sábado, 5 de abril de 2025

Slayers — Volume 06 — Capítulo 27

Capítulo 27: Em uma jornada, pronto para um confronto

Clank! Com um clarão de luz prateada, a trava da janela caiu no chão. A janela então se abriu com um rangido. Uma sombra pairava do lado de fora no céu noturno, apoiada pela brilhante lua cheia.

Falando sobre déjà vu...

“Eu vim para Vezendi, assim como você pediu.” eu disse, sacando minha espada. Mas...

“Você não vai ganhar tempo!” ele disse, colocando uma mão na moldura da janela.

Ugh! Já estava vindo pra cima de mim? Nesse caso...

“Amelia!” gritei enquanto saltava para a minha esquerda. Nem um segundo depois...

“Sinalizador Gaav!”

Roar! Um raio de luz vermelha queimou a cama junto com a janela! No entanto Zuma desviou bem a tempo, pousando do lado de dentro.

“Há quanto tempo!” Amelia gritou, apontando corajosamente para o assassino. “Achei que isso poderia acontecer, então me escondi debaixo da cama da Lina!”

Sim. Laddock nos deu quartos separados, porém sabia que seria a primeira a ser visada, então Amelia entrou escondida no meu quarto para passar a noite. Contudo, por infelicidade...

“Acho que ele já sabia disso.” falei.

Amelia ficou intimidada em silêncio por um momento. Quer dizer, não foi nenhuma surpresa que um assassino habilidoso como Zuma pudesse detectar quantas pessoas estavam em um quarto pela janela... O que lhe permitiu desviar do ataque surpresa.

“Não importa!” ela declarou, se recuperando. “Fui confiante demais no começo, entretanto agora não será tão fácil!”

“Heh...”

Com aquela risadinha, Zuma disparou em minha direção! Tive que impedir minhas pernas de se moverem instintivamente para trás. Não podia arriscar colocar Amelia em perigo confiando apenas na garota. Era hora de colocar minha nova espada curta e os frutos do meu treinamento com Gourry à prova!

Clink! No momento em que nós dois cruzamos espadas, minha lâmina novinha em folha quebrou. Oh, mas que porra! Usar uma espada nesse cara era inútil por acaso?

Quando passou por mim, Zuma deu um chute que desviei, não porque o vi chegando, apenas porque presumi que fosse tentar. Um momento depois, sua mão esquerda estava alcançando meu pescoço!

De novo não!

Consegui desviar recuando e senti uma leve brisa passar pela minha garganta. Joguei minha espada curta quebrada em Zuma, o que o manteve afastado por tempo suficiente para me endireitar e começar um cântico.

“Dam Blas!” Amelia entoou primeiro.

O assassino prontamente desviou de seu feitiço, porém ela continuou a atacá-lo de qualquer maneira. Talvez percebendo que era um perigo que não podia ser ignorado, Zuma se virou para encará-la de frente. Era óbvio que Amelia estava em desvantagem neste confronto. Sua agilidade era mais ou menos comparável a Zuma, todavia seu oponente a superava em termos de força bruta. Eu tinha que fazer alguma coisa!

“Iluminação!” gritei.

O assassino se virou para desviar a luz que lancei em sua direção, contudo esta não era para cegá-lo! Em vez disso, a esfera luminosa voou direto para o teto e lançou uma luz brilhante no quarto que projetou sombras atrás de todos nós. Sim, justo como planejado... Agora posso usar um Captura de Sombra para mantê-lo no lugar!

No entanto, antes que pudesse terminar o encantamento... Thump, thump, thump! Houve uma batida na porta.

“O que houve, Lina? Aconteceu alguma coisa?”

Era Gourry. Deveria saber que receberíamos alguma atenção com todo o barulho que estávamos fazendo. Podia ouvir as vozes de vários servos se reunindo do lado de fora da porta também...

“O que é?”

“Um invasor?”

“O Mestre Laddock está seguro? Vá ver como ele está!”

“Alguém chame a guarda da cidade!”

“Tch!” percebendo que seu tempo havia acabado, Zuma se virou.

“Espere aí!” Amelia ordenou.

Zuma prontamente a ignorou (quero dizer, é mais do que óbvio que só ignoraria) e voou pela janela, para a noite.

Wha-bam! Quase no mesmo momento, a porta se abriu e Gourry entrou correndo.

“Você está bem, Lina?” ele gritou.

“Sim... Amelia também está bem.” suspirei.

———

“E depois de tudo isso, ele só escapou?” Laddock, vestido com sua camisola e chinelos, rugiu com seu mau humor habitual.

Entendo por que estava bravo, é claro. Amelia não só destruiu a janela e fez um buraco na parede com magia, como Gourry também tinha acabado de derrubar a porta.

“O assassino que fez toda essa bagunça!” aleguei, desesperada para transferir a culpa.

“Mentirosa!” Laddock assumiu sem hesitação.

Fiz uma pausa, pensando em confessar... Todavia não está na minha natureza aceitar nada calada.

“O-O que te dá tanta certeza?” rebati.

“Bem... Se o assassino conseguiu atravessar paredes, por que não explodiu vocês todos de fora, hmm?”

“Porque assassinos como Zuma não agem assim!”

Essa era a verdade... Não sei se era uma questão de orgulho profissional ou o quê, mas os da laia dele preferiam matar com as próprias mãos.

“Não seja ridícula!” Laddock continuou a me pressionar. “Por que então usou magia assim em primeiro lugar?”

“Urk!”

“E independentemente disso, o resultado final é o mesmo... Você o deixou escapar! Pelo amor de Deus! Estou pagando o suficiente para serem meus guarda-costas, porém não só destruíram minha casa, como deixaram o assassino escapar! Tenho algumas reclamações para registrar sobre seu serviço!”

“Já te disse para expulsá-los, pai.”

