domingo, 6 de abril de 2025

Slayers — Volume 06 — Capítulo 28

Capítulo 28: A escuridão agitada, o combate mortal termina

Hraaaagh! O uivo dos demônios inferiores deu início à nossa batalha. Seus gritos conjuraram inúmeras Flechas Flamejantes à frente de sua horda... Em outras palavras, ao redor de nós e da cabana! Devia haver centenas delas!

Ba-ba-ba-bwoosh!

Puta merda! Enquanto começava a entoar um feitiço, empurrei Gourry para dentro da cabana! Nem um momento depois...

“Vento!”

No instante em que terminei de erguer uma barreira de vento lá dentro... Ker-crash! O exterior da cabana foi inundado de chamas.

“O quê?” Abel gritou de dentro da segurança da cabana e da minha barreira.

Os desgraçados tinham liberado sua barragem de Flechas Flamejantes em nós. Se não tivéssemos minha barreira de vento e a cabana para nos proteger, o calor escaldante da explosão teria nos vaporizado vivos.

“Vamos, Gourry!” gritei, derrubando a barreira e passando para meu próximo cântico.

“Certo!” Gourry se recompôs, sacando a Espada da Luz e saltando de volta para fora.

Nós havíamos escapado do primeiro ataque dos demônios inferiores, mas continuaríamos como alvos fáceis até que reduzíssemos um pouco seus números (de preferência antes que desencadeassem seu segundo ataque!). Se não conseguíssemos isso, ficaríamos presos na defensiva indefinidamente.

“Dam Blas!”

Fwoom! Abri um buraco na parede oposta à porta da cabana envolta em chamas.

“Abel! Vou sair pela frente para chamar a atenção! Leve seu pai e se esconda na floresta!”

Nem esperei uma resposta sua e já estava saindo pela porta e entoando meu próximo feitiço!

Como esperado, Zel e Amelia estavam bem; ambos devem ter lançando uma barreira de vento para se salvarem do calor e das chamas, e agora lutavam ao lado de Gourry. Não consegui ver Raltark e Xellos em lugar nenhum, porém era difícil imaginar que qualquer um deles tivesse sofrido algum dano.

“Iluminação!” depois de recitar meu canto de amplificação, lancei meu feitiço de luz bem alto no ar. Naturalmente, sendo a versão supercarregada, era tão brilhante quanto o sol do meio do verão... Bem, ok, não tão brilhante assim, porém era mais do que suficiente para lutar. Também projetava algumas belas sombras no chão.

Comecei outro cântico de amplificação, contudo o feitiço Iluminação que tinha acabado de conjurar era como um farol gritando: ‘Ei, estou aqui!’. Uma dúzia ou mais de demônios inferiores, consequentemente voltaram seus olhos para mim.

Graaagh! Eles uivaram outra saraivada de Flechas Flamejantes!

M-Merda, pessoal, vocês não podem dar um minuto para uma garota?

Não ia conseguir terminar meu feitiço a tempo! Os projéteis ardentes já estavam vindo em minha direção! Pensei em correr para fugir, só que havia muitas flechas! Não conseguiria desviar de todas! No entanto...

Fwish!

Assim que estavam prestes a me atingir, as Flechas Flamejantes desapareceram no ar.

Hein?

“Essa é por conta da casa... Mas não conte com uma segunda vez.” gritou a voz de Xellos de algum lugar próximo.

Fiquei grata pela ajuda, embora não tive tempo de procurá-lo. Antes que meus amigos demônios corpóreos pudessem desencadear uma terceira saraivada, completei meu feitiço!

“Presas de Dis!”

Minha sombra no chão, cortesia do feitiço de Iluminação, tomou a forma de inúmeras mandíbulas de dragão que estalavam nas sombras dos demônios inferiores ao meu redor.

O resultado... Kraaaaah! Um estertor de morte medonho quando sangue negro começou a jorrar de seus corpos... Justo onde meus dragões sombrios haviam mastigado suas sombras.

“Hah!” Zel gritou.

Vrm! Ele deve ter infundido sua espada larga com magia, porque um único golpe cortou o estômago de um demônio inferior sem nenhuma dificuldade.

Scraaah! Outro demônio próximo soltou um uivo furioso, conjurando mais Flechas Flamejantes. Porém enquanto a barragem convocada por uma horda de seus companheiros era uma força mortal a ser considerada, um único espécime mal poderia produzir o suficiente para ser uma ameaça real. Feiticeiros experientes sabiam como escalonar suas Flechas Flamejantes contra um único alvo para torná-las mais difíceis de desviar, todavia os ataques desses imbecis eram simplistas, na melhor das hipóteses. A pequena explosão que geravam ao impactar poderia causar leves danos, com certeza, no entanto para um combatente experiente que sabia como manter a calma e prestar atenção, não eram tão difíceis de evitar.

Zel antecipou o tempo das flechas que chegavam e avançou enquanto entoava um feitiço. Passando através delas, disparou um ataque após fechar a distância até seu alvo em um segundo... Entretanto foi forçado a parar quando um enxame de balas escuras veio voando em sua direção! Duguld entrou na briga!

“Vou acabar com você dessa vez, criança quimera!” ele pronunciou enquanto atacava Zel.

“Chama Elemekia!” Zel gritou, liberando o feitiço que havia entoado. Era uma versão aprimorada da Lança Elemekia, que não causava dano físico, embora fosse poderosa o suficiente para esfolar o espírito de um humano com um golpe direto.

“Tch!” Duguld estalou a língua bruscamente enquanto se esquivava. Nem o mazoku quis arriscar ser atingido por uma Chama Elemekia de frente!

O feitiço acabou por atingir o demônio inferior que estava parado atrás de Duguld. Seu corpo tremeu, então desabou com uma força capaz de tremer a terra, e ficou imóvel. Por sua vez, Duguld voltou a atacar. Zel tinha acabado de preparar sua espada para enfrentá-lo quando...

Kraaah! Um demônio inferior lançou uma nova saraivada de fogo por trás de Duguld! O ataque foi disparado para frente indiscriminadamente, mas simples Flechas Flamejantes não representavam nenhuma ameaça para um mazoku puro como Duguld. Ele apenas continuou atacando com as flechas vindo em suas costas. Nesse momento, pouco antes de atingir seu alvo, ele saltou para o lado!

As flechas de fogo atrás das suas costas avançaram em Zel!

Zel saltou para o lado atrás de Duguld, porém sua reação esteve um pouco atrasada. Uma única flecha de fogo roçou seu braço esquerdo, transformando a manga de seu casaco em cinzas. Em seguida, teve que lidar com outra tempestade de balas escuras de Duguld, forçando-o a assumir uma postura defensiva.

