sábado, 19 de julho de 2025

Slayers — Volume 09 — Capítulo 41

Capítulo 41: E agora, a Espada Adormecida desperta

Pássaros de espécies desconhecidas piavam e fileiras de árvores se misturavam à escuridão. Se não fosse pela lua e pela luz na ponta da minha espada, a paisagem noturna da montanha teria sido literalmente negra como breu.

Sei que viajar por uma estrada na montanha no escuro com a possibilidade de demônios à espreita não é o que a maioria descreveria como ‘sensato’, mas não tinha como apenas me sentar, relaxar e dizer: ‘Bem, as montanhas são assustadoras, então vamos esperar até de manhã, rsrs!’ Não quando parecia provável que os homens de preto tivessem levado Sherra para lá. Ela nos disse uma vez que a espada jazia no fundo de uma mina abandonada na montanha ao norte de Bezeld, e era para lá que estávamos indo.

“Porém... Você acha que os homens de preto passaram mesmo por aqui?” Luke murmurou, tentando disfarçar seu nervosismo, ou talvez apenas expressando uma dúvida genuína. “E se de fato tiverem outra base e ainda não tiverem feito seu movimento? Ou se esta não for a montanha certa? Ser jogado de um lado para o outro desse jeito pode mandar um homem para um caminho sombrio.”

“E acha que está trilhando o caminho da luz agora?”

“Guh!” Luke choramingou, pelo visto vulnerável às críticas de Mileena. “Vamos lá, querida. Estou vivendo uma vida honesta agora! Tudo para que possamos viver felizes para sempre!” ele continuou com um sorriso bobo.

“Esse não é um objetivo final que compartilhamos.”

Sua resposta implacável silenciou Luke e fez lágrimas rolarem de seus olhos.

“Ok, chega de briga de amantes por enquanto.” interrompi. “Devemos chegar à mina a qualquer momento.”

“Garanto que não há amor envolvido aqui.” respondeu Mileena, indignada.

Droga, Luke não tem a mínima chance!

Logo, saímos da floresta e ficamos chocados com a vista que se abriu diante de nós... Um penhasco escarpado se elevando para o alto. Sherra estava certa sobre esta montanha abrigar uma mina abandonada. Contudo a parede rochosa estava coberta de buracos de todos os tamanhos, cada um sugerindo a entrada para um poço diferente. Havia pelo menos dez, e era apenas o que podíamos ver da nossa localização atual. Considerando que poderia haver mais entradas por toda a montanha e que os próprios poços poderiam se ramificar dentro deles, quanta busca teríamos que fazer?

“B-Bem... Acho que averiguamos que de fato existe uma mina!” sussurrou Luke enquanto olhava fixamente. Mileena, por sua vez, assentia em silencioso espanto.

“Então, em qual entramos?” Gourry fez a pergunta proibida. Não foi nenhuma surpresa que não recebeu resposta.

Bom, era verdade que Sherra nunca tinha dito nada sobre haver apenas uma mina... E pensando de forma racional, se tivesse havido uma corrida por oricalco, deveria ter esperado mais do que apenas um punhado de buracos na encosta da montanha.

Hmm... O que fazer, o que fazer?

“Hã...”

“Essa é difícil...”

“...”

Eu, Luke e Mileena franzimos as sobrancelhas e cruzamos os braços.

“Ei, Lina. Aquele ali parece bem provável, né?” Gourry interrompeu casualmente a atmosfera tensa, apontando para um buraco específico na face da rocha. Era escuro e distante, então era difícil de distinguir, no entanto eu mesma não notei nada fora do comum...

“Provável? Como exatamente?” tive que perguntar.

“Acho que vejo um pedaço de pano preso na entrada.”

“Hã?” forcei os olhos... E segui sem conseguir ver. “Onde?”

“Estou te dizendo, ali. Olha! Você não ve?”

Luke e Mileena olharam naquela direção, entretanto também não pareciam ver nada.

“Certo! Discutir não vai nos levar a lugar nenhum. Vamos subir e dar uma olhada. Não estaremos em pior situação se ele estiver errado.” sugeri, e o grupo concordou.

A entrada que Gourry havia apontado ficava na parte mais alta do penhasco, o que significava que encontrar um caminho para cima levaria muito tempo. Em vez disso, entoei um feitiço e coloquei a mão no ombro de Gourry.

“Levitação!”

Depois de decolarmos, Luke e Mileena lançaram Levitação para si mesmos e se ergueram no ar noturno atrás de nós.

“Certo. Um pouco mais para a direita, depois reto.” sugeriu Gourry.

Direcionei nosso movimento de acordo com suas instruções e, em pouco tempo, nossa pequena procissão chegou à entrada da mina em questão. E naquela entrada...

“Você tem razão!” sussurrei, pegando o lenço preso em uma saliência rochosa.

“Tenho que dizer que estou impressionado que tenha conseguido ver essa coisa de lá de baixo.” comentou Luke, espantado.

“Aw, não foi nada demais...” Gourry riu, coçando a cabeça.

O lenço parecia novo o suficiente, sem nenhum sinal de desgaste. Em outras palavras...

“Ou Sherra deixou isso aqui para nos dar um sinal, ou os homens de preto o plantaram para nos despistar... É difícil decidir.” suspirei.

Mileena então entoou um feitiço silencioso, produzindo um pequeno ponto de luz mágica na ponta do dedo. Brandindo-o, agachou-se e examinou o fundo do poço por um tempo, antes de se levantar e dizer.

“Vejo sinais de alguém passando por aqui. Vários alguéns.”

“Sério?”

“Sim!” proclamou ela com confiança.

“Certo! Então vamos andando!”

