Capítulo 29: Epílogo
O vento noturno carregava o leve aroma de vegetação.
Se esta fosse uma cidade grande, ainda haveria uma algazarra barulhenta acontecendo no bar no primeiro andar da pousada. Mas quando eu saí, não havia clientes à vista. Não havia ninguém atrás do balcão.
Claro, isso era de se esperar aqui no interior.
A gangue e eu estávamos pegando uma estrada secundária para o Reino de Dils. Esta era a única pousada em uma cidade em que paramos ao longo do caminho, e éramos os únicos clientes que vi no lugar. De acordo com o homem que dirigia o lugar, era mais incomum que eles tivessem clientes do que não.
Como ele ganha a vida, então? Tentei imaginar enquanto saía do meu quarto e ia para fora.
Então andei pelo prédio. Obviamente, não ia fazer intimidação de bandidos esta noite. Estava esperando por alguém... E não tive que esperar muito.
“Saiu para dar uma volta?” ele chamou quando eu já estava atrás da pousada.
O beco estava envolto em sombras projetadas por cercas, várias carroças e pilhas de caixotes de madeira indefinidos.
“Não...” respondi baixinho, balançando a cabeça. “Estava te esperando, Xellos.”
“Hã?” o sacerdote, vestido não muito diferente das sombras, reclinou-se na cerca. “E por que?”
“Queria agradecer por algo. Ou pelo menos pela tentativa.”
“Agradecer?”
“Sim. Depois que tudo foi dito e feito, acho que enfim descobri o que você esteve fazendo.”
“E o que seria?”
“Segurando Raltark... E me testando, suponho.”
“Oho...” Xellos respondeu em um tom entretido antes de desaparecer na escuridão. “E quando percebeu isso?”
Quando me virei para sua voz novamente, o encontrei sentado no topo da pilha de caixotes de madeira, de costas para a lua. “Que sou um mazoku.”
“Mais ou menos desde o primeiro dia que nos encontramos, acho.” respondi com um pequeno sorriso no rosto. “Mazenda selou minha magia... O que não é algo que um humano deveria ser capaz de fazer. Estou bem ciente, afinal já estudei. Assim sendo, dada a facilidade com que a derrotou, você claramente não é um humano comum.”
“Hah... Suponho que a farsa já tinha ruído desde o começo, hahaha!” ele riu com sua marca registrada de despreocupação. “Está completamente correta. A senhorita Mazenda era um mazoku como eu.”
“E mesmo assim a matou, o que sugere que tem seus próprios negócios. Aquele tal de Raltark também não parecia estar do seu lado.”
“Bom... Isso é segredo!” Xellos disse, levando o dedo sobre os lábios no seu gesto usual.
Se Xellos fosse qualquer humano, teria arrancado uma resposta sua... Porém, por infelicidade, sabia que não podia vencê-lo. Ainda não, por enquanto.
“Contudo... Sim, por ora, ofereci ao Mestre Raltark um acordo de que não revelaria sua identidade se, em troca, não revelasse a minha. Uma espécie de acordo de não interferência... Embora pareça que não tinha porque ter me dado ao trabalho.”
“Bem, não acho que os outros tenham percebido ainda.”
“Mestre Gourry especialmente, eu diria.”
“Bem, esse é o tipo de cara que Gourry é...” respondi com um sorriso irônico. “Tenho certeza de que Zel e Amelia sabem que há algo estranho em você, no entanto não acho que eles tenham te decifrado o suficiente para definir a parte do ‘mazoku’. A propósito, Xellos, esse é seu nome verdadeiro?”
“Eu sou Xellos, o Sacerdote... A serviço da Grande Besta Zellas Metallium. Embora esteja em outros negócios no momento.” ele disse, combinando com meu sorriso irônico. “Originalmente, tinha a tarefa de destruir os manuscritos. Se quimeras como a que encontramos naquela noite fossem produzidas em grandes quantidades... Seria uma situação pouco relevante para mazokus do meu nível, todavia meus congêneres de nível inferior estariam em consideráveis apuros. E, claro, os fragmentos do manuscrito são meros fragmentos... Frações falhas da coisa real. Caso contrário os humanos deveriam ter sido capazes de controlar aquela quimera, entende? Algo semelhante é verdade para o registro no Reino de Dils...”
“?” engasguei reflexivamente. “Quer dizer sobre o Senhor dos Pesadelos?”
Xellos revelou um raro olhar sombrio em resposta à minha declaração.
“Por favor, não diga esse nome tão descaradamente!” ele vociferou. “Um mazoku da minha posição é indigno de ouvi-lo.”
Era realmente um problema tão grande? Sempre imaginei que o ‘Senhor dos Pesadelos’ fosse apenas o mais forte dos Lordes das Trevas, mas...
“De qualquer forma, quando queimei o último manuscrito e relatei para a Grande Besta... Foi quando recebi minha tarefa atual.”