Essa interrupção veio do pirralho preguiçoso Abel, que deve ter chegado à cena enquanto eu não estava olhando. “Pense com cuidado a respeito. Eles podem estar mentindo sobre o ataque. Deveríamos expulsá-los e...”

“Cale a boca!” Laddock conseguiu rugir antes que Amelia e eu pudéssemos. “Já te disse antes! Se forem fraudes, tudo o que perco é um pouco de dinheiro! Se não forem, estarei com minha vida em risco!”

“Se eles não são fraudes, é ainda mais urgente que se livre deles!” Abel insistiu, recusando-se a ceder. “Foi dito que Zuma atacaria aquela mulher antes de você, certo? Então, apenas a expulse! Então o assassino irá embora para persegui-la!”

“Então quer que eu passe o resto da minha vida com medo de um assassino que pode ou não vir? A única maneira de dormir numa situação dessas é se puder manter o controle de todo esse caso por mim mesmo!”


O homem tinha razão. Medos tangíveis eram mais fáceis de se proteger do que os invisíveis. Era por esse motivo que as pessoas tendiam a se enquadrar em uma de duas categorias: aquelas que eram compelidas a chegar ao fundo dos problemas e aquelas que negavam fervorosamente sua existência. E enquanto a ameaça de Zuma pairasse, Laddock não poderia voltar a ter uma noite de sono tranquila. Se eu não pudesse matar Zuma, queria que Zuma me matasse bem ali, debaixo do seu nariz, onde pudesse tomar medidas e reagir na hora. Era por essa razão que estava nos mantendo na coleira curta.

Mas isso também significava... A menos que terminássemos as coisas logo, ficaríamos presos a esse pai e filho rabugentos para sempre.

“Mesmo assim, pai! Se esse tipo de caos acontecer toda noite, vai nos arruinar!”

“Hmm... Verdade, porém...” as palavras de Abel forçaram Laddock a ficar em silêncio por um momento. “Ainda não posso apenas expulsá-los! Isso está entendido?” ele gritou com determinação antes de sair do quarto.

“Droga...” Abel xingou depois de uma pausa, então saiu.

Isso deixou eu, Gourry, Amelia e os criados que vieram ver a confusão no quarto.

“Não deixe que te incomode, querida.” disse uma velha senhora rechonchuda. Acho que a vi na cozinha uma ou duas vezes. “Eles estão nervosos porque a vida do mestre está em perigo. Quase sempre se dão muito bem.”

“Sério?” Amelia perguntou, chocada. Também fiquei perplexa em saber.

“Sim, sério.” a mulher continuou. “O mestre teve que criar o filho sozinho desde que a esposa morreu, sabe...”

Ah, estava de volta! A armadilha mortal da fofoca! Ela parecia uma velha senhora simpática, porém se a deixássemos começar, falaria até o amanhecer.

“Nesse caso, mais um motivo para cuidarmos dos nossos negócios!” falei, interrompendo-a na primeira oportunidade. “Vou me livrar daquele assassino o mais rápido que puder! E aí... Ah sim! Se um assassino está atrás do mestre, alguém deve tê-lo contratado! Alguma ideia de quem possa estar por trás do pedido?”

“Deixe-me pensar...” a velha senhora disse pensativamente antes de começar. “O mestre não é o tipo de homem que faz inimigos... Contudo nunca se sabe, não é? Não sei se diria que era um inimigo, no entanto havia um sujeito chamado Lezack. O mestre o contratou um tempo atrás, todavia teve que dispensá-lo pouco depois. É um provável suspeito, se me perguntar. Ah, e muitos homens podem ter algo contra o falecido pai do mestre! Por mais brilhante que fosse, ele podia ser bem ganancioso... Ganhou muitos ressentimentos, sem dúvida! O Mestre Balwom, por exemplo, é o comerciante mais rico da cidade agora, entretanto o pai do mestre sempre o vencia em bons negócios. E...”

E assim, minha pergunta descuidada desencadeou uma torrente de... Evidências ou fofocas, como preferir chamar. No fim, ficamos lá até o sol nascer.

———

Na tarde seguinte, estávamos na cidade. Ontem à noite, ou melhor, bem cedo esta manhã, depois da hora da história com a vovó, tomamos café da manhã e dormimos até o meio-dia antes de sair.

Me sentia exausta. Ficar na casa de Laddock nos colocou no meio de uma briga interminável de pai e filho, então nós três... Ou seja, o grupo com exceção de Xellos, obtivemos permissão de Laddock para ir para a cidade. Foi com o pretexto de reunir informações, todavia também consegui uma substituta para minha espada curta quebrada enquanto estávamos fora. Não foi a melhor do mundo, mas é decente o suficiente. Estava acumulando bastante despesas nesta viagem, hein?

“E daí? O que você aprendeu?” Zel perguntou assim que o atualizamos.

No início da noite paramos na pousada onde ele se hospedava, quando o sol começou a se pôr baixo no céu. Estávamos sentados em volta de uma mesa no restaurante do primeiro andar. Falar aqui aumentava o risco de bisbilhoteiros, porém era preferível a ficar presos em outra barreira demoníaca.

“Nada conclusivo, para ser honesta.” relatei infeliz. “O negócio da família vem diminuindo desde que Laddock Lanzard assumiu. Não que seja uma surpresa. É que a maioria dos seus concorrentes está dizendo coisas como: ‘A era Laddock foi uma benção para mim’. Definitivamente havia algum ressentimento com o pai dele, contudo todos insistem que, se fossem contratar um assassino, teriam ido atrás do pai e não de Laddock.”

“Faz sentido para mim.” disse Zelgadis com um aceno de cabeça.

“E tem esse tal de Lezack que Laddock demitiu e desde então desapareceu.”

“Está desaparecido?”

