quinta-feira, 25 de dezembro de 2025

Slayers — Volume 14 — Capítulo 60

Capítulo 60: Acendendo a chama do ódio em Selentia

Whoosh! Instantaneamente e sem dizer uma palavra, Gourry partiu. Eu o segui sem questionar.

O interior do templo parecia idêntico aos outros dois ramos que havíamos visitado. A única diferença era... Bem, os cadáveres alinhados nos corredores. Havia corpos de brutamontes e clérigos numa proporção aproximada de dois para um; os assassinos deviam ter planejado o ataque para o momento em que a segurança estivesse mais fraca.

Por fim, viramos uma esquina e saímos num longo corredor reto. No final, havia uma porta. Se a planta deste templo fosse a mesma dos outros, deveria levar ao quarto do sacerdote chefe.

Nesse instante...

“Hah!” Gourry parou, desembainhou a espada e cortou o que parecia ser o ar!

Krr-shah! Krr-shah! Ouvi um som suave ecoar enquanto ele fazia seu movimento, então devia ter cortado alguma coisa. Fiquei atrás e não conseguia ver o que tinha acontecido, mas podia imaginar.

O salão repleto de cadáveres era ladeado por pilares. De trás de um deles... Uma figura sombria apareceu.

Um assassino? Os assassinos ainda estão dentro do prédio?

E não estavam sozinhos. Um total de quatro figuras saíram de trás dos pilares. Devem ter pressentido nossa aproximação, escondidos, e disfarçado suas presenças na esperança de nos pegar em uma emboscada. Porém os instintos animais de Gourry captaram suas intenções hostis, e impediu que nos pegassem distraídos. Esperava que pudéssemos capturar esses caras vivos para perguntar quem os contratou. Nesse caso...

Gourry estava com a espada em punho e se aproximava aos poucos dos inimigos, porém eu agarrei a ponta de sua camisa. Ele pareceu entender minha intenção, porque parou e gritou.

“Quem são vocês? Foram vocês que mataram todos aqui? Onde está o sacerdote chefe?”

Claro, nenhum assassino que se preze responderia algo assim. As figuras sombrias apenas riram com desdém da pergunta vã de Gourry.

Contudo mesmo que sua pergunta fosse vã, ainda me deu o tempo necessário para lançar um feitiço! Soltei a belezinha que estive entoando!

“Durmam!”

“O quê?” um grito abafado de surpresa escapou da boca dos assassinos.

Eu tinha acabado de lançar um pequeno número mágico que (como o nome sugeria) fazia todos em uma determinada área dormirem. O motivo de ter impedido Gourry de se aproximar demais era para que não fosse pego e pudéssemos capturar um de nossos amigos assassinos.

“Ngh...”

“Hmm...” dois caíram com gemidos baixos.

E os outros dois... Não? Bem, já ouvi dizer que o feitiço de Sono não funcionava muito bem em pessoas com força de vontade excepcionalmente alta...

Um dos dois restantes avançou em direção a Gourry com uma grande adaga na mão. O outro correu até seus camaradas caídos. Pretende acordá-los para voltarem à luta, hein? Pena que não é tão fácil despertar alguém de um feitiço do sono!

Gourry se virou para o assassino que avançava e o cumprimentou com um golpe de espada. O assassino respondeu com um golpe arqueado de sua adaga. Pouco antes de suas lâminas se encontrarem... O assassino sacou uma segunda adaga com a mão esquerda! Seu plano era bloquear o golpe de Gourry com a primeira e, em seguida, contra-atacar com a adaga da mão esquerda enquanto Gourry estivesse distraído! No entanto...

Clink! A espada de Gourry cortou a adaga e atingiu o próprio assassino! Apesar de sua cabeça pouco inteligente, a habilidade de Gourry com a espada era de primeira classe. Além do mais, empunhava a lendária Espada Explosiva, famosa por seu poder de corte incomparável! A combinação da pura maestria de Gourry com a força descomunal da Espada Explosiva deve ter pegado seu oponente de surpresa. O cara caiu no chão sem nem um grito de protesto. Isso só deixava três...

Antes que eu pudesse terminar o pensamento... Blam! Uma explosão ecoou. Um dos assassinos havia colocado a mão na parede do corredor e a explodido! É provável que tenha usado uma magia de ataque como Onda Explosiva. Ele então passou pelo buraco que criou e saltou para fora.

Que estranho. Tinha certeza de que tentaria acordar seus companheiros... Ah, não me diga... Corri até os assassinos adormecidos e os encontrei com as gargantas cortadas. Aquele filho da...

Sua intenção ao ir até seus camaradas não era para acordá-los, estava se certificando de que nunca acordassem! Posso entender uma decisão como essa para manter camaradas irresponsáveis ​​em silêncio... Mas era profissionalismo que o motivava, ou simples sede de sangue?

“Lina!” Gourry correu até mim.

Balancei a cabeça.

“Sem sorte. O cara que acabou de fugir os matou.”

“Devo persegui-lo?”

“Não... Duvido que faça diferença. Vamos investigar o quarto do sacerdote. Embora... Acho que sei o que vamos encontrar.”

De fato, era justo como imaginei. Um homem com vestes sacerdotais jazia morto entre inúmeros mercenários... O sacerdote do oeste, Bran Conchnir.

———

A cidade inteira estava em polvorosa. O que era compreensível, afinal, alguém havia contratado assassinos para matar um chefe do templo. Selentia nunca havia sido palco de um ato de brutalidade tão descarado. Isto deu credibilidade aos rumores de que alguém havia matado o sumo sacerdote e disfarçado o crime como incêndio criminoso.

