domingo, 14 de dezembro de 2025

The Haar — Capítulo 26

Capítulo 26


A porta da frente se abriu pela última vez.

Muriel deu uma última olhada no interior da casa. Sua casa. A casa deles. Tantas lembranças, lembranças que tinham sido fortes o suficiente para trazer seu marido de volta. As cadeiras confortáveis, o carpete gasto, o telhado com goteiras, as canecas lascadas, o cinzeiro de vidro sempre ao lado da pia. Pensou em levar sua foto de casamento, mas por que se dar ao trabalho? Billy estava ao seu lado em uma bolsa pendurada no ombro. Ele pesou sobre ela, e Muriel sabia que precisava se apressar.

Grant estava parado à sua frente, e Muriel pressionou uma das pistolas do guarda-costas contra a parte inferior das suas costas. Não sabia se ainda havia balas, porém ninguém mais sabia ao certo, e só podia rezar para que a aposta valesse a pena.

— Vá! — ordenou a Grant. — Devagar.

— Você está cometendo um grande erro. — disse Grant sem se virar. — Meus homens poderiam atirar no pau de um beija-flor.

Ela enfiou o cano na espinha dele, observando-o se contorcer. Havia uma comoção lá fora. Tanta gente conversando, câmeras filmando, aquele maldito helicóptero zumbindo acima. Seu olhar se voltou além de Grant e viu dezenas de homens escondidos atrás de carros, com as armas apontadas em sua direção.

— Você vai morrer! — disse o bilionário.

Muriel bufou.

— Eles não vão arriscar te acertar. Jamais arriscariam bater em um homem rico de terno chique. Você é importante demais.

— Então eu mesmo te mato! — ameaçou Grant, dando um passo vacilante para a frente. A parte de trás do paletó estava manchada de vermelho, o cabelo emaranhado de sangue de onde batera a cabeça na pia.

Depressa...

Muriel seguiu Grant, acompanhando seu passo, sem se dar ao trabalho de fechar a porta atrás de si.

Não há como voltar atrás agora, pensou sombriamente.

— Solte Grant! — disse a voz pelo megafone. — Abaixe a arma e se entregue. Não tem para onde ir.

Seu fiel carrinho de mão estava parado ao lado do caminho do jardim. Cuidadosamente, Muriel tirou a sacola contendo Billy do ombro e a colocou dentro do carrinho.

Posso matar todos eles...

— Não. Só os maus.

— O quê? — disse Grant, virando-se para olhá-la.

— Não estou falando com você. — ela pressionou a arma com mais força contra suas costas. — Pegue o carrinho de mão.

— Não vou empurrar essa coisa como um maldito fazendeiro mexicano.

— Vai fazer exatamente isso, Sr. Grant. Ou atiro nas suas costas e te deixo sangrando no meu gramado.

Grant respirou fundo e agarrou as alças do carrinho de mão.

— Aquela coisa na sacola está olhando para mim.

— E não se esqueça disso. — respondeu ela. — Um movimento em falso e vai arrancar suas tripas na frente de todo mundo.

Muriel olhou para a multidão de policiais armados, seguranças e repórteres. Não reconheceu um único rosto. Onde antes toda a vila de Witchaven estaria lá fora, boquiaberta, agora havia um mar de rostos desconhecidos. Além, uma névoa fina obscurecia a praia.

O haar estava chegando.

— Já não falta muito. — Muriel sussurrou.

— O quê? — perguntou Grant.

— Eu te disse, estou falando com meu marido.

— Você é louca. Louca pra caralho. Essa coisa não é seu marido. É um monstro. Depois que estiver morta, vou garantir que os cientistas o levem para um laboratório para estudá-lo. Vou assistir enquanto o cortam pedaço por pedaço, e toda vez que a lâmina do bisturi cortar essa porra dessa coisa, vou pensar na sua pessoa, McAuley. Vou pensar muito e vou rir.

— Você é um saco de merda. — disse Muriel. — Agora ande.

Empurrando o carrinho de mão à sua frente, Grant começou a descer a trilha, seus sapatos caros arrastando no cascalho.

— Pare aí mesmo! — disse o homem com o alto-falante. — Pare, ou não teremos escolha a não ser atirar!

— Saiam da minha frente! — Muriel gritou. — Todos se mexam, ou mato esse homem.

Um murmúrio denso de discussão zumbiu pela multidão.

— Façam o que ela diz! — disse Grant. — Essa mulher é louca. Matou todos lá dentro. Ela, e aquilo...

— Continue... — disse Muriel. — Conte a eles tudo.

Mas Grant não contou. Não podia. Muriel sorriu. Sua equipe de segurança massacrada por um monstro metamorfo? Pensariam que ele tinha enlouquecido, e seu ego jamais permitiria tal indignidade.

Os policiais se afastaram lentamente de seus veículos, braços estendidos, armas firmes. Muriel tentou se manter atrás de Grant, usando-o como escudo humano. Câmeras rodavam por todos os lados, repórteres competindo por espaço, vozes lutando para serem ouvidas umas sobre as outras e o zumbido constante do helicóptero. Muriel o observou pairar no céu, a silhueta negra mal visível através da nuvem de neblina que se aproximava. Estava ficando difícil de enxergar, o cabelo se adensando, porém isso não era problema. Já sabia o caminho.

— Continue. — ordenou. O carrinho de mão desceu um pequeno degrau com um baque surdo, e passaram pelo portão.

— Para onde você pode ir? — a voz estrondosa flutuou etereamente pela névoa. — Entregue-se e ninguém precisará se machucar.

— Merda! — ela ouviu outra pessoa dizer. — Não consigo ver porra nenhuma.

A grama seca estalou sob seus pés. Pisou em uma pedra e quase perdeu o equilíbrio. O corpo de Grant enrijeceu ao sentir fraqueza.

— Ande. — insistiu.

Ele riu em desafio.

— Você vai morrer, sua puta.

— É, é o que continua dizendo. Agora diga a eles para não nos seguirem.

— Fiquem onde estão! — rugiu Grant. — Não nos sigam.

Muriel não conseguia mais ver os homens, apenas a sugestão das luzes vermelhas e azuis piscando através da névoa. Ela se perguntou se sua família estava assistindo ao noticiário, no entanto deixou o pensamento de lado enquanto seus pés afundavam na areia fofa. Grant diminuiu o ritmo.

— Continue! — disse Muriel.

— Não consigo empurrar essa maldita coisa pela areia.

— Então puxe.

Ele olhou para ela, com o rosto fantasmagórico através do cabelo.

— Para onde diabos acha que estamos indo?

Com a arma apontada para Grant, Muriel olhou para o mar e sentiu um arrepio gelado percorrer seu corpo.

— Estamos indo para casa.

***

Link para o índice de capítulos: The Haar

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