu linguado salteado com creme com um garfo.
“É, verdade... A única coisa que conseguimos foi salvar Sherra.” concordei com um aceno de cabeça.
“Me salvar?” Sherra me encarou. “Você quer dizer me empurrar de um telhado e me colocar contra demônios?”
Aha! Alguém está guardando um pouquinho de rancor, pelo que vejo!
“Bom, aquilo foi só... Isso! Foi porque sabia que você aguentava!”
“Sabia?” ela me encarou ainda mais.
“Bom, deixando esse assunto de lado...” Gourry interrompeu. Então, olhou Sherra nos olhos e perguntou. “Poderia nos contar o que está acontecendo?”
“Urgh...” Sherra soltou um gemido baixo, desviando um pouco o olhar.
Entretanto Gourry continuou a encará-la e disse.
“Tenho certeza de que Lina me explicou tudo antes, mas não estava ouvindo, então...”
Splat! As palavras que saíram de sua boca foram tão ultrajantes que caí de cara na mesa.
“N-Não estava me ouvindo?”
“Não! Hahaha...” Gourry coçou a nuca sem jeito. “Acho que devia estar ouvindo na hora, só que se estava, acabei me esquecendo... Sabe como é, né?”
“Pare de sorrir desse jeito! Está dizendo que nunca pensa em nada e só me segue o tempo todo?”
“É isso mesmo!”
“Já disse para parar de sorrir!”
Crack! Meu cotovelo, movido pela fúria, cravou fundo na têmpora de Gourry.
“Ngh!”
“Certo, grandalhão, aqui vai uma coisa rápida e suja! Estamos tentando encontrar uma nova espada mágica para você, e estamos tentando fazer com que Sherra, que deve ter uma, fique em dívida conosco! Se tudo correr bem, podemos até conseguir de graça!”
“Isso é rápido e sujo!” Sherra interrompeu, e... Seria só minha imaginação que seu olhar estava ficando ainda mais hostil? Meh, detalhes.
“Agora, brincadeiras à parte.” falei, voltando meu olhar para Sherra.
“Oh? Era só brincadeira?” ela insistiu.
Mas a ignorei e continuei.
“Imagino que tenha seus motivos, e que são complicados. Tenho certeza de que há coisas que também quer manter em segredo. Porém precisa entender... Suas preferências pessoais não são mais a coisa mais importante em jogo.”
Sherra não disse nada e apenas torceu o nariz.
Pressionei-a.
“Vamos lá, Sherra. Não é possível que estejam conectados? Quero dizer, o assunto sobre o qual você não quer falar e... Olha, vou ser direta. Estou falando da espada em Bezeld e da aparição dos demônios.”
“O quê?” Luke rosnou, e Mileena ergueu uma sobrancelha. É claro que Gourry, que não entendia nada da situação, não teve reação alguma. Quanto a Sherra...
“Hahh...” ela soltou um suspiro profundo.
O silêncio então se instalou na mesa por um tempo. Como se esperasse por aquela pausa na nossa conversa, o dono me trouxe meu pedido, no entanto em vez de pegá-lo, mantive meus olhos fixos em Sherra.
“‘Essa espada’...” começou finalmente depois de um longo momento. “‘Não deveria existir’. Era o que meu pai sempre dizia quando ficava bêbado...”
Então, existe uma espada! Mal consegui me conter para não agarrar Sherra pelo colarinho e sacudi-la enquanto exigia saber onde estava, em vez disso, fiquei quieta e atenta.
“Meu pai disse que ela cria demônios e que nunca deve ser liberada sobre o mundo.”
“Uma espada que cria... Demônios?”
Nós nos entreolhamos ao ouvir essas palavras.
“Sim. Ele nunca me contou a história toda, mas se o que meu pai disse significa que a espada está conectada à eclosão de demônios... Talvez algo esteja ativando o poder da espada e causando esse desastre. Se for esse o caso, tenho que fazer algo a respeito.” disse Sherra, a última frase um sussurro que soou como se estivesse tentando se convencer mais do que a nós.
“Entendo... Você está indo para Bezeld para tentar impedir as coisas sozinha.” observei.
Em resposta tive um firme aceno.
“Porém você realmente sabe como pará-lo?” perguntou Mileena baixinho.