“Vamos acabar com essa brincadeira!” Duguld gritou enquanto as balas que o cercavam se fundiam em sua mão. Em um instante, elas tomaram a forma de uma espada negra.

Shing! O próprio ar tremeu quando a lâmina escura de Duguld encontrou a espada larga magicamente infundida de Zel. Os dois permaneceram travados, colocando força contra força...


Mas, como se estivesse esperando por este momento, um demônio inferior na lateral conjurou uma massa de Flechas Flamejantes.

Droga! Não há como Zel se esquivar delas agora!

Quase parecia que o ser distorcido esboçou um sorriso, e então... Vwoosh! Um raio de luz riscou o ar, e sua cabeça saiu voando!

Boa, Gourry! Um disparo de sua Espada da Luz decapitou completamente o demônio intrometido.

———

Quanto a Gourry, parecia ter as mãos ocupadas com os demônios inferiores. Quando saltou da cabana antes, despachou seus inimigos para a esquerda e para a direita... Às vezes cortando-os com a Espada da Luz, e às vezes atirando sua lâmina reluzente da empunhadura. Isso reduziu de forma drástica o número de oponentes, no entanto os levou a concentrar seu fogo em nosso espadachim.

Seus ataques não eram bem coordenados, veja bem, porém haviam muitos. Gourry seguia conseguindo se esquivar ou desviar de cada flecha que chegava com a Espada da Luz, contudo estava tão ocupado que ficou pressionado por oportunidades de contra-atacar. Sempre que disparava a lâmina da Espada da Luz, havia um atraso momentâneo, mas muito real, antes que ela pudesse se manifestar de volta. E um único segundo indefeso poderia significar a diferença entre a vida e a morte sob esse tipo de ataque. Gourry conseguiu dar um tiro para salvar Zel durante um breve interlúdio entre os ataques lançados, porém tais golpes de sorte eram poucos e distantes entre si.

“Argh!” Gourry gritou em pânico enquanto afastava outra onda de flechas de fogo.

———

Amelia não tinha tantos demônios inferiores em seu encalço, contudo estava ocupada lidando com um problema maior...

“Hehehe... Nos encontramos de novo!” Guduza sibilou, sua fenda vermelha de boca se curvando na forma de um sorriso. Em frente a ela, Amelia já estava entoando um feitiço. “Não vou deixar de te matar dessa vez, criança...”

O cabelo de Guduza ondulou. Ao mesmo tempo, os demônios inferiores ao redor dela liberaram uma saraivada de Flechas Flamejantes.

Amelia desviou de todas com facilidade sem abrir mão de seu cântico. (Foi mais ou menos nesse momento que eu estava entoando meu feitiço de luz amplificada, se você estiver se perguntando.)

O sorriso esculpido no rosto de Guduza se aprofundou. Enquanto isso, seu cabelo se alongou e desapareceu em sua sombra no chão. O que aconteceu em seguida foi uma repetição da última vez que lutaram... Os tentáculos do mazoku serpentearam para fora da sombra de Amelia e se enrolaram em suas pernas. A principal diferença dessa vez? O bando de demônios inferiores, é claro!

“Acabem com ela, todos vocês!” Guduza gritou.

Graaagh! Os capangas uivaram em resposta. Dezenas de flechas mágicas se manifestaram no ar e choveram sobre a contida Amelia.

Vroosh! Todas as flechas explodiram em chamas, e a pobre Amelia ficou... Perfeitamente ilesa e já entoando seu próximo feitiço?

“Um feitiço de defesa?” Guduza engasgou de surpresa.

Amelia era originalmente uma sacerdotisa, então é claro que conhecia magia defensiva e de recuperação como a palma da mão. Contanto que desfizesse seu feitiço a tempo, não teria problemas em se defender de algumas míseras Flechas Flamejantes desse nível.

“Maldita seja!” Guduza vociferou.

Seu cabelo deslizou pela perna de Amelia em um volume ainda maior, mas naquele instante, seu cântico havia sido finalizado...

“Lança Elemekia!”

E o alvo de seu feitiço foi... Seus próprios pés? Não, no cabelo de Guduza! Não havia como o evitar, e o feitiço explodiu seus cabelos escuros!

“Hyeek!” Guduza gritou em choque enquanto se apressava em retirar seu cabelo da sombra.

Embora seu cabelo fosse tão descartável quanto o rabo de um lagarto, seguia sendo parte de seu corpo demoníaco. Teria sido uma coisa cortá-lo sozinha, porém ser danificado enquanto seguiam ligados... Isso tinha que doer.

“Pirralha!” Guduza gritou de raiva.

Amelia a ignorou e continuou entoando enquanto corria direto para sua adversária!

“O que vocês, idiotas, estão fazendo? Acabem com a garota neste instante!” Guduza gritou, ordenando que os demônios inferiores conjurassem outra onda de flechas flamejantes.

“Vis Farank!” Amelia gritou, invocando um feitiço que eu não reconheci.

Ao mesmo tempo, as flechas flamejantes foram dispararam em sua direção. Esses caras eram verdadeiros cachorros de um truque só, contudo um truque só ainda era uma ameaça séria em números como esse. Não havia como Amelia desviar de todos os projéteis! Seu feitiço defensivo de antes a salvaria de novo?

Não, era diferente! Amelia desviou da maioria das flechas que chegavam, e aquelas que não conseguia desviar, bloqueava com a palma da mão esquerda! Vwim! Suas chamas foram extintas como se nunca tivessem estado lá.

Ah, é claro! O feitiço de Amelia deve funcionar seguindo o mesmo princípio que a espada mágica de Zel... Estava canalizando poder mágico direto para suas mãos!

E com o feitiço ainda ativo, continuou diminuindo a distância até Guduza!

“Sua humana tola!” gritou o mazoku, seu cabelo longo e preto esvoaçando em direção a Amelia como se soprado pelo vento.

Vrrmmm... Vrrmmm... O cabelo esticado tremeu e zumbiu como asas de inseto. No instante seguinte...

Vrum! As vibrações se tornaram uma onda de choque mágica que estava voando direto para Amelia!

———

Crash! Quatro demônios inferiores caíram no chão, sacudindo a terra abaixo. Meus dragões das sombras haviam rasgado o espírito e a carne da mesma forma. E com suas presas mortas, eles agora recuavam de volta para minha sombra.

Ok, quatro lacaios abatidos! Foi como uma gota no oceano, não fez muito para mudar a maré da batalha. No mínimo, pintou um alvo na minha testa, porque alguns outros demônios se voltaram para mim ao mesmo tempo.