“Para ficar de olho em mim, certo?”
“Digamos... Para proteger e guiá-la, porém temo não poder entrar em mais detalhes.”
“Espere um minuto. Quer dizer que me vendeu esses talismãs de amplificação antes de ser designado para me proteger?”
“Claro.”
“Por que venderia um objeto tão poderoso para alguém que não era ninguém útil para você na época?”
“Ah, bem...” um sorriso dolorido cruzou o rosto de Xellos enquanto coçava sua bochecha. “Acho que fui apenas levado pelo momento.”
Que cara esquisito...
“No entanto, sendo honesto, não tenho vontade de participar desse plano. Veja bem, o Mestre do Inferno o está liderando. Sei que os servos de Mestre do Inferno foram destruídos na Guerra da Encarnação há mil anos e ele não tem nenhum agora, todavia ainda assim... Como sacerdote de Zellas, não me importo com o tratamento. Espero que não se ofenda, porém ficar preso protegendo você... Um mero humano...”
“E é por isso que me testou. Para ver se sou digna de toda essa confusão.”
Eu me lembrei da bronca de Xellos na noite em que Zuma apareceu: Você deveria ser capaz de derrotar um oponente desse nível sozinha... Deve ter sido um desafio para mim.
Sua resposta veio com um aceno firme de cabeça.
“E daí? Passei?” perguntei em seguida.
“Sendo franco? Estou um pouco menos do que satisfeito... Entretanto com seu potencial latente e a ajuda de seus amigos, eu diria que conseguiu se safar.”
Não pude deixar de estremecer.
“A propósito...” Xellos continuou, seu sorriso tão largo quanto de costume. “O que planeja fazer agora que confirmou que sou um mazoku? Forçar um acerto de contas?”
“Vejamos...” pensei por um minuto. “Provavelmente vou mantê-lo em segredo dos outros por um tempo.”
“Oh?” Xellos cantarolou divertido.
“Não gosto de ser manipulada!” declarei, apontando um dedo para ele. “Contudo, por enquanto, não tenho muita escolha no assunto. Então vá em frente e faça o seu pior. Só que isso só vai dar certo se sua identidade permanecer em segredo nesse meio tempo, certo?”
“Muito obrigado!” disse Xellos com uma calma descarada. “No entanto se é assim que realmente se sente, por que me confrontar sobre isso em primeiro lugar? Não teria sido mais vantajoso se fazer de boba?”
“Queria esclarecer o que está acontecendo ao meu redor. Também queria que soubesse que não está realmente me manipulando; estou me deixando ser manipulada. Sei que soa como trocar seis por meia dúzia, mas mesmo assim... Me irrita, sabe?”
“Entendo.” Xellos assentiu, seu sorriso se tornando tenso. “Ouvi dizer que você não era uma humana comum... E agora vejo o quão verdadeira tal afirmação é.”
“Isso é um elogio?”
“A maior bajulação que existe. Pelo menos, de um mazoku falando com um humano.”
“Então... Para onde devemos ir agora?”
“Ah, sim. Vamos continuar...” Xellos gesticulou com o cajado em sua mão em direção à lua no céu ocidental. “Prosseguiremos para os confins do norte do Reino de Dils... Onde fica a Bíblia Claire original.”
Posfácio:
Cena: Subordinado S
Bonsoir, pessoal! É um prazer conhecer aqueles que estão se juntando a nós pela primeira vez com as reimpressões! Eu sou o subordinado de L-sama, S! Eu ocasionalmente apresentava o posfácio nas versões antigas e ajudei a matar o autor! Dito isso, não tive a chance de me envolver no posfácio nas recentes reedições. Meu chefe está sempre dizendo... “Já que você não tem nada melhor para fazer...” e me enviando em missões de recuperação enquanto pego bilhetes no caminho. E então eu volto para a mineração explosiva! Mas essas tarefas mundanas enfim me renderam reconhecimento! Por fim ganhei essa honra do meu chefe! E como resultado, ganhei esse posfácio todo para mim!
[Interlúdio de fanfarra.]
Contratei uma banda para tocar a fanfarra e até mandei fazer uma roupa sob medida para a ocasião! Isso tudo sai do meu bolso, é claro, porém considero um pequeno preço a pagar por uma tarefa de prestígio como lidar com um posfácio! Agora, para começar e comemorar este posfácio confiado aos meus cuidados, vou ler uma carta que L-sama deixou para mim!
[O som de um envelope sendo aberto.]
A-Ahem!
“Devido a problemas de contagem de páginas, o posfácio tem apenas uma página desta vez. Isso parece idiota, então vou deixar para você. L.”
Hã? Só... Só uma página? E-Espere um minuto! Uma página? E você me fez desperdiçar linhas preciosas lendo aquela carta? Ainda tenho muito a dizer! A série Slayers nem existiria sem...
Posfácio: Fim.
***
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