“B-Bem...” Sherra franziu os lábios e olhou para baixo. Em outras situações, teria levado a outro silêncio constrangedor, contudo...
“Certo, querida Sherra, deixe conosco! Nós daremos um jeito!” proclamou Luke cheio de confiança, batendo no peito.
“E tem algum fundamento para dizer isso com tanta certeza?” perguntou Mileena, prática.
“Nenhum!” respondeu Luke firme e sem hesitar. “No entanto vou fazer acontecer! Porque é assim que homens de verdade agem!”
“Quanta bobagem!” disse ela, e então deu um leve sorriso. “Totalmente sem base... Entretanto gosto do seu estilo!” admitiu.
“Gosta?” perguntou Luke, com os olhos brilhando. “Quer dizer... Que nossos sentimentos enfim são mútuos?”
“Pare de brincar e vamos voltar ao assunto em questão.”
“B-Brincar? Você...”
A recepção fria de Mileena fez Luke chorar por um momento, mas logo em seguida...
“Tudo bem! Mesmo que não retribua meu amor agora, um dia sei que retribuirá! E não vou desistir até que aconteça!” ele berrou alto o suficiente para o restaurante inteiro ouvir.
Dá para parar com isso, cara? Fiquei com um baita constrangimento de segunda mão... Todo mundo está olhando agora pra gente também...
“D-De qualquer forma, se a parte de ‘criar demônios’ for literal e aquela espada for mesmo a causa dos ataques demoníacos...” eu não aguentava mais as palhaçadas estranhas do Luke, então mudei o mais rápido que pude de assunto. “Não estou surpresa que algum rei ou lorde local esteja mandando aqueles caras das operações especiais para obtê-la.”
“Como assim?” perguntou Gourry.
“Como assim? Para fins militares, claro! É perfeito.”
“Fins militares? Porém segurar a espada não faz demônios aparecerem? Parece algo perigoso para levar para a sua terra natal...”
“Bem, é óbvio, dãã. É por esse motivo que faz o oposto. Primeiro, contrabandeia a espada para o território inimigo e o inunda com demônios. Depois, relaxa enquanto os idiotas causam estragos nas estruturas militares e políticas do seu inimigo. Aí você espera o momento certo para enviar seu exército ou anexar o território em nome de ‘oferecer ajuda’, ou o que quiser. Muito mais barato do que uma guerra direta.”
“En... Entendo! Caramba, você é a melhor em inventar planos malignos, Lina. Quero dizer... Er, deixa pra lá.” disse Gourry, parando de falar depois de notar meu olhar furioso.
“Tal qual seria de se esperar da megavilã Lina Inverse, sempre deixando o caos para trás!” Luke interrompeu no instante seguinte.
“Quem está chamando de megavilã?”
“Acho que fui bem claro.”
“Seu...”
“Contudo chega de enrolação...” disse ele, seguindo em frente antes que eu pudesse terminar de protestar. “Claro, isso tudo pressupõe que a espada seja real. Não vou deixar aqueles caras de preto pegá-la se for.”
“Er, bem... Acho que pensamos a mesma coisa.”
Não gosto de me render, no entanto não podia começar uma briga agora que o cara tinha fingido ser sincero. Então, sem outro recurso, concordei com um aceno de cabeça.
“Certo, por falar nisso, tenho uma proposta a fazer.”
“Uma proposta?”
“Sim. Primeiro, Sherra, preciso perguntar. Imagino que, se conseguirmos encontrar a espada e deter os demônios, não se importará muito com o que acontece com ela depois, né? Contanto que não seja usada para o mal. Tipo, se importa se um de nós a pegar?”
“Bom, suponho que... Não posso te pagar em troca da sua ajuda, então acho que seria melhor do que nada.” respondeu Sherra, concordando prontamente com a sugestão de Luke.
Será que ela ao menos sabe quanto dinheiro espadas mágicas valem? Talvez pense que ninguém vai investir dinheiro em uma espada que invoca demônios...
“Ok, trato feito!” disse Luke, estalando os dedos e se virando para mim. “Agora, uma pergunta para vocês. Digamos que de fato exista uma espada mágica e consigamos encontrá-la... Não tem como dividirmos o saque conosco de forma justa, não é?”