Porcaria... Se eu corresse para a floresta, poderia tirar sua linha de visão de mim. Entretanto, por outro lado, se começarem a apenas atirar indiscriminadamente por causa disso, vou acabar cercada pelo fogo e incapaz de escapar. Nesse caso, enquanto entoava um feitiço, me virei e voei para dentro da cabana ainda em chamas. Ela ainda não tinha desabado, todavia era um inferno lá dentro. O ar superaquecido queimou minha pele.

Corri direto pela cabana e para fora do buraco que os Lanzards usaram para escapar. Essa foi uma distração bem simples, mas imaginei que seria o suficiente para enganar meus perseguidores menos que brilhantes. Assim que saí do lado de fora voando para a linha das árvores...

Vwoosh! Uma enorme língua de fogo se levantou e derrubou toda a cabana. Os demônios inferiores que me viram correr para dentro dela lançaram suas flechas flamejantes no prédio em chamas. Vendo aquilo, me virei de novo e corri de volta para a briga.

“Explosão de Cinzas!”

Frmmm! Houve um som estrondoso que pude sentir em meu próprio intestino, e mais dois inimigos foram reduzidos há pó preto em um instante.

Seis abatidos! Entre mim e a gangue, isso fez cerca de quatorze derrotados no total. Nós certamente os estávamos derrubando, porém seguia havendo mais da metade dos números originais restantes. Um Dragon Slave com poder total poderia ter acabado com as coisas em pouco tempo, contudo também teria pego Gourry e os outros na explosão. Acho que não tenho escolha a não ser mirar nos otários um por um.

Certo, qual feitiço devo lançar agora?

Quando ia começar meu próximo cântico, senti alguém atrás de mim e me virei. Era Abel, que estava parado ali com os olhos vidrados.

“O que você está...” agarrei sua mão e o puxei para o fundo do mato. Era evidente que alguma coisa tinha acontecido, no entanto nem mesmo eu era corajosa o suficiente para ficar por aí conversando com demônios inferiores lançando feitiços à bel prazer. “O que aconteceu? Onde está seu pai?”

“Tentamos correr para a floresta... Um demônio jogou uma flecha de fogo em nós... O pai me empurrou e me disse para correr... Não o vi desde então! Tenho procurado por todo lugar, mas...”

Que maravilha! Como se já não tivesse o suficiente com que me preocupar...

“Seu pai está bem! Prometo!” falei, numa afirmação sem qualquer base ou fundamento. “Quando a batalha acabar, nós o procuraremos juntos! Por enquanto, fique escondido!”

Depois, comecei um novo encantamento e fui me juntar à batalha. Porém no momento em que saí do mato em encontrei cara a cara com um demônio inferior. Ack!

“Sopro da Dinastia!” entoei, congelando e despedaçando a criatura monstruosa em um único movimento.

———

A lâmina na mão de Duguld mudava de cor, indo de um preto profundo para cinza. Sua espada escura, uma amálgama de suas balas sombrias, aparentemente não era tão poderosa quanto a Espada da Luz de Gourry ou minha Lâmina Ragna, então o choque constante com a espada encantada de Zel estava rapidamente tirando seu poder. Dito isto, a espada mágica de Zel parecia estar se degradando em um ritmo semelhante, então a vitória dependeria de quem durasse mais. Contudo, pelo visto, Duguld não tinha interesse em uma guerra de atrito...

“Você perdeu, criança quimera!” ele declarou, produzindo mais uma dúzia de balas ao redor de seu corpo!

Se as soltasse a essa distância, Zelgadis não seria capaz de se esquivar! No entanto, no momento seguinte... Foi Duguld quem saltou para trás com um grito. Olhei e vi uma adaga enterrada fundo em seu corpo, quase até a empunhadura.

“Gwaaagh! Gaaagh!” Duguld lamentou e se contorceu enquanto a arrancava com a mão direita e a jogava de lado com desgosto.

Nenhuma mera adaga era suficiente para ferir um mazoku puro... Zel deve ter lançado seu feitiço uma segunda vez, infundindo a lâmina escondida em sua mão esquerda enquanto se defendia de Duguld com a direita. Então a apunhalou quando teve a oportunidade.

Sem querer perder a abertura que havia criado, Zel saltou em Duguld. Um demônio inferior se moveu para interceptá-lo, todavia Zelgadis previu suas ações. Ele cortou a criatura, e mantendo a confiança em suas ações, mudou de direção e matou outra no caminho.

“Quimera maldita!” Duguld rugiu com raiva, sua voz tingida de dor. “Como ousa... Como ousa fazer isso comigo?”

Entretanto Zelgadis riu de suas palavras.

“Para alguém que menospreza crianças e quimeras, você é muito previsível. Tolo superficial.”

“Como ousa? Desta vez vou te matar com certeza!”

“Muitos me disseram isso... E ninguém nunca conseguiu cumprir!” Zelgadis zombou enquanto começava um cântico.

Apesar da fanfarronice do mazoku, o golpe deve ter causado danos consideráveis. Seus movimentos se tornaram lentos e instáveis.

“Tch...” o mazoku estalou a língua e saltou na direção de um demônio inferior. “Esse... Golpe certamente doeu, mas...”

Duguld ergueu sua mão direita sem fazer qualquer barulho e... Bwush! A cravou no peito do demônio inferior enquanto este gemia um estertor de morte desagradável.

O quê?

“Heh... Hehe...” Duguld soltou uma risada baixa enquanto o sangue preto da criatura jorrava em seu corpo. “Ahh... Acertou em cheio... Tanta raiva e medo...”

Puta merda! Mazokus tiravam seu poder das emoções negativas de seres vivos. Então, para se curar, Duguld matou um de seus lacaios para se alimentar de sua angústia e desespero. Mesmo que fosse corpóreo, fundamentalmente diferente de um mazoku... Ainda não equivalia basicamente a canibalismo?

“Continuemos...” recuperado do golpe de Zel, Duguld convocou mais balas escuras ao seu redor. “Eu baixei minha guarda antes, porém da próxima vez...”

Zelgadis recuou com pressa enquanto continuava seu canto.

Espere, aquele feitiço...

“Um Ra Tilt?” Duguld exclamou, também parecendo reconhecê-lo.

Vwip... O corpo de Duguld mergulhou no chão, deixando suas balas de escuridão pairando no ar. Essa era a mesma tática que Guduza havia usado contra Amelia... A manobra da “cauda de lagarto” que deixava um fragmento de sua forma astral como isca enquanto seu corpo principal escapava.

Quando Zel terminou seu cântico, a verdadeira forma de Duguld já havia desaparecido no chão. Isso o forçou a encontrar um novo alvo. É provável que pudesse acabar com Duguld se esperasse que reaparecesse, contudo os demônios inferiores não iriam deixá-lo ficar parado e esperar à vontade. Além do mais, agora que o cântico estava completo, não poderia segurá-lo para sempre.