Gourry e eu nunca descobrimos a identidade dos assassinos mortos, nem quem os contratou. Naturalmente, fomos interrogados por horas após o incidente, todavia o conselho de feiticeiros intercedeu por nós, então fomos liberados no mesmo dia... Sob a condição de permanecermos na cidade até que o assunto fosse resolvido. Assim, nós dois só conseguiríamos visitar Ryan Seinford, o sacerdote chefe do templo do sul, no dia seguinte.

“Vocês! Vocês foram os primeiros a chegar ontem!” declarou o homem cheio de pompa no momento em que nos apresentamos.

O Sacerdote Ryan era um homem grande, por volta dos quarenta anos, com mechas brancas no cabelo castanho e uma voz profunda e solene. Se estivesse em um púlpito fazendo uma recitação, é provável que passasse a ideia de um homem santo transbordando seriedade. Entretanto, recostado na cadeira, cercado por uma dúzia de capangas mercenários e gritando comigo, parecia um velho rabugento e impaciente comum.

“Talvez os dois sejam os assassinos usando essa história de ‘mediadores’ como fachada! E aí? Expliquem-se!”

Supondo que esse cara não fosse o mentor, é visível como ficou bem estressado com a notícia de que um de seus colegas tinha acabado de ser assassinado. Então eu conseguia entender a paranoia. Mas entender o comportamento de alguém e tolerá-lo não são necessariamente a mesma coisa.

Assenti com entusiasmo.

“Bem, dada a sua personalidade, entendo perfeitamente por que alguém mandaria assassinos atrás de você, mas...”

“O quê?”

“Sério, relaxa. Nós não somos os assassinos. Nem nos daríamos ao trabalho de vir até aqui só pra esmagar uma larva.”

“Ei, Lina...” Gourry sussurrou em voz baixa em resposta à minha provocação. Desnecessário dizer que o ignorei.

O rosto do Sacerdote Ryan ficou roxo de raiva.

“Você acabou de me chamar de...”

“Vamos lá, esqueça os detalhes. O que é uma piadinha comparada a tratar alguém que acabou de conhecer como um assassino sedento de sangue?” eu sorri zombeteiramente.

“Sua...”

“Enfim...” falei, interrompendo o que quer que o homem estivesse prestes a dizer. “Entendo que esteja com medo, porém não faça nada imprudente. As pessoas podem começar a pensar que você é o responsável por todo o ocorrido. Só lembre disso, ok? Nós vamos indo.”

Com essa deixa, virei as costas para Ryan, que seguia resmungando, e seus mercenários, que me encaravam com raiva.

“Ei... Tem certeza de que deveria ter dito aquilo, Lina?” Gourry perguntou baixinho enquanto nos dirigíamos para a saída do templo.

“Tudo bem. Se não for o responsável, ao menos vai desviar sua raiva dos outros sacerdotes chefes para nós, o que vai impedir que a situação piore. E se for a mente por trás do ataque, com certeza virá atrás de nós primeiro. Aí podemos virar o jogo e resolver tudo rapidinho!”

“Hmm... E eu pensando que você tinha sido grossa com o cara porque ele te insultou.”

Erk.

“Hah. Claro que não. Tudo parte do meu plano!”

“Não me pareceu que estivesse realmente falando sério.”

“É só a sua imaginação!”

Quando nós dois saímos do prédio...

“Ei.”

Encontramos dois rostos familiares nos esperando.

“Luke! Mileena!”


Dei uma olhada rápida ao redor, entretanto não havia sinal do Sacerdote Ceres. Caminhamos até os dois.

“E aí? Não vejo seu chefe por perto... Não me diga que o Luke o pegou olhando para a Mileena e deu um soco nele, e agora vocês dois foram demitidos do emprego de guarda-costas.”

“Plausível, mas não!” respondeu Mileena baixinho. “O Sacerdote Ceres nos enviou.”

“Enviou vocês?” perguntei, franzindo a testa.

Dessa vez, Luke se pronunciou.

“Sim. Houve todo aquele incidente ontem, e aí ele soube que o Sacerdote do Oeste foi morto... Ele quer resolver essa situação o mais rápido possível, no entanto sua confiança nas autoridades da cidade, que não conseguem diferenciar incêndio criminoso de assassinato, não está exatamente em alta. Além do mais, achou que vocês poderiam precisar de reforço, então pediu para ajudarmos, já que nos conhecemos.”

“Bom, sem reclamações, mas... Não deveriam estar o protegendo?”

“É, eu também estava bem preocupado com a ideia. Porém, por causa do que aconteceu ontem, a guarda da cidade enfim se mexeu e mandou homens para vigiar os sacerdotes... Além do mais, se meu chefe disse que posso ir, quem sou eu para discutir?”

“Hmm...” respondi distraidamente.

A verdadeira questão aqui era a motivação do Sacerdote Ceres. Luke alegou que foi inspirado pelos eventos do dia anterior, contudo aquilo não o faria querer mais proteção pessoal? Percebi que a guarda da cidade de fato havia enviado uma equipe de segurança. Agora havia soldados posicionados no templo do sul... Todavia era apenas meia dúzia, mais ou menos. Supondo que os outros templos recebessem o mesmo tratamento, não seria suficiente para deter assassinos profissionais.