“É bastante provável que não.” admiti com um aceno firme. Afinal, queríamos a espada para usá-la. Não havia como dividi-la, mesmo que quiséssemos. Quer dizer, poderíamos hipoteticamente pagar a eles metade do valor de mercado da espada para ‘comprar’ a sua parte. Só que nem preciso dizer que não sou muito fã desse plano.
“Tudo bem, então aqui está a minha oferta. Nós cinco trabalhamos juntos para lutar contra os homens de capa preta.” continuou Luke.
“Achei que não era pra ficarmos muito amiguinhos, certo?” perguntei.
“Só me ouça, ok? Trabalharemos juntos para lutar contra os homens de preto. Depois, quando chegar a hora da espada... Acho que podemos trabalhar juntos para deter as hordas de demônios também. Depois, quando o perigo estiver todo controlado, se a espada ainda estiver lá para ser tomada, corremos para ver quem a pega primeiro. Quem pegar primeiro fica com ela, sem ressentimentos. Que tal?”
Hmm... Esse era o seu jogo. Pensei um pouco antes de dizer.
“Certo, tem uma coisa que quero garantir primeiro. É possível que tenhamos que quebrar a espada para deter os demônios. Vocês estão dispostos a fazê-lo?”
Kkkrk! Por um breve, mas óbvio momento, vi uma careta cruzar o rosto de Luke. Compreensível, claro. Era mais que evidente que sua intenção é vender a espada. Não era possível vender uma espada de invocação de demônios no mercado aberto, todavia havia muitos canais pelos quais se podia obter moedas de ouro por essas coisas. Por sua vez, Gourry e eu estávamos atrás de uma espada mágica que pudéssemos usar... E uma que invocasse demônios a qualquer momento não era lá nossa primeira escolha. Em outras palavras, o que sugeri seria uma perda muito menor para nós do que para eles.
“B-Bem...” como previsto, Luke hesitou em responder. Entretanto mudou rapidamente de ideia quando viu Sherra o encarando. “C-Claro que vou quebrá-la se precisar! Acabar com essa bagunça é o objetivo número um, certo? Ah... Hahaha!”
Sua risada soou com uma pitada de desespero.
“Certo, concordo com seus termos!” falei acenando a cabeça. “E você, Sherra? Está dentro?”
“Claro. Deter os demônios é tudo o que me importa. Vocês encontrarão a espada na mina abandonada na montanha ao norte de Bezeld. Conto mais quando chegarmos.”
“Ok! Nesse caso é hora da trégua até chegarmos a Bezeld! E sem tentar se adiantar ao outro time. Agora, Luke, se não se importa que pergunte... Essa espada que você tem também é mágica, certo?”
“Hmm? É. Porém não tem nome nem história.”
Aha, como imaginei! Hora de começar as negociações! Com um pouco de sorte, posso conseguir um bom negócio! “Sendo assim, tenho um acordo para oferecê-lo! Estou me esforçando muito para conseguir isso, contudo tiro das suas mãos por, digamos... Cinco e meia!”
Blarghsplat! Por algum motivo estranho, minha oferta bastante generosa fez Luke e Mileena caírem da cadeira.
“Que diabo de preço é esse?” Luke gritou.
“Heh. É mais do que costumo oferecer.” respondi com um sorriso doce.
“E o que é isso? Nada?” ele continuou, seu descontentamento era bastante evidente.
Apesar da acusação de Luke, uma vez ofereci a Gourry quinhentos e cinquenta pela Espada da Luz. O grandalhão não a aceitou, é claro... Contudo se a Espada da Luz valia quinhentos e cinquenta, então com certeza não ofereceria nem uma moeda a mais por uma mísera espada mágica de providência desconhecida! É bom senso mercantil básico. Bem, ok, alguns podem chamar de negócio sujo, embora ainda assim...
“Para sua informação, não a tenho mais, no entanto ganhei minha última espada mágica de graça... Com Gourry de brinde.”
“Ei...” Gourry me lançou um olhar feio. Pelo visto nem ele poderia deixar essa passar.
“Bem... Não vou vender por esse valor...” Luke se esforçou para voltar a se sentar. “Entretanto por cinquenta e três bilhões, talvez.”
Ker-thud! Foi a minha vez de cair da cadeira.
“B-Bilhões...?” sussurrei enquanto me recompunha. Já tinha conhecido uma alma corajosa no passado que ousara aumentar meu lance em dez mil, todavia cem milhões, porra? Isso era outra história. “E-Então está dizendo... Sem chance de vender, hein?”