Por um minuto, Zel olhou para Amelia, que estava atualmente travada em combate corpo a corpo com Guduza. Ra Tilt era uma magia de alvo único, é claro, no entanto não havia como dizer o que poderia acontecer com alguém tocado pelo pilar azul de luz uma vez disparado. Então, sem outra escolha, Zel se virou e lançou o Ra Tilt em um demônio inferior nas proximidades.

Vwoosh! Engolido por uma coluna de luz azul, o demônio inferior caiu logo depois no chão. Parecia um desperdício de feitiço, mas acho que era melhor do que nada...

Então, como se tivesse planejado isso, Duguld saltou do mato da floresta. Reapareceu na floresta e ficou esperando Zel lançar seu feitiço?

“Foi tudo em vão, criança quimera!”

Duguld já estava armado com um novo enxame de balas. Por sua vez, Zel tinha acabado de disparar um feitiço, e a magia com a qual havia infundido sua espada havia quase esgotada! Sem recursos, saltou para longe, entoando o mais rápido que pôde seu próximo movimento.

“Você não vai escapar!” Duguld gritou, deixando suas balas pretas voarem.

———

“Hah!” Amelia gritou.

Ela usou a magia em sua mão direita para repelir a onda de choque de Guduza. Bwoosh! Dois poderes invisíveis colidiram, fazendo o vento girar e uivar. E quando este parou...

“Ngh...” Amelia gemeu. Parecia que não havia neutralizado o ataque por completo. Suas pernas tremiam um pouco.

“Prendam a garota no chão!” Guduza gritou enquanto corria em direção a Amelia.

Respondendo ao seu comando, os demônios inferiores próximos dispararam Flechas Flamejantes para cortar as rotas de fuga de Amelia. Conduzida pelos seus ataques, Amelia foi forçada a atacar Guduza outra vez, ainda entoando.

Isso é péssimo... Parar a onda de choque mágica anterior teria extinguido a magia infundida em suas mãos, o que significa que agora estava avançando sem nenhuma maneira de atacar Guduza... E pior ainda, sem nenhuma maneira de se defender! Amelia deve ter percebido, porque bem antes de chegar a Guduza, saltou para o lado!

Porém Guduza parece ter antecipado esse movimento, pois seus tentáculos negros enredaram Amelia enquanto saltava!

“Não vai escapar dessa vez!” sibilou.

Um dos seus cachos se enrolou no pescoço de Amelia! Ela iria estrangulá-la para impedi-la de lançar o feitiço?

Contudo, antes que o garrote trançado pudesse esmagar sua traqueia, Amelia desviou os olhos em um olhar de soslaio para algo. Guduza, curiosa sobre o que era, também se virou para lá... Para ver Zelgadis procurando um alvo para seu Ra Tilt preparado depois que Duguld desapareceu.

Reconhecendo o perigo do ataque, Guduza se assustou. Zel, no entanto, rapidamente se virou e lançou o feitiço em um demônio inferior. Aliviada, Guduza se virou de volta para seu alvo...

Entretanto esse foi todo o tempo que Amelia precisou para terminar seu feitiço.

“Vis Farank!”

“Não!” Guduza gritou, mas era tarde demais.

Bwoom!

“Graaah!” o mazoku soltou um lamento estridente quando foi atingida por um punho mágico em seu estômago, todavia tal golpe não foi o suficiente para matá-la.

“Sua...”

Enfurecida pelo ataque, Guduza apertou seu cabelo em volta do pescoço com mais força. Amelia ofegou por ar com uma expressão de dor, porém isso não a impediu de brandir seu punho outra vez! Wham!

“Graaah!” Guduza gritou mais alto enquanto sua fúria crescia e seus cachos se enrolavam mais apertados.

Pop! O joelho direito de Amelia quebrou. Guduza esboçou um leve sorriso... Que Amelia prontamente esmagou com seu punho!

“Hreek!” uivou o mazoku.

Não seria exagero em dizer que o rosto de Guduza era seu verdadeiro eu. Um golpe direto foi aparentemente tão doloroso que a fez soltar Amelia, que não perdeu tempo em saltar para trás.

Minha garota também se encontrava em uma situação ruim. Ela caiu de joelhos, ofegante.

Vendo sua chance, um dos demônios inferiores se virou para sua direção e...

Slash!

Naquele instante, sua parte superior do corpo foi separada de sua metade inferior pela Espada da Luz de Gourry.

———

“Sinalizador Gaav!”

Vwoom! A rajada vermelha que disparei acabou com outros dois demônios inferiores.

Isso dá... Dezenove no total! Estávamos reduzindo-os muito bem, com Gourry sendo nosso verdadeiro MVP. Ele acelerou o ritmo, reduzindo os números de inimigos e interrompendo suas barragens de flechas flamejantes.

Situações como essa realmente me fizeram apreciar o quão habilidoso Gourry era. Ele estava os reduzindo de forma constante enquanto ainda conseguia cobria seus aliados. Nesse ritmo, era apenas uma questão de tempo até que todos os demônios inferiores fossem destruídos, contudo Zel e Amelia seguiam travados em lutas difíceis, e uma preocupação ainda maior pairava sobre mim...

Brr! Um arrepio percorreu minha espinha, me fazendo pular para trás do local onde estava. Então me virei de volta em direção à floresta... Logo, com um farfalhar de folhas, uma figura vestida de preto emergiu.

O quê?

“Zuma!”

O cara resolveu vir num momento impecável, não é? Pelo menos, agora que estava aqui, eu não precisava me preocupar com ele aparecendo do nada... Me apressei para lançar um feitiço. Para ser honesta, estou com muito mais medo desse cara do que de cem demônios inferiores!

Whoosh! Zuma correu para frente, cortando a grama... Vindo direto para mim!

“Bola de Fogo!” entoei. Zuma desviou sem dificuldade da bola de luz que joguei. No entanto, no momento em que ela passou pelo seu lado, estalei meus dedos!

“Quebre!”

Fwoom! A bola de luz explodiu, lançando chamas carmesim por todo lugar. Esta era minha versão modificada do feitiço, e tinha certeza de que o tinha acertado em cheio.

Entretanto, Zuma uma vez pegou uma Bola de Fogo minha sem sequer se intimidar... O cara deve ter alguns feitiços defensivos poderosos em seu arsenal. O que significa, é claro, que não havia garantia de que minha versão especial da Bola de Fogo o tivesse finalizado.