“Sim. Falei com algumas pessoas que o conheciam, e elas disseram que ele foi demitido por roubar dinheiro da casa de Laddock. Pelo jeito, ficou bêbado na noite em que aconteceu e disse que ia deixar a cidade. Então, no dia seguinte, ninguém conseguiu encontrá-lo em lugar nenhum. Não parece que se envolveu em nenhum problema, então o consenso geral é que cumpriu sua palavra. No entanto também estava aparentemente sem dinheiro e era meio covarde... Sem mencionar que já tinha sido demitido pela mesma causa uma ou duas vezes antes. Resumindo, é difícil acreditar que um cara sem sorte como aquele gastaria o pouco dinheiro que tinha contratando um assassino como Zuma para matar Laddock.”

“Assim... A suspeita de rancor não deu em nada?”

“Pelo visto sim!” respondi com um suspiro.

“A propósito, estive pensando...” Zelgadis disse, uma nota de insatisfação em sua voz. “Se puder mudar de assunto por um momento, o que Xellos está fazendo?”

“Jogando xadrez.” Amelia respondeu, também parecendo insatisfeita.

“Esse idiota não está levando a situação a sério?”

“É provável que não.” interrompi. Troquei um olhar com Zel e Amelia, então continuei. “Escutem, vocês dois. Não entendam errado. Xellos está aqui só para dar uma volta. Não é um de nós, e não está do nosso lado.”

“Justo.”

“Isso é verdade, mas ainda...”

Nesse momento os dois soltaram um suspiro coletivo. O que falei pode ter soado duro, no entanto era a verdade de fato. Até que soubéssemos o que Xellos de fato quer, não poderíamos confiar nele como parte do time.

“De qualquer forma, Zel...” continuei. “Zuma atacou ontem à noite como esperado. Algum homem suspeito veio se hospedar nesta pousada nesse meio tempo?”

“Que tipo de pergunta é essa?” Zelgadis respondeu com um encolher de ombros. “Há muitas figuras suspeitas na área, eu incluso. E se Zuma é um lutador no mesmo nível de Gourry, significa que tem a habilidade de mascarar seu verdadeiro poder. Além do mais, pode ter chegado antes de nós. Seria impossível identificá-lo em um grupo como esse.”

Ok, é um argumento válido...

“Acho que vamos ter que ter paciência nesse caso.” admiti com um longo suspiro.

“Agora, aqui está o que estive pensando. Como esses mazokus estão envolvidos em toda essa bagunça?” Zel perguntou.

“É uma boa pergunta.” pensei por um minuto. “Um assassino tentando me matar me diz para ir até Vezendi e, no minuto em que chegamos aqui, encontramos um grupo de mazokus que tem algo contra mim e Gourry. Não tem como ser coincidência. Entretanto acho difícil acreditar que Zuma contratou mazokus para me matar no seu lugar. Ele é um cara muito prático.”

“Talvez os mazokus tenham entrado em contato com Zuma, então?”

“Também não parece certo. Conhecendo Seigram... Não consigo imaginá-lo se dignando a se juntar a um assassino humano.”

“É só uma ideia, mas...” Amelia entrou na conversa. “Zuma foi contratado para te matar e também para matar Laddock. E se quem o contratou também tiver um pacto com aqueles mazokus?”

“Um dos quais por acaso é um mazoku com rancor contra nós?”

“É... Meio forçado, hein?”

“De qualquer forma...” Gourry interrompeu. “Só temos que derrotar todos eles.”

“Bom, isso é verdade...”

A abordagem de Gourry pode ter parecido simplista demais, porém estava certa. Nossa única opção real agora era esperar os bandidos aparecerem para que pudéssemos derrotá-los.

Uma batalha de atrito em duas frentes... O ápice do desagrado. Soltei outro suspiro profundo.

———

“Mestre Laddock os aguarda.” anunciou o mordomo quando retornamos à propriedade.

Nós três nos entreolhamos e compartilhamos um gemido. Oba, outra festa de reclamações! Tive que me perguntar de onde o cara arranjava toda essa energia...

Claro, ainda é meu empregador, então não podia só ignorá-lo.

Raltark, o mordomo, nos acompanhou até a sala de estar, então assumiu seu posto discreto no canto da sala. Laddock já estava lá, assim como Xellos e Abel, por algum motivo.

“Vocês estão atrasados!” Laddock berrou com seu resmungo habitual, e sem nem nos oferecer um assento. Ignorei-o e sentei no sofá, onde Gourry e Amelia se juntaram a mim. “Mas não importa. Não te trouxe aqui para reclamar hoje.”

Wow, sério? Alguém olhe o céu para ver se há porcos voando...

Laddock olhou ao redor da sala e continuou.

“Amanhã, vou sair para uma viagem.”

“O quê?” todos nós gritamos em uníssono, incluindo Abel.

“Está louco, pai?” Abel gritou, inclinando-se para frente. “Será que esqueceu que alguém está tentando te matar? Não sei qual é a melhor coisa a fazer em uma situação como essa, porém ‘sair para uma viagem’ sequer devia ser uma opção!”

“Estou ficando sem um certo inventário! Tenho que comprar mais!” Laddock argumentou, levantando sua voz sobre a de Abel.

“Por que só não manda outra pessoa para fazer o trabalho!”

“Eu concordo!” Amelia interrompeu. “Já é ruim o suficiente na cidade! Sair é pedir para ser atacado! Estará jogando sua vida nas mãos deles!”

“É do meu negócio que estamos falando!” Laddock gritou ainda mais alto, silenciando Abel e Amelia. “Sempre vou em viagens de aquisição para garantir a qualidade dos meus produtos, e não vou deixar isso atrapalhar!”

Em seguida, se virou para olhar para mim.

“Claro, vou levá-la comigo como minha escolta! Toda essa situação está coberta pelo seu contrato, então não quero ouvir nenhuma palavra de reclamação!”

Vai entender. Tudo o que disse era razoável na verdade, contudo estou começando a suspeitar que seus verdadeiros motivos são outros. Ainda assim, enquanto sua lógica for sólida, não posso discutir... Ah, que seja.