“Não por um preço de brincadeira, não.” ele fungou.
Urgh... Se insiste, então... Terei de mirar na espada mágica em Bezeld! Sempre posso comprá-la deles se nos vencerem, embora seria de graça se pudéssemos pegá-la nós mesmos! A diferença entre esses dois resultados era gritante, dado o preço atual das espadas mágicas, o que deixava apenas uma pergunta: quem colocaria as mãos na mercadoria primeiro?
Não, na verdade havia uma questão mais urgente... Será que havia mesmo uma espada para começo de conversa? Pensando bem, essa era uma suposição bastante forte. A única evidência que tínhamos para comprovar sua existência eram as palavras do pai bêbado de Sherra, o que significava que era perfeitamente possível que tudo aquilo fosse uma busca inútil e que os demônios não tivessem nada a ver com tal história.
Mas, ei, remoer as possibilidades não nos levaria a lugar nenhum, então é isso, no que me dizia respeito. Com todo tipo de pergunta sem resposta, seguimos em frente com nossa aliança de bom agrado.
———
Um ar de sofrimento pairava sobre Bezeld. Natural, dado seu status como epicentro dos ataques demoníacos. Talvez a cidade estivesse em alerta máximo para outro ataque, porque não havia barracas montadas ao longo da avenida e um grande número de casas e lojas estavam fechadas com tábuas, seus donos talvez evacuados há muito tempo. Os pontos importantes da cidade estavam guardados por vários soldados de rostos severos. Embora fosse meio-dia, poucas pessoas andavam pelas ruas, e as que andavam permaneciam caladas e atenta aos arredores. Era como se a cidade inteira estivesse encolhida de medo...
Era a atmosfera que eu esperava, porém, na verdade... Bezeld era a própria imagem da tranquilidade. Fiquei perplexa ao ver barracas enfileiradas na rua, carruagens indo e vindo, lojas fervilhando de barulho, crianças brincando nas ruas. Certo, talvez houvesse mais soldados e feiticeiros a postos do que se ve num dia qualquer... Contudo esse era o único sinal de que algo estava acontecendo.
Segundo o estalajadeiro onde estávamos hospedados, a ameaça de um segundo ataque demoníaco havia de fato fechado a cidade por um tempo... No entanto as histórias de invasões a assentamentos vizinhos sugeriam que o perigo era igualmente prevalente em qualquer lugar para onde tentassem fugir. Na verdade, a concentração de soldados em Bezeld fazia com que parecesse mais segura do que a maioria, e suspeito que a maioria das pessoas não tinha para onde ir, mesmo que fugissem da cidade. O resultado foi apenas um êxodo menor, e embora eu pudesse entender a lógica em jogo...
A cidade parece relaxada demais. Foi o que não pude deixar de pensar enquanto olhava pela janela naquela noite.
O brilho mágico dos postes de luz perfurava a escuridão aqui e ali, e pude ouvir o barulho clamoroso dos bares próximos. Ainda não era meia-noite, todavia não tinha dúvidas que já passava da hora do jantar. Se os cidadãos sentissem qualquer sinal de perigo, estariam trancados em suas casas... Entretanto, pelo que podia ver, as pessoas seguiam caminhando pelas ruas sem se importar. A pousada onde estávamos hospedados também tinha bastante gente entrando e saindo, e...
“Hmm?” fiz uma careta e me inclinei para a frente ao avistar uma pequena figura saindo da pousada. Só a vi por trás, mas tinha certeza de que era Sherra.
Havia uma boa chance de os caras de preto estarem acampados aqui em Bezeld. Ela devia saber também, então o que pretendia fazer saindo escondida àquela hora? Enquanto ponderava a resposta, lembrei-me do que o velho estalajadeiro da antiga vila de Sherra havia me contado a seu respeito depois que nos conhecemos.
Talvez tivesse na verdade nascido aqui em Bezeld...
Minha mente começou a se fervilhar com perguntas. Sherra parecia ter um passado complicado, então não havia investigado muito sobre sua infância. Porém agora que estou considerando, não sabia nada sobre sua mãe, muito menos sobre sua cidade natal. Na verdade, havia muita coisa que não sabia sobre ela...
...