Então, em vez de baixar a guarda, comecei a preparar meu próximo feitiço... Um que não conseguiria bloquear! E, como já esperava, uma silhueta escura emergiu das chamas um segundo depois, disparando atrás de mim!

Tinha acabado de começar meu cântico. Não tive escolha a não ser pular para trás, sacar a faca que usei para a Captura de Sombra e jogá-la em Zuma. Esperava que ao menos confundisse o feitiço que estou entoando com uma Captura de Sombra e parasse, mas... Ele não apenas ignorou; como ganhou mais velocidade!

Sua mão então agarrou a faca que tinha acabado de jogar no ar e a jogou de volta em mim! Bem na minha cabeça!

Chocada, eu me abaixei. Não deveria ter deixado aquilo me abalar daquele jeito, porém; me fez perder o equilíbrio e cair para trás.

Fwish! Pelo menos a faca passou com segurança sobre minha cabeça, só que tinha que me levantar logo! Não podia só ficar sentada com a bunda no chão com Zuma correndo em minha direção! Precisava concluir meu feitiço, contudo...

Ugh! Precisava de mais tempo!

Ia ter que arriscar chutá-lo ou algo assim! Estava pronta para ter meu pé quebrado pelo meu problema, no entanto não havia nenhuma maneira no inferno de me livrar desse maldito se tentasse correr. Mesmo que fosse uma batalha perdida, teria que tentar a sorte dessa vez!

Todavia assim que me preparei mentalmente, Zuma parou no meio do caminho. Um lampejo passou na frente de seus olhos... A Espada da Luz! Zuma voltou seu silencioso olhar para seu portador...

“Já faz um tempo.” disse Gourry, a Espada da Luz ao seu lado. Naturalmente, Zuma não tinha resposta. “Lina, cuide do resto dos demônios inferiores! Eu vou segurá-lo!”

“Entendi!” gritei, me levantando.

Sim, me chame de covarde se quiser, entretanto não conseguia ver nenhuma razão para bater pé e assumir a bronca. Ia acabar atrapalhando Gourry se ficasse por perto. Sendo esse o caso, enquanto entoava um feitiço, coloquei meus olhos nos demônios inferiores restantes.

Com a Espada da Luz em uma mão, Gourry se aproximou devagar do assassino. Sem dúvida tinha a vantagem neste confronto. Os movimentos típicos de Zuma, aparar lâminas e pegá-las com as duas mãos para quebrá-las, não funcionariam contra a Espada da Luz. Zuma tinha magia do seu lado, embora não tivesse tempo para entoar enquanto desviava de Gourry.

“Hah!” gritou o loiro, correndo direto para o assassino.

Zuma saltou para trás instantaneamente e gritou.

“Flecha Flamejante!”

Bem na hora, quase vinte raios de fogo apareceram na sua frente e dispararam em direção a Gourry!

“Mais flechas de fogo?” Gourry reclamou, mas evitou ou bloqueou todas elas sem perder velocidade.

Zuma então avançou para encontrá-lo, como se estivesse seguindo as flechas. Os dois lutadores se cruzaram. Gourry balançou a Espada da Luz e...

Crackle!

Zuma, por mais inacreditável vá soar, parou o ataque com a palma da mão esquerda! Como Amelia, ele deve ter canalizado poder mágico em sua mão para usar como escudo, porém... Caramba!

Quando aprendeu esse feitiço?

Enquanto bloqueava a espada com a palma da mão esquerda, Zuma lançou a direita em Gourry!

“Tch!” Gourry, cauteloso com o ataque, se apressou em recuar para trás e escapar.

Os dois lutadores, agora a alguma distância, se encararam mais uma vez.

———

Levantando poeira, Zel deslizou para trás do demônio inferior que havia caído por perto. Pop-pop-pop! Um segundo depois, as balas escuras de Duguld salpicaram o cadáver com buracos.

“Tolo! Acha que pode se esconder de mim?” Duguld gritou e avançou em sua direção. Ele saltou sobre o corpo do demônio para atacar Zelgadis de cima, contudo...

Vrsh! Um clarão prateado rasgou o ar entre eles!

“Graaagh!” Duguld gritou enquanto caía no chão.

No mesmo instante, Zel se levantou de trás do demônio inferior. Ele deve ter renovado seu feitiço, porque a espada larga em sua mão estava uma vez mais brilhando com luz carmesim.

“Você é o único idiota aqui!” zombou, correndo para Duguld.

Zwoosh! Zelgadis cortou o torso do mazoku assim que se levantou.

“Graaagh!” Duguld gritou, embora não caiu dessa vez. “Gngh...”

Com gemidos de agonia, sacou uma adaga saliente do peito... Outra infundida com magia.

“Achou que eu só tinha uma adaga? Não acredito que caiu no mesmo truque duas vezes... Apesar de toda essa sua conversa fiada, vocês, mazokus, são tão simplórios!” Zel zombou, jogando toda a zombaria do mazoku de volta na sua cara.

Seria difícil para Duguld se recuperar, dada sua posição atual. Quase todos os demônios inferiores estavam mortos agora, e os restantes estavam concentrados em mim. Não seria capaz de se curar da mesma forma de novo.

“Maldito seja... Maldito seja!” no entanto o mazoku ainda não havia perdido a vontade de lutar. “Vou te matar! Eu vou te matar!” ele uivou, decolando em um salto com sua capa balançando em suas costas.

———

Amelia se levantou trêmula, murmurando um encantamento. Não parecia nem um pouco firme em seus pés.

“Vou... Acabar com você agora...” Guduza ofegou.

Ambas estavam seriamente piores pelo desgaste, todavia Amelia voltou a atacar! O cabelo de Guduza ondulou!

“Vis Farank!” Amelia entoou, canalizando magia em suas mãos pela terceira vez.

Frshh! O cabelo de Guduza agarrou uma de suas mãos infundidas. Suas respectivas magias colidiram entre si, fazendo com que parte do cabelo de Guduza murchasse.

“Graah!” ela gritou, mas forçou seu cabelo a se enrolar ainda mais em torno de Amelia. Talvez estivesse preparada para sofrer algum dano se isso significasse esgotar a magia nas mãos de Amelia?

Depois de um breve instante, seu cabelo se enrolou em todo o corpo de Amelia. Porém em vez de desistir, minha garota começou a entoar seu próximo feitiço.

“Imagino o que aconteceria se eu liberasse a magia do meu cabelo agora mesmo.” Guduza refletiu com uma pequena risada. Até Amelia ficou surpresa com a sugestão. “Essa será minha primeira vez tentando!”

Vrmm!

Os tentáculos do mazoku vibraram outra vez como as asas de um inseto. Amelia se afastou sem dizer nada, e...