“Tudo bem!” respondi com firmeza. “Quando partimos?”

“Bem...” Laddock hesitou, pelo visto foi pego de surpresa. “Assim que possível, no entanto tenho alguns preparativos a fazer. Depois de amanhã, acredito.”

“Certo. A verdade é que temos outro companheiro na cidade...”

“Aqui em Vezendi?”

“Sim. Está coletando informações. Podemos levá-lo, não podemos?”

“Não vou pagar nem mais uma moeda por isso.”

É o seu couro que está em jogo aqui... É estranho, mas tudo bem.

“Que assim seja.” eu disse entre dentes.

Na verdade, tenho um grande problema a resolver. Embora Xellos já fosse basicamente um aproveitador e, até onde Laddock podia ver, não tínhamos feito nada útil até agora. Tentar negociar poderia sair pela culatra.

“Muito bem!” Laddock concordou com um aceno de cabeça. “Nesse caso está decidido. Vamos nos preparar...”

“Espere!” Abel disse, interrompendo seu pai.

“O quê? Mais reclamações?”

Em contraste, Abel balançou a cabeça.

“Não. Não vou mais discutir sobre esse assunto, todavia irei junto nessa viagem.”

“Você enlouqueceu, Abel?” agora foi a vez do pai gritar. Parecia em pânico. “Eles estão tentando me matar, sabia?”

“Estou bem ciente. Já te disse antes. Entretanto ainda sou seu filho. Se algum dia for assumir o negócio, quero ver como você faz as coisas.”

“E escolheu justo agora de todas as oportunidades?” Laddock perguntou, parecendo realmente preocupado.

“Poupe seu fôlego, não vou mudar de ideia. Estou indo, quer goste ou não.” Abel insistiu antes de se virar e ir em direção à porta.

“Volte aqui, Abel!”

Porém o jovem saiu de qualquer maneira, ignorando os protestos do pai.

“Argh!” com um rosnado, Laddock se levantou e correu atrás do filho. Antes de sair se virou para nós gritou. “De toda forma, preparem-se!” e desapareceu pela porta.

O silêncio pairou no rastro de Laddock. Por fim, Raltark, que estava parado em silêncio em posição de sentido no canto, nos fez uma reverência e se despediu sem dizer uma palavra. Isso deixou nós quatro... Eu, Amelia, Gourry e Xellos, sentados na sala sozinhos.

“Wow, Lina, você ouviu tudo aquilo sem perder a paciência!” disse Gourry depois de um tempo. “Tinha certeza de que vocês dois iriam se engalfinhar... Ainda mais com relação ao pagamento.”

“Bom, sobre isso...” comentei, hesitante. “Acredito que descobri o que Laddock está de fato aprontando.”

“E o que seria?” Amelia perguntou dessa vez.

“O que acha, Xellos?” perguntei, virando-me de repente para o homem que estava sentado em silêncio todo esse tempo.

“Sério, foi tão estranho dessa vez que mal posso presumir para formar uma opinião...”

“Tente mesmo assim.”

“Nesse caso, se me permite... Talvez seja uma armadilha.”

“Também acho.” concordei.

“Uh... Não estou entendendo.” disse Gourry, coçando a cabeça.

“Ok, aqui está o acordo. Laddock não aguenta o impasse. Enquanto estivermos aqui na propriedade, Zuma vai continuar atacando sem sucesso... Paredes serão explodidas, pessoas virão correndo e tudo mais. Cada vez que tivermos esses encontros, o número de danos à propriedade aumentará junto com a folha de pagamento. Por sua vez, o confronto continua sendo adiado e Laddock continua vivendo com medo mortal. Como nunca se envolveu nessa coisa de espionagem, não aguenta a pressão. É por esse motivo que quer nos tirar da cidade sob o pretexto de uma viagem de negócios. Pareceremos alvos fáceis para Zuma, que deve vir correndo... E será nesse momento que resolveremos as coisas de uma vez por todas.”

“Ei, espere um minuto!” Amelia se levantou, levantando a voz. “Não significa que está intencionalmente colocando você em risco?”

“O quê?” Gourry gritou, pelo visto achando a explicação de Amelia mais fácil de entender do que a minha. “Ei, Lina! Por que concordou, então?”

“Ei, vamos lá, quero resolver esse assunto o mais rápido possível também. Estou cansada de ficar aturando esse desaforo o tempo todo. Além do mais, pense nisso. Quanto mais essa luta se arrastar, mais tempo teremos que ouvir o choro de Laddock e suas brigas incessantes com o filho.”

“Ugh...” Gourry e Amelia gemeram em uníssono. Eles claramente sentiam o mesmo que eu sobre essa perspectiva.

“Entretanto ainda não é uma boa ideia, é?” Amelia disse, assumindo um ar de seriedade.

“O que te faz pensar assim?”

“Se você for morta na estrada, Zuma irá atrás de Laddock em seguida. Não haverá mais ninguém para protegê-lo.”

“Tsk, tsk, tsk!” eu disse, levantando meu dedo indicador. “Pobre e ingênua Amelia. Se Zuma me matar, Laddock terá bastante proteção... Vocês!”

Gourry e Amelia se olharam por um minuto. Parece que não entenderam ao que me referia.

“Vamos apenas dizer que Zuma conseguiu me matar. O que vocês fariam?” perguntei.

“Fazer um funeral, é claro.” respondeu Gourry.

“Revirar suas coisas, suponho.” disse Amelia.

“Eu certamente riria.” acrescentou Xellos.

Wow, vocês são os piores...

“Não é o que quis dizer... Estou dizendo que vocês iriam querer me vingar matando Zuma, não é?”

“Bem, talvez... Oh!” Amelia comentou, enfim parecendo entender. Gourry estava, como de costume, ainda dois passos atrás.