Após um momento de hesitação, vesti minha capa, saí do quarto, corri para o andar de baixo e saí da pousada. O que estou fazendo, você pergunta? É sério que ainda precisa perguntar? Estou indo atrás de Sherra, é claro!
E para que não fique com a ideia errada sobre minhas motivações, deixe-me esclarecer: não a estou seguindo por mera curiosidade ou algo assim. Meu único objetivo era protegê-la dos homens de preto. O que é isso, você diz? ‘Por que segui-la em segredo, então?’ Ok, talvez eu estivesse um pouco curiosa para descobrir para onde estava indo... O coração de uma donzela tem muitas facetas, sabe?
Saí e examinei a área... Aha! Mesmo da porta, pude ver Sherra passando silenciosamente pela luz fraca dos postes de luz. Eu me esgueirei pela noite, seguindo-a.
Ela disparou pela rua principal por um bom tempo antes de acabar virando em uma rua lateral. Não consegui ver o seu rosto nem nada, contudo com certeza se movia como se estivesse com pressa. Pouco depois, virou a esquina seguinte e entrou em um beco velho e sujo. É difícil dizer se era por estar se apressando ou por estar distraída, no entanto, por algum motivo, sequer olhou para trás uma vez.
Nesse ponto, já estava se afastando do centro da cidade em direção às favelas. A luz dos bares já não era mais visível daqui, e a escuridão ficava mais densa. Hmm... Não estou gostando desse rumo, pensei, todavia continuei a segui-la mesmo assim. Por fim, Sherra parou de repente. Será que percebeu que eu a estava seguindo? Não pode ser...
“E aí, mocinha. O que está fazendo aí fora a essa hora?”
Ah, pelo visto tinha encontrado um obstáculo composto por quatro vagabundos.
“Não é seguro, uma garota andando por aí sozinha... Que tal a gente te levar para casa, hein?” sugeriu o barbudo com um sorriso lascivo. Sua fala estava um pouco arrastada, como se tivesse bebido.
“Estou com pressa. Por favor, me deixe passar.” insistiu Sherra.
“‘Estou com pressa. Por favor, me deixe passar.’, ela disse. Que fofo!” o homem riu, embora não faço ideia de qual seja a graça. “Por que não larga o que quer que esteja planejando e passa um tempinho com a gente?”
“Estou com pressa. Por favor, me deixe passar!” voltou a dizer Sherra, com um leve tom de voz irritado dessa vez.
Nossa. Tentando seduzir Sherra, sem saber do que essa garota é capaz... Pobres coitados, não é mesmo?
“Vamos lá, querida. Seja gentil.” o barbudo estendeu a mão para Sherra...
Sua mão direita se moveu num piscar de olhos. Sherra deu um tapa no braço do homem e, em seguida, desferiu um soco em seu rosto. Era o que esperava ver, pelo menos... Todavia antes que pudesse acertá-lo, o cara desapareceu!
Hã?
“Ngh!”
Não foi ele, mas Sherra quem gemeu e se curvou. O barbudo a segurou quando caiu para a frente, desacordada.
Sherra realmente havia dado um soco no cara, porém ele se abaixou e a atingiu bem no plexo solar. Claro, não havia como um bêbado inútil ser capaz de um movimento como aquele... O que só podia significar uma coisa.
Corri para alcançá-los, com um cântico nos lábios. E no segundo em que o fiz...
“Flecha Flamejante!” entoaram dois dos homens que até então estavam em silêncio!
“Waaah!”
Me abaixei em um beco próximo para desviar dos dois ataques. Eles devem ter percebido que estive seguindo Sherra.
“Você pode lutar contra esses dois, Lina Inverse, enquanto pegamos a garota.” disse o barbudo com uma voz diferente, uma que agora reconheci.
“Zain!”
Sim. O barbudo, que parecia um bêbado imprestável à primeira vista, era na verdade Zain, o de capa preta.
Fui muito ingênua! Quem imaginaria que esses espertinhos se desmascarariam de repente e se apresentariam como encrenqueiros comuns? Enquanto me arrependia, Zain colocou Sherra no ombro, se virou e saiu correndo pelo beco. Os outros dois ficaram para trás para me segurar!
Entoei um rápido feitiço, coloquei a mão em uma parede próxima e o lancei!
“Van Layl!”