Nós quatro saímos correndo pelo poço. Luke assumiu a liderança, lançando uma luz mágica na ponta de sua espada desembainhada. Mileena veio logo atrás, seguida por mim, e depois Gourry. Não fomos muito longe antes de chegarmos a uma bifurcação na estrada.

“Por qual caminho?” Luke perguntou a Mileena.

Ela examinou o chão por um tempo e apontou silenciosamente para a direita. Então, saímos correndo mais uma vez. Talvez por causa de pessoas gananciosas cavando em busca de oricalco por todos os lados, o poço da mina se contorcia e se transformava em um labirinto. Se Mileena estivesse certa, os sinais de passagem recente nos levavam cada vez mais para dentro da montanha.

Quão longe os homens de preto teriam se adiantado? Era possível que Sherra os estivesse enrolando, mas se não, talvez já tivessem colocado as mãos na espada. Quero dizer, mesmo que tivessem, contanto que nos cruzássemos, ainda poderíamos surrá-los e roubar a maldita coisa, só que...

Depois de sabe-se lá quanto tempo correndo pelos túneis... Rrr... Rrrrrumblecrash! Uma vibração, como um terremoto distante, fez todo o poço tremer. E parecia que vinha bem à frente! Nós quatro trocamos um olhar e um aceno de cabeça, e então retomamos nossa corrida para dentro da mina.

“Lá estão eles!” gritei depois de uma boa corrida.

Agora conseguia ver um feixe de luz mágica vindo da curva. Claro, isso significava que os bandidos também nos veriam em breve. Continuei em frente sem diminuir o ritmo, entoando um feitiço enquanto avançava.

E, de fato, três homens de preto apareceram rapidamente, porém Sherra não estava com eles. O túnel à frente estava bloqueado por um desabamento, e os três homens estavam parados em frente a ele. Teria separado sequestradores de sequestrados?

Luke e Mileena pararam, possivelmente em guarda para ataques mágicos. Contudo decidi avançar. Os homens de preto deviam estar entoando feitiços com antecedência, porque quando me viram chegando, os lançaram!

“Flecha Flamejante!”

No entanto me antecipei um passo à frente! Lancei o feitiço que estava entoando com antecedência também... Whoosh! Uma ventania se formou ao meu redor, uma versão amplificada da minha típica barreira de vento. Em condições normais seria o suficiente para voar ou desviar feitiços de relance, entretanto, ao ser amplificado, criava uma parede de vento vertical que poderia deter as Flechas Flamejantes dos homens de preto com facilidade. Feito isso, descartei a barreira e...

“Bola de Fogo!” a voz de Luke soou atrás de mim. Uma bola de luz então voou por cima do meu ombro, direto para os homens de preto.

Quêêê? Uma Bola de Fogo certamente acabaria com esses caras, mas o Luke não percebeu que eu seria pega pela explosão? E, claro, não havia onde me esconder em um poço de mina. E então...

Bwoosh! A bola de fogo explodiu, suas chamas rodopiantes consumindo os três homens e abrindo caminho em minha direção! Porém antes que me atingissem...

“Selo de Chama!” Mileena entoou palavras de poder, e o fogo parou diante dos meus olhos, como se bloqueado por uma barreira invisível. As línguas de fogo estavam perto o suficiente para me alcançar e tocar, e ainda assim não senti nenhum calor.

Mileena tinha acabado de me salvar com um feitiço de resistência ao fogo de nível bastante alto. Era um feitiço interessante, embora como demorava tanto para recitar, seriam raras as oportunidades de usá-lo em uma luta real. Era interessante vê-lo usado como parte de uma manobra de dupla.

As chamas rodopiantes se extinguiram pouco depois, e então... Nós quatro ofegamos. Todos esperávamos ver três homens caídos de preto, contudo, para nossa surpresa, um seguia estando de pé em meio à fumaça que se dissipava.

Claro! Quando ataquei, apenas dois deles dispararam Flechas Flamejantes contra mim. O terceiro deve ter tido a presença de espírito de lançar algum tipo de feitiço de resistência em si mesmo. O fato de eu não ter visto os outros dois caras sugeria que já estavam fora de cena. A explosão pode até tê-los mandado pelos ares. Ela também atravessou a rocha desmoronada que bloqueava o caminho, abrindo um caminho mais para dentro da mina.

“Não acredito que vocês nos alcançaram tão rápido!” rosnou o homem sobrevivente de preto, com raiva. Eu conhecia aquela voz... Era o Zain! “Deveria ter matado vocês há muito tempo... No entanto isso acaba aqui! Desta vez, vou...”

“Gwaaaaah!” um grito veio do poço, interrompendo a tagarelice vilã do Zain.

“Galva?” Zain se virou bruscamente e, sem nos dedicar mais nenhum olhar, disparou pelo túnel.

Galva... Esse era o nome completo de Gal-sei-lá-o-quê, hein? Nós trocamos olhares breves, todavia não tínhamos muito tempo a perder.

“Vamos! Em frente pessoal!” falei, correndo atrás do Zain.

———

“Raaaaaaaaagh!” Os gritos de Galva ecoavam pelo poço incessantemente.

A visão que nos recebeu ao chegarmos ao local nos paralisou. No final do poço havia uma vasta câmara, alta e larga o suficiente para abrigar algumas pequenas construções. E em seu centro, cravado fundo no chão, havia uma espada negra. Tinha uma lâmina de um único gume com uma curva suave e um cabo reto e sem adornos. Uma quantidade quase avassaladora de miasma jorrava dela.