“Sim. Se Zuma me matar e vocês quiserem vingança, terão de ficar com Laddock enquanto esperam que Zuma ataque outra vez. Em outras palavras, gostem ou não, estariam tomando conta do cara. Se Zuma o matasse também, perderiam o seu rastro para sempre. Entendeu agora, Gourry?”

“Acho que sim...”

“Imperdoável!” Amelia gritou com raiva, seus punhos cerrados e sua silhueta iluminada por chamas. “Tirar vantagem da bondade humana para seus próprios fins... Se esse é o seu objetivo, Lina, não precisa concordar com o pedido! Abandone-o e se salve!”

“Não posso fazer algo assim...”

“Por que não?”

“Ele nos pagou um adiantamento. Além do mais, como falei, estou ansiosa para terminar esse problema também.”

“Nesse caso... Se estiver bem pra você, acho que está tudo bem.” sussurrou Gourry. “Então... E os mazokus?”

...

Droga! Nem tinha pensado nisso!

“Er... Vamos resolver de alguma forma.” respondi, tentando muito soar calma.

———

Na tarde depois que deixamos Vezendi, o céu havia assumido uma tonalidade cor de chumbo enquanto viajávamos por uma estrada sem nome, sem outra alma nela.

Pelo visto, íamos comprar ervas em uma cidade chamada Zeram, que ficava a uma curta viagem ao norte. Tínhamos nossa equipe habitual, incluindo Zel (com o rosto coberto) e Xellos, assim como Abel (que tinha nos acompanhado, fiel à sua palavra) e Laddock. Raltark, o mordomo, dirigia a carroça (que cara multitalentoso!), que consistia em uma única cama coberta conduzida por um velho cavalo cansado. Suas rodas rangiam enquanto passavam pelo cascalho.

Mesmo aqui no meio do mato, onde ver pessoas seria mais uma surpresa do que não, ainda havia bandidos... Ou foi o que ouvi na pousada onde ficamos ontem à noite. Assim, Gourry e eu estávamos caminhando do lado direito do veículo que viajava num ritmo lento, com Amelia e Zelgadis do lado esquerdo. Xellos ficou na retaguarda, e todos nós estávamos atentos aos arredores. Como a carroça estava vazia na descida, os Lanzards estavam na caçamba de carga. Não que parecesse muito confortável.

“Espere um minuto!” gritou Gourry de repente.

Raltark parou a carroça na hora.

“O que é?” Laddock gritou em seu tom característico favorito.

“O inimigo.” respondi mantendo a compostura, e depois de um momento de silêncio...

“É-É ele?”

“Não!” respondeu Zelgadis, sacando sua espada larga.

Zel tinha razão. Pude sentir várias pessoas e, com base em suas presenças, elas não pareciam muito habilidosas. Apenas seus típicos de bandidos ordinários.

A coragem desses idiotas! Não sabiam que tínhamos coisas maiores com que nos preocupar?

No entanto, por outro lado, acolhi a chance de desabafar um pouco. Depois de aturar as reclamações de Laddock, as intermináveis ​​brigas de pai e filho, além de ataques de assassinos e mazokus... Era hora de um pouco de diversão.

“Parem de se esconder e saiam, ouviram?” gritei.

“Não os provoque!” Laddock gritou da carroça, um pedido que sequer me dediquei a dar alguma atenção.

Mas a única outra resposta que obtive foi o assobio do vento através das árvores ao crepúsculo. Aposto que os capangas ficaram bravos porque falei sobre o péssimo trabalho deles se escondendo!

“O que foi? Saiam logo! Ou estão com medo de uma luta equilibrada?”

“Co-Como ousa...” enfim retaliou uma voz zurrando.

Alguns homens emergiram do mato. Bandidos, como esperado... Cerca de vinte. Ah, eram todos eles mesmo? Que pena.

Seu grupo nos cercou, embora não me senti muito ameaçada. Eu provavelmente conseguiria lidar com todos sem muita dificuldade.

“Viu? Eu não te disse? Agora estamos cercados!” choramingou Laddock, o de pouca fé, de seu seguro assento na carroça. Raltark pareceu um pouco surpreso, porém não intimidado pela situação. Não consegui ver a reação de Abel da minha posição atual, contudo não parecia estar em pânico como seu pai.

Ignorando Laddock, o líder dos bandidos continuou vociferando.

“Certo, se é uma luta que você quer, nós vamos te dar uma. No entanto, se vocês valorizam suas vidas, sugiro que entreguem seu dinheiro.”

“Ah, cale a boca!” retruquei sem rodeios, deixando-o em silêncio. “Vamos deixar uma coisa bem clara desde o início: vocês são lixo que não temos tempo para eliminar agora.”

“Li-Lixo?”

Peguei ele.

“Tudo bem, então! Sem piedade! Vamos lá, rapazes! Matem todos!”

“Sim!” eles rugiram em coro enquanto nos atacavam.

Heh. Idiotas.

“Flecha Flamejante!”

Liberei o feitiço que estive entoando, conjurando uma dúzia ou mais de flechas ardentes que choveram sobre os bandidos que se aproximavam.

“Argh!”

“Gyeh!”

Gritos ecoaram aqui e ali de bandidos se contorcendo de dor. Só acertei alguns, mas a brusquidão do meu ataque os fez dispersar.

“Vai, Gourry!”

“Certo!”

Gourry saltou, espada desembainhada. Eu não conseguia ver da minha posição, porém pude notar que a luta do outro lado da carruagem também havia começado. Podia ouvir lâminas se chocando e Amelia entoando um feitiço... Atrás de nós, Xellos provocava alguns bandidos com seu cajado. Por sua vez, tudo o que o pobre Laddock podia fazer era se encolher dentro da carroça, as vezes gritando alguma bobagem sem nem se dar ao trabalho de olhar para fora.

“Bram Blazer!”