Uma interpretação favorável da situação seria que Ceres estava furioso com o assassinato de seu colega sacerdote e quer que o caso seja resolvido o mais rápido possível. Uma interpretação menos favorável seria que apenas quer ganhar nossa simpatia na esperança de que isso o beneficiasse na votação para sumo sacerdote. E a interpretação menos favorável ainda? Que era o responsável por tudo e percebeu que ter nossos antigos conhecidos, Luke e Mileena, por perto era inconveniente, então inventou um pretexto para mandá-los embora.

Mas, seja como for, tenho que admitir, estava feliz com a ajuda.

“Muito bem. Aceitaremos sua ajuda.”

“Ótimo. Qual será nosso primeiro passo?”

“Obter informações, suponho... Do lugar com as pousadas mais baratas e os negócios mais suspeitos!”

———

O lugar em questão era uma área central na extremidade sul da cidade, ainda mais ao sul do que o templo do sul. Toda cidade tinha um lugar assim, até a chamada Cidade dos Templos... Lojas decadentes, bares de quinta categoria e casas miseráveis ​​alinhadas em ruas úmidas. Um covil natural para bandidos e marginais. Estávamos procurando por assassinos profissionais, então, se estivessem escondidos em algum lugar, o mais provável seria aqui.

A melhor estratégia, da perspectiva do criminoso, devia ser ter os assassinos misturados com os mercenários que faziam a segurança na maior parte do tempo. Facilitaria o contato e daria ao líder segurança extra. Ao mesmo tempo, os assassinos não gostariam de mostrar seus rostos reais a um empregador temporário. Em vez disso, prefeririam se manter discretos na maior parte do tempo, passando na residência do criminoso uma vez por dia para fazer contato e receber ordens.

Em resumo, imaginei que teríamos as melhores chances de encontrá-los por aqui. Quer dizer, claro, também havia a possibilidade de os assassinos estivessem hospedados em um hotel de luxo no centro da cidade. Porém seriam muito fáceis de rastrear por lá, então mesmo que houvesse uma chance, ela era pequena.

“Certo. Vamos nos dividir em equipes e perguntar por aí. Eu com o Gourry e o Luke com a Mileena... Ou, era o que estava pensando, contudo parece que não precisaremos mais.” sussurrei.

“É. Vamos apenas agradecer por terem nos poupado o trabalho.” murmurou Luke em resposta.

“Vamos lá, pessoal... Vocês não podem atacar as pessoas de surpresa quando estão irradiando malícia como uma lanterna no escuro, sabem? Por que não se mostram logo?” gritei.

Um breve silêncio se seguiu à minha declaração, e então...

“Se insiste.” um homem surgiu das sombras. Este foi seguido por outro... E outro, e outro. Cada um apareceu de trás de esquinas e de trás de tudo. Esses caras não eram assassinos, eram um grupo de cerca de uma dúzia de bandidos comuns.

“Alguém não gostou do jeito que está bisbilhotando. Achamos que deveríamos te dar uma liçãozinha.” disse o aparente vocalista, um cara com uma cicatriz na bochecha.

Hmm... Pensei por um momento e comecei a murmurar um feitiço.

“Heh. Nossa, vocês são uns idiotas!” resmungou Luke. “Realmente acham que esses brutamontes insignificantes são páreo para nós?”

“O que foi que disse?” o rosto do vocalista ficou roxo. “Estão zombando da gente! Peguem eles!”

“É isso aí!” gritaram os capangas enquanto avançavam contra nós. Quando o fizeram...

“Vento de Diem!” gritei, lançando meu feitiço... Uma rajada mágica capaz de, digamos, empurrar uma criança com um guarda-chuva. Nada letal. No entanto não estava atirando nos bandidos, estava mirando logo acima de nossos atacantes.

Fwooooom! De repente, houve um clarão e um rugido vindos do alto.

“O quê?” gritaram os bandidos em choque.

Claro, não foi meu Vento de Diem que explodiu. Em vez disso, foi uma Bola de Fogo em trânsito que interceptei e detonei no ar. Essa Bola de Fogo provavelmente foi cortesia de assassinos escondidos em um telhado próximo.

Veja bem, quem quer que nos quisesse mortos agora devia ser a mesma pessoa que contratou os assassinos. Deviam saber que um bando de capangas não teria chance contra nós, o que levanta a questão: por que enviar esses insignificantes bandidos? A resposta era óbvia: eram apenas uma isca, e a verdadeira ameaça estava em outro lugar. Foi assim que deduzi que havia assassinos nos telhados, sua própria malícia mascarada pela hostilidade flagrante dos brutamontes, apenas esperando o momento certo para atacar. Portanto, preparei um feitiço para lidar com essa possibilidade, e descobri que estava coberta de razão.

“Ei... Ei! Não percam a calma! Ela só fez esse truque para nos assustar!” gritou o valentão da frente, pelo visto supondo que a explosão tinha sido obra minha.

“É-É!” gritaram seus capangas em concordância, acreditando em suas palavras, antes de voltarem a atacar.

Argh! Usem seus cérebros, peões!

Os assassinos não davam a mínima para esses lacaios. Se eu não tivesse parado aquela Bola de Fogo, ela os teria atingido também. Mas os idiotas não perceberam nada. Então, ignorando a verdadeira ameaça, avançaram direto para nós e...

“Congele Bullid!” Zing! O feitiço de gelo lançado por Mileena atravessou os bandidos, imobilizando alguns instantaneamente.

Gourry desembainhou sua espada.

“Hah!” com um grito ousado, ele atacou!

Fwp, fwp, fwp, fwp! Sua espada emitiu um som estranho enquanto vários dos bandidos voavam pelos ares gritando. Deve tê-los atingido com o lado plano da lâmina.