Galva tinha as duas mãos agarrando o cabo, as costas arqueadas e a garganta urrando em agonia. O plasma negro crepitante disparado da espada o percorria, e ao seu lado... Estava Sherra, com um leve sorriso no rosto.


Zain, que estava logo à nossa frente, congelou ao ver aquilo.

“O que diabos está...” Gourry respirou fundo.

Com isso, Sherra por fim olhou para nós, como se estivesse saindo de um transe.

“Ah!” ela não devia ter percebido que estávamos ali. Seus olhos se arregalaram por um momento, e logo depois uma expressão um tanto preocupada cruzou seu rosto. “Oh, céus, vocês já estão aqui? E todos juntos...” disse Sherra, coçando a bochecha de uma forma chocantemente indiferente.

“O-O que diabos você está...” perguntei.

Sherra estremeceu em resposta.

“Esperava que viessem um de cada vez... Ah, mas tanto faz agora.”

“E-Ei, Sherra! O que está dizendo? O que diabos está acontecendo aqui?” gritou Luke.

Não tenho uma boa noção do que estava acontecendo, porém começava a ter a sensação de que nossa verdadeira inimiga era Sherra.

Ela lançou um olhar amoroso para Galva... Ou melhor, para a espada negra que ele segurava, e disse.

“Bem, esperava fazer mais alguns testes... Contudo já está bom o bastante. Dulgoffa, transforme-se!”

Crackle! Respondendo ao chamado de Sherra, o plasma disparado pela espada aumentou de repente de intensidade. E pouco depois...

“Galva!” Zain soltou um grito angustiado.

Galva, banhado pelo plasma negro, começou a se transformar em uma forma grotesca. Sua carne se rompeu e inchou. Estranhos apêndices semelhantes a pernas brotaram de seu corpo. De sua garganta não vinha mais nenhum grito. Os únicos sons que se ouviam eram o estalar do plasma, um rosnado bestial... E a risada enlouquecida de Sherra.

Tha-thump! Uma pulsação percorreu o corpo de Galva, e este inchou para um tamanho muito maior.

Isso não é bom!

“Corram, pessoal!” gritei, percebendo instintivamente o perigo.

Todos enfim recobraram a razão, deram meia-volta e saíram correndo de volta para o poço. Os rosnados e as risadas se distanciavam atrás de nós, no entanto em vez de silêncio... Rrr... Rrr... Rrrrrmb! Uma vibração sinistra tomou conta do ar. Isso também ficava cada vez mais forte. Será que conseguiríamos sair dali?

Rrrrrmb! A própria montanha tremia.

As vibrações haviam se transformado em tremores intensos quando nós cinco corremos loucamente para a saída. Como pode imaginar, por ‘nós cinco’ me referia a mim, Gourry, Luke, Mileena... E o homem de preto que havíamos resgatado. Zain fora nosso inimigo minutos antes, mas agora não tínhamos mais nada pelo que lutar.

Rrrrrrrrrmb! Enquanto os tremores aumentavam a ponto de sacudir o ar ao nosso redor, nosso quinteto recém-formado correu para fora da caverna!

“Saiam da frente! Depressa!”

Assim que nos afastamos da face do penhasco e mergulhamos na floresta... Cra-kash! Irrompendo da montanha em seu ponto médio, uma figura negra gigante apareceu.

“Hraaaaaaaagh!” o ser que antes era Galva uivou para a lua.

“Que diabos...” Mileena ofegou, com a voz rouca de terror.

Por fim, comecei a entender o que havia acontecido. Claro, ainda faltavam alguns detalhes, porém...

Já ouvi falar que demônios... Demônios inferiores e de bronze, são basicamente mazokus de baixo escalão do plano astral que entraram em nosso mundo possuindo animais subconscientes, transformando seus corpos e habilidades no processo. A implicação era que, como os humanos eram sencientes, era impossível para esses mazokus de baixo nível possuí-los e transformá-los.

Contudo, por extensão... Não significava que um mais poderoso poderia fazer o trabalho? A resposta para essa pergunta parecia estar diante de nós agora na forma de um enorme pedaço negro de carne do tamanho de um dragão, sustentado por dez pernas de aranha.

“Hraaagh!” um grito entre raiva e ódio ecoou na noite enluarada, e a coisa... O termo ‘hiperdemônio’ me pareceu apropriado... Começou a se mover. Seu destino? Bezeld.

“Nada bom! Está indo para a cidade!” gritou Luke.

“Bem, dã! Vamos detê-lo!” respondi irritada.

Não sabia o quão poderosa aquela coisa era, no entanto era bem fácil imaginar que fosse léguas mais forte do que qualquer demônio inferior ou de bronze. Se ele se soltasse em uma cidade, seu tamanho dracônico por si só impediria a maior parte do dano que as espadas e lanças não mágicas da guarnição poderia causar. O que significava que nossa única solução era derrubá-lo antes que chegasse lá!

Aproveitei a deixa para entrar em ação e recitar meu feitiço.

Tu que és mais sombrio que o crepúsculo...

Tu que és mais vermelho que o sangue...

Juro em teu nome exaltado...

Obscurecido, nas profundezas do fluxo do tempo...

Faço esta promessa à escuridão aqui...

Então todos aqueles em igual medida...

Tolos que ousam bloquear nosso caminho...

Enfrentarão a destruição sem restrições

Conceda-me poder e liberte o seu!

“Isso é...” Mileena exclamou quando me ouviu entoando.

Sim, este era o feitiço de ataque que invocava Olhos de Rubi Shabranigdu, governante de todos os mazokus deste mundo...

“Dragon Slave!”

Kra-koooooooom! Respondendo às minhas palavras de poder, uma luz vermelha se aglutinou próxima do hiperdemônio e explodiu! A fumaça se dissipou em pouco tempo, e quando aconteceu...