Whoom! O Bandido A levou um golpe direto e saiu voando. Dada a situação, não podia usar nada muito espalhafatoso ou chamativo que pudesse atingir a carroça ou meus aliados. Fui relegada a pegar os pequenos com magias menores. Isso tornava menor o alívio do estresse e mais um exercício de controle de pragas. Que infelicidade.

“Vocês realmente são aproveitadores!” eu rosnei, mirando no bandido com cara de chefe com quem tinha falado antes.

“Você acha?” ele gritou, quase apoplético. Então levantou sua mão direita bem alto, e...

Vrooosh! Ouvi algo rasgar o ar e pouco depois me esquivei. Então... Whunk! Uma flecha, ainda balançando, apareceu na lateral da carroça.

Eles tinham reforços na floresta? Examinei tudo ao meu redor e, com certeza, detectei uma leve aura de hostilidade em meio aos arbustos na direção de onde a flecha tinha vindo.

Te peguei! Comecei a entoar uma magia, contudo antes que pudesse terminar... Vroom! Outra flecha rasgou o ar! Não veio na minha direção...

A carroça? Porcaria!

O cavalo relinchou com o susto. Eles miraram no velho animal para tentar tirar a carroça de nós! E eu estava muito atrasada para pará-lo! Com uma velocidade recém-descoberta, o cavalo começou a correr. Gourry e Zel não perceberam o que estava acontecendo até que já estivesse em disparada.

Ugh!

“Explosão de Cinzas!” conjurei, liberando um feitiço que transformou parte da floresta, junto com as presenças hostis dentro, em cinzas.

“O quê?” o chefe bandido gritou em choque. “Não! Não era esse o acordo!”

Oh, não era, hein? Essa foi uma informação interessante de ouvir, embora não tenho tempo para investigar mais agora.

“Gourry! Peguem aquele ali vivo!” ordenei, indicando o chefe antes de começar outro cântico. “Lei Asa!”

Quando lancei meu feitiço de voo rápido e decolei no ar, a carroça já havia desaparecido pela estrada sinuosa. Ainda assim, havia apenas um caminho que poderia tomar... Só tinha que alcançá-la!

Envolta em minha barreira de vento, naveguei atrás dela. A capacidade de carga, altitude máxima e velocidade geral do feitiço Lei Asa eram uma proporção equilibrada que dependia da habilidade do conjurador. Para alcançar a carroça em alta velocidade, tinha que flutuar pelo chão em um ritmo que era, pra ser bem sincera, um pouco assustador.


Logo, a carroça voltou à vista um pouco abaixo na estrada ladeada por árvores. Eu a alcancei! Reuni toda a força de vontade que tinha para ganhar velocidade, e então...

Bwoom! Chamas consumiram minha visão.

“O quê?” fui lançada para fora do curso e bati com força no chão. Se não fosse pela barreira de vento ao meu redor, poderia ter sido fatal.

O culpado foi uma Flecha Flamejante... Incontáveis ​​flechas de fogo que atingiram meu feitiço Lei Asa.

“Ngh!”

Descartei meu feitiço o mais rápido que pude e me levantei. Houve um farfalhar nas árvores próximas, e o conjurador inimigo saiu. Era um demônio inferior... Não, quatro deles!

O quê? O que essas coisas estão fazendo aqui?

Demônios inferiores eram a classe mais baixa de mazokus, embora ainda tivessem uma considerável resistência a feitiços xamânicos. Você tinha que ser um bom feiticeiro ou espadachim para enfrentar um. Obviamente, não eram uma ameaça para mim, mas estava meio sem tempo agora! A carroça voltou a sumir da minha vista, e Gourry e os outros estavam muito atrás para ajudar... Eu só teria que passar de alguma forma! Comecei entoando um feitiço.

Um dos demônios soltou um uivo, enviando uma dúzia de Flechas Flamejantes chovendo sobre mim! Consegui desviar delas sem interromper meu canto, porém um segundo demônio já estava atirando outra saraivada de flechas flamejantes em minha direção.


Ugh! Tão irritante!

“Explosão Ragna!”

Ao meu chamado, um pilar de escuridão apareceu ao redor de um demônio inferior enquanto plasma preto queimava seu corpo. Um a menos!

Os três restantes, parecendo imperturbáveis, continuaram a chuva de fogo. Continuei a desviar e comecei outro cântico. Tenho que dizer que seus ataques eram muito simples... Estavam aqui apenas para me atrasar?

Quando terminei de entoar, me posicionei de modo que tivesse dois demônios em uma linha reta... E os mandei voando!

“Sinalizador Gaav!”

A chama mágica que liberei abriu um buraco no peito do primeiro e evaporou a cabeça do segundo. Só faltava um! Sem surpresa, tive que lidar com outra saraivada de flechas flamejantes antes de poder alcançá-lo.

Não havia dúvidas em minha mente agora. Esses capangas estavam definitivamente aqui para me atrasar. Porém quem os enviou? É pouco provável que tenham sido os bandidos, assim sendo... Vamos lá, Lina, derrote os estorvos primeiro e faça perguntas depois!

“Dinastia Blas!”

Linhas relampejantes formaram uma estrela de cinco pontas ao redor do demônio inferior, prendendo-o. Houve um lampejo de luz azul elétrica e, quando se foi, o corpo carbonizado do demônio caiu no chão.

Ok! Tudo concluído aqui! Agora só tenho que alcançar a carruagem de novo e...

Olhei para trás na direção que ela tinha ido e parei. Havia uma figura mancando em minha direção.

“Abel?” eu rapidamente corri até ele. “O que houve?”

Suas roupas estavam em farrapos e ele estava todo machucado, arrastando uma perna atrás de si.

“Eu pulei da carroça...” Abel disse, sua voz um pouco abafada, como se tivesse mordido sua bochecha. “O pai e... Raltark ainda estão a bordo. Você tem que ajudá-los...”