Da minha mão, vinhas geladas espiralavam pela parede e pelo chão. Qualquer um que as tocasse seria pego em suas garras gélidas. Com sorte, eles apenas ficariam paralisados no lugar. Se tivessem azar, seriam congelados. E ainda assim...
“Flecha Flamejante!” um dos homens lançou um feitiço que derreteu sem dificuldade meus tentáculos que se aproximavam.
Claro! Ele havia entoado isso com antecedência para me afastar ou anular o que quer que estivesse conjurando. Aqueles caras estavam mesmo tentando me segurar aqui! Nesse caso, era hora de um novo feitiço.
“Vento de Diem!” gritei, liberando uma forte rajada de vento. Em condições normais, seria forte o suficiente apenas para golpear alguém, contudo este foi amplificado pelos meus talismãs... Sem mencionar o fato de que o lancei em um beco estreito.
Whooooosh!
Uma rajada muito mais poderosa do que os dois homens esperavam abafou seus gritos e os jogou longe para trás.
Beleza! Pulei do beco onde estava escondida e corri na direção em que vi Zain desaparecer, no entanto a estrada logo se bifurcou. Vou para a esquerda ou para a direita? Enquanto hesitava sobre meu atual dilema...
“Flecha Congelante!” ouvi uma voz soar enquanto uma onda de hostilidade me atingia.
Dei um pulo para trás instantaneamente com um grito de surpresa. Um segundo depois, dez flechas de gelo perfuraram o chão onde estive um segundo atrás. Olhei para cima e vi um homem parado no telhado de uma casa velha... O mesmo que havia fugido com Zain antes. Então esses caras seguem tentando me segurar, hein?
É provável que Zain já esteja bem longe agora, o que significa que não tenho muito tempo a perder com esse cara. Ainda assim, seria muito perigoso ignorá-lo e continuar correndo. Nesse caso...
Comecei a entoar um feitiço Lei Asa para criar uma barreira de vento que me protegeria da maioria dos feitiços de ataque e me permitiria escapar dali em alta velocidade. Todavia antes que pudesse terminar meu encantamento, o homem no telhado me deu as costas e desapareceu.
Droga! Isso só pode significar que Zain já está fora do meu alcance...
———
“Então, o que diabos vamos fazer agora?” Luke gritou com raiva, batendo com força na mesa.
Depois que Zain fugiu com Sherra, usei Levitação para escanear a área do ar, entretanto acabei não conseguindo encontrá-los. Os dois capangas que derrubei antes com meu Vento de Diem também desapareceram em algum momento, me deixando sem nenhuma pista para seguir. Sabia que procurar sozinha seria perda de tempo, então voltei para a pousada para explicar a situação a todos. A notícia deixou Luke furioso.
“E caso você esteja pensando em tentar, já digo que não vai se safar dessa se desculpando! Aqueles caras querem saber o que Sherra sabe... E quem sabe o que eles podem fazer com ela para conseguir essa informação! O que vai fazer se algo acontecer com a Sherra, hein?”
“Hrk...” claro, eu não tinha como responder. É verdade que deveria ter alertado os outros no minuto em que Sherra escapuliu da pousada. No mínimo, deveria ter me mantido alerta quando Zain, fingindo ser um bêbado, a abordou pela primeira vez. Se tivesse o feito, não estaríamos nessa enrascada.
“Perseguindo Sherra porque está curiosa como uma fofoqueira qualquer...” Luke continuou a resmungar.
“Podemos atribuir a culpa outra hora.” disse Mileena baixinho, interrompendo-o. “O que é imperativo agora é trabalharmos juntos para encontrá-la.”
“C-Certo... Tudo bem, tem razão! Vou guardar a bronca para depois! Leve-nos para onde tudo aconteceu!”
“Pode deixar!” obviamente não iria discutir com esse plano. Era a razão pela qual eu tinha voltado em primeiro lugar...
E então nós quatro voamos para a cidade encoberta pela noite para resgatar Sherra.
———
“Foi bem aqui!” falei, parando na bifurcação onde tinha sido atingida por Flechas Congelantes. “O cara que levou Sherra com certeza foi por aqui. Também a estava carregando no ombro, então... Não importa o quão bem treinado seja, ele não pode ter se movido rápido demais. Eles devem estar escondidos por perto!”