“Aquela coisa ainda está de pé?” gritou Luke.

Ele tinha razão, o hiperdemônio havia sobrevivido a um golpe direto de um Dragon Slave.

“Entretanto parece ter sofrido bastante dano!” disse Mileena em um calmo tom, em contraste ao pânico de Luke.

Sim. Embora não o tivesse explodido em pedaços, meu feitiço havia arrancado um pedaço da massa de carne que servia como corpo do hiperdemônio. Parecia que seu poder demoníaco havia conseguido mitigar o Dragon Slave, mas não anular o feitiço por completo. Em outras palavras, havia sobrevivido àquele, porém posso apenas continuar martelando-o com Dragon Slaves até que seja reduzido a pó.

Hora do round dois, então! Todavia, assim que comecei a entoar o cântico, o hiperdemônio desabou. Hmm? Sem energia? Tive que me perguntar, no entanto só por um segundo. Eu soube imediatamente que era pura ilusão. Conforme o hiperdemônio se inclinava... O pedaço de carne que meu Dragon Slave havia arrancado começou a se preencher diante dos meus olhos!

“Hã?” me peguei esfregando os olhos e, quando olhei de novo, o ferimento do hiperdemônio estava curado.

“Você está brincando comigo... Tem que ser mentira...” o sussurro de Luke foi levado pelo vento.

O resto de nós apenas encaramos fixos, sem expressão. O buraco do tamanho de uma cratera aberto pela explosão havia se preenchido em um piscar de olhos. Essa velocidade de recuperação seria absurda até para trolls, e eles eram os exemplos perfeitos de poderes regenerativos. O hiperdemônio ficou parado por algum tempo e então retomou seu curso para Bezeld, implacável.

“E agora... Qual é o plano?” Gourry perguntou, coçando a bochecha.

Olhei para ele, perplexa.

“O plano? Eu não... Tenho um.”

Já encontrei criaturas que não conseguia derrotar com um Dragon Slave antes. Algumas que podiam até anular por completo o dano. Mas... Uma que pudesse se curar instantaneamente do dano? Essa era a primeira vez! Parecia trapaça, sabe? Como isso funcionava? Nem mesmo um mazoku poderoso de alto nível conseguia se recuperar em tão poucos instantes de um Dragon Slave de frente, porém esse hiperdemônio tinha acabado de fazer o impossível e mal piscou.

Mileena foi a primeira a se recompor.

“Se preocupe com isso depois. No mínimo, precisamos atrasá-lo.” disse ela e saiu correndo outra vez, sendo seguida logo depois por Luke.

“Ela está certa, Gourry!” gritei.

“Ok!”

Nós quatro ainda podíamos... Espera, era para sermos cinco. Para onde o Zain tinha ido?

Bem, acho que, do seu ponto de vista, sua missão era apenas pegar a espada. Não tinha obrigação de nos ajudar a derrotar o hiperdemônio, contudo ainda assim... Ah, tudo bem. Não é como se estivesse contando com sua ajuda.

Por enquanto, Mileena tinha razão. Tínhamos que fazer o que pudéssemos para segurar o hiperdemônio até elaborarmos um plano! Sem outra opção, nós quatro partimos atrás da criatura gigante.

“Vamos lá!” Gourry investiu contra o pé do demônio! “Hyah!”

Swsh! Sua lâmina prateada brilhou ao luar, cortando um arco brilhante na escuridão. A espada cortou com precisão uma das pernas do hiperdemônio, que era quase tão larga quanto a minha altura. O membro decepado começou a se soltar no corte diagonal...

Será que conseguiu? Apesar das minhas esperanças momentâneas, algo como tentáculos começou a se contorcer das partes superior e inferior do membro cortado. Eles se entrelaçaram e, em um instante, a perna voltou ao normal! Aquele processo regenerativo era bem nojento quando visto de perto... Fiquei meio feliz por não ter tido um lugar na primeira fila para o show pós-Dragon Slave.

O hiperdemônio continuou andando no mesmo ritmo, sem nem parecer notar o breve dano na perna. Nem estávamos diminuindo a sua velocidade...

“Não adianta! Consigo cortar, porém...” Gourry se afligiu enquanto saltava para longe do hiperdemônio.

“E a minha espada, então?” Luke avançou em seguida, com a lâmina brilhando. Ele lançou uma rajada de vento que cortou a perna do hiperdemônio!

...

“É, nada!” disse Luke com um sorriso envergonhado, coçando a cabeça.

Esse cara...

“Flecha Congelante!” Mileena conjurou. Seus projéteis de gelo atingiram em cheio as pernas da criatura, contudo sequer pareceram perturbar o monstro. Sua intenção deve ter sido eliminar todos os seus apêndices ao mesmo tempo e desacelerá-lo, no entanto esse nível de magia xamânica claramente não é suficiente.

Certo, minha vez de novo!

“Zellas Bullid!”

O feixe de luz que invoquei queimou duas das pernas do hiperdemônio que, mais uma vez, se curou em um mísero instante. Hmm, então isso também não vai adiantar. Devo tentar explodir todas as pernas de uma vez com um Dragon Slave? Considerei a ideia... Nos daria algum tempo, embora seria tudo que conseguiria. Queria poder lançar uma sequência de grandes feitiços para aniquilá-lo antes que tivesse tempo de se regenerar, entretanto a velocidade de sua regeneração era mais rápida do que eu conseguia entoar meus cânticos.

Eu também conhecia um feitiço ainda mais destrutivo que o Dragon Slave, embora queria evitar usá-lo o máximo possível...