Bem... Isso ainda foi imprudente! A maioria das espadas quebraria se você fizesse algo assim. Por outro lado, seria um exagero se Gourry usasse o fio da sua Espada Explosiva nesses idiotas...

Luke também estava se saindo bem derrubando os caras, enquanto eu revidava com minha espada curta enquanto trabalhava no meu próximo encantamento. Para ser honesta, mesmo para lutadores amadores, esses caras eram os piores. Mal parecia uma luta de verdade.

Porém não eram nossos verdadeiros inimigos. E no instante em que todos nós estávamos envolvidos na briga...

Crackle! Ouvi um estalo suave acima de mim.

É isso aí! Rapidamente saltei para trás para me distanciar do brutamontes com quem estava trocando golpes, e então arremessei minha espada curta acima da cabeça em um ângulo diagonal! Nem um segundo depois...

Crackacracka-pop! Ouvi um som incrível, como se o próprio ar estivesse se rasgando. Raios de luz se uniram ao redor da espada curta que arremessei e atingiram o capanga que estava embaixo dela! Eu havia previsto e anulado a Bola de Fogo que os assassinos lançaram antes, então desta vez, usaram um feitiço de relâmpago em área que não podia ser impedido com magia de vento. Contudo, prevendo esse movimento também, arremessei minha espada para o ar para servir de para-raios. Azar do cara embaixo dela, é claro.

“Maldito seja você! Que feitiço foi esse?” gritou o brutamontes da frente, presumindo mais uma vez que a fanfarra mágica era obra minha.

Argh! Como pode ser tão estúpido? Entenda o recado!

Nesse instante... Whoosh! Saltando das janelas e telhados próximos, várias figuras vestidas de preto caíram no campo de batalha.

Os assassinos se revelaram! Pensei. Acho que bloquear seus feitiços duas vezes os irritou!

“Q-Quem são eles? Tanto faz! Só acabem com todos!” gritou o brutamontes da frente, sua incapacidade de compreender a situação agora atingindo o reino do ridículo.

Esse cara não pode estar falando sério! Só pode estar brincando!

E assim, a briga caótica começou.

“Graaah!”

Desviei com facilidade de um golpe de um capanga que se aproximava, contornei-o enquanto seu impulso o levava para além de mim e lhe dei um golpe na nuca.

“Gek.” ele soltou aquele barulhinho estranho e estava prestes a cair quando o agarrei pela gola, puxei suas pernas e o joguei de costas. Então, peguei a espada curta que caiu de sua mão para substituir a que eu havia arremessado.

Mas no instante em que peguei a lâmina, uma figura vestida de preto surgiu em meu campo de visão... Um assassino! Algo saiu de suas mãos em minha direção! Facas de arremesso? Só que, naquele mesmo instante...

“Sua vadia!” outro capanga correu em minha direção para vingar seu camarada!

Seu idiota...!

Dois baques surdos ecoaram, e o capanga estremeceu antes de desabar no chão. Ele havia se jogado na frente das facas e levado ambas nas costas. O assassino claramente não esperava por tal situação, pois a reviravolta o fez hesitar por um momento.

“Flecha Congelante!”

Aproveitei a oportunidade para lançar o feitiço que estive conjurando! Ziziziziiing!

Porém, como esperado, estávamos lidando com profissionais. O assassino saltou em grande velocidade para evitar um golpe direto e ficou atrás dos capangas, deixando-os congelar em seu lugar.

“Ei!”

“Sua vadia estúpida!” gritaram mais bandidos, avançando para cima de mim de novo.

Ei, não me culpem! Vocês que começaram essa briga!

Decidi revidar e comecei a entoar um feitiço baixinho.

———

Nesse meio tempo, meus três companheiros estavam envolvidos em suas próprias lutas.

Gourry cortava as espadas dos bandidos e desviava as facas dos assassinos. Sempre que havia uma pausa momentânea no ataque, ele avançava e derrubava um após o outro.

Luke desviou a espada de um bandido e, quando o cara cambaleou, chutou-o no flanco... Direto em outro bandido que vinha em sua direção.

“Gwuh!”

E quando o homem caiu...

“Onda de Cavar!”

Whooooom! Luke usou um feitiço de ataque para mandar os dois para bem longe. Um segundo depois, um dos assassinos correu em direção a Luke, e...

“Morra!” um dos capangas correu em direção à assassino!

Em um leve pânico, o assassino se moveu para se defender da lâmina do capanga.

Ambos provavelmente foram contratados pela mesma pessoa, contudo os capangas pareciam não ter conhecimento de que os assassinos estavam do seu lado. Isso era natural, claro. Mesmo que fossem capangas comuns, ninguém ia sorrir e dizer, ‘Claro, chefe!’ ao ser alegremente informado de que seriam iscas descartáveis ​​para assassinos de aluguel. E tudo provavelmente teria corrido sem problemas... Exceto pelo fato de eu ter bloqueado os feitiços dos assassinos duas vezes, o que foi suficiente para atraí-los para a briga, resultando em grande confusão para todos os lados.

Mileena desviou um golpe de outro capanga e então, sem nem se virar, lançou um feitiço para trás!

“Fell Zaleyd!”

Ela estava mirando em um assassino que se aproximava usando o capanga como cobertura. Era óbvio que nunca esperou ser descoberto, porque recebeu o feitiço de frente.

“Eu... Vou te mostrar!” o jovem bandido loiro cuja espada Mileena acabara de desviar tentou atacá-la outra vez, no entanto ela respondeu com um golpe displicente no rosto dele.