“Tudo bem, então vamos nos separar! Vamos pela direita! Vocês dois vão pela esquerda! Se encontrarem qualquer coisa, mandem um sinalizador mágico!” Luke ordenou e, sem esperar por uma resposta nossa, foi para a direita com Mileena.
“Certo, Gourry, vamos procurar também!”
“Ok!” ele respondeu ansiosamente enquanto íamos para a esquerda. “Mas, Lina, mesmo que o esconderijo deles não seja longe, encontrá-lo vai ser difícil.”
“É, tem razão.” admiti. Estávamos cercados por casas decrépitas, embora fosse difícil dizer se todas estavam abandonadas ou não. Algumas tinham porões e outras também tinham sótãos. Havia uma boa chance de Zain e seus capangas estarem escondidos em algum lugar por aqui, então localizá-los seria como procurar uma agulha em um palheiro...
“Porém mesmo que seja difícil, não deixaremos pedra sobre pedra! Vamos começar por este lugar!” apontei direto para a primeira casa vazia à minha frente. Saquei minha espada curta, lancei um feitiço de Iluminação na lâmina e...
“Dam Blas!”
Bwoom! Arrombei a porta da frente e corremos para dentro para começar nossa busca!
...
Bem, não é que eu esperasse encontrar na primeira tentativa.
“Aquela próxima agora!” anunciei, apontando para uma segunda casa.
“E aí, Lina... Por que a Sherra saiu sozinha?”
“Sei lá. Vai ter de perguntar a própria pessoa. Seja qual for o motivo, deve ter sido muito importante para escapar apesar do perigo. Ou talvez só esteja confiante demais na própria capacidade de se defender. Também é possível que ainda haja mais por trás dessa história do que sabemos. De qualquer forma não descobriremos a verdade até encontrá-la.”
A segunda casa também foi um fracasso, assim como a terceira. Arrombar a porta da frente, correr para ver se havia um porão e depois vasculhar o sótão foi um saco, então apenas comecei a explodir o teto. Passamos por essa rotina algumas vezes, até que...
“Ok, vamos para a próxima!” eu disse, apontando para a próxima casa abandonada, quando de repente... Uma luz brilhante apareceu no céu ali perto! “Hã?” era um feitiço de Iluminação! Tinha que ser o sinal de Luke e Mileena, significando que tinham encontrado algo! Aha!
“Vamos lá, Gourry!”
“Certo!”
Acenamos um para o outro e partimos ao mesmo tempo em direção à origem da luz.
———
Vimos um clarão através de uma janela escura. Quando chegamos ao local do sinal, parecia que uma luta já estava em andamento.
Estávamos em um complexo residencial de algum tipo, um prédio de três andares feito de tijolos. Os clarões esporádicos de luz dos feitiços de ataque eram visíveis das janelas do terceiro andar. Gostaria de ter voado até lá com um feitiço de Levitação ou Lei Asa, só que as janelas eram pequenas demais para passar com uma barreira de Lei Asa, e Levitação era uma subida tão lenta que seríamos alvos fáceis se escolhêssemos o ponto de entrada errado. Teríamos que chutar a porta da frente como pessoas normais ou algo assim.
Gourry e eu corremos em direção à entrada e a encontramos já arrombada... Provavelmente obra da Equipe Luke. Dali, não conseguia detectar nenhum inimigo nas proximidades. Então, avançamos enquanto a luta continuava se desenrolando andares acima de nós. Encontrei a escada e subi correndo, quando...
Vroosh!
“O quê?” mal tinha colocado a cabeça para fora da escada quando um raio de luz veio em minha direção. Depois de passar bem na minha frente, atravessou a parede. Um Dam Blas? Phew, essa foi por pouco!
“Vocês demoraram bastante!” gritou Luke. “Derrotamos dois deles... Mas são uns desgraçados tenazes!”
Agora que cheguei no topo da escada, pude ver um corredor se estendendo à minha esquerda. Era ladeado por portas de cada lado, e pude ver Luke e Mileena se escondendo atrás de uma delas, do outro lado do corredor. Parecia que ainda havia alguns homens de preto no final do corredor.
“Algum inimigo nos outros andares?”
“Não! Só aqui!”
Certo, então tudo o que precisávamos fazer era acabar com os retardatários.
“Nesse caso vamos acabar com eles logo!” gritei.