Ei... Espere um minuto.

“Pessoal, vou com tudo! Afastem-se!” gritei, e então comecei um encantamento. Este era um Dragon Slave fortalecido ao extremo, cortesia da amplificação dos meus talismãs! Sendo sincera, não sabia o quão poderoso acabaria sendo, todavia esperava que fosse o suficiente para vaporizar o hiperdemônio de uma só vez! Terminei o longo cântico e então...

“Dragon Slave!”

Kra-koooooooooom! Uma explosão muito maior do que a anterior abalou o ar da noite. Logo, as chamas se extinguiram e...

“Certo, já é algum progresso!” comemorei ao avistar o hiperdemônio através da poeira que se dissipava. O Dragon Slave padrão só foi suficiente para abrir um buraco em sua massa central, só que desta vez... Apesar de não ter apagado o hiperdemônio do mapa, havia incinerado cerca de metade de seu corpo.

Exceto... É, lá vamos nós de novo!

“Ah, qual é!”

Agarrei a cabeça com as mãos enquanto a criatura se regenerava mais uma vez. Como algo pode se curar instantaneamente desse tipo de dano?

Mesmo assim, havia algo naquele ritual de regeneração sinistro que me incomodava. Enquanto quebrava a cabeça tentando me lembrar, o hiperdemônio se aproximava cada vez mais de Bezeld. À medida que se aproximava, o céu sobre a cidade se iluminou. Instintivamente, olhei naquela direção e vi inúmeros pequenos pontos de luz vermelha pairando sobre a borda da cidade.

Um momento depois... Eles vieram voando em direção ao hiper demônio, todos de uma vez!

“Flechas Flamejantes?” gritei. Haviam centenas... Não, milhares delas.

Broooooshabooshaboosh! Os dardos flamejantes atingiram o monstro com uma grande explosão.

“Isso mesmo! A guarnição!” gritou Gourry enquanto observava a cena se desenrolar.

De fato, havia vários soldados e feiticeiros estacionados em Bezeld naquele momento. Depois que um monstro enorme irrompeu da montanha e alguém começou a atirar Dragon Slaves por aí, não havia como não estarem em alerta. Devem ter convocado todos os seus feiticeiros para disparar uma saraivada organizada de Flechas Flamejantes na criatura gigante que se aproximava da cidade.

Porém, como já havíamos estabelecido, magias daquele nível não funcionariam. O hiperdemônio apenas continuou sua marcha lenta e constante em direção à cidade. Várias outras magias de ataque voavam sem fim de suas muralhas, contudo a maioria não fazia nada, e aquelas que causavam dano eram curadas logo depois. Não havia como derrotar aquela monstruosidade?

———

O hiperdemônio enfim havia chegado à cidade. Gritos caóticos ecoavam pelas ruas encobertas pela noite. Até com os feiticeiros atacando o monstro com todos os seus feitiços, ele continuou sem impedimentos. É claro que os soldados não se saíram muito melhor... E ao perceber que a guarnição estava praticamente indefesa contra tal criatura, os habitantes da cidade entraram em pânico total. Os soldados gritavam ordens, talvez para evacuar, no entanto suas vozes eram abafadas pelos gritos dos cidadãos.

Esse era o estado em que encontramos a cidade quando usamos nossos feitiços de voo para seguir o hiperdemônio até Bezeld.

Embora fosse ótimo termos conseguido deter a criatura, seguíamos não tendo bolado nenhum plano. Outro Dragon Slave não seria mais eficaz só porque o atingi ali. Tinha que haver alguma maneira de derrotar aquela coisa... Só não sabia o que era. Havia algo, algo me incomodando... Entretanto o hiperdemônio não ia ficar parado esperando enquanto eu descobria.

A formação de feiticeiros nos limites da cidade se desfez quando o gigante negro se aproximou. O hiperdemônio não havia desferido um único ataque, todavia sua simples aproximação inspirava terror.

“Fiquem firmes! Ataquem com todos os seus feitiços de ataque! Tem que funcionar!” gritou um comandante, não muito convincente, para os feiticeiros encolhidos. Mas naquele momento...

Vwoosh! Algo rasgou o ar e o comandante soltou um grito!

O som dos cânticos parou, como se o tempo tivesse congelado. Um tentáculo surgiu do núcleo carnudo do hiperdemônio e perfurou o peito do comandante, com armadura e tudo, com uma longa garra negra presa na ponta.

Vvm... Um arrepio percorreu seu corpo. O sangue sumiu instantaneamente de seu rosto, suas bochechas ficaram secas. Thrm. Sua pele secou e seu cabelo caiu. O outrora jovem comandante estava se mumificando diante de nossos olhos. É... Quase como se o tentáculo tivesse sugado toda a sua força vital.

“Urk! Lança Eleme...” um dos feiticeiros próximos estava prestes a lançar um feitiço no tentáculo, quando...

Fwip! Outro tentáculo, este sem garras, apareceu do nada e prendeu o feiticeiro! Não, não era só esse... Incontáveis dezenas de tentáculos atacaram ao mesmo tempo e agarraram os outros conjuradores ao redor também. Apesar de cada um ter a espessura do pulso de uma criança, eles deviam ser incrivelmente fortes. Os tentáculos alçaram suas presas até o núcleo do hiperdemônio, e então...

Skwish! A massa carnal estremeceu, e gavinhas grotescas, com presas, semelhantes a cobras, brotaram dela para devorar os feiticeiros e soldados. Suas agonias mortais ecoaram pela noite. Incapazes de suportar a visão macabra, os feiticeiros ao meu redor se atropelaram para fugir. Mas vendo tudo isso com meus próprios olhos...

