sábado, 20 de dezembro de 2025

The Haar — Capítulo 28

Capítulo 28


O haar estava se levantando.

— Meu Deus, Scotty, pega a câmera! — disse Chrissie Mackay. Ela alisou os vincos da jaqueta e tremeu, tentando disfarçar, mas falhando miseravelmente. — Como está minha maquiagem? — perguntou enquanto Scotty se atrapalhava com a câmera com as mãos geladas.

— Perfeita! — disse ele, sem sequer olhar.

Ela olhou ao redor. Contra as instruções da polícia, eles haviam seguido os policiais pela neblina, mantendo uma distância discreta. Agora, quando a neblina se dissipou, encontrou os homens parados em um semicírculo diante de uma abertura estreita nos penhascos. A equipe de segurança de Grant se posicionou em frente, enquanto os policiais estavam mais cautelosos, a maioria espreitando atrás das pedras.

Todos estavam armados.

— Tudo isso por uma velha. — sussurrou Chrissie, balançando a cabeça. — Você está pronto, Scotty?

— Pronto quando... Ah, merda, eles vão entrar!

Chrissie se virou para observar os seguranças de Grant avançando em direção à caverna, de armas em punho.

— Gravando. — disse Scotty.

Chrissie olhou para a câmera e assumiu sua melhor e mais séria expressão jornalística.

— Aqui é Chrissie Mackay, falando ao vivo da cena do cerco de Witchaven. — sua voz soou num sussurro, preocupada em não atrair atenção indesejada da polícia. — A fugitiva, Muriel McAuley, fez Patrick Grant refém, forçando-o a entrar em uma caverna e carregando um pacote não identificado. Vocês podem ver o carrinho de mão usado para transportar o pacote abandonado em frente à caverna. Agora, parece que... Puta merda.

Scotty fez uma careta.

— Chrissie, estamos ao vivo, você não pode... Puta merda!

Nenhum dos dois conseguiu evitar. O que estavam vendo era inesperado, para dizer o mínimo.

Era Patrick Grant, e estava completamente nu. Ele ficou parado na entrada da caverna e observou a cena com as mãos na cintura, o pequeno pênis aparecendo como um roedor curioso sob um espesso ninho de pelos pubianos.

Chrissie se recompôs.

— Peço desculpas pela linguagem, espectadores. Parece que Patrick Grant está vivo e bem e, hum... Com bastante frio. — ela se virou para Scotty, e os dois trocaram um olhar de descrença.

A equipe de segurança cercou Grant, um deles tirando o casaco e o colocando sobre os ombros do empregador. Ele balançava ao vento como uma capa, a rajada o pegava e o levantava para o alto das rochas onde as gaivotas faziam ninho. Outro homem tentou o mesmo, contudo Grant seguiu em frente, deixando o casaco cair na areia enquanto seus homens corriam atrás como um esquete de Benny Hill.

À medida que o espetáculo bizarro se desenrolava, Chrissie imaginou o que devia estar acontecendo na sala de controle do estúdio. Seria uma mina de ouro nos índices de audiência. Então, se lembrou de que estava ao vivo na TV e se virou para a câmera.

— Eu... Eu não sei o que está acontecendo. — admitiu, para si mesma ou para a plateia mundial que provavelmente assistia com o queixo raspando no chão. — Patrick Grant parece estar bem e em segurança, no entanto o estado de saúde da fugitiva é desconhecido. Grant está recusando a oferta de roupas e indo em direção a Conor, seu filho mais velho. Imagino que queira ter certeza de que sua família está bem. É uma cena comovente em um cenário sórdido... Meu Deus!

Nesse momento, a transmissão ao vivo foi cortada. Sabendo que nudez era proibida na televisão matinal, Scotty já havia dado um zoom em Grant para capturá-lo da cintura para cima. Afinal, era um profissional e queria manter o emprego. Todavia, no momento em que Grant se lançou sobre o filho e o rasgou pela garganta, os produtores do escritório de Glasgow voltaram para o estúdio tão rápido que o apresentador Ian Booth ainda estava sentado com os pés em cima da mesa e um dedo no nariz quando descobriu que estava no ar.

Através das lentes de Scotty, o sangue escorria da jugular rompida de Conor em alta definição lúgubre, enquanto seus guardas permaneciam ao redor, olhando uns para os outros, confusos.

Grant agarrou a garganta do filho, arrancando punhados de carne e jogando-os na areia. Seus dedos se fecharam em torno das vértebras do filho moribundo, esmagando os ossos com um punho poderoso, e o torso sem vida desmoronou no chão, com sangue jorrando da cabeça decepada que Grant ergueu, brandindo-a como um troféu macabro.

— Saiam da frente! — gritaram os policiais, com os dedos em posição de gatilho. Chrissie levou um momento para perceber que se referiam à equipe de segurança de Grant. Os guardas formaram um círculo protetor ao redor do chefe, com as próprias armas em punho e apontadas para a polícia.

Grant não pareceu se importar com o que estava acontecendo. Ele arremessou a cabeça de Conor contra os penhascos rochosos com tanta força que esta se fixou na face do penhasco por vários segundos, antes de cair do granito até a areia. Chrissie ouviu o crânio se estilhaçar de seu ponto de observação elevado, e esse som, mais do que qualquer outra coisa, foi o que a fez se virar para o lado e... Uma profissional até o fim... Vomitar fora das câmeras.

Quando olhou para trás, Grant caminhava em direção aos policiais. Eles gritavam para a equipe de Grant se dispersar, porém os homens eram leais e gostavam de ser pagos, então o acompanharam pela praia, sem nunca permitir que os policiais tivessem uma visão clara.

— Que porra está acontecendo? — perguntou Chrissie. Ela fez um sinal para Scotty segui-la e, juntos, os dois chegaram ao topo da duna e se aproximaram da cena surreal. Ninguém percebeu que estavam lá, graças ao homem alto e nu, coberto de sangue, que atraiu toda a atenção. Chrissie sabia que a emissora já teria cortado a transmissão, então pegou o celular, desesperada por sinal.

Ela se conectou imediatamente ao wi-fi da Organização Grant.

Sorrindo e com um fio de vômito no queixo, Chrissie Mackay abriu o Instagram, fez uma transmissão ao vivo e gravou o vídeo mais assistido da história das mídias sociais.

———

Patrick Grant chegou à beira da água.

A maré batia em seus pés descalços e continuou andando. Seus guardas o seguiram, trocando olhares nervosos, perguntando a Grant se ele estava bem, se não queria um casaco e o que havia acontecido na caverna. Logo a água chegou aos seus joelhos, contudo os guardas continuaram a segui-lo. Eles não iam deixar seu vale-refeição ser levado pelo mar. Quando chegou à cintura, dois dos homens recuaram para terra firme. E quando Patrick Grant se virou para a praia e avistou uma mulher gravando-o no celular, ergueu a mão e acenou para ela.

— Adeus, Jack! — gritou. — E lembre-se da sua promessa. Eu te amo.

Grant sorriu e, quando o último de seus guardas o abandonou, este se virou e caminhou mar adentro, até que as ondas o atingiram uma última vez e ele desapareceu de vista.

A polícia e seus guardas ficaram parados à beira da água como cordeiros perdidos, esperando que ressurgisse, mas isso não aconteceu.

Patrick Grant não existia mais.

***

Link para o índice de capítulos: The Haar

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