“Ai!” o cara se abaixou para desviar, entretanto perdeu o equilíbrio e caiu de cara no chão. Sua espada acabou raspando o flanco de Mileena, mas mesmo assim...

“Geh!” ela pisou nas costas do bandido caído e atacou seu próximo oponente.

Foi mais ou menos nessa hora que terminei meu feitiço.

“Vento Diemilar!

Whooosh! Uma rajada de vento explosiva lançou vários membros da gangue e um dos assassinos pelos ares.

Ótimo! Isso realmente reduziu bastante o número deles.

“Esses... Esses caras são durões!” gritou um dos brutamontes.

Antes tarde do que nunca, suponho? Não havia passado muito tempo desde o início da batalha, todavia já tínhamos reduzido pela metade o número de brutamontes e derrotado dois dos cinco assassinos.

Foi então que o chefe dos capangas gritou.

“Mais um motivo para acabar com eles! Vamos nessa!”

Vocês estão brincando comigo? Só sumam daqui logo!

“Certo!” a gangue concordou entusiasticamente.

Sério, pessoal! Chega!

“Rrragh!” Com um grito apaixonado que não tinha como conter, um dos capangas desembainhou a espada e avançou para cima de mim.

Lancei um feitiço, ergui minha espada curta e, de repente... Um arrepio estranho percorreu minha espinha. Saltei para o lado quase instintivamente.

Whoosh! Um corte apareceu na minha capa enquanto ela esvoaçava sobre meu ombro. Whunk, whunk, whunk! Ouvi uma série de baques suaves quando o homem que avançava para cima de mim cuspiu sangue e caiu no chão.

O quê?

Alguém deve ter atirado facas por trás de mim... Facas que acabaram atingindo o capanga quando me esquivei. Pelo menos, era o que eu tinha que presumir... Porém não havia lâminas no corpo do homem.

Um feitiço de ataque de vento, então? Parece um pouco preciso demais para isso...

“Cuidado! Um desses caras tem habilidades estranhas!” gritei, colocando meus camaradas em alerta.

“Habilidades estranhas?” Luke gritou de volta enquanto chutava um capanga para longe.

“Como assim?” Gourry entrou na briga e derrubou um dos assassinos restantes.

Foi então que um dos brutamontes se pronunciou.

“Então você enfim entendeu...”

Com suas palavras, a batalha parou.

“Hã? Ei...”

“O quê? Do que ele está falando?”

Vários dos brutamontes pareciam tão confusos quanto nós.

“Acho que é hora de parar com a encenação!” disse o líder deles.

“Encenação? Ei, do que está falando?”

“Não precisa saber.”

Enquanto falava, vários dos outros brutamontes se assustaram! Whunk! Whunk! Whunk! Whunk! Whunk!

“Guh!”

“Geh!”

Alguns sangraram pela garganta, outros pelo peito, outros pelos ouvidos... O sangue começou a jorrar dos bandidos agora imóveis que caíram no chão. Alguns de seus supostos aliados de repente se voltaram contra eles. Eu tinha dito que esses caras eram a escória da sociedade, e de fato não tinham chance aqui. Os únicos homens que restaram de pé eram três capangas... Ou melhor, três homens fingindo ser capangas... E dois assassinos.

“O que está acontecendo aqui?” perguntou Gourry.

“Havia assassinos misturados com os brutamontes!” respondi.

Acho que era por isso que o líder continuava incitando-os a lutar, apesar da situação estar ficando cada vez mais absurda. Contudo ainda que o objetivo dos assassinos fosse nos pegar desprevenidos, lançar feitiços de ataque contra seus companheiros de armas foi bastante ousado... O que teriam feito se eu não tivesse bloqueado aqueles ataques?

“Não adianta mais esconder... E com a ralé fora do caminho, é hora de levarmos isso a sério.”

Toda a expressão desapareceu do rosto do homem marcado que estava interpretando o papel do chefe dos brutamontes. Em vez de um bandido de terceira categoria, agora parecia um assassino sem coração.

Eles estão vindo...

Whoosh! Os assassinos atacaram todos ao mesmo tempo. Gourry fez seu movimento ao mesmo tempo. Slash! Ele golpeou quando um dos assassinos passou correndo por ele, cortando o cara ao meio! E então...

“Flecha Flamejante!” Luke e Mileena lançaram juntos o mesmo feitiço, atingindo os quatro restantes.

“Gah!” cada assassino foi atingido em cheio, no entanto apenas um dos quatro soltou um grito e desabou. Os outros três continuaram o ataque.

Não funcionou? Até Luke e Mileena pareceram um pouco abalados. Próximo...

“Certo!” um deles, o loiro em quem Mileena havia pisado antes, sacou a mão esquerda. Estava fora do alcance da espada, mas Mileena imediatamente saltou para o lado e...

“Guh?” um corte apareceu em seu bíceps, apesar de não ter havido nenhum sinal de que o cara tivesse arremessado nada.

Espere, aquilo foi... Uma onda de choque? O que deve significar que esses homens são...

“Mileena!” Luke se virou rapidamente para ela, todavia o antigo líder se interpôs no seu caminho.

“Você vai lidar comigo!” gritou o homem.

“Saia da minha frente!” berrou Luke de volta.

O homem aparou a espada de Luke com a sua própria e, naquele instante, lanças de fogo apareceram entre os dois! Luke recuou em seguida, virou a cabeça e por pouco desviou dos raios flamejantes que se aproximavam.