“É, tem razão! É fácil falar, né?” Luke retrucou (como um covarde).
O inimigo estava lançando feitiços de ataque intermitentes, aproveitando ao máximo a extensão do corredor. Correr direto para cima seria suicídio nessas circunstâncias. Os bandidos devem estar com Sherra também, se for o caso não posso só explodir o lugar inteiro com um feitiço grande e chamativo. Porém quando Lina Inverse usa seu cérebro e sua magia para o bem, tudo é possível!
Coloquei a cabeça para fora da porta e fui recebido por uma Flecha Congelante.
“Whoa!”
Rapidamente me abaixei para deixar o feitiço passar, contudo agora tinha uma ideia da posição geral do inimigo. Havia dois caras no final do corredor, um em uma sala de cada lado.
Certo, tenho um plano! Agora vamos colocá-lo em ação! Com isso, me virei e desci as escadas correndo!
“Ei! Voltem aqui, covardes!” Luke chamou atrás de nós, no entanto eu o ignorei. Não tive tempo de explicar meu brilhantismo para ele.
“Ei, Lina, qual é o plano?” perguntou Gourry enquanto corria ao meu lado.
“Prepare sua espada e acabe com todos os bandidos que encontrar!” me limitei a gritar de volta.
“Hã? Não tem inimigos lá embaixo...”
“Só faça!” insisti, e comecei a recitar um feitiço.
Típico de conjuntos habitacionais, o layout do segundo andar era idêntico ao do terceiro... Um corredor longo e reto, ladeado por portas. Corri até o final, abri a última porta e lancei meu feitiço ‘Dam Blas!’ mirando no teto, é claro. Diretamente em um dos caras no andar de cima.
Crash!
“Bwah!”
Ouvi um grito por cima da explosão quando um homem de preto caiu no chão ali perto, coberto de escombros.
“Ah, já entendi!” Gourry exclamou, seguido rapidamente por um brilho de sua espada.
Ok, um a menos! Comecei a entoar outro feitiço, e em pouco tempo...
“Dam Blas!”
Crash!
Atravessei o teto como antes. Mas, desta vez, tudo o que consegui foram escombros... E um homem de preto me encarando através do buraco que criei.
“Sua idiota! Você achou que esse truque funcionaria duas vezes?” ele zombou.
Hah! Quem é o tolo aqui?
Shnk! O cara foi recebido com um golpe de espada que o derrubou tão rápido que foi francamente decepcionante. Ele se moveu depois de ver o chão desabar sob seu companheiro, pensando que estaria se esquivando de um ataque idêntico... Porém Luke seguia no terceiro andar observando também. Sabia que o outro homem de preto se moveria, distraindo-se por um momento da conjuração de magias. Luke aproveitou a oportunidade para correr pelo corredor e derrubar o cara enquanto me encarava através do buraco.
“Como estão as coisas aí em cima?” perguntei.
Luke olhou em volta e respondeu.
“Acho que são os últimos. Contudo não vejo nenhum sinal de Sherra.”
“O quê?”
Dei meia-volta e subi as escadas correndo mais uma vez, reencontrando a Equipe Luke.
Rações e bolsas de viagem estavam espalhados pelo local. Os homens de capa preta estavam claramente usando aquilo como base de operações. No entanto Luke estava certo, Sherra não estava lá.
“Você acha que eles têm outro esconderijo em algum lugar?” rosnou ele, frustrado.
Hmm... Olhei para as coisas no quarto mais uma vez e disse. “Duvido. Acho que Sherra esteve aqui até pouco tempo.”
“O quê? Esteve?” gritou Luke.
“Está vendo alguns dos pertences dela?” perguntou Mileena.
Neguei com a cabeça.
“Não, essas coisas claramente pertencem aos homens de preto. Entretanto a quantidade sugere que há cerca de dez homens, e só derrubamos quatro. Isso levanta a questão: se metade dos homens de preto deixou sua base com Sherra, para onde foram? E a resposta mais provável é...”
“Ah!” exclamou Luke.
“Claro!” Mileena também ofegou ao perceber.
Agora que ambos estavam na mesma página que eu, Gourry era o único que ainda não sabia.
“Exato!” assenti firmemente. “Estão indo para a montanha ao norte. Para a espada adormecida nas minas de Bezeld.”
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