Capítulo 21: Confortos Frios
O Duque Isgrimnur de Elvritshalla havia pressionado um pouco demais a lâmina. A faca saltou da madeira e cortou seu polegar, liberando um filete repentino de sangue logo abaixo da articulação. Resmungando um palavrão, deixou o pedaço de cerne cair no chão e enfiou o polegar na boca.
“Frekke está certo...” pensou. “Maldito seja. Nunca terei o jeito para isso. Nem sei por que tento.”
Sabia, porém, convencera o velho Frekke a lhe mostrar os rudimentos da escultura durante seu virtual aprisionamento em Hayholt. Qualquer coisa, raciocinara, era preferível a andar de um lado para o outro pelos salões e ameias do castelo como um urso acorrentado. O velho soldado, que também servira Isbeorn, pai do Duque, mostrara pacientemente a Isgrimnur como escolher a madeira, como espiar o espírito natural que se escondia ali dentro e como libertá-lo, lasca por lasca, de sua prisão. Observando Frekke trabalhando, com os olhos quase fechados, o lábio marcado pela cicatriz curvado num sorriso inconsciente, os demônios, peixes e feras vivas que emergiam de debaixo de sua faca pareciam as soluções inevitáveis para as questões que o mundo apresentava, questões de aleatoriedade e confusão na forma de um galho de árvore, na posição de uma rocha, nos caprichos das nuvens de chuva.