Nesse meio tempo, o último dos assassinos avançava em minha direção, com as mãos preparadas em uma posição curiosa...

Não tão rápido! Liberei o feitiço que havia conjurado!

“Explosão de Cinzas!”

Whom! Uma mancha negra de vazio surgiu em seu caminho e engoliu o homem por inteiro! Ainda bem que esse era o feitiço que eu havia escolhido. Se tivesse sido uma Bola de Fogo...

Gourry se virou em um rápido movimento e foi apoiar Mileena. Entretanto, assim que ficou claro o que estava fazendo, o oponente de Mileena saltou para trás para ganhar espaço de Gourry.

“Desculpe, contudo não pretendo lutar com você!” disse o loiro para Gourry. Então, olhou para seu companheiro que acabei de transformar em cinzas e... “Tch! Eu te disse para não os subestimar... Seu desastrado! Recue, Zychael!”

Obedecendo à ordem do loiro, o ex-líder que enfrentava Luke recuou um pouco.

“Quem são esses caras?” perguntou Luke, ofegante.

“Você ainda não percebeu?” respondi.

“Na verdade, sim, já lutamos contra eles antes, não é?” disse Gourry, talvez se lembrando deles por instinto.

“Sim... Como o Gourry disse, já enfrentamos gente como esses cara antes.” repeti.

Eles tinham resistido aos golpes das Flechas Flamejantes de Luke e Mileena sem um arranhão, e produziam dardos flamejantes sem encantamentos. Para fazer tal coisa, teriam que ser...

“Demonóides...”

———

Há algum tempo, em Solaria, encontramos um louco com ambições de restaurar seu país perdido. Seu plano era possuir hospedeiros humanos com demônios invocados do plano astral... Ou melhor, fundir os dois, criando seres com tremendo poder mágico. Ataques mágicos superficiais não funcionavam contra eles, e eram capazes de conjurar feitiços de ataque simples sem a necessidade de encantamentos. Além disso, tinham o poder mágico de demônios inferiores com a inteligência de humanos. Alguns podiam até se teletransportar pelo espaço, apesar de terem formas físicas. Passei a chamar essas criaturas de demonóides.

Eu, Gourry, Luke e Mileena (mais alguns outros) conseguimos deter o louco e acabar com ele no final... Mas nunca imaginei que encontraríamos os remanescentes de seus capangas aqui.

Ah, claro... O motivo pelo qual conseguiram resistir ao meu feitiço do sono no templo ocidental não foi por causa de suas impressionantes forças de vontade. Foi porque tecnicamente não eram mais humanos. Uma mera Bola de Fogo ou um raio mágico não arranhariam nem mesmo suas peles aprimoradas por demônios, daí o seu plano de lançar tais feitiços do alto mais cedo. Não era uma estratégia tão imprudente quanto pensei a princípio.

“Demonóides? Chame-nos do que quiser, suponho!” disse o loiro, com um sorriso perceptível em sua voz. “De um jeito ou de outro, tenho que pagar essa dívida...”

“Que dívida?” perguntei, franzindo a testa. Pensei que tínhamos derrotado todos os demonóides com quem cruzamos o caminho em Solaria.

“Você não se lembra, né? Então... Deixe-me refrescar sua memória!” ele gritou enquanto brandia a mão esquerda.

Não havia nenhum objeto arremessado nem nada, contudo Gourry instantaneamente se lançou à minha frente e brandiu sua espada! Krr-shah! Krr-shah! Um som estridente chegou aos meus ouvidos, justo como aquele que eu ouvira no templo ocidental.

É isso...?

Agora estava claro para mim. O homem loiro havia produzido uma onda de choque invisível, tão afiada quanto uma lâmina, com um simples movimento da mão esquerda. Eu havia lutado contra um cara com poderes semelhantes em Solaria, no entanto...

“Não... De jeito nenhum...”

“Ah, veja só. Enfim se lembrou?” ele provocou.

“Mas nós te matamos!”

“Vocês não me mataram. Apenas me partiram ao meio... E presumiram que morri e foram embora.”

Isso era um completo absurdo. Como poderia se regenerar depois de ser cortado ao meio?

“Pensando bem, o chefe deles ficou flutuando por aí feliz da vida mesmo depois de termos cortado a sua metade de baixo também...” Luke comentou, sua voz assumindo um tom sombrio.

Então... Esse cara de fato é...

“Zord... Não é?” perguntei.

“Sim, bingo. Então ainda se lembra.” um pequeno sorriso apareceu no rosto de Zord. “Nem todos nós estávamos em Solaria, sabia? Estávamos espalhados por aí caso algo acontecesse. Porém aí vocês derrotaram nosso chefe, então tivemos que vender nossas habilidades em outro lugar... Com planos de pagar integralmente o que devíamos a vocês no devido tempo. Nossos números estão um pouco baixos no momento, então vamos nos retirar por hoje...”

“É mesmo?” Luke bufou. “Acha que vamos te deixar ir só porque pediu com jeitinho? Hein?”

Luke tinha razão, contudo Zord zombou.

“Diga o que quiser. Deixe-me adivinhar, vai nos perseguir e nos matar. Faça isso se puder. Pode estar louco para ir... Mas e quanto aquela garota ali?”

Ei...

“O quê?” Luke sussurrou roucamente enquanto Mileena caía de joelhos, sem forças.

Wuh?

“Bwahaha! Até mais! Me persiga se quiser!” com essas palavras zombeteiras, Zord e Zychael se retiraram.