Com isso, Abel caiu contra uma árvore próxima. Seu semblante demonstrava estar com dor, embora nenhum de seus ferimentos fosse grave.

“Ok!” assenti e comecei a entoar outro feitiço.

“Lei Asa!”

Acelerei um pouco mais na estrada e avistei algo à distância. Era a carroça? Ela deve ter perdido o equilíbrio ao longo do caminho, porque estava tombada de lado agora. Descartei meu feitiço enquanto me aproximava e tocava o chão. Não havia sinal dos dois homens por perto, apenas o cavalo caído, respirando em agonia.

“Geh...” ouvi um gemido suave e me virei para ver Raltark encostado em uma raiz de árvore próxima. “V-Você...”

“Você está bem? Onde está La... Er, o Mestre Laddock?”

“Estou bem...” Raltark respondeu, fazendo uma pequena careta. “Contudo Zuma, o assassino, apareceu...”

“Zuma?”

“Ele me disse para te dar um recado... ‘Estou com Laddock Lanzard. Se o quer de volta vivo, venha com Gourry Gabriev para a cabana de caça nas montanhas a leste da vila Duphon’.”

Um desafio, hein?

“Minha nossa, que terrível!” disse uma voz repentina, me fazendo virar.

“Não me assuste assim, Xellos... Onde estão os outros?”

“Eles acabaram com os bandidos e estão vindo para cá.”

Hmm... Tive a sensação de que sabia o que Xellos estava aprontando dessa vez.

“Xellos, cuide de Raltark. Vou me juntar aos outros.”

———

“Eu... Eu não sei de nada!” o chefe dos bandidos gritou de maneira lamentável quando estávamos todos o cercando. Gourry o havia capturado vivo, assim como pedi.

“Não minta. Te ouvi dizer: ‘Não era esse o acordo’.”

“I-Isso foi só...” o homem gaguejou. “Ontem à noite, um homem veio à nossa base...”

Talvez percebendo que era inútil, o homem começou a falar.

“O cara estava todo vestido de preto... Chamava a si mesmo de Zuma. Normalmente teríamos o matado ali, no entanto ele trouxe mazokus junto. Como diabos poderíamos lutar contra mazokus...”

“Mazokus?” repeti. “Quer dizer demônios inferiores?”

“Como vou saber? Ouvi histórias sobre mazokus, mas não é como se já tivesse visto um antes!”

Zuma tinha sido o único a enviar aqueles demônios inferiores atrás de mim? Não o tinha imaginado como um invocador habilidoso... Na verdade, não se encaixava na sua imagem.

“Ok, tudo bem... O que aconteceu depois?” perguntei.

“Ele jogou dinheiro em nós e disse que precisava da nossa ajuda. Falou que amanhã... Bem, hoje, uma carroça viria por esta estrada e que deveríamos separá-la de sua escolta. Se tivéssemos sucesso, nos daria ainda mais dinheiro. Como nos ameaçou com os mazokus também, não estávamos em posição de recusar. Ele disse que a escolta não era nada especial. Que se precisássemos de ajuda, os mazokus a forneceriam. E então concordamos... Só que você é super forte e os mazokus nunca apareceram. Esse não era o acordo.”

“Entendo...”

Então sua intenção desde o início era sequestrar Laddock? Ou talvez quisesse acabar comigo e com Laddock juntos...

“Pronto? Já posso ir, por favor?”

“Claro que não!” Amelia disse, apontando o dedo em uma pose dramática para o homem. “Não pense que podemos apenas ignorar seus erros mais mundanos! Vamos entregá-lo às autoridades mais próximas! Fique quieto e aceite seu destino!”

“Nããão! Qualquer coisa menos isso! Vou mudar meus hábitos! Por favor, me de uma segunda chance!”

“Nunca! Normalmente, a ira do céu cairia sobre você aqui e agora...”

Parei de prestar atenção no resto da conversa enquanto meus pensamentos se voltavam para outro lugar. Se Zuma estava acelerando as coisas... Nosso próximo encontro deve ser o confronto final.

“Um confronto, hein?” sussurrei, baixo demais para qualquer um dos outros ouvir.

———

O vento assobiava no céu noturno. Nuvens cinzentas enxameavam os céus acima... Bem típico para esta área e época do ano. Estava assim desde que deixamos Vezendi.

Já se passaram cerca de dois dias. Gourry e eu estávamos em uma estrada na montanha larga o suficiente para duas pessoas caminharem lado a lado, e tínhamos acabado de chegar a uma cabana de madeira protegida por árvores escuras. Tinha que ser o lugar que Zuma mencionou.

“Está pronta?” Gourry perguntou, e acenei a cabeça em resposta.

Não tenho certeza sobre ele, contudo chegar até aqui tinha sido bem difícil para mim.

Nós já tínhamos nos enredado com o assassino mascarado várias vezes e nunca conseguimos nos livrar dele de vez. A pressão psicológica era a pior parte.

Estava mantendo meu treinamento com Gourry, é claro, no entanto não era como se tivesse me tornado uma mestra espadachim da noite para o dia. Se as coisas se resumissem a um mano a mano, não havia como eu ter chance.

Chegamos perto de derrotar Zuma uma vez, mas isso foi quase inteiramente graças a Gourry. Não fiz muito mais do que assistir. Por sorte, tinha o grandão comigo agora, entretanto ainda havia muito com o que se preocupar.

Como o fato de que Zuma parece ter demônios inferiores sob seu comando agora. Se enviasse um bando deles para nos separar, teríamos uma luta difícil. Gostaria de ter trazido Amelia e Zelgadis também, todavia ao ter um refém nos deixou de mãos atadas. Assim, todos os outros ficaram esperando em Duphon, no sopé da montanha, para que retornássemos.

Porém isso não era tudo. Havia outra questão me incomodando: por que Zuma me pediu para trazer Gourry junto? Achei que só estava atrás de mim e Laddock. Se quisesse matar Gourry também, pareceria sugerir que quer vingança pela surra que levou da última vez... Contudo tomar Laddock como refém e se vingar de Gourry? Esse não me parecia o seu modus operandi.