“É... É isso!” gritei quando me dei conta. Já testemunhei um fenômeno semelhante há algum tempo em uma cidade chamada Atlas.

Raugnut Rushavna era uma maldição utilizável apenas por mazokus que concedia uma espécie terrível de imortalidade à sua vítima. Humanos acometidos por essa maldição seriam transformados em um pedaço de carne atormentado por um sofrimento sem fim. Não havia outra saída senão a morte... Exceto que os acometidos não podiam morrer por meios normais. A única maneira de interromper seu sofrimento era destruir o mazoku responsável.

Se esse hiperdemônio tivesse sido criado por Raugnut Rushavna, explicaria sua regeneração absurdamente rápida, como também significava que nossa única esperança de o derrotar era encontrar e aniquilar o mazoku que lançou a maldição.

Os gritos nas ruas ficaram mais altos. A resistência do povo foi em vão e, por fim, o hiperdemônio invadiu Bezeld! Uma vez dentro da cidade, ele finalmente começou a revelar seu tremendo poder. Incontáveis tentáculos saíam do corpo principal, agarrando toda e qualquer pessoa nas proximidades, atraindo-as para devorá-las. Os ataques do monstro não eram avassaladores; sua capacidade de regeneração era o verdadeiro problema. Todo esse tempo, estávamos pressionando a ofensiva...

“Explosão de Cinzas!”

Frrsh! O golpe que desferi transformou a parte central de um tentáculo que se estendia do corpo do hiperdemônio em cinzas negras, contudo tentáculos mais finos brotaram de ambas as metades do tentáculo queimado, se entrelaçaram e reconectaram os dois.

Até as extremidades têm esse tipo de poder de recuperação? Nenhum dos nossos ataques pareceu ter o mínimo de eficácia. Além do mais, agora que a criatura estava dentro dos limites da cidade, não posso usar magias poderosas como o Dragon Slave. Não que elas fossem de grande ajuda...

“Não há nada que possamos fazer, Lina?” perguntou Gourry.

“Alguma coisa?”

Não pude deixar de estremecer. Se houvesse, já teria feito... Alguém meramente afetado por Raugnut Rushavna não se transformaria em um gigante furioso como este, e um demônio comum não teria essa capacidade de recuperação insana. O problema aqui era a junção dos dois...

E-Espere um minuto...

“Pessoal! Me cubram!” gritei, entoando um cântico enquanto investia contra o hiperdemônio!

“Ei! Espere, Lina! Droga...” Gourry estalou a língua.

“Cobrir? Para quê?” gritou Luke.

Sentindo minha chegada ou apenas continuando o ataque, incontáveis tentáculos se lançaram contra mim. Meu feitiço ainda não estava pronto, no entanto...

“Runa Flamejante!”

“Hyah!”

“Rah!”

O raio de luz de Mileena perfurou um dos tentáculos, e Gourry e Luke atravessaram os outros. E enquanto tinham todos os tentáculos que se aproximavam incapacitados, segui em frente.

“Lina! Você está muito perto!” gritou Gourry.

Ignorei o seu aviso, é claro! Tinha que descobrir se meu palpite estava certo ou não! Os tentáculos atrás de mim se contorciam e se retorciam, embora dois ou três deles se movendo aleatoriamente não conseguiriam me pegar. Quando mais dois dispararam em minha direção, imaginei que conseguiria lidar com eles. Girei no momento certo para me esquivar, e então...

“Geh!”

Thmp! Minha perna foi puxada de debaixo de mim. Tropecei em um tentáculo que tinha se esgueirado até mim ou permanecido abaixado no chão para passar despercebido. Perdi o equilíbrio e tropecei, e quando isso aconteceu... Fwip! Outro tentáculo agarrou meu braço esquerdo!

“Lina!” Gourry gritou, cortando o tentáculo que havia agarrado meu braço.

Ele se regenerou pouco depois, todavia no momento em que foi cortado, eu o soltei.

“O que está fazendo, Lina?” Gourry perguntou, mas eu não podia me dar ao luxo de responder agora... Perderia o feitiço que tinha acabado de entoar! Também não estava pronta para lançá-lo ainda!

Os tentáculos que se dirigiam a nós aumentavam em número, ainda que gradualmente. Gourry me defendia com sua lâmina e Mileena me cobria com feitiços por trás, porém estava chegando ao limite do que podia desviar.

De repente... Vwee! Algo veio em minha direção, serpenteando por entre os tentáculos! Lá está! Era o que eu estava esperando! Finalmente liberei o feitiço que estive segurando!

“Lâmina Ragna!”

Vrummm! Tomando emprestado o poder do próprio vazio, criei uma lâmina de escuridão em minhas mãos e aparei o golpe com toda a minha força.

Ngeeee! O próprio ar ao meu redor estava tenso ou era um grito de raiva? Seja como for, o som tremendo abalou meu mundo quando minha lâmina negra colidiu com um dos tentáculos do hiperdemônio... Sendo mais específica, o tentáculo com a garra negra na ponta!

Quêêê? Meus olhos se arregalaram em choque. Minha lâmina podia cortar a maioria dos mazokus, até mesmo os de nível bem alto! Contudo, a garra negra do hiperdemônio a bloqueou!

Na verdade... Minha lâmina negra estava cravando na garra negra, no entanto a garra estava se regenerando tão rápido quanto eu a cortava! Não tenho como romper! O desespero tomou conta de mim. Não conseguia usar a potência da minha magia nessa posição, e a Lâmina Ragna rapidamente minou minha magia para alimentar seu alto poder destrutivo.

