segunda-feira, 15 de dezembro de 2025

The Haar — Capítulo 27

Capítulo 27


Grant carregou o carrinho de mão atrás de si. Ocasionalmente, se ajoelhava, exausto, e Muriel pressionava o cano contra seu crânio e o encorajava num gentil tom a continuar. Se ele tivesse revidado, teria tido uma chance. Poderia dominá-la sem dificuldade, mas nunca o fez. Era covarde demais.

Ela olhou para trás através da névoa vaporosa que se instalara sobre a praia e transformara a paisagem em um nada cinzento e opaco. Mesmo sem poder vê-los, tinha certeza de que os homens a seguiam. Se não fosse pelo haar, já teriam atirado.

Grant tropeçou e caiu, quase derrubando o carrinho de mão. Seu olhar se voltou para Muriel.

— Não consigo continuar! — disse, ofegante e sem fôlego, com as bochechas vermelhas como beterraba. Não era muito mais jovem do que ela, supôs. Final dos sessenta, início dos setenta. Pessoas assim não precisavam se manter em forma e ativas.

Eles pagavam outros para fazer tudo no seu lugar.

— Levante-se. Estamos quase lá.

— E depois? — rosnou. — Hã? E depois? Não pode fugir, sua idiota! Vai ter que dormir logo. É, vai ter que dormir, e depois...

Os dedos apertaram a arma e ela o atingiu com força na nuca. Quando o metal frio fez contato, seu dedo apertou o gatilho.

A arma disparou.

O barulho pegou os dois de surpresa, e Muriel gritou quando o tiro voou descontroladamente para dentro da névoa.

— Jesus! — gritou Grant.

Muriel apontou a arma para o bilionário, com o coração disparado. Bem, pelo menos sabia que ainda estava carregada.

— Levante-se! — mandou. — E rápido.

Estavam a apenas seis metros da caverna, porém os homens estavam se aproximando, formas escuras emergindo da névoa como fantasmas curiosos. Eles berravam ordens uns para os outros, e as equipes de filmagem não estariam muito longe.

Seguiam a tragédia e o infortúnio como moscas em volta de esterco.

— Estou vendo!

— Em frente!

— Atirem à primeira vista!

Muriel agarrou a bolsa.

— Certo, para dentro! — gritou para Grant. Ele estendeu a mão para o carrinho de mão e ela o chutou, surpresa com sua força. — Deixe-o!

Sem dizer uma palavra, Grant cambaleou para a frente, Muriel logo atrás. A entrada da caverna estava escura e pouco convidativa, muito diferente da última vez que estivera ali. Grant foi na frente, batendo a cabeça no teto baixo, e Muriel o seguiu logo depois, Billy iluminando o caminho com seu brilho suave. Passaram pela parte mais estreita e entraram na pequena caverna. Grant já estava lá, sentado de bunda com os joelhos dobrados contra o peito, murmurando algo para si mesmo.

— O que disse? — perguntou Muriel.

— Não me mate. — implorou, com a voz abafada. — Por favor, não me mate. Posso te pagar. Um milhão. Em dinheiro, como você quiser. Dois milhões. Diga o preço. Posso...

Sua voz parou e seu olhar se voltou para a areia. Até Grant, o tipo de homem que provavelmente acreditava estar sempre um passo à frente da morte, sabia que o fim se aproximava.

Muriel olhou ao redor da caverna. As velas que adornavam as paredes quando ela e Billy a visitaram pela última vez haviam sumido. Ou será que elas estiveram mesmo lá?

O brilho de Billy diminuiu à medida que a poça estranha na bolsa crescia pouco a pouco, destruindo a sacola enquanto tomava forma. Muriel observava, fascinada. Por um breve instante, se lembrou de encontrá-lo na praia, levando-o para casa no carrinho de mão e chamando-o de Avalon. Na época, não pareceu muito significativo. Contudo era sempre assim com momentos transformadores, não era?