O último curinga em minha mente era Seigram e seus dois aliados. Ele não tinha vindo atrás de nós desde nosso encontro na pousada, no entanto certamente não significava que tinha desistido de acertar as contas conosco.

Bom, me estressar não vai me fazer nenhum bem! Tenho que fritar o peixe grande na minha frente primeiro: Zuma!

Sem nenhum plano específico em mente, Gourry e eu nos aproximamos da cabana de caça. Não era muito grande, é claro... De fora, podíamos sentir uma tênue presença lá dentro.

“Vou entrar primeiro.” disse Gourry, colocando a mão na porta.

Squeeeak... Um rangido ecoou quando a porta se abriu sem nenhum empecilho. Meu companheiro parou em seguida. Coloquei minha cabeça entre ele e a porta e vi uma sala simples e vazia, mobiliada com nada além de um pequeno fogão e uma pequena mesa com uma panela em cima. Havia uma pilha de feno no canto no lugar de uma cama, e em cima...

“Mestre... Laddock?”

Um homem estava deitado no feno, com as mãos amarradas atrás das costas. Seu corpo estava virado de costas para nós, mas era inconfundivelmente Laddock Lanzard. Por sorte, seguia com vida.

Não havia sinal de mais ninguém por perto. Também não havia onde se esconder. Era uma cabana de caça simples, então não haveria portas escondidas ou passagens secretas aqui.

Certo, Zuma é capaz de mascarar sua presença de mim, porém Gourry também não pareceu notar nada, o que me levou a acreditar que estávamos seguros.

“Qual é o plano?” perguntou Gourry.

“Espera aí!” respondi e comecei a entoar. “Dam Blas!”

Bwoom!

O feitiço que lancei explodiu o feno abaixo de Laddock. Fiquei preocupada que Zuma pudesse estar se escondendo lá dentro, contudo meu feitiço apenas espalhou a palha seca sem atingir nada. Só que também fez Laddock rolar em nossa direção.

“Guh...” ele gemeu.

Sim, era o homem de fato. Então onde diabos estava Zuma? De repente, senti uma nova presença sobre meu ombro. Droga! Atrás de mim? Eu me virei rapidamente e vi...

“Abel?”

Ele deve ter corrido todo o caminho até aqui, pois havia parado na porta com os ombros arfando.

“O quê... Abel?” Laddock engasgou um pouco, surpreso ao notar seu filho.

“Pai!”

Não consegui pará-lo. Ele passou correndo por mim para o quarto e começou a desamarrar as mãos de seu pai.

“Seu idiota! O que está fazendo aqui?” o Lanzard mais velho perguntou.

“Estava preocupado com você, pai!”

Laddock ficou sem palavras. Contudo o silêncio emocional foi interrompido pouco depois...

“Linaaa!” soou a voz de Amelia.

Virei-me surpresa uma segunda vez para ver não apenas Amelia, como até mesmo Zel, Xellos e Raltark. Eles devem ter vindo para parar Abel, no entanto... Vamos lá, pessoal! Se vai ser desse jeito, por que nos separamos em primeiro lugar?

“Ora, ora... Este não era o plano, era?” falou uma voz estranha e familiar atrás de mim.

“O quê?” engasguei.

Ao me virar, avistei um caroço branco pairando do lado de fora da cabana em um espaço vazio. Então este produziu incontáveis ​​tentáculos de escuridão que deslizaram para fora, tomando a forma de cabelo.

“Guduza!” Amelia gritou reflexivamente.

Mas... O que ela está fazendo aqui?

“De fato... É ultrajante, não é?” gritou outra figura das árvores. Sua silhueta emergiu aos poucos, como se para dramatizar seus próprios passos.

Duguld...

“Nós nos encontramos de novo, criança quimera.” Duguld cumprimentou Zel com uma leve inclinação de seu chapéu. Em seguida, virou o olhar um pouco para nós e disse. “Viemos aqui para ajudar com a vingança... Todavia isso parece menos vingança e mais uma farsa. É muito ridículo... Nesse caso, acho que é hora de acabar com essa farsa, certo, Ancião Raltark.”

“O quê?” Gourry, Zel e Amelia gritaram ao mesmo tempo.

“Hmm... Entendo!” Raltark respondeu num tom indiferente, então começou a entoar baixinho.

O eco de palavras desumanas foi levado pelo vento. A floresta ganhou vida. Os pássaros, feras e insetos tentaram fugir às pressas. Eles sabiam que algo estava errado... Entretanto era tarde demais.

Uuuowmm...

Essa deve ter sido a palavra de poder. Um estrondo baixo que fez meus ouvidos zumbirem correu pelo ar. Uma sensação estranha caiu sobre a montanha.

“Minha nossa, vejam só...” Xellos disse em uma voz calma. “Não acredito que isso fosse parte do acordo.”

“Vamos. Posso me dar ao luxo um pouquinho, não posso?” Raltark respondeu em um tom uniforme.

Skree! Um som bizarro como gritos de animais, embora não exatamente, surgiu da floresta. Skree! Skaaaree! Skree!

E não eram apenas alguns deles... Havia uma dúzia, pelo menos.

“O que está acontecendo?” gritei.

“Oh, quase nada que valha a pena mencionar.” Raltark respondeu com indiferença. “Apenas alguns demônios inferiores que invoquei do plano astral possuindo a vida selvagem local.”

O que... Fiquei estupefata. O que Raltark tinha acabado de fazer... Foi...

Grrragh! Finalmente, os gritos agonizantes se fundiram em um rugido... As legiões de demônios inferiores que Raltark havia invocado emergiram de dentro da floresta!

“Agora!” Duguld gritou em exaltação, afastando sua capa dramaticamente. “Que o baile comece!”

***

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