Esta é uma batalha de atrito. Cedo ou tarde, minha lâmina negra será extinta e a garra...

Justo quando estava imaginando meu próprio fim infeliz...

“Lâmina Olhos de Rubi!” Luke gritou, e vi um clarão pelo canto do olho. Era uma espada... De luz vermelha!

Hã?

Krk! Minha lâmina negra e a navalha de rubi de Luke agora estavam com a garra do hiperdemônio em pinça! Ele conseguiu suportar a pressão de ambos os lados por apenas um instante, e então...

Zinnng! Um estrondo ensurdecedor soou, e a garra estalou.


“Hraaaaaaaagh!” o hiperdemônio gritou pela última vez.

“Ei! O demônio...” ofeguei.

“Está entrando em colapso?” Gourry e Luke gritaram em choque.

De fato, o hiperdemônio, capaz até mesmo de se regenerar de um Dragon Slave, começou a se desfazer diante de nossos olhos.

O enxame de tentáculos fracos e retorcidos por fim caiu no chão, transformou-se em terra seca e se desintegrou. As pernas que sustentavam o corpo estalaram, atingindo o chão com uma série de tremores estrondosos. O corpo teve o mesmo destino. Tudo o que restou no final foi uma grande pilha de poeira e os sussurros incertos dos habitantes da cidade ao nosso redor.

“Ei, Lina. O que diabos aconteceu?” perguntou Gourry depois que o corpo do hiperdemônio se desfez sem deixar vestígios. Luke e Mileena também me encararam em silêncio, com as expressões fazendo a mesma pergunta.

Hmm... Por onde devo começar?

“Como você deve imaginar, aquele monstro gigante costumava ser o homem de manto negro chamado Galva. Uma maldição demoníaca o transformou.” comecei a explicar depois de pensar um pouco. “Mas não foi tudo. Ele estava simultaneamente possuído por um mazoku. Isso lhe dava habilidades regenerativas extremas e uma incrível resistência mágica. A única maneira de detê-lo era destruir o mazoku que lançou a maldição, e enquanto me perguntava onde esse mazoku poderia estar, pensei... ‘Sabe, talvez seja o mesmo mazoku que o possuiu’.”

“E qual é a sua base para isso?” perguntou Luke, parecendo irritado.

“Bem, ficou bem claro pelo que vimos na caverna que a espada negra foi o que o transformou nessa criatura. O que sugeria que o mazoku que lançou a maldição sobre o sujeito, o mazoku que se fundiu com ele e a própria espada negra eram todos a mesma entidade.”

“A espada era... Um mazoku?” perguntou Luke com uma carranca.

Respondi com um firme aceno.

“Mazokus puros são seres espirituais, então podem assumir mais ou menos a forma que quiserem. Gourry e eu já lutamos bastante com formas estranhas no passado. Uma delas foi até um único mazoku manifestado como um par de orbes flutuantes. Então, um que assume a forma de uma espada para tentar atrair caçadores de tesouros não parece tão absurdo.” eu não tinha contado a Luke e Mileena, porém a Espada da Luz que Gourry carregava era um mazoku de alto escalão de outro mundo também. “De qualquer forma, quando vi aquela coisa enorme vindo em nossa direção, percebi uma coisa. De todos os seus tentáculos, apenas um tinha uma garra presa. Isso me fez pensar que poderia ser o núcleo de sua fusão.”

“E... Achou que estava certa?” perguntou Luke.

Voltei a concordar.

“Sim. Contudo se estivesse errada, seria hora de correr para as colinas. É basicamente isso. Está acompanhando tudo, Gourry?”

“Não.”

Argh.

“Mas nós vencemos, e é o que importa, certo?”

Então por que me pediu uma explicação? Consegui recuperar a calma e me virei para Luke.

“Ei, você fez um ótimo trabalho lá atrás. Usando o poder do Olhos de Rubi para invocar uma espada vermelha de puro poder mágico... Nunca vi um feitiço como esse antes.”

“Na verdade, eu também não!” disse uma voz distante.

Nós quatro nos viramos ao mesmo tempo. Uma pequena mão de porcelana estava alcançando a poeira que antes fora o corpo do hiperdemônio. Ela ressurgiu segurando o cabo da espada negra da mina.

“Você!” Luke gritou com raiva ao ver a figura responsável.

“Sim, sim, parabéns pela sua conquista. Nunca imaginei que superaria Lina Inverse tão facilmente, entretanto admito que também fiquei surpresa com a sua competência, Mestre Luke.” disse Sherra com um sorriso radiante, brincando com o cabo da espada em uma das mãos. Já não estava mais vestida como uma moradora comum da cidade. Em vez disso, agora vestia uma vestimenta semelhante às vestes de um sumo sacerdote, modificada para facilitar os movimentos. Todavia, diferente das vestimentas sacerdotais típicas, suas vestes eram pretas como azeviche. Também eram adornadas com bordados prateados que eram apenas decorativos ou escritos em alguma língua desconhecida... Não tenho certeza.

“Você estava por trás de tudo. A espada, os demônios...” murmurei.

“Correto!” respondeu Sherra em um alegre tom. “Também comecei os rumores sobre a espada. O querido Glen, aquele velho bobo... Foi bastante útil para mim. Deixei que pensasse que eu era sua filha, o que me permitiu fazer daquele lugar o meu centro de operações. E pensar que até espalhou rumores sobre a espada para mim.”

“Entendo... É essa a razão pela qual não precisava de dinheiro para viver. Embora ninguém acreditou nas divagações de um velho bêbado. Então ficou impaciente e começou a gerar um grande número de demônios...”

“Bingo. Aí os rumores se espalharam por toda parte. Mesmo assim, nunca imaginei que a grande Lina Inverse se envolvesse.”