“Graaaaaaaah!” Guduza lamentou com um clamor mortal, pois projetando-se de sua cabeça estava agora... A mão direita de Duguld!

“Du... Duguld...”

Enquanto sibilava o nome de seu companheiro, suas tranças negras ficaram moles e dissolveram na escuridão. Amelia, reunindo sua força de vontade, começou a entoar seu próximo feitiço enquanto caía no chão.

“Perdoe-me, contudo realmente preciso matar aquela pequena quimera patética agora!” Duguld disse, sua voz transbordando ódio. “Então, Guduza, temo que isso signifique... Que vou pegar emprestado o poder que te resta!”

Puta merda! Esse cara não caçava apenas demônios inferiores! Ia consumir Guduza também? Acho que Zel conseguiu ferir seu ego com força!

“Ma... Maldito seja...” Guduza tentou amaldiçoar o mazoku que ela supôs ser um aliado, no entanto sua voz desapareceu em pouco tempo no vento.

Shff... Seu rosto se desfez em partículas de cinzas pretas que foram sumariamente levadas embora.

“Não é o suficiente...” o corpo de Duguld cambaleou para o lado. Ele então lançou seu olhar para Zelgadis. “Ainda não tenho... Poder suficiente!”

Zel deve ter feito um belo estrago antes, porque mesmo depois de devorar a enfraquecida Guduza, seu corpo não foi revivido por completo.

E em seu estado comprometido, um ataque veio por trás...

“Lança Elemekia!”

“Gah!” Duguld gritou, se virando. “Sua... Sua... Maldita!”

O feitiço não foi outra coisa senão obra de Amelia, e... Slash! Foi rapidamente seguido por um golpe de Zel no mazoku!

“...!”

Foi o fim. Duguld nem teve tempo de soltar um último uivo quando seu corpo se transformou em areia preta, que caiu em uma pilha no chão.

“Acho que é isso...” Zel comentou.

“É. Para nós, pelo menos.” Amelia respondeu com um pequeno sorriso.

———

Whoosh! Zuma saltou no ar! Gourry disparou a Espada da Luz no assassino voador, mas Zuma usou a magia concentrada em sua mão esquerda para derrubá-la. Em seguida, estendeu sua mão direita em um contra-ataque.

“Ngh!” Gourry reformou sua lâmina brilhante bem a tempo de desviar do golpe.

“Nevoeiro Negro!” Zuma sibilou, liberando seu próximo feitiço.

Droga! Nem o vi entoando essa!

A magia de Zuma envolveu a área em escuridão. Não tinha poder ofensivo, contudo reduziu a visibilidade a zero. Gourry desapareceu na umbra por um momento... Então imediatamente saltou para fora dela com sua espada pronta para enfrentar o assassino.

No entanto o que veio em seguida não foi Zuma! Voosh! Foi uma onda de choque mágica acelerando em direção ao seu flanco!

Depois de usar o Nevoeiro Negro para escapar da visão de Gourry, Zuma de alguma forma mudou de curso no ar e atacou de lado. Talvez ouvindo o rugido do vento, ou talvez apenas por instinto, Gourry detectou o ataque que se aproximava e o cortou!

Vrrsh! Um grito alto ecoou no ar. A Espada da Luz dividiu a onda de choque mágica de Zuma sem dificuldade.

O assassino atacou de qualquer maneira. Gourry preparou sua espada, embora pouco antes de Zuma entrar no alcance do combate corpo a corpo... Ele balançou sua mão direita em um amplo gesto.

Outra onda de choque mágica?

“O quê?” Gourry engasgou.

Dessa vez estava perto demais para desviar. Sem outra escolha, Gourry cortou este com a Espada da Luz também.

Contudo Zuma aproveitou a distração e atacou! Ele iria bloquear a espada de Gourry com uma mão e atacar com a outra novamente? Percebendo que talvez fosse o caso, Gourry torceu sua mão segurando a espada noventa graus e disparou a lâmina em Zuma à queima-roupa. Ou sua mira estava errada ou Zuma havia antecipado o movimento, porque o assassino ágil se torceu um pouco para desviar do ataque por um fio de cabelo.

Ele então estendeu a mão direita para o pescoço de Gourry, entretanto este recuou um pouco e retaliou com um chute no estômago de seu oponente. O assassino saltou para trás para evitar o impacto e caiu sem um único grunhido ou reclamação.

“Flecha Flamejante!”

Agora que havia terminado com Duguld, Zelgadis estava esperando uma chance de atacar... E aproveitou a oportunidade para lançar um feitiço da lateral. Nem mesmo Zuma seria capaz de se esquivar disso! Não, em vez disso...

Crash! Com um movimento da mão direita, Zuma extinguiu as flechas flamejantes que se aproximavam!

“Impossível!” Zel gritou em choque, congelando até parar.

“Saia do meu caminho!” Zuma gritou, liberando uma onda de choque mágica de sua mão direita que atingiu Zel em cheio!

De jeito nenhum!

“Ngh!” Zelgadis foi jogado para trás.

Nesse ponto, eu tinha acabado de lidar com o último dos demônios inferiores.

———

“Amelia! Cure Zel!” aconselhei enquanto trabalhava em um canto meu.

Virei-me para onde os dois combatentes seguiam lutando. Amelia e Zel já tinham levado uma surra. Nenhum deles estava em condições de enfrentar o assassino.

Mas seus padrões de ataque... Parecem um pouco com...

De um jeito ou de outro, teria que dar uma mãozinha! Depois que os dois se distanciaram um do outro, liberei meu feitiço.

“Zellas Bullid!”

Esse era um pequeno truque que tinha inventado nos últimos tempos que exigia os talismãs para usar. Seu poder era quase igual ao meu Dinastia Blas e Explosão Ragna... E, sim, funcionava até mesmo em mazokus. Era apenas um alvo, todavia o que de fato o diferenciava era que o seu movimento podia ser controlado à vontade. Em outras palavras, não podia ser esquivado ou bloqueado. Não por nenhum humano, pelo menos.

Respondendo às minhas palavras de poder, o raio de luz que surgiu na ponta dos meus dedos disparou em direção a Zuma. Sentindo algo, o assassino se moveu reflexivamente para se esquivar, porém respondendo aos meus pensamentos, o raio de luz mudou de curso para o perseguir! Gourry, cauteloso em ser usado como escudo inimigo, saltou para longe.

Por sua vez, o assassino entoou um feitiço baixinho. Tinha um toque familiar.

Eu sabia! Suor frio escorria por todo o meu corpo. Ao mesmo tempo, parecendo terminar seu feitiço, Zuma parou no meio do caminho. O raio de luz que atirei nele atingiu...

