quinta-feira, 13 de novembro de 2025

The Haar — Capítulo 22

Capítulo 22


O dia seguinte passou com um gemido.

Muriel ficou na casa, cuidando dos hematomas e olhando pela janela, esperando a mulher chegar com a polícia, ou outra gangue de assassinos de aluguel aparecer... Mas eles nunca vieram.

Quando o sol se pôs e o manto escuro da noite se instalou sobre a paisagem, as máquinas desligaram e um silêncio abençoado e celestial desceu. Preocupada, foi ver como Billy estava. E se ele estivesse...

Não, ainda estava lá, flutuando na banheira.

Ela se perguntou o que teria feito os trabalhadores pararem.

Era um mau presságio.

Seu corpo se recostou na cadeira e tentou aproveitar o silêncio, porém nunca lhe parecera tão ameaçador. Ligou a TV e passou pelos canais, sem encontrar nada que quisesse assistir. Em vez de desligá-la, deixou-a ligada em segundo plano. Engraçado. Havia se acostumado tanto com o barulho que agora o silêncio a incomodava.

Billy estava com fome. Sua voz ecoou em sua cabeça como uma pedra no sapato.

— Sinto muito! — Muriel falou. — Você vai ter que esperar.

Seu próprio estômago roncou, e percebeu que não tinha comido nada o dia todo. Havia alguns biscoitos no armário, então mastigou alguns. Estavam secos e sem sabor, e desistiu depois de comer dois e se juntou a Billy no banheiro, empoleirada no vaso sanitário de roupão e chinelos.

A lâmina de barbear que Billy havia arrancado de sua mão na semana passada ainda estava meio presa na parede. Tentou arrancá-la, contudo estava presa, então removeu o curativo encharcado de sangue e achatou o braço contra a parede, sentindo o fio da navalha contra a pele. Estremecendo de antecipação, raspou o braço na lâmina. Então, tirou os chinelos e entrou na banheira com Billy, sentando-se em silêncio e deixando-o beber dela. Ao fazer isso, uma estranha melancolia percorreu seus ossos. Era uma sensação inexplicável, como se as coisas estivessem gradualmente chegando ao fim. Supôs que sim.

Olhou para Billy e imaginou seu rosto humano. E se nunca mais o visse? Se viessem e o levassem, o colocariam em um zoológico? Em um aquário? Ou pior, o levariam para um laboratório para ser aberto e usado em experimentos?

Não. Preferiria morrer a permitir que tal coisa acontecesse.

— Se eu já disse isso uma vez, já disse cem vezes. Não tenho medo da morte! — ela disse.

Billy a encarou com seus olhos vidrados.

— Quando chegar a hora, aceitarei meu destino e tomarei meu lugar ao lado do Senhor. Sei que há algo depois. Não sei o quê, no entanto sei que há. Sempre tive fé. Vivi uma vida longa e tentei ser a melhor pessoa possível, mesmo tendo cometido erros. Todos cometemos. É assim que a vida é. Uma série de erros com os quais você aprende. — Muriel olhou para Billy com amor nos olhos, a luz refletindo em sua forma transparente. — Billy McAuley, você foi a melhor coisa que já me aconteceu. Quando você foi embora, meu coração se partiu. Eu não tinha certeza se tinha conserto. Não tinha certeza se queria conserto. Algumas noites, pensava que seria melhor apenas fechar os olhos e nunca mais abri-los. Pelo menos dessa forma poderia te ver de novo. Mas algo me manteve firme, me fez seguir em frente todos esses anos. — ela esboçou um triste sorriso. — Era esperança, Billy. Sempre tive esperança. E agora, aqui está você. Você voltou. Você foi levado cedo demais. — Muriel fez uma pausa. — Não consegui me despedir naquela época, e não pretendo fazer isso agora. Nós pertencemos um ao outro, Billy McAuley, e é assim que ficaremos. Juntos.

Billy nadou em sua direção, envolvendo seu corpo escorregadio sobre seu peito e ombros, numa espécie de abraço. Muriel fechou os olhos e pensou no rosto presunçoso de Patrick Grant, em seu filho Conor chutando-a para o chão, na mulher com os dentes perfeitos...

Pensou em todos eles e sorriu.

— Não tenho medo da morte! — disse ela. — Mas eles têm.

***

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