Logo, Billy estava diante dela, nu como sempre, e Muriel o abraçou enquanto Grant falava baixinho consigo mesmo, murmurando palavrões e inanidades em voz baixa.

— Cinco milhões, porra, e ela não aceita. Dez milhões, sua vagabunda, sua puta de merda... Vinte milhões...

— E agora? — perguntou Billy.

Muriel não sabia. Seu plano terminava ali, de volta onde tudo havia começado. A natureza cíclica da vida sempre a desanimara. O medo de acabar indefesa e infantil na velhice era a única coisa que a mantinha acordada à noite. Bem, tirando o barulho das máquinas... Todavia não precisava mais se preocupar com isso.

— Sabemos que você está aí dentro. — ecoou uma voz lá fora. — Saia com as mãos para cima.

Muriel deu um passo para trás e segurou as mãos de Billy. Elas estavam tão frias.

— Obrigada.

— Por quê?

— Por voltar para mim. Foi tão difícil sem você. Eu consegui, mas foi tão difícil.

— Você salvou minha vida.

Ela sorriu, porém não tinha certeza do que ele queria dizer com isso. As velas foram acesas novamente, velas que momentos antes não estavam lá. O brilho refletia no rosto com a barba por fazer de Billy, as chamas refletindo em seus olhos.

— Não precisa acabar assim. — ele disse.

— Acho que sim.

— Cinquenta milhões... — murmurou Grant. — A velha vagabunda não vai aceitar...

Muriel se virou e atirou nele.

O crânio de Grant ricocheteou na pedra. Seu queixo se contraiu, as mãos agarrando o ar, e então todo o seu corpo caiu para o lado, deitado desajeitadamente enquanto o sangue jorrava do ferimento de entrada, seu cérebro escorrendo pela parede da caverna.

— Viu? — disse Billy. — Não é tão difícil.

A cabeça de Muriel balançou.

— Ele era um dos maus.

Billy passou a mão pelos seus cabelos, os fios caindo diante do rosto, longos e escuros, num penteado que não usava há décadas. Sua mão macia e imaculada acariciou sua bochecha.

— Srta. McAuley, aqui é a polícia. Se não sair em um minuto, nós vamos entrar.

— Então eles continuam prometendo.

Billy a encarou.

— Eles vão te matar.

— Eu não me importo. Desta vez, posso me despedir.

Ela o beijou, seu corpo jovem doendo de desejo.

— Seus sessenta segundos começam agora.

— E se você nunca tivesse que se despedir? — perguntou Billy, enquanto levantava a barra da camisola mal ajustada e encharcada de sangue dela.

— Como assim?

— Quarenta e cinco segundos, Srta. McAuley.

Billy beijou seu pescoço, seus ombros, seus seios.

— Existe outro jeito.

— Eu te disse. — Muriel sorriu, enquanto a barba por fazer dele arranhava sua pele nua. — Você não pode matar todo mundo.

Ele a encarou.

— Você não sempre quis ver o oceano? Entendê-lo, amá-lo, como Billy amava?

— Claro.

— Trinta segundos. Saia agora, ou vamos atirar para matar.

— Então veja comigo. Através dos meus olhos. — Billy pressionou o corpo contra o dela e colocou as mãos nas laterais da sua cabeça. — Venha comigo, Muriel, e nunca mais nos separaremos.

Ela o encarou.

— Vai doer?

Billy sorriu.

— Eu nunca te machucaria, Muriel.

— Quinze segundos. Este é seu último aviso.

— Então faça isso. — falou, cedendo por fim. — Me leve junto.

Ele a beijou então, um beijo diferente de tudo que já havia experimentado. Seus olhos se fecharam enquanto um calor se espalhava de sua boca por seu corpo, percorrendo rapidamente sua corrente sanguínea.

— Mantenha os olhos fechados. — Billy sussurrou.

— Por quanto tempo? — ela sussurrou.

— Até que eu...

Mas ela não ouviu o final da frase.

***

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