Kriiing! E soltou um gemido agudo enquanto se despedaçava. Zuma ficou ali em seu rastro, imperturbável.

Ele o bloqueou... E com uma facilidade ridícula...

“Zuma... Você...” eu disse, minha voz soando áspera. “Se fundiu com Seigram, não foi?”

“Sim...” uma voz veio de baixo da máscara de pano do assassino. Era com toda certeza o mazoku sem rosto. “Perdi a maior parte do meu poder, e este homem tinha perdido os dois braços... Todos para vocês dois. Senti sua consciência e fiz uma oferta a ele... ‘Você deseja recuperar o que perdeu?’.”


Por fim, tudo fez sentido. Por que, quando cruzamos espadas em Vezendi, ‘Seigram, o Sem Rosto’ estava usando sua máscara outra vez. Por que se deu ao trabalho quando a última foi quebrada... Era para esconder sua identidade como Zuma. Também explicava por que Zuma esteve fazendo coisas tão incomuns e por que os padrões de ataque de Seigram haviam mudado.

“Jurei que acabaria com você algum dia...” o assassino sibilou na voz de Seigram. “Foi o que falei quando nos separamos pela última vez. Contudo o dano causado por essa espada é lento para se recuperar... E então me fundi com esse homem ao custo da minha forma demoníaca.”

Ele abandonou sua natureza demoníaca só para se vingar de mim e Gourry?

“Então o quê? Usou Raltark como um intermediário para chamar alguns de seus amigos mazokus e nos desafiar para outra luta? Qual é exatamente a desse joguinho todo?”

“Isto não é da sua incumbência. Depois de tudo, vai morrer logo de qualquer jeito!” ele disse, dessa vez na voz de Zuma.

Estava vindo! Zuma voou pelo chão, em nossa direção. Gourry se moveu para interceptá-lo.

Tínhamos que ter cuidado aqui! Zuma não precisava de tempo de conjuração, a menos que fosse uma grande magia. Eu, nesse meio tempo, comecei a me preparar de novo.

O primeiro alvo de Zuma era Gourry. Nem mesmo essa fusão de mazoku-assassino poderia lidar com a Espada da Luz e minha magia ao mesmo tempo. Sua mão lançou outra onda de choque mágica, no entanto Gourry a cortou. Em seguida, saltou no ar e lançou uma segunda onda em Gourry de cima.

“Gwuh!”

Surpreso, meu companheiro loiro posicionou a Espada da Luz acima da sua cabeça, entretanto o ângulo era estranho e precisou de tudo o que tinha para bloquear o ataque. Zuma mergulhou em sua direção e, assim que colidiram, uma bola de magia apareceu em sua mão esquerda que se estendeu em direção à Espada da Luz!

Agora é minha chance!

“Lança Elemekia!” entoei, arremessando meu dardo mágico. Nem mesmo Zuma conseguiria se esquivar dessa vez. Aquele otário foi pego em cheio!

Mesmo assim, não foi o suficiente para detê-lo. Crackle! Sua magia e a lâmina brilhante de Gourry colidiram. Zuma usou seu ponto de apoio para girar, mudando seu impulso para um chute direcionado a Gourry!

“O quê?” Gourry saltou para trás em pânico. O chute de Zuma havia arranhado seu peitoral...

Ou foi o que pensei. Mas um estalo surdo soou, e o peitoral de Gourry se abriu! Suas garras fizeram aquilo?

“Não!” Gourry gritou em choque.

O peitoral partido só o atrasou por um segundo, porém era tudo o que Zuma precisava. Wham! Outra onda de choque mágica o atingiu de frente e o fez voar para trás.

“Gourry!”

Talvez ouvindo minha voz, ele se moveu levemente. Parecia que estava tentando se levantar, contudo o dano que sofreu deve ter sido severo. Tudo o que conseguia fazer era se contorcer.

Zuma, por outro lado, não estava caído, embora minha Lança Elemekia também devesse ter feito um estrago no bastardo. Pelo jeito estava instável em seus pés.

“Vou terminar isso agora!” sussurrou... No entanto era a voz do assassino ou do mazoku?

“Pare!” um grito veio da floresta, impedindo que nós dois pulássemos um no pescoço do outro.

Argh! Por que você teve que sair agora?

“Por favor... Chega...” Abel apareceu diante de nós, falando em um sussurro. Zuma o encarou sem dizer nada. “Por favor... Chega! Por que tem de matá-los?”

Após uma longa pausa, Zuma desviou seu olhar de Abel para mim.

“Responda, pai!” ele continuou.

Hein? A escolha de palavras de Abel fez minha mente ficar em branco. ‘Pai’? Espere aí...

Nesse momento, o assassino olhou de volta para Abel.

“Como... Como você sabia?” perguntou na voz lívida de Laddock Lanzard.

“Porque... Você é meu pai! Não é?” Abel gritou à beira das lágrimas.

Laddock... Agora Zuma fundido com o mazoku, apenas desviou o olhar sem dizer uma palavra.

Deveria ter imaginado! Usar um alvo como isca para nos chamar, fazer reféns... Nada disso era o estilo de Zuma, mas explicava tudo. Ele usou a si mesmo como isca, fez a si mesmo de refém! Até escreveu aquela carta ameaçadora para si mesmo. E assim que acabasse comigo, com certeza planejava voltar para sua vida ‘normal’, esbravejando sobre como tinha sido apenas um peão em todo o caso. A razão pela qual tinha sido tão rude conosco desde o início era para mascarar seu ódio mais profundo por nós.

Também parecia que Abel tinha vagamente intuído que Laddock estava trabalhando como um assassino nas horas vagas. Foi por essa razão que caiu em cima de nós com tanta força na tentativa de nos expulsar da casa.

“Reze, Abel...” o assassino disse na voz de seu pai. “Reze para que Lina Inverse vença... Se ela não vencer, eu terei que te matar...”

“Por quê?” a pergunta veio de mim dessa vez. “Por que não pode só ser um comerciante e viver uma vida honesta? Por que tem que se esgueirar nas sombras como Zuma, o assassino?”

“Eu queria... Queria saber...” sua resposta veio acompanhada com um leve balançar de cabeça. “Qualquer coisa que tentasse dizer seria apenas uma desculpa. Esta é a única maneira que sei viver. Isso é tudo...”

Senti arrepios subindo por toda a minha pele. Comecei a entoar um feitiço o mais rápido que pude.

“Vamos começar!” Zuma falou mais uma vez na voz fria de um assassino.