“Mileena?” Luke se apressou para correr para o lado de sua companheira. Seu rosto, já pálido, estava ainda mais branco. Ela não estava em condições de perseguir assassinos.

“Eu fui... Descuidada...” Mileena disse, com a mão pressionada contra o flanco do corpo.

De repente, me lembrei de como, quando Zord fingiu ser um brutamontes e desabou na frente dela mais cedo, sua espada a atingiu de raspão ali... Não acredito!

“Acho que é... Veneno!” disse Mileena, com o rosto coberto por uma leve camada de suor.


Então era mesmo... O motivo pelo qual Zord havia pausado a luta e conversado sobre os velhos tempos era para esperar o veneno fazer efeito.

“Espere!” comecei a entoar um feitiço, entretanto Mileena ergueu a mão para me impedir.

“Dei Cleari...” ela tentou um feitiço antídoto. Não era capaz de neutralizar por completo todos os venenos, todavia valia a pena tentar. Eu esperava que funcionasse, mas...

“Será apenas um paliativo! Vamos levá-la a um médico mágico!”

“Sim! Aguenta firme, Mileena!” disse Luke enquanto a carregava nas costas e entoava um feitiço. “Lei Asa!”

Com isso, eles decolaram para o céu!

———

“Como assim, não tem médicos?” Luke gritou para a recepcionista, com um tom ameaçador. Estávamos em uma clínica na zona sul da cidade. “Por que diabos não?”

“El... Eles foram enviados aos templos!” a mulher se apressou em responder, intimidada pela intensidade de Luke. “Por causa das brigas entre os sacerdotes! Temos tratado doenças leves com ervas, porém...”

“Então os médicos estão nos templos?” Luke disse, saindo furioso antes que a recepcionista pudesse terminar.

Mileena, ainda em suas costas, respirava com dificuldade. O veneno que Zord usara nela claramente exigiria mais do que um antídoto comum para curá-la.

———

“Eles devem estar aqui!” Luke gritou com toda a força dos seus pulmões.

Estávamos no templo sul do Lorde da Terra Rangort. Tínhamos anunciado que tínhamos uma vítima de envenenamento que precisava do tratamento urgente de um médico mágico, contudo quando tentamos entrar, o mercenário na porta nos informou que não havia nenhum no templo.

“Eles me disseram que estavam aqui!” insistiu Luke. “Não tem como não haver nenhum lá dentro!”

“Não sei o que dizer!” disse o mercenário com um sorriso zombeteiro. “O sacerdote disse que não há nenhum, e tenho que acreditar na sua palavra. Ah, é verdade... Ele disse: ‘Se vocês vão trabalhar para o templo norte, deveriam pedir ajuda a Ceres.’ Faz todo o sentido, não é?”

“Seu filho da...”

“Luke!” gritei bem na hora em que Luke estava prestes a pular em cima do cara. “Discutir não vai nos levar a lugar nenhum. Quer dizer, sim, poderíamos derrubar esse idiota e arrastar um médico mágico até aqui, no entanto... Eles ainda poderiam fazer um tratamento superficial só para nos provocar. O que você quer fazer?

Luke ficou em silêncio por um instante.

“Vamos para o lado norte da cidade.”

———

O vento soprava, farfalhando as árvores verdes do lado de fora da janela. Era tranquilo... Uma tarde tranquila.

“Você poderia... Nos dar um minuto a sós?” Mileena disse baixinho.

Ela estava deitada na cama em um quarto no templo do norte. Silenciosamente, Gourry, o Sacerdote Ceres e eu nos viramos para sair. O rosto do sacerdote estava pálido de arrependimento.

Há poucos minutos, Luke havia implorado a ele. Suplicado que removesse o veneno. Que usasse um feitiço de Ressurreição. Mas o Sacerdote Ceres só conseguia murmurar “Sinto muito” repetidamente. E foi isso.

Saímos do quarto e fechamos a porta atrás de nós. A última coisa que vimos foi Mileena na cama, estendendo a mão para tocar a bochecha de Luke. Quando abrimos a porta de novo...

Luke havia sumido. O único sinal de sua partida era a janela aberta, com as cortinas balançando ao vento. Mileena seguia deitada na cama, tão tranquilamente que parecia estar dormindo...

———

Dois dias se passaram desde o desaparecimento de Luke. É claro, não ficamos parados sem fazer nada. Tentamos perguntar por toda a cidade sobre Zord e seu amigo Zychael. Duvidava que fossem burros o suficiente para revelar seus nomes verdadeiros, porém eles tinham mostrado seus rostos, o que sem dúvida facilitaria muito encontrá-los.

Naquela noite, o nome de um corretor de informações apareceu em nossa busca. Não sei dizer quantos bandidos espancamos nesse meio tempo, porém, sendo bem franca, quem se importa? Gourry e eu subimos as escadas do apartamento barato onde o corretor supostamente morava, e...

“?”

Quando chegamos ao corredor mal iluminado, paramos de repente. O corredor velho e escuro estava repleto de vários cheiros, embora havia um aroma pungente que se destacava entre todos os outros... O cheiro de sangue, derramado há pouco tempo.

Uma porta adiante no corredor estava entreaberta. Era a do apartamento do corretor que tínhamos vindo visitar.

Whoosh! Nós dois saímos correndo em uníssono e arrombamos a porta.

Encontramos um homem ensanguentado caído no chão lá dentro... O corretor. Seu corpo estava coberto de cortes, embora seguisse respirando. Quando nos viu, soltou um suspiro fraco e assustado.

“Por favor... Chega... Eu já disse... Onde eles estavam...”