“Ei... Você sabe o que Sherra realmente é?” perguntou Luke.

“Acho que tenho uma ideia.” respondi.

“Não se preocupe, minha querida Senhora Lina. Vou me apresentar...” disse Sherra com uma reverência quase sarcástica, interrompendo-me. “É bem como suspeita. Meu verdadeiro nome é Sherra. Nasci nas Montanhas Katart.” seu sorriso se alargou. “Pode não ser óbvio à primeira vista, mas sou um mazoku.”

“O quê?” Luke e Mileena gritaram em uníssono, compreensivelmente chocados com a declaração.

“Então, qual é o seu grande plano?” perguntei a Sherra. “A julgar pelo que ouvi antes, sua intenção era nos separar e nos atrair para a espada, um de cada vez. Sair da estalagem à noite, vagar por aí e se deixar capturar pelos homens de preto foi um plano para nos separar, não foi? Não acredito que achou que algo assim daria certo.”

“O-Oh, cale a boca! Nunca pensei que chegariam à mina tão rápido!”

“Também não acho que seu objetivo final fosse criar aquele hiperdemônio. Se levarmos o que você disse à sua conclusão lógica... Parece que te pegamos de calças curtas e você demonizou Galva num acesso de raiva, não é?”

“Mandei calar a boca!” a pura irritação em sua voz sugeria que acertei em cheio. Ou o seu plano tinha fracassado, ou ela simplesmente tinha pavio curto...

“Bom, não sei o que estava tramando, porém agora que a espada está quebrada, acho que tudo virou fumaça.” falei, dando de ombros.

Com isso, um sorriso surgiu no rosto de Sherra.

“Será? Esta espada é um mazoku que eu criei e também é minha arma. Portanto...”

Sherra deu um leve golpe no cabo, e logo em seguida... Uma nova lâmina negra brotou da guarda!

“O quê?” todos nós gritamos em uníssono.

“Posso fazer isso com ela!” disse Sherra, e assumiu uma postura de luta experiente.

Mesmo com a ajuda de uma maldição de Raugnut Rushavna, ela havia produzido um ser capaz de bloquear minha Lâmina Ragna... O que significa...

“Sherra... Você não é um mazoku qualquer, é?” perguntei.

Um sorriso radiante cruzou seu rosto.

“De fato. Talvez me apresentar desta forma deixasse mais claro... Sou Sherra, General de Dinastia.”

“O quê?” suas palavras me tiraram o fôlego. A General de Dinastia?

“A quê?” perguntou Luke.

“Um mazoku de alto escalão a serviço de Dinastia, um dos cinco servos do Lorde das Trevas Olhos de Rubi Shabranigdu!” consegui explicar.


Eu já tinha conhecido o Sacerdote e General do Dragão, servos do Dragão do Caos Gaav... Um nobre de igual status que Dinastia. Também conheci o Sacerdote da Grande Besta. Não vou medir palavras aqui; seres como eles eram absurdamente fortes. Se Sherra, General de Dinastia, estivesse no mesmo nível... Então, até com uma vantagem de quatro contra um, tínhamos pouca ou nenhuma chance de vencer. Ainda se decidíssemos fugir, a fuga parecia improvável.

O que significa... Que teríamos que fazê-la recuar!

“Não acredito!” falei, apontando de um jeito dramático para Sherra.

“O quê? A maneira como te enganei, você quer dizer? Ou como destruí esta cidadezinha patética? Ou foi algo mais bobo e sentimental, como a forma como transformei aquele homem em um demônio?” ela falou com um sorriso confiante, totalmente segura de sua própria superioridade.

Porém não fiquei nem um pouco abalada.

“Nada disso. Não acredito... Dinastia Graushera nomeou sua subordinada Sherra? Esse tipo de esquema de nomenclatura barato é assustador de tão pobre!”

Krrrrk! Ao ouvir minhas palavras, Sherra congelou por um instante.

“O quê? Não... Não seja ridícula! O próprio Lorde Dinastia me deu esse nome! Ele... Deve ter uma linhagem nobre!”

Oho? Vejo que parece um pouco abalada. Vamos continuar cutucando!

“Não me diga, Sherra... Sua contraparte... O Sacerdote de Dinastia, se chama Grau ou Glao ou algo assim?”

Vi o seu rosto se contorcer, e então ela congelou de vez. Espera... Está brincando comigo. Esse é mesmo o nome do Sacerdote? Qual é o seu problema, Dinastia?

“D-De qualquer forma! Pode parecer bobagem para humanos como você, contudo Lorde Dinastia certamente pensou muito nisso! Com certeza...”

“Não me parece que tenha tanta certeza. Por que não o pergunta? Aposto que ele vai começar a rir e dizer: ‘Eu não tinha muitas ideias, então te dei o primeiro nome que me veio à cabeça. Hahaha’.”

“E-Ele nunca faria isso! Tenho certeza de que é um nome antigo e nobre!”

“E como... Sabe?”

“Ngh!” em óbvia frustração, Sherra cerrou os dentes e apontou a espada para mim. “Muito bem... Ainda não acabamos! Vou embora por enquanto, no entanto da próxima vez que nos encontrarmos, saberei a origem do meu nome!”

Não foi a melhor despedida que já ouvi, mas ei, não é que deu certo? Sherra então se envolveu na escuridão e desapareceu.

Caramba... Lá vai ela.

“Bem... Mazokus puros são seres espirituais, então acho que são fracos para guerra psicológica...” sussurrei.

“É assim que os mazokus agem, hein?” perguntou Luke, estreitando os olhos.

***

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