Comecei a correr loucamente em direção a Gourry. Já havia ficado evidente que feitiços normais não tinham efeito sobre ele. Além do mais, poderia até bloquear os mais poderosos com suas técnicas de magia humana e capacidade demoníaca. Não tinha certeza se um Dragon Slave seria o bastante neste momento, já que não funcionou contra a última fusão humano-mazoku que enfrentei.

O que significava que havia apenas uma maneira de vencer: terminar as coisas em combate corpo a corpo antes que Zuma se recuperasse da minha Lança Elemekia. Em outras palavras, as probabilidades estavam contra mim.

“A Espada da Luz? Acho que não!” Zuma gritou, movendo-se para bloquear meu caminho. Seu movimento se tornou bem mais lento após ter sido atingido, porém seguia sendo consideravelmente rápido.

Ugh! Vou ter que arriscar! Eu já tinha terminado meu cântico.

“Lâmina Ragna!” gritei, manifestando uma lâmina de escuridão na minha mão! Seigram e Zuma não deveriam saber desse movimento! Se acertasse...

“O quê?” sua reação foi a de óbvio choque, produzindo magia em ambas as palmas e bloqueando minha lâmina da escuridão com a esquerda!

Porcaria! Sabia seu próximo movimento. Se lançasse sua mão direita para mim agora, não acho que conseguiria desviar. Contudo...

“Gwaaagh!” Zuma foi quem de repente recuou, gritando de dor.

Minha lâmina negra cortou a magia que conjurou em sua palma... E sua mão junto com ela! Parece que nunca suspeitou que meu feitiço tivesse tanto poder. E, para ser honesta, eu também não. Minha Lâmina Ragna poderia na verdade ser mais forte que a Espada da Luz?

Whoosh! Zuma se virou e correu pelo chão. Seu objetivo... Era ir até Gourry!

De jeito nenhum! Você deve estar brincando comigo! Ele está atrás...

Me apressei em persegui-lo, no entanto não tive chance de alcançá-lo. Zuma estava quase instantaneamente em cima de Gourry, que seguia tentando se levantar.

Whump! Gourry levou um chute para o lado e saiu rolando com um gemido. Zuma então se agachou... Posso alcançá-lo a tempo? Pulei para frente, trazendo minha espada negra para baixo nas costas do assassino!

Fweeeeen! Um grito estridente ecoou pelo ar. De fato, Zuma mal conseguiu bloquear minha lâmina negra... Com a Espada da Luz empunhada em sua mão direita!

Naturalmente, alimentada pela capacidade de um mazoku, a Espada da Luz se tornou incrivelmente forte. Uma lâmina de luz produzida pela escuridão, e uma lâmina de escuridão produzida pelo homem... Elas colidiram uma contra a outra.

Qual de nós seria forçado a recuar primeiro? Não sabia dizer com certeza, entretanto nós nos distanciamos e nos encaramos. Sua mão esquerda não valia nada agora, e talvez estivesse bem exausto nesse ponto... Todavia minha Lâmina Ragna também drenava minha magia em um ritmo assustador. A cada momento que ficávamos ali, podia sentir minha exaustão aumentando. Se continuássemos por muito tempo, eu estaria acabada.

“Vou terminar isso... Com meu próximo golpe!” declarei.

“Só tente!” Zuma respondeu.

Com sua deixa, corri em sua direção! Corri com minha lâmina negra erguida. Zuma correu para me encontrar. Ele ergueu a Espada da Luz no alto... E então parou.

Slash! Quando ele parou, minha lâmina de escuridão cortou o estômago do assassino.

“Pai!” Abel gritou e correu para Zuma... Não, para Laddock Lanzard enquanto desabava no chão. “Pai! Pai!” continuou gritando enquanto sacudia o corpo de seu pai.

Descartei minha lâmina de escuridão e olhei para os dois. Por fim, os olhos do homem se abriram um pouco.

“Pai!” Abel tornou a gritar.

“Ria de mim... Lina Inverse...” mas a voz que saiu da boca de seu pai era a de Seigram, o Sem Rosto. “Eu me fundi com um humano para derrotar vocês dois... E no final... Esse coração humano foi minha ruína...”

É verdade... Quando o cortei com minha Lâmina Ragna, não era para mim que estava olhando. Era para seu filho, Abel Lanzard. O que Laddock estava pensando naquele momento? Era tarde demais para perguntar.

“Vá em frente... Ria!” Seigram disse mais uma vez antes de seus braços caírem frouxos ao seu lado.

Abel lançou um olhar acusador para mim, porém não disse nada. Tudo o que pude fazer foi abaixar a cabeça.

———

Depois disso, escoltamos Abel de volta para Cidade Vezendi. Abel passou a maior parte da viagem em silêncio, contudo pelos fragmentos de conversa que ofereceu...

Ao que parece, Laddock realmente amava viajar. Entretanto, em algum momento, Abel começou a sentir que algo estranho estava acontecendo com seu pai. Foi talvez quando tudo começou... Quando Laddock assumiu o nome Zuma e entrou na escuridão como um assassino.

Por que o fez? Nunca saberíamos.

Ele supostamente conheceu Raltark em uma viagem de negócios e trouxe o velho mordomo para casa junto não muito tempo atrás. Isso só aumentou as suspeitas de Abel, todavia antes que pudesse questionar seu pai a respeito... Nós aparecemos e o resto é história.

Abel desapareceu na multidão de Vezendi quando chegamos ao portão da cidade. Ele se ofereceu solenemente para nos pagar pelos serviços prestados, contudo eu o recusei. Gostaria de poder lhe dizer o porquê.

“Você acha que ele vai ficar bem?” Amelia sussurrou.

“Tenho certeza de que vai ficar bem!” respondi confiante.

“Mas tenho que perguntar...” Zel entrou na conversa com um olhar de soslaio para Xellos. “O que você esteve fazendo esse tempo todo?”

Sim, o sacerdote misterioso seguia viajando conosco.

“Oh, bem... Hahaha.” Xellos coçou a cabeça e se esquivou da pergunta com uma risada.

“Naquela batalha, você também não apareceu até a luta acabar...”

“Bem... Fui atingido por um daqueles demônios inferiores e caí inconsciente nos arbustos. Hahaha.”

“Inacreditável...”

Zel pareceu deixar o assunto para lá, então supus que fui a única que tinha ouvido a voz de Xellos quando este me salvou no começo da luta.

“A propósito, Lina...” Gourry interrompeu. “O que aconteceu com aquele cara Raltark?”

“Não sei!” respondi sem rodeios. Nós o perdemos de vista no caos e não o víamos desde então.

“Não sabe? Quer dizer...”

“Tenho certeza de que ele virá atrás de nós em algum momento, quer gostemos ou não. Mas o mais importante...” falei, tentando soar alegre. “Vamos voltar para Dils!”

***

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