Droga! Naquele instante, percebi o que tinha acontecido.

“Que tal me dizer mais uma vez?” comecei. “Onde estão Zord e Zychael?”

“Já disse... Eles foram pela estrada para o leste... Para a Estalagem Flor do Oceano...” disse o homem, meio chorando, sem nem perceber que estava falando com outra pessoa.

“Tudo bem. Vou chamar ajuda para você.” eu disse, então desci as escadas com Gourry, paguei um pouco de ouro ao velho estalajadeiro para chamar um médico e seguimos para a estalagem que o pobre homem havia indicado.

“O que está acontecendo aqui, Lina?” perguntou Gourry.

“Estamos dois passos atrás do Luke.” respondi com uma expressão séria.

O motivo do seu desaparecimento era vingança, simples assim. Luke passou os últimos dois dias coletando informações e chegou ao corretor antes de nós. Então, agora estávamos a caminho da Estalagem Flor do Oceano, seguindo seus passos... Mas fomos poupados de muita busca pelo lugar.

Fwoom! Houve uma explosão repentina de luz e som, e um prédio na rua explodiu. Ali! Corri em direção a ele.

Estávamos cercados por espectadores chocados, todos procurando a origem da explosão. Chamas saíam do prédio e subiam cada vez mais alto. Na rua em frente, entre fragmentos de madeira queimada, havia uma placa de cobre barata com uma onda e algum tipo de flor inscrita. Se este era o lugar, então...

“Por ali!” disse Gourry e saiu correndo.

Havia gritos de terror das pessoas ao nosso redor. Pânico e gritos. O calor e o crepitar das chamas. Emoções e sons giravam no caos, porém conseguia sentir apenas um sentimento particularmente forte fluindo claramente de uma direção específica.

Era... Ódio.

Deve ser ele. Se seguíssemos esse ódio, com certeza encontraríamos Luke. Estava lá, em meio às chamas furiosas.

A batalha, ou o que quer que fosse, parecia estar acontecendo atrás da estalagem. Gourry virou a esquina para um beco, e corremos pela rua estreita até chegarmos a uma clareira em meio a um amontoado de prédios.

Podíamos ver a estalagem em chamas bem perto, e no chão jaziam... Coisas. Coisas compridas. Coisas curtas. Coisas grandes. Coisas redondas. Gourry e eu ficamos parados, sem palavras. Eram sem espaço para dúvidas... Partes de corpos humanos.

A bochecha de um dos pedaços redondos no chão tinha uma cicatriz. Zychael...

“Gyaaaah!” assim que o reconheci, ouvi aquele grito, e outra coisa caiu de um telhado na beira da praça. Era uma perna.

Nós dois olhamos para cima, em choque. No telhado de um prédio de frente para a praça, havia uma silhueta escura, com as chamas ao fundo. Estava agachado ali, com uma mão segurando um homem na beira do precipício e a outra empunhando uma espada. A espada brilhou em laranja e...

“Gyaaaaaaah!” o homem pendurado tremeu e gritou.

Splat. Algo mais caiu na praça. Não consegui me obrigar a verificar o que era.

“Quem foi?” perguntou a silhueta escura, movendo as mãos silenciosamente. Era a voz de Luke. “Quem te contratou?”

“Eu... Já te disse. Francis... Do leste...”

“Não consigo te ouvir direito.” a voz de Luke estava lânguida.

Sua mão se moveu outra vez. E então... Zord gritou.

“Quem te contratou?” Luke repetiu.

“Por favor... Pare...”

“Ei, vamos lá. Responda à pergunta.” mais uma vez, a espada de Luke brilhou. Mais uma vez, Zord gritou.

Zord, que agora estava... Muito pequeno... Se debatia enquanto dizia.

“Foi Francis! Francis! Francis, Francis, Francis! Pare, pare, pare, paaaaare!”

“Já estou farto de ouvir sua voz!” disse Luke, e então...

“Luuuuuuuuke!” gritei, enfim liberta da minha longa paralisia.

Lentamente, seu olhar se virou para nos encarar. Havia um brilho perturbador em seus olhos.

“Oh... São vocês.”


“Não se preocupem. Vou acabar com isso em breve.” ele bem que poderia estar trocando fofocas. Sua mão direita se moveu.

“P-Por favor... Por favor, por favor...”

O que se seguiu foi um som suave e úmido de algo se esfarelando. O que antes era Zord agora estava em silêncio.

“Nem você consegue sobreviver a tudo isso, né?” pouco a pouco, Luke se levantou e jogou o que restava de Zord no fogo. “Vou terminar com isto agora. Vocês deveriam sair da cidade, se puderem. Não quero que me vejam assim.”

Com essas palavras, Luke se virou e desapareceu do telhado.

Não consegui segui-lo. Não conseguia nem me mexer.

Não sabia que estava tão devastado... Nunca imaginei que uma pessoa pudesse ter tanto ódio fervendo dentro de si. Quanto a mim... Não sei se estou triste, com medo ou o quê. Só quero... Vomitar.

“Lina...” disse Gourry. Sua voz era baixa. “Lina... Você está bem?”

Estou bem... Era o que queria dizer, no entanto só saiu um soluço. Consegui acenar com a cabeça em sinal de afirmação.

“Vamos impedi-lo. Vamos impedir Luke!” Gourry me assegurou.

“Eu sei!” consegui responder finalmente.

Então nós dois nos viramos e começamos a correr.

Em direção ao templo oriental.

Para impedir Luke.

***

Link para o índice de capítulos: Slayers

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